PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 11 de maio de 2019

A NOITE CRUEL

As vezes que a noite cai
todos os fantasmas
acordam, na alta madrugada
também acordam
os pobres diabos
azedos como o cão,
as dores se estufam,
as desrazões
viram loucura,
o tempo se estica,
mas é rarefeito,
impreciso.

Na noite dos cães virados
em torpor, a música
não alivia, é uma
tormenta que explode
o coração em cacos,
na noite cruel
das almas,
o tempo é tortura.

11/05/2019 Gustavo Bastos

O CORPO DO POEMA

O corpo, este ente brônzeo,
corre com a capa e o sonho
de seus intentos,
flor se abre
no peito,
o corpo entra
em surto,
e vira fogo.

O poema, que traça o
movimento do corpo,
veste de todas as modas
os traços precisos
deste verso,

o corpo, como este ente
e elo universal
que aprende em carne
seu registro,
dá ao poema
toda a sua
solidez.

11/05/2019 Gustavo Bastos

ESPELHO INTEIRO

O espelho me diz que sou belo,
não sou o narciso da canção,
mas meu peito exibe força,
e tenho por certo
o valor da fera
que me habita,
com a sapiência
da poesia.

O espelho é gala e fúria,
sou eu que me envaideço
de meu mérito,
como um delirante
que acha que
é napoleão.

Ah, como esta dor passou,
e o sol arrebenta
as minhas retinas
e acalenta o coração.

11/05/2019 Gustavo Bastos 

FARDOS DE FENO

Os fardos de feno
se carregam sob
o sol inclemente,
todos os dias
vestem o sal
das dores,

com a água indômita
prende o criminoso
que não é trigo,
o joio jorra como
um flagrante,

os fardos de feno
abrem os trigais
como campos amarelos
sob ouro áurico
em tons dourados,
o trigo é poema,
o joio, morte.

12/05/2019 Gustavo Bastos 

O PASTOR DE OVELHAS

O feitio do pastor de ovelhas
influi na aurora infinita,
conduz com calma
e sabedoria,
seu vento é suave,
seu assobio preciso.

A estepe se abre como
asas de grande pássaro,
pastor que leva e apascenta
uma multidão,
seu deus hebreu
no fogo da sarça,

o pastor é um embate
com flores de uma só
tacada,

o pastor de ovelhas
que com o lobo
sabe jogar,
amansa as feras
dos corações,
e fere o terror
com seu olhar.

11/05/2019 Gustavo Bastos

ÁGUA

A água, com veste salobra,
reflui e flui constante
sob o prisma,

sua cor viscosa, a tez plana,
o jorro e o fluxo,
o rio e o mar,
o lago, lagoa,
poça, esgoto,
cachoeira,
mata a sede,
banha e benze.

11/05/2019 Gustavo Bastos 

AS NOTAS DO TEMPO

O fogo-fátuo que lhe inunda o peito
vem como um enxame, um ataque
viral de cores estupefatas,
o delírio, no entanto,
passa.

O poeta, agora com uma enxada
vigorosa de pontas e facas,
corta o tempo rente
e tem a precisão
de um relógio quântico,

quantas vezes seu reto plano
soçobra, mas por ser reto
plano sua geometria
inexorável vigorou
sobre feitiços inumeráveis,
e seu grande elo
se fez.

11/05/2019 Gustavo Bastos

SABORES E CORES

As frutas dançam na feira,
a fome ventral testa a maçã,
foi sabor e cor,
todas as flores e os espinhos,
a dor azinhavre e o prazer bem posto.

Logo se nota que as árvores
estão frondosas como nunca antes,
e o atlas aberto indica
a rota de perfumes
de uma estadia calma
como um sono justo,

a eternidade lhe acompanha,
nobre poeta, e teu gládio
lhe defende como o latido
estridente de um cão feroz,
teu galardão ferve
e lhe sonha,
e teu canto sapiente
tem todo o tempo
do mundo.

11/05/2019 Gustavo Bastos

REGÊNCIA

Regente um :
o maestro sonha com uma orquestra
de oceanos azuis caribe,
a paixão lhe arrebata
o tórax, e o sol
plana em sua mente
criadora.

Regente dois :
a orquestra ensaia a noite enluarada
com tanto empenho que comove
o maestro, seu peito intumesce
como uma bomba, seu sonho
de mar vira tempestade
e sua força aumenta
exponencialmente.

Regente três :
começa o concerto, o público
vem aos cântaros, a orquestra
também toca a sinfonia dos
pássaros, e uma cantata
tem o amor do maestro
em tons de sabedoria
como um grande mestre
das luzes, o poema
lhe cai do peito vivo,
e uma flor ali irrompe.

11/05/2019 Gustavo Bastos 

POEMA RUTILANTE

Como termina o emblema como um sonho,
gera um delírio verdadeiro,
o poeta que pariu a estrela
golpeia sete quedas
com seus lençóis d`água,

o poema, como uma flor da noite,
veste a túnica azul cobalto
das monções e dos furacões,

eu, de meu lado,
sou um poeta relapso
com porrilhões de versos
velhos e maltrapilhos,

ah, mas gosto de citar o sol,
gosto de citar o mar,
toco cítara ao amanhecer,
e violão no plenilúnio,

ah, mas como a lua de sangue
vira a lua azul?
Mora na filosofia.

11/05/2019 Gustavo Bastos

A VERDADE

Os castelos de areia
caem, os castelos
de carta desabam,
o sopro é irresistível,
o poema golpeia e martela
e tem a verdade.

Como estava lá Safo e Anacreonte,
os metros e os lírios das liras,
os delírios das flores,
as cores do vinho,

novamente, as estrelas pousam
no dorso do poeta,
um semi-tom se anuncia,
a introdução filosófica
se funda, os olhos
são generosos como
sóis,

os castelos de areia
caem, os castelos
de carta desabam,
o vento é imbatível,
o poema bate e empurra
e tem a verdade.

11/05/2019 Gustavo Bastos

RODA DA VIDA

Como um azougue, no passo claro
da visão, os olhos fitando
o horizonte impreciso,

com as mãos úmidas de suor,
o rosto impávido e decidido,
resoluto como uma máquina
está o poeta,

o sêmen que lhe cai é o
futuro dos rompantes,
seu sexo busca o céu
como um topázio,

os poemas, ditos com ardor,
formam o amálgama
que rumina as fotos
que viram cinema,

luzes se insinuam, explodem
aos cântaros os brilhos
de neon, e a fortuna
da roda da vida
se torna evidente.

11/05/2019 Gustavo Bastos