PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

TEMPO DE ILUSÃO

Vamos brindar a morte
dos assassinos.
O poeta é trancado
em torturas ensandecidas,
dores inafiançáveis.

Lágrimas percorrem os mares,
os oceanos, os rios,
o lago.
Lágrimas percorrem os bordéis,
os quartos escuros,
os porões, as vidas
nunca sonhadas.

Lágrimas caem dos olhos da dor.
Vamos brindar a loucura,
as convulsões da morte,
os anátemas da carne
e o desejo da carne.

A única coisa que importa
neste mundo
é a embriaguez,
a ejaculação
e a carne.

Tudo é sedução,
e a poesia é um sol
que grita
sua luz e seu
calor.

25/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O VENTO FEBRIL

Como tu, eu espero sentado
a visão do inferno.
Calo e me concentro
neste encontro
entre duas almas.

Sofro violências de todo tipo
e choro o meu pecado.

Olho indiferente o passar do tempo,
e minhas rugas denunciam
o que deveria ter vivido.

Em vão, nenhuma história viril,
nenhum pecado mortal,
nenhuma santa
em meus lençóis.

Sou casto e enfermo.
Vivo bêbado pelos cantos
das ruas,
meu canto é ébrio e solitário,
minhas relações são fugidias
e rarefeitas.

O poeta, nuvem cantante,
não sofre de arrependimento
ou de culpa por já ter ido
às últimas consequências.
Eu sou o poeta, e a minha
febre são os versos.

Nunca é demais escrever
o pensamento num ritmo
frenético de caos e desrazão,
de chumbo e ferida,
de pecados, equimoses,
martírios e insinuações.

Não pertenço ao mundo
dos fracos, dos covardes,
dos mentirosos,
dos hipócritas,
dos assassinos.

Meu mundo é o mistério profundo,
meu mundo são as palavras
caladas no coração.
Meu mundo é vasto
como a minha pena,
meu mundo é só meu,
sou ébrio poeta
da dor e do vigor,
não canto loas
aos que nada vêem,
sou vidente
da escrita
sofrida
de um vento
abismal
do frio
e da sede,
sou imortal.

E nada me encanta
no mundo das indiferenças,
nada me leva à uma narrativa
sem fundamento musicado.
Às favas com os versificadores,
nobre é o poeta
que vive como quer,
lindo é o verso
que reflete
a própria vida,
já que a arte da poesia
não é o sentimento afetado
de rimadores sem culhões,
meu enfado é deste verso torto
que não diz nada,
a carne diz muito,
a embriaguez diz muito.

Não há sofrimento suficiente
para o pecador, o poeta.
Ele vê nuvens onde outros
não vêem nada.
O poeta verdadeiro
vê o que ninguém vê.

Quantas saudades
da minha morte serena,
do pássaro azul
que dormita
na pena sonhadora
deste poeta que delira.

De lágrimas se faz
um grande poeta.
De torturas indescritíveis
nasce o poema.
E o poema é o grito subterrâneo
de esferas que nem mesmo o poeta
compreende ou conhece,
tudo é uma vertigem do instinto
que nunca cessa de criar,
tudo é o excesso de que toda
poesia deveria
se formar,
o excesso do delírio
e da vida,
a paixão vigorosa
de um sonho
do tamanho
do mundo.

25/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A DESONRA DE UM SONHO PERDIDO

Poderá o sonho um dia ser livre?
Poderá a nuvem seguir o seu rumo?

Peçamos licença, senhores,
peçamos licença.
Mas não com educação,
e sim com vigor!

Peçamos licença,
mendiguemos
beneplácitos!

Sejamos firmes frente ao nada.
E de nada adiantará!
Permaneceremos endividados,
rotos e humilhados.
Perderemos todo o ouro da poesia
ao tempo das indefinições.
Permaneceremos com a dúvida
tão cruel como a morte.

E um dia dirão que ali
sempre esteve o poeta,
quão lúcida era a sua visão
e os seus versos.
Mas poderá ser tarde,
poderá ser em vão.

