PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CORPUS POÉTICOS

Canta a paisagem,
o ritmo vai sem vacilar,
a tolice permanece em seu lugar,
o poema dança pelas árvores,
cai de folhas de outonos fáceis,
rumoreja ventos
de sabores
e venenos.

Ora canta, a hora vazia,
aquela hora da poesia!

Não sei mais de nada,
de nada saberei
da voz astuta,
minha figura não está aí,
está em mim,
voz nua, sincera,
que em cada dia
sobrevive,
possante,
intacta,
meu corpo vê,
minha alma antevê,
e todo poema
é um corpo
que a alma
constrói,
sem mais nada,
sem vociferar.

11/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

POEMA QUE ARDE

Vidas que esperam,
malfadadas vidas
de pélagos e mirantes
sem rumo,
violáceas violetas,
violentas flores
de apedeutas.

Do mar morto,
cemitério de peixes,
água viva e ouriços
do mar,
do mar sal,
do sal vítreo poesia,
canta         oras e horas
                      vindo nu do fastígio
       erva monumental
                          quartzo ametista
                          ágata topázio
                          esmeralda e
                                       turmalina

Vai no veio das goivas
enrugadas da xilogravura,
o bronze se molda
na escultura,
e a manivérsia
dos costumes
são tranquibérnias
de velhacos
de alma velha.

As carótidas, intactas,
                a retina   e   as
                                   pupilas
lordose trombose vitupério
mormente salgado
              mar impreciso
        horizonte
              sem olhar qualquer
        coisa sem vida
                    a vida pulsa
                    o pulso
                           do poema
                    que pulsa
                                poderá
                    revelar
                             coisas
                   de maldade    má   fé
                   e depois revelar
                   a bondade
                   a cruz     a fé
                   o riso
                         comédia drama tragédia
                   recintos alegres
                         de modas passageiras

Vejo em mim uma grande realidade,
poesia em mim é sempre saudade.
Mas que arde, arde de arder
todo o fogo que está na pira
e no caos dos poemas tortos.

11/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

  
 

PROSCÊNIO DOS LILASES

Amálgama dos sorrisos,
de todos os sorrisos,
sorri em devaneio
sem olhar suas lástimas,
sorri de sonho em brasa,
sorri pelas poucas horas,
sorri pelo ócio,
sorri olhando
o mar.

Estava a senhorita Lilás
com seus matizes
de funda sombra,
elencava em seu mistifório
rendas novas,
costuras infindáveis
de que se faziam o dia
de Lilás.

Outra nuvem, de outra época,
encantava-se nos pés voadores
de pássaros nus,
convite à meditação
numa plêiade
alvoroçada
pelo denodo.

Cantava sóbria
Lilás com seus
cantares.

Seria o Rei, fina flor
do Lácio?
Desvenda no xadrez
o ataque de semitons
dos cavalos,
e então se entrega
a torre
pela sobrevida
da rainha.
Seria o Rei, falso Rei?
Seriam noites de Rei,
falsas noites?

Ora, num lago sem mistério
se resolveriam todos os enigmas,
desvelado o sol,
desvelada a lua,
sobraria ainda a sinfonia,
a linda sinfonia
de concertos
polifônicos,
depois das setas ao fulgor,
resolveriam o sol e a lua
socorrerem a Terra
e suas lutas.

Veria, eu-poeta,
a flor verdadeira
no coração vigiado
e as estrelas do poema
no proscênio ensaiado.

11/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

ALÉM DO VÉU DE ÍSIS

Seu trono luzidio, de longe
ele reluz,
de longe,
bem de longe,
sombras e penumbras
saem da vala negra,
o impropério do opróbrio
digladia-se com a alma
de Lótus,
ferve a Espanha,
ferve Portugal,
ancorados ao mar
em suas últimas
navegações.

Quem, de mim amiúde,
fará referências sutis
ao poeta que reluz?
Pois sombras e penumbras
também reluzem?
Luzidio o farol está feito.
Está feito, sem defeito,
o rarefeito poeta.

Como antigamente,
não seria o sino do mar
um refúgio
do sol que refulge?
Não seria?

Como antigamente,
um vinho soturno
e uma mulher de ancas
firmes, muito firmes.
Ela pousou e recitou
um poema para as flores.
Ali descansavam as pétalas.
Ali nasciam rosa desvendada,
gerânios filosóficos,
orquídeas sonhadoras
e tulipas radiantes.

Safira, com vestimenta reluzente,
também reluz.
Luzidio o metro sem medida,
afável o sonho vertical
de cânticos da névoa.
Areia fofa, areia branca,
a pétala da pedra filosofal
refundava o mundo
com as luzes fundamentais,
o termo essência
se mostrava além
do véu de Ísis,
sentimentos sedimentavam
o caminho das levitações.

