PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

GURUS E CURANDEIROS – PARTE XIV

“O proselitismo católico é a maior deformação do trabalho realizado pelo Padre Quevedo na parapsicologia”

O jesuíta espanhol Oscar González Quevedo, mais conhecido como Padre Quevedo, foi um dos mais destacados parapsicólogos do Brasil, figura midiática, contestador e também contestado, pois ao mesmo tempo que desbaratava inúmeras mistificações, com destaque às fraudes espíritas, também foi questionado em suas teses, sobretudo na sua associação de uma pseudociência como a parapsicologia, a inserindo no campo doutrinário católico, pois Quevedo, ao mesmo tempo em que refutava diversos fenômenos espirituais, referendava os milagres reconhecidos pela Igreja Católica oficialmente.
Lembre-se que a parapsicologia estuda fenômenos de cunho supostamente sobrenatural como a telepatia, a telecinese, a precognição e a clarividência. Contudo, a pretensão da parapsicologia em se afirmar cientificamente esbarra em ceticismo, sobretudo dos físicos, estes que possuem conhecimento dos fenômenos da natureza e contestam invariavelmente as interpretações da parapsicologia e suas bases que os físicos dizem não ter relação com o método e os experimentos científicos, para muitos dos físicos não há comprovação material dos fenômenos descritos pela pseudociência da parapsicologia.
Foi durante o século XIX que surgiu a parapsicologia, que teve como precursora a metapsíquica, mas a parapsicologia se consolidou mesmo no início do século XX, com contribuições do botânico Joseph Banks Rhine e do psicólogo William McDougall, a colocando num campo de conhecimento psíquico, ou seja, como uma nova linha da psicologia. As pesquisas e os métodos empregados para interpretação e comprovação de fenômenos extra-sensoriais não demoraram para serem contestados pela comunidade científica.
Dentro deste campo de tentativas de comprovação de fenômenos sobrenaturais não podemos nos esquecer da conhecida tentativa da CIA em plena Guerra Fria de empreender um grande esforço e utilizar estes conhecimentos a serviço de suas espionagens, por exemplo, no intuito fantástico de criar um grupo de espiões paranormais, para se antecipar aos movimentos e estratégias da União Soviética. Depois de quase duas décadas tal programa foi cancelado, pois não teve resultados.
Uma parte considerável da comunidade científica se incomoda com a utilização, por parte de parapsicólogos, de conceitos e conhecimentos científicos para explicar fenômenos sobrenaturais, esta relação entre ciência e parapsicologia, portanto, teria, na verdade, um caráter de pseudociência. Como nos afirma a professora e pós-doutora do Instituto de Física da USP, Marina Nielsen : “Essas pessoas citam um monte de gente com livros sem nenhuma equação, o que é errado. A física usa a matemática como linguagem para interpretar qualquer fenômeno, e não por palavras”.
Como exemplo de tal apropriação sem fundamentos temos a obra A Física da Alma, livro do físico e ex-professor da Universidade de Oregon, Amit Goswani, considerado um místico pela comunidade científica, em que o autor faz um desfile extenso de fenômenos parapsicológicos, mas sem usar, em nenhum momento, equações ou fórmulas, apenas um conjunto de reflexões e desenhos descritivos.
Por sua vez, os escritos e o trabalho de Padre Quevedo são bem divulgados e conhecidos na Espanha e na América Latina. Sua obra sempre reuniu um grande conjunto de reflexões, apoiada por uma vasta documentação, sempre com o fito de desfazer confusões e esclarecer sobre diversos pontos dos fenômenos paranormais. Contudo, muito de sua documentação para a feitura de suas obras, apresentam, muitas vezes, distorções, apropriações e às vezes até falácias.
Somente no livro "As Forças Físicas da Mente" vemos contradições sobre o médium Guzik, e ao passo que afirma que as irmãs Fox são uma fraude, mais na frente referenda a veracidade do que elas produziam ao concordar com o cientista Crooks, quando este se refere aos fenômenos de tiptologia. Quanto à ectoplasmia, Padre Quevedo afirma que tal substância chamada de ectoplasma só tem a capacidade de formar figuras rudimentares e parciais.
Padre Quevedo afirma que os componentes do Círculo Minerva, grupo de cientistas que se reuniam para fazer experimentos com a médium italiana Eusapia Palladino, eram todos espíritas declarados. Mas temos que o professor Porro e o cientista Morselli não eram espíritas, inclusive Morselli é atacado como anti-espírita por Sir Lombroso, e outros dos membros do Círculo Minerva só se converteram ao Espiritismo após estas sessões, e não antes.
Quanto à afirmação de que Crooks abandonara o Espiritismo rapidamente em seus estudos, é conhecido o fato de que Crooks morreu acreditando na doutrina e nos fenômenos do Espiritismo. E temos na obra do Padre Quevedo, apesar das inúmeras incoerências e contradições de versões, uma obra que apresenta um vasto conhecimento da História da Parapsicologia, mas a distorção documental de Quevedo compromete, mas o mais grave em sua obra é um tipo de distorção ideológica, fazendo do pretenso cientificismo da Parapsicologia, já ferozmente acusado de pseudo-científico, um panegírico de tintas católicas.
O proselitismo católico é a maior deformação do trabalho realizado pelo Padre Quevedo na parapsicologia, e sua forma categórica de afirmações ainda ganha a vestimenta de uma argumentação autoritária, fundada em certezas inabaláveis, o que resulta numa intolerância à divergência, transformando uma pseudo-ciência como a parapsicologia em afirmação católica de um padre jesuíta, mais do que de um pesquisador dos fenômenos paranormais.

