PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 24 de agosto de 2013

SACANDO PINK FLOYD

Ouvindo Pink Floyd vem tudo plácido, ouvindo cada fumaça de eterno pelo ar, Pink Floyd bicho, tudo emana deste mistério, Set The Controls For The Heart Of The Sun é o coração do universo, Echoes é a História do universo, fiquei obcecado por See-saw por estes dias, já fui obcecado por The Piper At The Gates Of Dawn, tenho gosto por Animals e Wish You Were Here, não conheço muito bem Obscured By Clouds (por enquanto), Final Cut foi um fracasso, mas quero dar uma sacada, redescobri More, já fiz bons passeios por Atom Heart Mother, não acho The Wall indispensável não, já tentei The Division Bell, mas o que faz chorar na alma, claro, é The Dark Side Of The Moon.

24/08/2013 Pequenos Trechos
(Gustavo Bastos)

CUIDADO

Desatento passa o bonde, fica na boa que tudo é mais, faz o corre, não tem desaforo, cada língua se morde, pra esperar só se vale, pra esquecer o que "não bate", pois de amor só de frente, pois sim merece assim, papo bom é coisa farta, pau na máquina é poesia, faz o teu cuidado, não dê voltas, acolhe quem te faz abrigo, não fala demais pra não dar bode, tire os esqueletos, eles são dos outros, cuide de tudo, desatento fica o norte, distraídos, mas só no certo, pois o certo é o que é, não vacila, não perturbe, não domine, deixa a fruição, não tem que provar nada, faz e anda, faz e fé, faz o que achar da hora boa, ficar de boa é uma arte difícil, quando tem dia de bode não conversa, no outro dia acerta, ritmo e poesia, só quem manda são os feras, é tudo nosso quando queremos, mas sem pau mandado, sem papo cruzado, só a cara, de face a face pra dizer o que merece, sem dar de cara com a parede, pois de tudo que se perdeu, uma coisa se reencontrou, fé sua danada, fé e nada mais.

24/08/2013 Pequenos Trechos
(Gustavo Bastos)

COMILANÇA

Comi no McDonalds, vomitei beterraba, quando fui ao Burger King, não havia rei, só carne e batata frita, fui no refil quatro vezes, outro dia queria o molho do Big Bob, depois fui atrás de um yakisobba que só conhece quem mora na minha rua, sou habitué de comida árabe, odeio azeitona, odeio mil vezes azeitona, mas adoro tacar azeite no quibe cru, como tudo sem reclamar, só não vou de abóbora, abóbora me dá gastura, certo dia, devia ter uns 12 anos, estava comendo doce de abóbora sem saber que era, quando disseram: "Estão gostando do doce de abóbora" não consegui mais dar uma colherada, beterraba eu nunca comi e odeio, se me torturarem botem três pratos na minha frente: um com um montinho de azeitonas, não importa se verdes ou pretas, outro prato com beterrabas, e outro prato com abóbora, talvez seja a minha morte, não saberia escolher, mas agora penso em coisas de comida, não sei porque, mas tudo que faz mal engorda e mata de enfarto, Deus fez tudo ao contrário para existirem os veganos, os macrobióticos e os iogues, tudo ao contrário para a gordura ser fatal, Deus nos quer sábios, pois talvez haja mais sabedoria numa alface do que num cheese-bacon, vai ver que é isso. (Quer comer sanduíche saudável, vai no subway e pede aquele com almôndegas, hahahahaha)

24/08/2013 Pequenos Trechos
(Gustavo Bastos)

TRABALHO INÓCUO E SAÚDE MENTAL

Tem o barulho da máquina, quem pensa em trabalho além da manhã quer salário de rei. Pois do stress todo tem todo o tempo tomado, rumina nada e não ganha nada. Todos os trabalhos que se fazem são honras, dignos vão os sapatos, correm os operários, derretem os relógios, tem a máquina e seu barulho, a vida barulhenta da cidade, toda cidade tomada na disputa, a livre concorrência fazendo seus espasmos, socorrem os afogados, matam enforcados os que se desviam, fé em tudo, diz o registro de seu contra-cheque, bate o ponto chefia, corre para não perder o ônibus, se condena se chega atrasado, pois aí vem a repreensão, pois aí vem a advertência, depois a suspensão e por fim a exoneração, esta é a lei do karma, acorda nego que a hora passa, segura a máquina na unha guerreiro, o relógio pulula de ponteiros, saudades contemplativas são luxos, desordenados são os furos, não dá tempo mais, fuja para lá da hora perdida, se mate e mate a todos, a cidade só relaxa depois da cerveja, pobre ilusão, tudo é tédio, a vida mais que vida vem também, se tiver em teu peito algo de virtude, se tem poesia e teatro e música, alguns criam e escapam, mas não vivem para escapar, quem quer escapar nem arte faz. Não fazer nada é a chave mortal dos que não andam, corre aí, faz e manda, obedece e vai, o que importa é ir indo.