Como andava o poeta
em sua miragem?
Não as vi, as miragens
de um dínamo celeste.
Resistia aos encantos,
fazia dos jogos de luz e sombra
o efeito relaxante da penumbra.
Não sabia de cor nenhum
de meus poemas,
e me orgulhava disso.
Os trechos transitavam livres
no parque de diversões
do meu pensamento,
e eu também era livre
de todos os sofrimentos.

A queda da cachoeira
no rio do esquecimento
fundou o segredo virulento
de uma verdade
que nunca foi dita,
mas sentida
no coração
que tudo viu.

Os poemas continuam
caminhando,
noite sem fronteiras,
vestes rotineiras
de um poeta
com suas
amendoeiras.
O silêncio sorri,
e tudo é fundamental.

Desde o cajado dos
Sete Sábios,
ao vigor apátrida
dos sem lugares,
meu lugar
é o universo,
e meu trabalho é
descobrir os enigmas,
passear no perípatos
da razão,
e gritar louco
nas gerações inumeráveis
de poetas dionisíacos.

A caveira da alma
é o osso que faz ritmo
nas vísceras
do verso.
Todo o resto se joga fora,
e ficamos com o corpo vivo
do poeta,
já era hora!

11/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

SOBRE O PRIMEIRO APOCALIPSE


I – A GÊNESE

   No começo Kaos reinava, o terrível sopro não tinha ainda soprado, a máquina de tudo era ainda incipiente, e aí então o mestre se autogerou, num campo sem chão em que a História ainda não era, e nem eram os seres, o mestre se autodenominou Zion, cresceu nele tumores de vida, ele ficou grávido do Ser, ainda não era a existência, Zion ainda estava acordando, tinha uma tarefa árdua pela frente, criar de Kaos o mundo enfim.
   Demorou até o despertar completo de Zion, ele fumou uma erva que nasceu de seu pé esquerdo e com seu pé direito retirou da seiva de seu dedão a flor de Lótus alucinogênica que lhe permitiu ter visões místicas. Zion estava pronto, seu pensamento acabara de nascer, ele se descobriu imortal, mas não teria como conceder tal imortalidade para os seres que cresciam em sua barriga, Zion resolveu estudar e planejar tudo, ele não sabia como ele mesmo havia surgido, mas logo entrou em conflito com Kaos.
   Kaos não era um Deus, Kaos era o não estar em nada, Kaos era o antes de todos os ontens, não havia tempo em Kaos, mas do pensamento que nascia e despertava em Zion, ele tomava seu pensamento como o nascimento do tempo, de seu pensar ele já sabia como seria o Ser, a matéria existencial se plasmava, Zion estava em conflito com Kaos, Zion teria que derrotar Kaos para de seu ser autogerado, ato puro, nascesse vida, e vida em abundância.  
   Zion ficava enorme, logo se tornou um gigante, cresceu na enormidade infinita que era ele mesmo, já não cabia no nem não-ser de Kaos, ele estava embebido no paradoxo, piores do que os paradoxos de Zenão de Eleia, ou das aporias perturbadoras da lógica imperfeita. Mas, Zion era perfeito, e não poderia ficar no estado mutável de paradoxos, a primeira conflagração começa, Zion se torna a própria transcendência, era o Prana, era o Karma e era o Nirvana.
   Zion se tornara o tudo no todo, e o todo ainda não era Ser, para sair de Kaos definitivamente, ele teria que regurgitar os seres que cresciam em sua barriga, parecia que era o momento, Zion já estava autoconsciente e iluminado, Zion resolveu regurgitar os seres de sua barriga, e nasceu Tempo e Abismo, nestes dois seres Zion inoculou Prana e Karma, mas deixou Nirvana só para os seres puros. Tempo recebeu Karma, e Abismo recebeu Prana, lembrando que Karma não era um ser, mas era a condição de Tempo, este sim que era ser. Prana também não tinha ser em si mesmo, ele era condição de ser para Abismo, foi então que Tempo se fundou como Karma e Abismo como Prana, e o sentido de Abismo não era a queda dos anjos, mas era tanto a morte existencial como a morte física.
   Tempo era o condutor de Abismo, Tempo era o mestre de Abismo, e Zion era a luz de Tempo e a sombra de Abismo que se equilibravam num Pólemos que virava Harmos, então de Tempo e Abismo temos Pólemos e Harmos, seres secundários na senda de Zion, pois Zion vive essencialmente de Tempo e Abismo, e neles dois fundou a estrutura da existência e finalmente derrotou Kaos. Kaos virou Limbo, e a partir de então, Zion reina.
   Mas, Zion sabia que a obra não estava completa, seus estudos e meditações lhe fizeram entender que Tempo e Abismo não eram totalmente concretos, eles eram seres incompletos, e como Zion era perfeito, ato puro, em sua barriga ainda tinha mais seres, ele sabia, e então regurgitou Terra e Oceano, destes dois criou Matéria.
   Terra e Oceano se fundiram e viraram os continentes antigos Lemúria e Atlântida, e em volta de Lemúria e Atlântida havia Mar, do profundo do Mar, Zion criou os primeiros seres vivos, daí eles começaram a evolução e o povoamento de Mar, Lemúria e Atlântida. Os primeiros seres vivos da Terra logo se tornaram resquícios de consciência, quando Tempo foi autorizado por Zion, ele fez nascer os primeiros seres inteligentes, que foram, na primeira ronda das eras cíclicas, os lemurianos e os atlantes, e foram criados, ao mesmo tempo, Sexo e Amor, que foram então inoculados nos lemurianos e atlantes, mas com Amor nasceu Ódio, e houve então uma guerra entre os lemurianos e os atlantes, de Sexo haviam nascido cinco gêneros, três foram extintos nesta guerra e restaram dois, Homem e Mulher.