Link recomendado : https://www.youtube.com/watch?v=6boC3a4GVzs (Padre Quevedo X Lúcifer - Fantástico (2000))

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.





segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O CIRCO

No trapézio eu vejo
os saltos mortais
de corpos soltos,
a liberdade do salto
em seu canto
de coreografia,

entre os malabares,
a habilidade burilada
com força e afinco,

os palhaços, estes médicos
da alegria, nos brindam
em risos e sorrisos,

e temos equilibristas e
contorcionistas,
que fazem as suas
com mestria,

o mágico que nos dá
a ilusão da vida
que é o sonho
e o divertimento,

passam todos os sonhos,
o circo fica a nos dar
a alegria de viver
como um lenitivo
das dores profundas.

30/09/2019 Gustavo Bastos

CORAÇÃO BRILHOSO

Sente passar em seu coração
o ritmo de uma nuvem,
pois do azul caribe
em seu passo montês
sussurra a febre.

A moça com seus cachorros,
e um gatil infernal
que mia de madrugada
espasmos e orgias.

Leva em seu sonho
este brilho de panteão,
como uma sábia
que também
é louca.

30/09/2019 Gustavo Bastos

ARRUMAÇÃO DA POESIA

Os objetos da casa se juntam
aos montes :
comprei uma mesinha
e tenho muitos livros,
uma epopeia se insinua
defronte ao espelho,
a poesia épica briga
com um romance amarelado,

bom, e entre os discos,
vejo um hendrix pedindo
para ser ouvido mais
uma vez, again and again!

nos altares, buda se refestela
entre nossa senhora
e duendes loucos,

saio de mansinho de minha toca,
e declaro à vida das ruas
estes mistérios que guardo
em meus delírios
de poeta.

30/09/2019 Gustavo Bastos

AS COISAS ETERNAS

Sei de coisas imorredouras
que faz da campanha da luta
os girassóis do surto,
e como sóis em loucura,
ficam tontos e morrem
vivem delirantes.

Se estas coisas eternas
são enumeradas em infinito,
o sonho as derrete
e vira delírio,
este delírio vermelho
que pinta de rubro
seu debrum de sangue,
este delírio que tem
em si sua fuga
e encontro,
uma filosofia
do eterno.

30/09/2019 Gustavo Bastos

CÉU LONGÍNQUO

Resta em um cantinho de nuvem
os sonhos infantis,
lembro de um jogo de amarelinha
e cordas de chicote queimado,
não pulava, eu caía,
e sentia em meu peito
que era poeta do absurdo,

longe, lá no canto matinal
d`aurora, vejo em sinal
de alerta as cores de poesia
pintar meu rosto
para a guerra,

ah, e que dia findo para a noite!
e que noite de patuscada
em que os ébrios anunciavam
em canções rotas,
a visão de um céu
longínquo e enigmático,

venho lhes dizer que os terrores
e as fortunas são o jogo duro
e voraz da selva do destino,
e nós somos os donos
de nossa sorte.

