PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 2 de maio de 2019

GURUS E CURANDEIROS – PARTE VI


“Em 1953, Chico realizaria a sua última sessão de materialização”

Depois da descrição esperançosa de Camille Flamarion temos um arrefecimento do fenômeno espírita, sobretudo das sessões de materialização, e há um movimento sistemático de desmascaramento de charlatães, uma série estranha de jogos anódinos de espelho e de truques baratos toma o cenário e desmoraliza as pesquisas que tiveram o aval de cientistas renomados para depois cair neste ridículo. Resultado : a comunidade científica das gerações seguintes se volta contra o fenômeno espírita e a parte de pesquisa empírica do mesmo cai num limbo.
O ostracismo da pesquisa espírita só é diminuído e um certo status restaurado quando temos novos médiuns brasileiros, sobretudo Chico Xavier, que buscam dar provas da continuidade da existência após a morte. Além de Chico, o médium mais ilustre do Brasil, temos também grandes médiuns como Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho.
Em Uberaba, que seria o novo centro de irradiação do Espiritismo, temos um episódio que irá envolver tanto Chico Xavier como Peixotinho, este reconhecidamente um médium intenso de materialização. E tal sessão de materialização irá incluir a participação do delegado de polícia paulista R. A. Ranieri. O relato está presente no livro As Vidas de Chico Xavier, num relato feito por Marcel Souto Maior.
No relato temos a descrição de Peixotinho materializando a filha pequena do delegado, esta que se chamava Heleninha, que havia morrido três anos antes. Usualmente, a sessão foi introduzida com uma lâmpada vermelha iluminando a plateia, e foi seguido o regulamento espírita, com leitura de trechos evangélicos, com comentários, atraindo a presença de espíritos superiores, com o concurso de música clássica, o que inclui, obviamente, a Ave Maria de Gounod, que era uma das formas de aglutinação fluídica, e que teria o fito de gerar um ambiente de vibração positiva.
Peixotinho foi colocado numa cabine, e desta começaram a sair clarões coloridos, o corredor então é tomado por clarões verdes, roxos e azuis. Aparece então um visitante fluorescente e começa o desfile de assombrações. Heleninha sai então do corpo de Peixotinho, o que deixa o delegado perplexo. Uma presença meio em neon, com mesma fisionomia e voz da original. Ela cumprimenta o pai e lhe dá uma flor brilhante. E o delegado Ranieri não teve dúvidas de que havia estado com sua filha falecida com apenas dois anos de idade. Sua convicção após esta sessão resultou no seu livro “Materializações Luminosas”.
No município de Pedro Leopoldo, temos uma outra sessão de materialização, também com Peixotinho, e este é flagrado pelo fotógrafo Henrique Ferraz Filho, o médium em sua cabine, em que ele fazia seu trabalho mediúnico de doação de ectoplasma, quando Henrique dispara flashes com a sua Rolleyflex, e lá o fotógrafo vê Peixotinho expelindo ectoplasma pela boca e pelos ouvidos, numa presença que assumia a forma humana e adquiria voz.
Quando Henrique disparou os flashes, o mesmo não via ninguém ali diante dele, mas ao revelar o filme, o fotógrafo vê então a aparição registrada. Era a estranha forma corpórea de um senhor envolto por um manto vaporoso. Chico Xavier diz que a aparição era de Camerino, desencarnado na cidade de Macaé. Não houve, por conseguinte, provas de truques ou de montagens nas fotos desta sessão de materialização em Pedro Leopoldo.
Chico Xavier, uma vez participando assiduamente das sessões de materialização de Peixotinho, resolve também, em torno de 1952 e 1953, fazer as suas próprias sessões. As formas produzidas por Chico eram mais evanescentes e menos sólidas que as aparições de Peixotinho. Tais aparições produzidas por Chico podem ser exemplificadas pela visita de Maria José de São Domingos, mãe de um dos visitantes da sessão, Arnaldo Rocha, aparição esta que repete os mesmos hábitos e idiossincrasias da pessoa quando esta era viva.
Temos também uma senhora fulgurante, coberta por véus, que trouxe uma joia fosforescente, era Cidália, mãe de André Xavier, segunda mulher de João Cândido, madrasta de Chico Xavier, esta que ali deixava um rastro de perfume no ar. Nesta mesma sessão temos também a presença de Meimei, mulher de Arnaldo, aparição esta que atende um jovem tuberculoso presente na sessão, e aparição de Meimei envolve o peito do tuberculoso com cordões fosforescentes, e temos a radioatividade que, livre dos efeitos negativos do rádio, poderia curar.
E, por fim, aparece um dos guias espirituais de Chico Xavier, o espírito Emmanuel, este que estava numa toga romana, com uma tocha acesa numa das mãos, depois que ele some, novamente temos uma onda de perfumes. Era Sheilla, loira e jovial, com sotaque alemão, uma enfermeira morta na Segunda Guerra. Sheilla atende um dos espectadores, examina o estômago do mesmo, este levanta a camisa, era uma radiografia espiritual, e a enfermeira, com os dedos semi-abertos, apalpa a região do estômago, e a barriga do paciente que, de súbito, fica transparente, podendo ser vista suas vísceras em funcionamento. E Sheilla diz então ao paciente que iria levar a radiografia ao plano espiritual para que esta fosse estudada e lhe dessem o remédio certo.
Em 1953, Chico realizaria a sua última sessão de materialização, pois nesta sessão aparece seu guia, Emmanuel, o ex-senador romano, no que a entidade então dá o veredito aos médiuns que ali estavam, no que diz :
- Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física. Mas o livro é chuva que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a suspensão destas reuniões a partir desse momento.
Dito isto, Chico prontamente interrompe seu trabalho mediúnico via materialização, pois tais sessões eram inicialmente um meio de aproximar o público da doutrina espírita, mas a exibição como produto de curiosidade não era o objetivo, o espetáculo deveria ser interrompido, tais materializações só seriam úteis como um convite ao estudo e progresso, e a recomendação de Emmanuel para Chico teve, evidentemente, o resultado que conhecemos hoje, Chico se volta à psicografia. E sua produção seria intensa e vasta.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.