II – A HISTÓRIA DE LEMÚRIA E ATLÂNTIDA

   Da primeira guerra entre Lemúria e Atlântida restaram os dois gêneros, o que não impediu experiências genéticas em Atlântida que geraram aberrações, dentre elas alguns hermafroditas, tais criaturas foram escravizadas pelos atlantes, enquanto os homens mais vigorosos de Atlântida se preparavam para uma nova guerra e a invasão de Lemúria para a extinção dos lemurianos. Começou então a ser criada pelos sacerdotes atlantes, uma nova mitologia para reinar sobre o povo, ficou no pórtico dos Sete Sábios a inscrição do deus criador Temor.
   O grão sacerdote foi eleito pelo oráculo de Temor, reinaria a partir de então em Atlântida o sábio Salesius, grande filósofo, cientista e engenheiro de guerra, poeta e excelente musicista, que fora criado por Alefim, antigo sacerdote do início da civilização atlante e que morrera depois de um surto de peste bubônica nos arrabaldes da capital de Atlântida, a cidade de Sírius, maior metrópole do mundo naquela época e repositório de toda a sabedoria e ciência de Atlântida. Lemúria, em comparação a Atlântida, tinha a capital Mussarda, que tinha castelos e o oráculo de Panassés, onde reinava o grande sábio Fronestes, que era grão sacerdote e governante de Lemúria, além de representante da mitologia lemuriana, e guardião da sabedoria e ciências lemurianas.
   Não havia muito intercâmbio cultural entre os dois continentes antigos, a língua dos atlantes era o kanoiwa, e a dos lemurianos o lemoniwa, o tronco comum das duas línguas era o bratalí, mas com o tempo e as guerras periódicas entre lemurianos e atlantes, o bratalí foi desaparecendo, sendo falado apenas pelos sacerdotes mais graduados de ambos os continentes. A origem da sabedoria atlante ficava em papiros na língua ancestral bratalí, mas só era permitida a leitura de tais papiros para os iniciados no sacerdócio Puitalaía, a ciência oculta dos atlantes, que era a sabedoria dos sacerdotes de Atlântida. Tais papiros ficavam guardados no oráculo de Temor, e quem permitia o acesso a tais papiros aos iniciados era o grão sacerdote Salesius.
   Em Lemúria, não era muito diferente, mas os papiros do oráculo de Panassés era em língua específica dos sacerdotes, um derivado da língua ancestral bratalí, o bratatiwa, que era um código secreto entre os iniciados lemurianos na ciência oculta criada pelo mitológico primeiro sábio da civilzação lemuriana, Agathe, filho do deus Termátilas, o deus que governava os destinos de Lemúria naquela época. Logo depois, a mitologia lemuriana fora reformada, e o culto de Termátilas ficou meio esquecido, nascendo entre o populacho, cantos de fertilidade do deus Dasmin, que, para o sacerdócio lemuriano, não passavam de crendices populares, mas que ganhou grande vulto em Lemúria.
   O canto de Dasmin, em Lemúria, virou grito de guerra contra os atlantes, pois os guerreiros lemurianos queriam se vingar dos atlantes pela derrota de Lemúria na última guerra, mas era impossível, pois a engenharia de guerra atlante era muito avançada, enquanto os lemurianos eram mais filósofos que homens práticos. E os cantos de Dasmin, segundo os sacerdotes lemurianos, estavam degradando os costumes dos lemurianos, parecia que a decadência cultural dos lemurianos era interminável, enquanto que a ciência atlante avançava rapidamente e o objetivo dos atlantes era, na próxima guerra, destruir Lemúria e tomar Mussarda, além de ter acesso aos papiros da filosofia do oráculo de Panassés, que era uma filosofia mais vigorosa que a ciência oculta de Atlântida, além de Atlântida querer desvelar o código secreto bratatiwa.
   Os lemurianos já não respeitavam mais o código moral público dos sacerdotes e queriam o fim do governo de Fronestes, acusado de destruir os templos e os ídolos Dasmin. O povo lemuriano logo inicia uma revolução e toma vários templos dos sacerdotes lemurianos e destrói os altares dedicados à Termátilas, e acusam a ciência oculta de Agathe, de privilegiar os sacerdotes, que viviam em opulência, enquanto que o povo vivia à míngua. Então, o líder das tribos lemurianas, Cevílias, consegue invadir com uma milícia de guerreiros o templo mor de Termátilas, o oráculo de Panassés, e os guerreiros revolucionários queimam tudo, inclusive os papiros bratatiwa, e depois vão ao castelo de Fronestes e degolam o mesmo, declarando então Cevílias, rei de Lemúria, e o culto de Dasmin como a religião oficial do continente.
   Logo, os lemurianos convencem o novo rei Cevílias a treinar um exército para lutar contra a máquina de guerra dos atlantes, a nova guerra entre os dois continentes era iminente, Dasmin era o novo guia dos lemurianos contra o deus atlante Temor. Mal sabiam os lemurianos, por sua vez, que o treinamento do exército atlante, já era um grande preparo de Atlântida para tomar Mussarda, embora o oráculo de Panassés, muito cobiçado pelos sacerdotes atlantes, já estava completamente destruído, e que a cultura lemuriana, agora, se resumia a um culto popular degradante do deus Dasmin, e que grande parte dos sacerdotes que falavam o bratatiwa, já tinham sido assassinados pelos revolucionários de Cevílias.