Peçamos licença, mas não,
não haverá beneplácitos,
seremos para sempre mentecaptos.

25/02/12 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CATATONIA

Dançam meus olhos
pelos olhares,
nunca estão sós,
estão comigo,
estão olhando,
mas nunca vêem.

Se olham demais,
é por que são
curiosos,
se um dia se perdem,
é por que
se afobam,
se não são cegos,
também não são
oniscientes.

Doce, meu amor, cedo
estará a linda manhã.
E amanhã não será nunca
senão o incerto,
pois o certo é o que
os meus olhos são,
pois cego é o desamor.

22/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

STARVATION

Morre-se sim, de falta de amor.
Os queridos corações aos pulos
vão aos poucos por aí.
Numa cidade perfeita não haveria
tempo para esquecer
dos que não praguejam.

Eu li uma carta de um antepassado
e não sei se um dia
eu estava lá,
e no futuro estará
meu corpo um dia.

Vi a alma decantada em canções
de um sândalo de capricórnio,
prometi que nunca sumiria
de um gesto de compaixão.

Sou a vinha no régio calor
das saudades.
Sou a verdade do filho que
não nasceu,
sou semente esperando
sol e chuva,
vim de outras galáxias
para ver o caos e a fome,

nos dias que se passaram
um desses espíritos sombrios
derreteu aos olhos do céu,
a morte não se vingou ainda.

Quando acordei de meu sonho
ao meio-dia
vi que na cruz
uma selva de gritos
não virou-se contra
os meus erros,

Na silente dor dos odores,
quantas mágoas eu colhi?
Quantos sentidos?
Quantos amores?
Quantas ausências?

Vai o pendor do pecador
pela sala vazia,
pelos olhos vazios,
pelo coração oprimido.

Venha logo, sublime poesia!
Me faça sorrir outra vez
do que me escapa,
me faça chorar de alegria
na hora em que for
abençoado.

Outra vez o caminho se abrirá
na ternura do verso
que aqui derrama
como água de banhar,
a vida é o mistério
da vida.

22/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

domingo, 19 de fevereiro de 2012

O TRONO DE SATÃ

Deveras cobre de mistério
o Senhor deste mundo,
ó meu doce Satã!

Sete quedas brindaram
os sete céus
nos degraus
do infinito
em que se fere a luz.

Este livro abismo de um medo,
sagrado coração sangra em brado
ao inferno, cedo grassam
numa catacumba os ritos
em que se ouvem
mensagens subliminares.

Nasce o ódio, destruição
dos anjos caídos tocam
na morte do céu o signo
e a danação do temor
de suas potestades.

Hoje com Moloque, depor o poder
depois com o bezerro de ouro,
no fim os degredados,
todos no Apocalipse de João,
se farão curas, milagres e prodígios,
e a Terra se queimará o carpe diem
de seus falsos profetas,
se és, se és, se és,
o norte de Satã!

19/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A MEDIDA DA FACA

É ferro, é fogo, é ferida.
É dia, é noite, é partida.

Coisas do além e do aquém
que não fazem mal a ninguém.
Pausa para o almoço
e depois a correria
para se enforcar
na tarde.

Um abismo, um solilóquio,
uma paisagem.

Um sentimento sem dó
e nem piedade,
uma saudade.

Um caco de vidro,
um pé e uma mão,
debaixo dos lençóis
o frio.

Um dito pelo não dito,
coisas afins,
consensos,
dissensos,
verborragia
de letras
desentendidas.

A dor.

19/02/2012 (00:45) A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

AMOR OU SAUDADE

Atrás do muro de saudade
encontro alguéns ninguéns
talvez cem talvez mil
mas não fica um

Donde se esconde
o coração
ele leva
se eleva
não encontra
desencontra
chora e ri

Não sei quantas
não sei todas
nenhuma

Moça meretriz
corpo vazio
da composição

Não morri
não venci
não perdi
não achei
não vi
fiquei sem
sem sentido
nu e vadio

19/02/2012 (00:38) Poemas de Amor e Outros Verões
(Gustavo Bastos)