SORRISO

Regido o rio canta castanho,
todas as músicas soam
em veios espatifados
d`água,

eu me detenho um instante,
meu coração pula
como um coelho,
depois se acalma
como uma lhama,

as meditações entram
nas fontes dos campos
que levam aos mares
infindos,

os mares infindos
irrompem como
mares eternos,
os risos eternos
são infindos
como o sol
sem fim
dos sorrisos,
e o poema sorri
como um poeta.

02/05/2019 Gustavo Bastos

VAN GOGH

A brisa como um pássaro
me afaga os poros,
e a luz matinal
irá decair
em crepúsculo,
é o ciclo da
natureza,
vida e morte,
ressurreição.

A brisa como uma pomba
pousa em meu coração,
e os dias são
felizes como
nas pinturas
do campo,

visão renascentista,
cores impressionistas,
e o expressionismo
feroz como um munch
de metamorfose
em van gogh.

02/05/2019 Gustavo Bastos 

AMIGOS DE DEUS

Risca o giz o chão
de mármore, futuros
incógnitos irrompem
como luzes,
e a sala de estar
está possuída,

minha santa ave maria
corusca seu diáfano
campo de flores,

meu senhor jesus
rutila como sol
suas veias
diamantadas,

ah, se o diabo tivesse
sabido, seu veio todo
esbelto não teria
virado pó,

e nem os rebeldes
teriam morrido,
e todos seriam
almas para
o capitão
do mar,
este que sabe
dos trópicos
e dos polos,

nas águas revoltas em mares
tonitruantes, vejo o
filho unigênito
flutuar, ele levita
com os pescadores,
e a mesa logo
estará repleta.

02/05/2019 Gustavo Bastos

RAPSÓDIA

Iluminado o cântaro com
seus nenúfares,
e os ventres de corpos
na dança,

iluminada as sete quedas
de cataratas, como um
limbo o nadador
se perdia e virava
peixe,

a sereia, toda gentil,
retinha o peito
dos poetas
como um mar
seminal,

leves, todos leves,
os poetas rutilavam
como trovadores
em cantos aedos
de rapsódia.

02/05/2019 Gustavo Bastos 

CAVALO

Venha o convite,
o mistério de tebas
e de alexandria,
os bibliófilos
que se perdem
em cultura,

ah, mas que nada!
qual nada!
poetas são dançarinos
do caos e das estrelas,
e os melhores reis
morrem decapitados,

leve está o santo,
pesado como o diabo
o pecador,

e nada me afugenta,
como um soldado
tenho sete estrelas
de bravura em
meu peito,
e uma sorte
de cavalo.

02/05/2019 Gustavo Bastos

A MANTA

A manta, toda estrelada,
veste o poeta como
túnica espiral
e contrafortes
das traves plúmbeas,

logo, como um sonhador
que é terrível,
eu vejo como pronúncia
encriptada os teus
gládios potentes,

a manta, que estrelada
faz noite, da túnica
o dia veste,
e qual fada,
uma dança
nos invade.

02/05/2019 Gustavo Bastos

ILUMINAÇÕES

A pluma me tem
com os átrios que
flutuam.

As marés de luas
soçobram nos
pássaros de sol,

mentem os risos do campo,
e a luta insana
irrompe com os luares
de sóis em estrelas
indômitas,

o caos ferve na máquina
que o templo busca
nos ares de poeta,
e a música soa
nos lares pacíficos
de orquestra,

os poemas, como lumes
que prorrompem
feras iluminadas,
são vozes anímicas
de um fervor santo
que rutila.

02/05/2019 Gustavo Bastos 

O CANTO DOCE

O grito estanca a fome
e passa ao largo da visão.
Eis o templo de sons
que estupenda o caos.
Como no lilás que
irradia entre os montes.

Nas águas que dançam
sobre as estrelas,
o caos da vida e da morte
corre como o ás
de que o poema
nos envolve.

Vetusto o sábio que
se embrenha no mato,
com os vinhos que
têm matizes
de roxo e rosa,

eu, que navego como
brilho na escala
dos césares,
rezo pacato
como um monge
as horas de alvíssaras,
e o canto é doce.

02/05/2019 Gustavo Bastos