III - A GUERRA ENTRE OS LEMURIANOS E OS ATLANTES E O PRIMEIRO APOCALIPSE

   Antes da última guerra entre Lemúria e Atlântida eclodir, aquela que levaria à destruição das duas civilizações, e ao fim da primeira ronda, uma vidente muito conhecida de Atlântida, Safira, profetizou a vitória de Atlântida contra Lemúria, mas que haveria uma herança que destruiria por completo toda a população de Atlântida. O rei Salesius ouviu com atenção ao enigma do oráculo de Temor que, segundo a vidente, era a voz do espírito de Temor, que dizia o seguinte: “As caravanas avançarão até onde o horizonte alcança, o reinado será próspero, mas um outro Deus, muito mais poderoso, que ninguém conhece, nem mesmo a mais profunda sabedoria, dará dos céus de onde mora, a sua vingança.” Salesius não entendeu nada, e também não aceitou a interpretação da vidente Safira que, embora respeitada por todos em Atlântida, desta vez acabou irritando Salesius em demasia, que, num acesso de ira, mandou Safira à fogueira numa pira, foi uma ação temerária de Salesius, pois Safira era a única vidente que incorporava o espírito do deus Temor, mas Salesius não deu ouvidos ao oráculo e queimou Safira, e logo depois fechou o oráculo de Temor, dizendo que a partir de então Temor estava morto, e que ele era o próprio deus de Atlântida.
   O treinamento do exército revolucionário de Lemúria avançava, se sofisticava, mas Salesius não se preocupava, pois sabia que o oráculo de Temor lhe garantira a vitória, embora a palavra vingança lhe tenha provocado demais, e, em sua vaidade, ele se declarou o maior de todos, maior que a tradição atlante, maior que Temor, e muitos dos sacerdotes atlantes, que eram devotos de Temor, conspiravam contra Salesius, planejavam um atentado à vida de Salesius ao fim da guerra contra Lemúria. Salesius começava a ficar fora de si e mandou logo o exército atlante se organizar, pois, em uma semana, eles invadiriam Mussarda e matariam o rei Fronestes (não havia ainda chegado a notícia da revolução de Cevílias em Lemúria, para os atlantes).
   Por sua vez, Cevílias mandou o exército lemuriano construir fortificações para proteger Mussarda, e que, quando chegasse o exército atlante, eles tomariam conta de todas as coordenadas da região, desde o vale do Siso, até as montanhas de Henan, última fronteira conhecida do continente lemuriano, donde se tinha a vista do continente de Atlântida, pois ali era o estreito que separava os dois continentes, o estreito de Mubauram, onde se tinha Mar no meio, e que, nos verões, secava, possibilitando a passagem à pé de um continente ao outro, embora aquela região, despovoada, e que só recebia gente em períodos de guerra, fosse um lugar estratégico. Pois então, Cevílias já enviara uma tropa até lá para ficar de sentinela até a chegada dos atlantes.
   Passou a semana, e então Salesius deu a ordem: o exército atlante invadiria a Lemúria pelo estreito de Mubauram, e avançaria em terra firme desviando das montanhas de Henan e do vale do Siso, pois Salesius sabia que nestes dois lugares os atlantes eram vulneráveis, restando então, o avanço atlante margeando o continente lemuriano pela enseada de Hocham até Mussarda, que ficava no fim desta enseada. Enquanto isso, uma das tropas lemurianas aguardava os atlantes para a primeira batalha no estreito de Mubauram.
   O exército atlante chega ao estreito de Mubauram, guerreiros lemurianos, em tocaia, atacam os atlantes que, devido ao treinamento rigoroso, revidam com espadas e formações triangulares que os lemurianos desconheciam, só havia uma tropa lemuriana no estreito, o resto do exército lemuriano estava nas fortificações nos arrabaldes de Mussarda, pois Lemúria não tinha outra alternativa, teriam que se defender até o fim, e o resultado no estreito de Mubauram não poderia ter sido outro, o exército atlante, muito mais numeroso e poderoso, massacrou a tropa lemuriana que ali se encontrava, avançando, então, agora com o caminho livre, em direção à Mussarda, pela enseada de Hocham. Cevílias já prevera a derrota, e logo premuniu as fortificações de que os atlantes provavelmente venceriam no estreito, a tropa só ficara ali como um primeiro gesto desesperado de Cevílias.
