PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

HAICAI - XXXV

Traga um bom fulgor
de estrada que vem mostrar
o sem fim do amor.

17/09/2012 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XXXIV

Inteira poesia
de rima que me sorri
toda sua ambrosia

17/09/2012 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XXXIII

Peço ao sonhador
que me traga o que já vê
pois ele é sabedor

17/09/2012 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XXXII

Como carne em sol
sem dó de viver tão só
num dia de arrebol

17/09/2012 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XXXI

De manhã acordei
com o tombo da fulô
do amor que sonhei

17/09/2012 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

AMOR NUBENTE

[soneto decassílabo heroico]

Teu amor me deu uma flor de riso solar,
que jovem flutua e dança com saudade,
de um amante veraz que vem cantar,
flor de sorriso lindo na sã idade.

Teu livro aqui se cumpre com bom lar,
rima pueril que sonha em claridade,
todo olhar livre de vinho e vagar,
num cantar de langor na noite que arde.

Bela luz do meu lírio, flor plangente!
Que de noite o mistério é mais mortal,
com gerânio e mil cartas indecentes.

Vejo teu seio de fêmea em praia nubente.
Meu mais certo amor de canto geral,
de sutis rimas tórridas e quentes.

17/09/2012 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

AZUL LETAL

[soneto decassílabo sáfico]

E o nó ferido, de ritual das eras,
é luz de vinho com demônio vil,
que nasceu turvo como giz deveras,
da terra muda que brotou e pariu.

Satã livrou seu matrimônio mal,
com olhar vivo e que matou quimeras,
num golpe sujo como faca e cal
de um punhal na dor que tu revelas.

Luz nasceu livre das canções azuis,
num verde campo de fria morte atroz,
redesenhada com poesia sem voz.

Luz finda e viva de sons que compus,
pelo verão de incertos tons letais,
que vingam versos do vazio que jaz.

17/09/2012 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

domingo, 16 de setembro de 2012

KEROUAC NA ESTRADA

                                      

   A geração beat floresceu na literatura e na vida americana como uma afirmação de liberdade criativa que inovou todo o cenário da cultura e da arte feita até então, tanto nos EUA, lugar de referência deste movimento, como depois na França e de forma menos intensa em outros lugares. Houve até a influência do jeito beat de se vestir na moda, pois o estilo de escrita, de viver e da aparência um tanto diferente para os padrões até então conhecidos, trouxe um novo ar de aspirações para as gerações que vieram depois desses poetas, escritores e boêmios que, numa prosa espontânea, revolucionaram toda uma época. Na sua sede de vida e de liberdade plena, tiveram a influência direta do Jazz, sobretudo da vertente Bebop, de mestres como Charlie Parker e Dizzie Gillespie, que determinou o estilo de escrita desses jovens da geração beat que se firmava nos anos 50.
   Além de Jack Kerouac, que escreveu o maior clássico beat, o romance On The Road, também havia outros caras tão brilhantes como ele. A grande síntese do estilo beat estará, sobretudo, na figura de Neal Cassady, o qual será o modelo ideal de vida de Kerouac, e que aparecerá na santa figura de Dean Moriarty no romance em questão. Dean Moriarty é Neal Cassady, assim como outros personagens serão representativos de pessoas reais neste romance. Lembrando que há uma mistura de ficção e realidade em On The Road, em que Kerouac transforma suas memórias em literatura. Rezando a lenda, nem tão lenda assim, de que sua primeira versão, em muitas partes censurada e corrigida pela editora Viking Press,  quando da sua publicação em 1957, fora escrita em três semanas em um rolo de papel de 36 metros, o que foi afirmado pelo próprio Kerouac em uma entrevista.
   Outros da sua geração que se destacaram, além da figura mítica de Cassady, que não teve uma produção grande, mas que foi, sem dúvida, um dos mais beats de todos eles, foram o mestre William Burroughs; o maior poeta dentre eles, Allen Ginsberg; além de Gregory Corso, Gary Snyder, algumas mulheres como Diane DiPrima, e o grande divulgador da literatura beat, o editor e também escritor Lawrence Ferlinghetti.
   O mito da estrada tomará corpo em On The Road de Kerouac (na versão brasileira como Na Estrada) e se tornará a fuga e o encontro ideal da alma beat com sua verdade, ou seja, a viagem pela estrada como liberdade e autoconhecimento. A libertação pela vida na estrada já fora tematizada na literatura americana, mas o vigor beat, o qual se consuma em On The Road, é algo inédito, pois vinha de um ideal de renovação de toda uma concepção de vida e de escrita, a vida e a arte num improviso de Jazz. Toda a pulsação do “It”, o que poderia ser traduzido como um alcance ontológico da essência, quando tudo se torna um, e o músico e seu instrumento, tal como no Jazz, ou o escritor e sua escrita, transcendem qualquer cálculo e se tornam uma unidade perfeita, seria o grande objetivo de toda arte.
   A aplicação do Jazz como modelo para a escrita beat fora praticada com muita intensidade por Kerouac. Ele encontra uma forma de escrever que lembrava a música sincopada dos grandes mestres do Jazz, sua escrita objetivava ter esse efeito estético que era realizado pelos músicos do Bebop.
   On The Road é uma aventura de jovens que queriam se divertir e se descobrir na estrada, toda a liberdade em busca de um Oeste ideal permeia todo o enredo deste romance de Kerouac. Old Bull Lee em New Orleans era William Burroughs; Sal Paradise, o narrador em primeira pessoa do romance era o próprio Jack Kerouac; Dean Moriarty era Neal Cassady, como dito acima; e Carlo Marx era Allen Ginsberg, só citando aqui os maiores.
   Do encontro da turma em Denver até uma viagem alucinante com Dean Moriarty com o pé no acelerador para chegar enfim onde não havia mais estrada, o extremo Oeste americano, e depois de encontros e desencontros entre Sal Paradise e seu ídolo Dean Moriarty, passando pelo México e voltando a Nova York com Sal Paradise (Jack Kerouac) já como um escritor de sucesso, este romance é leitura indispensável para entender a geração beat e sua influência na cultura americana e por que não do mundo da literatura. Kerouac sintetizou todos os sonhos de sua geração neste livro fundamental para quem tem fome de liberdade.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.



Link do artigo na Século Diário: http://www.seculodiario.com/exibir.php?id=883&secao=14