PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 30 de junho de 2019

FLOR DE BRUMA

A flor que nasce da bruma
está em sonho como um delírio,
flor mormente doce
e cheia de vida,
flor diamantada
que nasce do rio
e vive ao vento,

folhas caem, o caule da
árvore alimenta
a floresta densa,
a água desce à raiz,
flor e fruto
fazem canção,
um pássaro pousa,
o dia está iluminado,
o poeta olha em volta
e desata a cantar
seu estro de liberdade.

29/06/2019 Gustavo Bastos

TEMPOS FORTES

A geografia do pensamento
traça esta história com
o rigor da máquina
e a dureza do diamante,

os tempos fortes da música
ressoam na câmara de eco,
poemas lutam sempre
com o ar da vida,
afirmam este sopro
que nos dá a visão,

poema reto, de um estro
que é enigma, revela
a minha face precisa,
este poema todo,
como uma rosa.

29/06/2019 Gustavo Bastos

O DOM DA PALAVRA

A palavra, dom e graça
da poesia, veste o poema
com seu ardor e mármore,
sua rocha original
que sonha e realiza,

vem todo este poema,
verter d ´água palavra,
fazer da chuva e do sol
o tempo inteiro
de seu ritmo,

luta a nuvem contra o silêncio,
o vento lhe sopra,
a palavra, esta
nuvem plena,
é soprada
pelo poeta,

o poeta que escreve,
na palavra seu
dom e graça,
revela o divino
em versos profanos.

29/06/2019 Gustavo Bastos

O CAVALEIRO

O cavaleiro de aço mormente
o valete que luta em guerra,
faz de seu estro grande bardo
e rutila sol como aurora,

o cavaleiro, da veste tormentosa,
que rutila seu sonho e tem de si
o próprio raciocínio, querendo
os dias como glória e seu
tempo de luta uma bravura,

cavaleiro, que todo o caminho
seja este, feliz em ser guerreiro
e pleno de si ao meio-dia.

29/06/2019 Gustavo Bastos

VINHO TINTO

Pressinto no dom que funda a vida
o canto vinho que derrama
e me ferve a alma,
lenho que crepita
entre os poros,
que me vê
e que me sente,

sinto, do vinho mais nobre,
o coração que levita
embriagado, e o sonho
que me envolve
na luta febril
dos que são poetas,

vem todo este cabedal
de sentimentos,
do vinho à estrela
que rutila, do páramo
ao canto terroso
que flui no vinho
tinto seco.

29/06/2019 Gustavo Bastos

O PEIXE

O peixe na represa se balança,
a água do rio lhe dá as nadadeiras,
suas guelras lutam em meio à correnteza,
todas as cores deste sonho
lhe dão este ar brilhoso de peixe,
o ser supremo dos mares e dos rios,
livre de nadar, livre de ser ele
o peixe que conhece o
dom da água,

peixe que borbulha e nos dá
esta visão do mar,
este certo aroma de rio,
e uma cultura bela
de lagoa,

o peixe, símbolo cristão primevo,
que dos pescadores tem o
milagre, que da cozinha
tem a destreza,
peixe do mundo d `água,
peixe dos mares
e de todo o oceano,
peixe que nada
e se balança.

29/06/2019 Gustavo Bastos 

AMETISTA

A pedra ametista refulge
em notas da pedra rolada,
o poema gera este viço
que lembra meu ardor,
que lembra meu saber,

a luta que revoa na ametista
tem este dom de tudo ver
na fábula dos escritos,
um dom de ver e saber
que traduz a sensação
do mundo,

visão plena, ametista sábia,
que canta e encanta
com os meneios de joia
entre os ventos
e as montanhas.

29/06/2019 Gustavo Bastos

ÁS DE ESPADAS

Se temos um dom atávico,
ele vem de um veio animal,
inconteste, vigoroso,
e que tenta virar o
campo de avesso
ao tempo da colheita,

não temos o estro langue,
letárgico ou entorpecido,
temos este estro firme,
como canção de gente forte,

lembra-te, poeta, teu estro
delineia a poesia com reto sentido
e tem de antever seu intento
como um grande ás de espadas.

29/06/2019 Gustavo Bastos

MILAGRES

Desta cultura reta, qual fundamento,
o estro cultiva seu intento,
livre inspiração que transpira,
verte e retém de seu verso
o passo preciso,

leve, no entanto, a pluma
que lhe tece, o poema rumina
e dá forma a uma asa,
deste voo o poema
traduz em verso
o sonho do poeta,

flui a pena como um emblema,
seu símbolo da vida irradia
a sua forma bem acabada,
um canto de sol e de lua
que dá ao páramo
este viço milagroso.