   Depois de uma caminhada duríssima de 35 dias pela enseada de Hocham, o exército atlante chega aos arrabaldes de Mussarda, e logo o exército inteiro de Lemúria sai das fortificações e luta contra os atlantes. Mas, mais uma vez os atlantes levam a melhor, suas formações triangulares e suas armas mais sofisticadas massacram todo o exército lemuriano, depois de 7 dias de guerra sangrenta. Os atlantes invadem então Mussarda, e vão atrás de Fronestes, mas encontram Cevílias no lugar dele. Embora confusos, eles matam Cevílias e capturam grande parte do povo lemuriano (os que não foram assassinados pelo exército atlante) e os levam como escravos para Atlântida. Só que, infortunadamente, não encontram o oráculo de Panassés, só ídolos de ouro de um tal deus da fertilidade Dasmin que, por óbvio, o exército atlante ignorou e os derreteu para levar o ouro até Atlântida. Antes disso, destróem o que restara de Mussarda, que vira uma cidade fantasma, só de ruínas. E o continente de Lemúria vira um deserto.
   O exército atlante retorna à Atlântida depois de 52 dias de caminhada, metade dos lemurianos capturados para serem escravos em Atlântida acabaram sendo sacrificados no caminho pelo exército atlante por falta de comida, só havia provisão para um número restrito de pessoas, e próximo à Atlântida, houve um morticínio, pois senão haveria uma outra guerra, dessa vez por alimentos. Enfim, o exército atlante chega a Salesius, e dá a notícia da vitória e do extermínio do povo lemuriano. Salesius pergunta logo dos papiros de Panassés, mas o general Furgo, líder do exército atlante, comunica o que havia ocorrido antes da chegada deles em Lemúria, e então, Salesius fica irado, e manda matar Furgo e mais três tenentes, pois não se conformava em não desvendar o código bratatiwa. Mas, os abusos de Salesius estavam passando dos limites, parte do exército atlante, embora fiel ao rei, acaba por se revoltar com suas ações desmesuradas e não aceitam a morte de seu general Furgo. Logo, os sacerdotes conspiradores, que queriam se vingar do fim do culto à Temor, imposto discricionariamente por Salesius, cooptam esta parte do exército insatisfeita, que era mais que a metade do contingente de todo o exército atlante, e planejam a morte de Salesius. Fica evidente, também, que Salesius já não estava de posse de seu juízo desde que baniu Temor da tradição atlante.
   Salesius é raptado por dois soldados na madrugada, e entregue ao líder da conspiração, o sacerdote Timério, que interroga Salesius e diz para ele reestabelecer o culto de Temor. Com a negativa de Salesius, Timério ordena um dos soldados a degolar Salesius, arrancar a sua cabeça, e expô-la na praça central de Sírius como símbolo do retorno do culto de Temor em Atlântida, e a vingança da morte da vidente Safira, que era considerada santa entre o povo e os sacerdotes atlantes.
   Mas, não era esta a vingança profetizada pelo oráculo de Temor, a morte de Salesius era só um falso sinal de que tudo retornara ao normal e de que a justiça estava feita. Pois Timério ordena um novo código moral público criado por ele mesmo em um papiro escrito em 32 dias e que vira regra geral do convívio e dos costumes atlantes, o que desagrada grande parte do povo atlante, e acaba que um dos populares mata Timério, depois de 3 meses de vigor do novo código, e o povo atlante se volta contra os sacerdotes que são dizimados, e então, Atlântida cai na anarquia e na decadência moral e cultural, com inúmeros ídolos de madeira e de bronze, até que uma guerra sangrenta pelo poder entre várias tribos atlantes, matam mais da metade do povo atlante, que, por fim, é dizimado por um terremoto e por um tsunami que abalam violentamente os continentes de Atlântida e Lemúria, acabando com estas civilizações ancestrais.
   Os poucos que sobreviveram, foram para uma ilha desconhecida até então, que hoje sabemos ser a ilha de Creta no sul do Mar Egeu, que criou a nossa civilização conhecida depois de migrações para o rio Tigre e Eufrates, e para o Egito. Acabou assim, a história trágica das civilizações lemuriana e atlante, este foi o primeiro apocalipse, e nada restou de material desta loucura toda, senão os registros de Timeu e Crítias de Platão. Zion provocara com seu sopro o fim desta História que virou lenda e que povoa o imaginário antigo e contemporâneo, passaram-se 12.000 anos desde então, e o mistério continua. Zion cria o novo mundo logo após este cataclismo, e o Mar violento levou e elevou este mistério. Submersa, a lenda ou História continua, e Zion sempre reina, desde o fim de Kaos e desde o começo das eras. E Tempo se encarrega de tudo explicar, e Abismo de tudo esconder.

