PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 11 de setembro de 2016

CAOS FUNDANTE

Bem ao bem quiser, que na verdade
tudo o que queiras somente assim.

E à beira, por certezas,
tendes de tudo o que
saber de si.

E por demasia o poeta,
saber quem sois
semeia o sol.

E, na alta torre,
à balada da meia-noite,
sou este de todo o corpo,
sou aquele que funda
o todo.

Bem ao não saber, pois filósofo
que dantes dantesco,
ao saber de si safo,
a posteriori compraz-se
de aurora.

E tudo ao cadafalso,
hora da estrela,
que em dia de azáfama,
um amálgama
brota caos.

11/09/2016 (Gustavo Bastos)

VERSOS COM SARÇA E SOL

A estirar-me no chão, espero o corpo manso
dos dias de remanso, olho ao derredor
com dentes de aço, levanto os braços,
arqueio, arfo, retorno às coisas mesmas.

Por sinais espero, e um lilás de estrela anuncia
em sua rotina matutina o vale sucinto,
eu tenho os livros das horas, as notas em debrum
dos acordes de aurora, as fitas marcadas com os dizeres
lapidares do sol, astúcias de um poeta.

Pois, da arte o miasma se esmera,
e mesmo em fincar os dentes de aço,
mesmerizo os vincos que são fulcros
da lei marcial que sois, estes desertos de música
sob o sol inclemente de beduínos.

Ao chão estirado, capturo os silêncios mordentes
que lancinam o coração em tua canção rente,
e os faróis ali, e os vinhos com corpos dóceis,
eis o luto febril que ataca a nuvem,
o céu pós-morte com suas campinas.

O poema estira-se, atira-se ao mar.
Leve o silêncio quer música, e os brados
sobre as esferas levantam os mortos,
luzes benfazejas serpenteiam a miragem,
levanto-me do torpor que por horas foi transe.

Adivinhos e videntes fazem as cartas de rito,
sua flechas, com dentes de aço, voam
tais setas certeiras ao coração contrito,
e os varões digladiam-se com brio.

Por todo o campo redondo, eis os círculos de giz,
os fundos de cena com vinhas e sarças,
retinas em miragem, pupilas em viagem,
a dose envenenada de sol, pulos ao karma
dançam, o espírito poético delineia o corpo.

Rente ao silêncio a música, e os corpos dançando
pela noite sem fim, os corpos sangrando pelo
sofrimento sem fim, os dias infindos que cortam
as paixões velozes, os linhos vetustos que
se costuram sob a lua macilenta.

Que mais, à pele de alabastro, com um vinho
de poetastro, poetaço, este que vos dá o edema,
hecatombe, hematoma, equimose, cicatriz,
este que fere o sol com flores de chuva.

Pois sou o que renuncia, o que tudo deseja,
sou o mistério de mim em uma fúria,
o mistério de nós em uma fuga,
sou a decifração da base lacunar,
a geometria dançante que volta a si,

sou o que sai de si, o que volta de sonhos intranquilos.

11/09/2016 (Gustavo Bastos)