29/06/2019 Gustavo Bastos

PROSA DA MEMÓRIA


Certamente que o osso duro de roer dá as cartas num vento de força que urra e bate o martelo, fechado o contrato sem loucos senis, sem floreios de mártir, sem nada a dever ao mundo cão, um livro que tem a consistência de uma rocha, e os poetas de um elenco forte que lhe dão a mão, poeta que reluz sua carne em espírito. Ossos do ofício, lembra do lumpen, lembra dos dias sofridos da vida aberta e sem chão, daquela sua juventude que se fortaleceu no raio impiedoso do desamparo, lembra de quem você é, lembra de sua luta e por tudo o que você passou, ganhe vitória de sua luta também, mas lembra, lembra.
A memória reluz este teu campo de azul que revira em verde, veste tua armadura, gestos pontuais lhe trabalham o corpo, seu estro profundo vem da guerra em busca da paz, sempiterno sentimento de garra, tua batalha gera tua espada, teu gládio gera tua fortuna, se defenda dos precipícios, arme seu dom, se defenda, sobretudo. Venha ao ataque também, funde uma república alternativa, fume seu sonho e realize seu intento, ganhe teu rio castanho em mar, volte ao tempo de infância, vire velho, torne-se adulto, conheça os países, viva como um nababo, saiba viver como um renunciante, saiba que tudo passa, volte e retenha este tudo que passa, viva o presente, lute pela memória do passado, lute pela ambição nobre do futuro, seja seus três tempos, seja completo, inteiro, sem estilhaço, sem fissuras, se revolte, bata de frente, lute que nem um poeta, lute que nem um escritor, lute pela sua filosofia, ame quem luta também, não se arrependa disto.
A poesia, numa lufada, ganha em tempo sua força, ganha todo este tempo forte que nem um soco, verte sangue e música qual a barafunda de uma azáfama de turba que gira como rebanho que parte em todo o caminho de povoados, aldeias viram mundos na pena do artista, e seu canto universal pode vir de um vilarejo de cantores trovadores e repentistas, a poesia do povo também registra os sonhos de uma poesia de gabinete, de uma poesia erudita e declamada, tenho no slam, certamente, a imagem mais bela da poesia do futuro, o futuro é slam, bicho.
Eu logro vitória à poesia mnemônica, o slammer que diz “sou aqui este que canta e rima, minha vida não foi sopa, mas tenho minha firma, yeah, não dou mole para mané, pois aqui mantenho a minha fé”, e segue ali, em meio ao burburinho e à cerveja. Não julgue teu passado, vire a mesa e ganhe o jogo, mantenha a coluna ereta, o sangue frio e os nervos de aço, tenha nesta regra a sua autoridade máxima, ao que negar o seu espaço, o chame de louco. Louco! Diz o poeta. Primeiro, riram. Depois, choraram. E agora, respeitam.
Louco! Gritavam os loucos. Louco! Ah, mas a poesia é de uma ignorância solene, bem ligadinha na cultura salutar e infalível do foda-se, venha aqui lutar por um mundo melhor, mas fume seu baseado e se defenda com jah rastafári, eles vão odiar. Louco! Gritavam os loucos. Louco! E depois calavam, atônitos com a guerra que eclodia. Louco! Gritava o idiota. Louco! Chorava o idiota. E todos ali se encastelavam depois da tragédia, pois faziam número para inglês ver, e o poeta em seu foda-se tudo como uma grande denúncia. Loucos! Agora gritava o poeta.
Mnemosyne, acho que alguns estão agora tanto ouvindo o foda-se que acabam de se foder, a poesia solene ignora os sentimentos de hipocrisia, os aniquila sem piedade, seu coração de poeta, memória, tem de seu sentido reto seu mais perfeito mérito. E eles agora gritavam : Poeta! E o poeta, depois de um foda-se bem dado, apenas dizia, numa serenidade de quem passou por muito, obrigado.

29/06/2019 Gustavo Bastos




LIBERDADE

Pergunta-se da trombeta
dos anjos, e o cantochão
verte um tanto de missais,
lhe tenho o vinho de orquestra,
e os campos violetas
que buscam a boca da flor
na noite dos argonautas,

germina ametista e safira,
craveja o corpo diamantado
com os silentes delírios
de um poeta que se
suicida como máquina
e que se mata
como dom de
não morrer,

da trombeta dos sete dias,
os cães cérberos caem
ao precipício,
e o poeta canta
a sua fuga
como um voo
brutal de liberdade.

29/06/2019 Gustavo Bastos