11/05/2012 Contos Psicodélicos
(Gustavo Bastos)  
 
   
   
 



   
 



   

quarta-feira, 9 de maio de 2012

NA DOCE AURORA

Arrebata-me, céu estranho,
delírio retumbante,
veredicto terminante.

Vozes sonham caladas,
são vozes abortadas,
vozes silenciadas.

Eu não tenho culpa
disso tudo.
Não deveria me furtar
a uma noite bem louca,
um suicídio heroico,
um torpor hipnotizado,
um verbo narcotizado,
e o coração convulsionado.

Não vejo o bardo em seu nardo,
a não ser quando ele
acorda,
do sonho da noite
ele desperta a saudade
da manhã.

Cedo, na doce aurora,
a sua paz vigora,
e o sabor do almíscar
termina em sândalo.

09/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

NASCIMENTO DO POETA

Dor eterna, das almas
às noites de festa,
canto porque canto
sem mirar apenas
meu pranto,
tal encanto não faz tanto,
era um delírio.

E o vigor, fada perfeita,
vem em mim com cores
matizadas de pintura
sonhada e de verso
espantado.

Do espanto, dizem,
nasce o filósofo.
Pois assim digo:
do encanto nasce
o poeta.

09/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

NOITE EM CLARO

Dos ares da rua o livro
se constrói,
da bela figura
que se observa
com minúcia,
tem na contenda
o ritmo,
e na algazarra
dos botequins
um universo inteiro
de devaneios.

Fui sem me lembrar de nada,
pois o claustro
sempre se fez necessário
ao poema,
incuti no verso
tal desamparo,
e num gesto desazado,
tão rimado,
passei a noite
em claro.

09/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

ALMA VOADORA

Vultos, esferas sombrias, o grito
se anuncia.
As falas repetidas na ânsia
são ecos da solidão.

Não quero o teu perdão.
Não sou o teu sonho em vão.

Mas, encanta-me nesta senda,
vá ao rio e reze por mim,
reze à fada e ao demônio,
seja luz em sombra
sem remorso.

Quantas ancas são sinuosas
como as tuas?
Eu, que nunca tive o epíteto
de herói, gargalhava
no céu olhando o abismo.

Tinha medo de cair,
mas não tinha medo
de voar.

O sonho que alimenta,
pode ser, talvez,
a destruição da realidade,
pode ser uma saudade,
e dele nada se retira
impunemente.

O canto das águias
e o mar salgado
e minha sede
e meu grito
e meu silêncio
são os poemas.

O vinho do sentimento,
ancorado nu na praia,
faz do verão leve sonata,
tal minueto ou concerto
em sinfonia de fuga.

E tu, deusa nua,
ou diaba da floresta,
não me revela
teu nome
senão como uma
mentira
que eu criei.

Sou louco.
E no canto das esferas
a longa espera
é o fim da alma
quando ela morre
desencantada.

Mas nada nela fica,
ao imortal sonho
ela foi.