30/09/2019 Gustavo Bastos

UMA MULHER EM CINCO ATOS

Uma mulher em cinco atos :

primeiro ato :
surge da imponência de uma chuva
com as cartas na manga
e o doce de sua língua
como delírio de formas
e espírito livre.

segundo ato :
passeia, em seus meneios,
e delira com o sol
tal uma fada rosa.

terceiro ato :
cai de uma queda que tonteia,
risca com o giz o chão
de mármore, e chora lágrima
em seu futuro brilhante,

quarto ato :
da paixão que renasce, sente
o peito em tempestade,
e se veste em bruma
para seu coração
acalmar,

quinto ato :
pinta em seu acorde de luz
cinco estrelas em passos largos
de felicidade eterna.

30/09/2019 Gustavo Bastos

RITOS ANTIGOS

Das coisas atávicas eu tenho
um meio de decifração
de esquemas e regateios,
pago com ouro em espécie,
prata mordiscada
e um aço de bronze
em cobre e estanho,

certo, da promessa com fulcro
em missas sagradas,
os santos cantam em
uníssono o som
da harpa dourada,
como um delírio.

Me tenho por inteiro, com o corpo
batizado em chuva e estrela,
e no tilintar das cores
um som sinestésico
em que o verde vem agudo
e o azul grave,
o vermelho em tom maior,
e vejo lilases como
melismas de erudição,

das coisas atávicas tenho
a mais profunda alucinação,
como um ídolo do canto primevo
das dores e dos amores
e danças entre os fogos,

gemidos da terra inculta
aparecem entre estas hordas,
até que o sacerdote da
primeira era pega seu
cajado e funda a língua tribal
que dará aos ritos perdidos
uma fundação sagrada,
o panteão de novos deuses
e sua poesia feérica
de sol.

30/09/2019 Gustavo Bastos

A POESIA VITORIOSA

O combate que as palavras travam
é a fonte de um riso imortal
que enuncia a alvíssara
de uma aurora eterna,

regente em saturno, tua terra
vem com o monte e a vida
funda e intensa de um
fogo batismal,

a poesia, infensa ao fracasso
dos burocratas, decreta
em seu sangue a sua
vida, traça em grito
seu estilo de vida,
a poesia burilada
como máquina,
a poesia estrelada
em ritos sumários
de possessão.

30/09/2019 Gustavo Bastos

RELVA ESOTÉRICA

As folhas caem na relva
com os olhares perdidos
de um estupefaciente,
as notas que caem
sobre o grande
vulto do coração,
é a emoção sentida
da vitória,

mas, com o olor das flores
na relva verdejante,
o poeta se embriaga
e vira nuvem,
desaparece magicamente
dentro de um sol
rachando a terra
e queimando
a morte,

pois, da morte à vida,
ressurrecto está
teu canto azul,
e se vira em sete pontas
como um símbolo
perdido de pendores
esotéricos.

30/09/2019 Gustavo Bastos

TRAÇADOS DE RAPSÓDIA

Traçando uma linha imaginária,
vou ao fogo que mora no absinto,
e sem recuos, na febre exilada,
tento me libertar.

Os olhos, como poços de piche,
alardeiam os calabouços e as masmorras
aonde jaz a razão,
e um ímpeto de louco
toma a face da poesia.

Desde muito, nos cantos primevos
e antigos, as fadas rubras sorriam
sob um manto azul cobalto
de magos adoradores
de ervas,

na fauna atrevida dos sonhos,
sete magos de bruma
visitavam o palácio
arborizado da poesia,

pois, quando da queda do anjo,
a harpa tocava a poesia
de rapsodo com o brilho
de um canto silvestre,

venho lhe dizer o mistério :
a sorte é um escudo
que nos rodeia.

30/09/2019 Gustavo Bastos