24/08/2013 Pequenos Trechos
(Gustavo Bastos)

DEPOIS DO DILÚVIO

Quebranta um fuzilado na janela,
estourava o martelo na dor atávica.

Versos de campanha, flores na lapela.
Um dândi regia a onda miserável,
a flama dos vagabundos
estava absorta em morte,
o dândi postergou
o fim de um poeta
encarnado,
cantava bravos e vivas
a turba amotinada.

Faísca de joias, a riqueza espantava.
Logo a festa acabaria
sob um monte de desejos,
o drama carnal da vespa
cuspia flores de desassossego
pela aurora que surgia
após o dilúvio.

24/08/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

SÂNDALO REENCARNADO

Febre de nardo, paz de sândalo.
O corpo se veste em vinha e furor.
Leve o tema se desenvolve,
fúria rítmica do pendor rasgado,
neve e sol e literatura.

Febre do fundo da alma,
paz há muito desejada.
Desce a ribeira o poema
qual passe magnético,
qual drama poético.

Vai a testemunha destes fatos:
um palhaço senil,
uma puta ancorada,
um moço assustado,
um bon vivant falido.

Febre de nardo, paz de sândalo.
Qualquer cor me veste,
qualquer salário
me corrompe,
todos os sonhos
me comovem,
de todos os pesadelos
fugi.

24/08/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

ÓCIO DAS FLORES

Como ócio na flor das luas,
eis o esmero de teu estro.

Conclama a dura pena
sob o rigor das asas.
Inventa e aniquila,
renasce e chora!

Vem a espadaúda rotina,
tem em templos uma ondina.
Vai tal qual a rosa,
ventre silente da prosa.

Qual calma navegante,
eis o ar e o diamante,
nasce nos seios do apocalipse
como dama de sombra e mel.

Na rica contenda dos miasmas,
canta a flor e morre a fauna,
de odor encantatório
alucina as máquinas,
qual fada que some
na montanha,
qual poeta que ruge
na campanha.

24/08/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

CORPO DE SAL

Os lares da calma vigoram
no poeta estatelado,
pensei no alvo da liquidação,
era o meu corpo nu fincado
na areia,
terei tempo em corroer as mandalas,
cada átrio repleto da adega,
cada martírio na luz da lâmpada.

Os olhos do poeta lacrimejam de sal
no olor das flores do mal.
Cantei Baudelaire como uma
coluna vertebral,
não há mais nada,
tudo foi embora,
eis que a poesia
finca suas crenças
esgotadas.

O poema sim,
este ser sepulcral
de ar altivo,
navega
em meu corpo
de sal.

24/08/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

FERVENDO NA PENUMBRA

Na rua da estrela o palco era denso,
como em outras épocas
em que cortava carnes
para o meu espanto.

A sede também era densa,
não havia água nos becos em que chorei.

As almas penadas dançaram
na sala da meditação,
cada monge tem sua cor
e minha manta é vermelha,
assim como a luz violeta
é apenas o sinal da concentração.

A boemia tinha seus espasmos,
um velho cantarolava
nas orelhas das putas,
um homem esfaqueado
pedia socorro,
e um ar alcoólico
tomava o palácio
daqueles miasmas.

Eu não sei o que havia
na mancha da penumbra,
o ópio era o meu arsenal
benquisto na mão das fadas.

Outra vez esperei uma salada de livros,
tinha de tudo, de Tom Sawyer a Budismo.
Viajei pelas noites do Tibet
com vigas de levitação,
não havia céu mais limpo
naquela canção vindoura,
os livros que estoquei
na calma biblioteca
tinham ouro encalacrado
em cada ritmo
de pena perdida.

Pensei que de rubra dor
os poetas silenciavam,
mas notei que caíam versos
no assoalho em meio
a uma tempestade de neve,
os poetas se afogavam
na nitidez do poema,
os versos eram de época,
e os sândalos estouravam
na coda magistral.