09/052012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)



domingo, 6 de maio de 2012

OS POETAS DO ABSURDO

Ventos suaves na melíflua
canção.
A paisagem sonha com não sei
o quê, mas sei que é bom.
A bondade não é uma ação
ridícula,
pois ridículo somos todos
quando ignoramos
o sofrimento de uma alma,
não abriremos caminhos
aos canibais devoradores
das nossas vidas,
seremos poetas,
poetas da vida,
poetas sem ter nada,
poetas sem medo,
pois da poesia se descobre
que a existência
é um assim estar
em boa miséria,
a miséria do amor
que nos torna
poetas,
poetas sem lei,
a lei é só um esforço
contra o absurdo,
mas absurda é a vida,
e absurdos são
os poetas.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

SERIAL KILLER

Vem, desejo mortal de matar tudo,
vem déspota assassino
julgar a minha carne,
fazer estrume do meu lazer,
lançar aos urubus na febre
todos os meus sonhos,
correr indefinidamente
por todos os cantos do mundo,
cantar a sangria de meu cadáver
como a entranha do precipício
em que teu tribunal queimará
como se queimam as almas do hospício,
mata-me! mata-me! vai, engodo,
peste bubônica, bílis negra
da amargura ao som do féretro
das rosas em sua morte de urros,
noite intempestiva como temporal
das têmporas no sol que afunda,
vai! não me mate sem dor,
me mate de uma vez em seu rancor,
faça de tua inveja brutal
o meu mais vil sonho de glória,
a melancolia te pegará
depois de teu infortúnio,
e eu não terei pena
porque não tenho pena
de ninguém,
meu poema é o alvo e a redenção,
sou estrela infinda que vigia
o tempo todo o meu coração inteiro,
eu tenho a tua cabeça como prêmio,
sou anjo torto transfigurado,
sou homem morto que não morreu,
degustarei teu pâncreas,
beberei teu fígado,
triturarei o teu estômago,
e arrancarei o teu esôfago,
vou atacar os teus pulmões,
queimar os teus rins,
derreter os teus testículos,
fritar o teu cérebro,
derrotar o teu coração,
ridicularizar a tua língua,
e ler nos teus olhos
antes de queimá-los
sem pudor e sem piedade,
vou juntar a tua carcaça
numa noite de febre
e revirar a tua tumba
quando bater o sacrilégio
da meia-noite.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

DEPOIS DA FESTA

Lembro-me de como a imaginação
de um jovem acha tudo tão fácil,
mas quem disse que tudo seria fácil?
O que ali gritava de desespero
numa dança escura
é o que hoje amadurece
como arte e filosofia.

A festa já se foi há muito,
restaram o lixo de ontem,
os jornais de ontem,
a mesa com os restos de comida,
as garrafas de vinho vazias,
o tédio como companhia
nos dias frios,
a colher de sopa manchada
de feijão,
e o silêncio reinante
no coração.
O silêncio da surdez
depois do grito.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

MANHÃ DO PASSAREDO

A manhã já dorme calma,
pássaros não sei de onde
vigiam a sonolência
dos campos sonhadores.

Verei meu amor na planície
qual surgimento vigoroso
em cântico de triunfo,
verei meu sangue
e minha raiva espatifarem-se
como o vidro que
me persegue.

Olharei, saudável,
meu descanso na montanha
com o prazer da visão
pelo horizonte
do mundo sem fim.

Infinda caminhada,
noite estrelada,
conhecerei meus cantos doces
sem nem a força juvenil
ou a penumbra da covardia,
mas com o coração forte
de uma força madura
que já não chora de dores,
mas vence por tudo querer
e por tudo alcançar.
A noite longa da ferida já dormiu
e o pássaro já cedo acordou.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

POEMA INEVITÁVEL

Onda fluvial, quando marítimo
é o seu desenlace.
Poema porque sim.
Dálias nascem sem nada
temer,
a saudade fria e quente
em calor de gelo,
a dor fúlgida
em peste rubra
no carmesim
do vermelho
e da pólvora.

Vida-semente, trota
sem partir,
não morre o imorredouro
de todo êxtase,
não vai embora,
amor da minha vida,
que minha fonte não seca
antes de eu viver
todo o fulgor
que meu langor
odiava,
que viverei sem tempo nenhum
senão no tempo sem paradeiro
em que a dália, mestra da poesia,
me afaga os olhos,
que antes vidrados,
acordaram e sonham
sem pensar.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

ALLEGRO POETA

O coração quer abarcar
o mundo.
A vida semeia sem pensar
nela mesma.
Da maçã ao licor
vivo em vinho forte!
Das águas vindouras
sou eu meu ser inteiro,
poema sem nome
na dor do mundo.

E quanto mais eu canto,
mais eu quero cantar.
Cantar o silêncio que ecoa
na margem do abismo.
Cantar o coração vazio
quando a angústia
se avizinha.
Cantar o sonho vivo
que nada morto está.
Cantar a vida, pois da vida
é que temos o dia que vem
sem ter nada mais que vida.

Louco, o poeta sabe
que já sofreu,
mas na dor não se corrompeu,
na dor ele cresceu,
e na alegoria simples
ele ficará.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O PRAZER TRANSCENDENTE

Os haveres de um sorriso
não morrem na praia.
O fastígio poético
edulcora a paisagem.
Finda a agonia
resta o prazer
de estar vivo.
Começada a aventura,
que enfrentemos o perigo.

A visão alcança o mundo
na pena febril,
vão e vêm os cânticos
da inspiração.

A alma nasce da lama
e vira flor no pomar
da poesia.
A noite calma invade os olhos
e na palma da mão
frutifica a vida
que é mais que ela mesma
quando vemos
que nada basta,
pois o prazer da criatura
não se esgota na criação,
o imanente insuficiente
encontra a sua ciência
no mistério da transcendência,
e assim se fazem poemas.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

DESENCANTO MUNDANO

Os românticos são trespassados
pelo mal do amor,
quanta água em sonhos vis!

O poema, carta sem destino,
se escreve na paixão do momento,
o sol refulge e anota
no prazer da areia
seu folguedo de fogaréu.

Não resistem o ócio
e todos os vícios,
o poema os redimem.

Eu escolho o caminho
que a onda percorre,
as letras me socorrem
em festa,
e numa noite sombria
o caos em mim
vira sinfonia.

Como andar certo neste mundo?
Mundo cruel que rapta
os meus sonhos delirantes.
Mundo do fel que mata
as almas errantes.
Mundo sem céu onde se vinga
o desencanto.
Mundo de todo mundo onde vive
o meu canto.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

NO JARDIM DA FILOSOFIA

Sacrílegas dálias,
vingadoras orquídeas,
tulipas desoladas,
rosa impura,
sonho medonho.

Do jardim em que
jogo a minha água
nasce o girassol,
conserva em meu coração
o limbo das formas,
o segredo das cores,
as armadilhas das paixões.

A flor, vinha enamorada,
espera seu ritmo nascer
depois das folhas.

A relva, paixão nua,
olha sem entender
a primavera.
E no outono recebe
o vermelho
de uma rosa
sem pecado.

Vou plantar o meu jardim,
vou saborear as minhas flores,
meu lindo sonho vivificará
no sonho maldito
de um amor imperfeito.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O DOM SAGRADO

Quanto mais chegarem
os novos poetas,
refulgindo sóis amarelos
e vermelhos,
como fogo se lembrarão
da morte a da vida
como noite e dia,
como selva e ferida,
como licor e verdade.

Quantos serão os escolhidos?
Quantos serão eleitos
os perfeitos adoradores
de Baco?

Onde mais senão no cataclismo
em que versos emergem
da profundeza abismal
dos corações.

A convulsão do tear náufrago
desconcerta o homem sem visão,
e os poetas, vagabundos
e sem história,
jogam suas palavras no vento
enquanto outros
não entendem
o dom que é a vida
e o ritmo que funda
o que sacra poesia.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A PAIXÃO CORAJOSA

Há tempos que a saudade
toca o coração no espasmo
do desespero.

Quantas hordas passam
sem olhar os seus mortos?

Vejo os milhares de olhos
da procissão,
uma gota de sangue
é encontrada
no fim da estrada.

A morte saúda seus infantes,
um canto de seus labores
é o sinal da boa aventurança
de seus pés e mãos
atarefados.
Correm saudáveis pelas ruas
no mistério do que fica.
O perigo se alastra em suas vidas,
e nunca saberão quando ou onde
descansarão.

Nobre é o esforço de seus
caminhos, outra senda
não há aos que viram
a vida pela compaixão
e pelo denodo,
são senhores de si
e do mundo.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

SABEDORIA DOS MARES

Não existem espíritos sobre as paragens.
No vinho e na rotina do fel
o céu está posto numa nuvem
sem fogo.

O claustro poético enumera
as sete virtudes cardeais:
calma, serenidade, parcimônia,
compaixão, coragem, saúde
e criação.

O poeta as quer como um
exercício de sabedoria
aprendida nos reveses da vida.
Anuncia, qual espada quebrantada,
todos os ímãs de suas saudades,
todas as notas tocadas
no inferno do verso.

Em outra romaria, ao passo firme
de um homem da lei,
sabia aos poucos como derrotar
as procrastinações.
Andava absurdo pelo campo do dia,
e sentia orgulho de sua luta
pela alma de todos os seus dias
enquanto estivesse vivo.

Lograr salvar a si mesmo
e rogar à vida
sua empatia
sem os convivas.

Noite já ia alta, poetas
se reuniam no silêncio
daquela noite alta,
os versos cantarolavam
rimas e seduções febris,
os pássaros que saíam
de seus corações
viravam
celebração e êxtase.

As horas se passaram
no toque do fim,
veio logo cedo um sabor
de fuga,
mas não fugiram desde cedo
os cantores da madrugada,
ficaram à espreita
na praia saudando
o mar.

05/05/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)