24/08/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

domingo, 18 de agosto de 2013

O GRANDE GATSBY E FITZGERALD

   "Fitzgerald realiza em Jay Gatsby um ideal de vida e até literário, e no narrador Nick Carraway o seu melhor investigador"

   F. Scott Fitzgerald, escritor norte-americano, um dos maiores de seu país no século XX, é figura do espírito do Jazz dos anos 1920, e de toda loucura e embriaguez destes anos, que culminaram com o seu fim trágico no alcoolismo. Fitzgerald foi um dos mais proeminentes vultos da dita geração perdida da literatura norte-americana, terminando em Hollywood entre bebidas e roteiros cinematográficos. Concluiu seu romance mais conhecido, O Grande Gatsby, em 1925.
   Com o narrador Nick Carraway, temos o romance O Grande Gatsby, como o relato deste narrador, que também é personagem, da estória que envolve a atmosfera de um mundo boêmio e repleto de riqueza e luxo, como num transe festivo comandado pela figura central de Jay Gatsby, que se torna uma espécie de ídolo ou referência para Nick Carraway, dentro do contexto da febre do Jazz dos anos 1920, em que tudo é reluzente e falso tal como toda embriaguez.
   Nick Carraway vai a West Egg, estabelece residência numa casa confortável, porém pequena, entre duas mansões, sendo que a da direita é do famoso Gatsby, ser enigmático e obscuro, no qual confluem toda fauna de convivas e grupos que só querem a festa sem fim de sua mansão. Carraway entra como convidado por Gatsby em uma dessas festas extravagantes, e se depara com um mundo de "uma luz incessantemente mutável". O ecletismo se torna caos, e o espírito de toda festa grandiosa é exatamente a celebração do caos, onde na verdade o anfitrião é desconhecido e objeto de especulações românticas tanto pela sua origem como por sua história, Gatsby é um ser que reune em si todas as pessoas, mas não é conhecido por ninguém.
   O ar efêmero é o que conduz todo o enredo do romance, pois da festa de Gatsby não há nada de sólido, tudo perpassa, e nada fica, tudo é demais e excessivo, como num gesto de preencher na mansão o vazio de uma alma. Ou ainda, a fuga através do povoamento fugaz de uma embriaguez festiva, que tem na fama e no sucesso seu maior engano. Gatsby só teria em Nick Carraway seu único amigo, e que não lhe abandonará quando a festa acabar.
   O terrível da tragédia é o ar que se esconde por trás da festa, e Gatsby pagará o preço, pois da embriaguez de todas as noites de sua mansão, ele terá na sua imensidão vazia o fim de seu sonho de ter em Daisy, prima de Nick Carraway, a retomada de uma história que tinha sido interrompida pelo fato de Gatsby ter ido à guerra pelo exército americano, e Tom Buchanans, homem absurdamente rico, ter tomado Daisy por esposa.
   O trágico em Gatsby é sua esperança, que logo se chocará com a morte, e todo o abandono universal cairá sobre seu corpo velado por Nick Carraway, enquanto todos os convivas das festas homéricas da mansão de Gatsby, a até mesmo Daisy, não estarão no momento triste da tragédia, após o atropelamento fatal de Myrtle, do qual George B. Wilson se vinga.
    Gatsby morre junto com seu sonho de grandeza, onde o pouco ou o mais importante, ter Daisy, não será o fim imaginado. Pois, com o fim da festa, também termina a vida de Gatsby, e Nick Carraway vem nos contar esta história fascinante, com tom revererente sobre esta figura que reunia tantas características peculiares, ao menos pelo olhar do narrador, que nos dá o romance O Grande Gatsby pela pena de F. Scott Fitzgerald.
   Em Grande Gatsby se reflete uma época de desbunde, é o mundo norte-americano antes da crise de 1929, portanto, um mundo em expansão no pós-guerra, com novas esperanças, sem qualquer previsão do embrutecimento que viria nos totalitarismos que provocariam a maior de todas as guerras. Então, havia ainda uma inocência que é própria da boemia, um deslumbramento luxuoso que também é ilusão e que é evanescente como o ar embriagado do álcool, nota funesta da história do próprio escritor, criatura destes anos, criador destes anos, que fez da literatura o reflexo de todos os acontecimentos que vivenciara em sua carne como um dos que se perderam pelo vão de uma vida ceifada. Ficou o registro, e este é fiel aos anos vividos e ao clima mais autêntico que ficou de todo este milagre festivo que tem no personagem Jay Gatsby a sua idealização mais profunda.
   Fitzgerald realiza em Jay Gatsby um ideal de vida e até literário, e no narrador Nick Carraway, o seu melhor investigador. Nestas duas figuras se condensa todo o enredo do Grande Gatsby, e dentro de toda festa retratada, os dois estão juntos como uma dupla face que faz a unidade do romance escrito, em que narrador e herói compõem o ideal romântico, tanto da morte trágica, como da boemia deslumbrada de uma vida de luxo e da mais pura ilusão. Fitzgerald é o investigador Nick Carraway, e encontra sua escultura literária ideal em Jay Gatsby.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário:  http://www.seculodiario.com.br/12439/14/o-grande-gatsby-e-fitzgerald