Aqui na Terra, no ano de 3012, depois de uma guerra que conflagrou Ocidente e Oriente, após a disputa geopolítica e econômica de metais condutores e novas tecnologias magnéticas, muito devido ao avanço do conhecimento de partículas pelos aceleradores, e a partir daí avançando para a descoberta de campos de força e de magnetismo e, finalmente, tendo explicações lógicas e empíricas sobre o campo magnético do planeta e fronteiras em que a energia escura e a matéria escura puderam ser calculadas em suas influências em certos campos de força, embora o acesso direto, isto é, empírico, fosse um limite natural inexpugnável, colocou a elite científica frente a novos dilemas relacionados à produção de energia magnética.
O chamado pulsar, a energia magnética gerada desta nova tecnologia, com suas interações com a computação quântica e a inteligência artificial generativa universal aplicada à robótica, tinha sido objeto de inúmeras resoluções e regulamentos, além de súmulas e estatutos, para que a civilização tivesse seu bom uso. De um lado, a burla de países signatários a regras ponderadas por décadas, em diversas cúpulas, ad nauseam, fizeram com que uma guerra regional, por procuração, se desse, e a pirataria biológica e de instrumentos técnicos fosse uma dor de cabeça generalizada entre as nações.
Um dos experimentos feitos pela chamada pirataria científica explorava novas aplicações na área da sexualidade e o mundo hedonista, nesta época, se via num mundo ideal de viciados em doces vivendo dentro de uma doceria, o que provocou abalos em certas estruturas familiares e núcleos estabelecidos de convivência. O mundo ultra-moderno se via entre pílulas manipuladoras de sensações, muito devido ao avanço do conhecimento do cérebro e de neurotransmissores, que agora eram produzidos em modo de fármacos, que também distorciam hedonisticamente a civilização.
Ou seja, o quarto milênio era o que se poderia chamar de uma sociedade global hedonista, em sua maioria, tendo filões de resistência ética e religiosa, mas exangues diante da luta contra as facilidades vendidas cada vez mais baratas, e que produziam uma miscelânea de paraísos artificiais para todos os lados. Grande parte deste consumo hedonista parecia o de um festival interminável da ilha dos lotófagos, e com uma disseminação acelerada pela internet, esta terra de marlboro, em que todas as iniciativas idealistas de salvaguardá-la de uma predação onívora foram aniquiladas.
Se tratava de um reino da infâmia como se fosse uma glória, uma implosão valorativa através do avanço da técnica, isto é, a ultramodernidade, e toda a sua densidade artificial de simulacros e seduções. Nada comprovava mais os pendores da natureza humana, portanto, do que a vida na Terra em sua versão ultramoderna, pois todo idealismo aqui só tentava se sustentar em formas políticas de combate contra corruptores, bandidagem, hipócritas, farsantes, tal qual sempre foi desde a interpretação maquiavélica do realismo político, pois, de resto, a face humana previsível estava posta.
E tal se dava numa dinâmica de satisfações hedônicas que revelava que o instinto é o poder supremo e seu destino é o prazer, sendo a razão um penduricalho de filósofos, cientistas, juristas e acadêmicos de toda ordem, os quais se debatiam com a questão da “técnica e do hedonismo”, das “distorções”, da “tecnologia impassível” e embates éticos e valorativos que soçobravam em meio aos apelos orgásmicos das inúmeras bolhas de paraísos artificiais que se formavam e que hipnotizavam o senso comum.
E isso tudo se dava em meio a colonizações de milionários que avançavam em Marte, que tinha passado por tentativas de terraformação canhestras e mal sucedidas, e que teve na solução tecnológica de campos de pressão atmosférica artificiais e protegidos da radiação por uma camada dura de materiais metálicos transparentes, o caminho para a humanidade começar suas colônias no sistema solar, e que agora já estavam presentes também em algumas luas de Júpiter e Saturno, sobretudo Europa.
A gravidade, contudo, não tinha solução magnética aparente, até então, com as pessoas das colônias usando equipamentos que adaptavam peso e massa à atração gravitacional do orbe habitado, normalmente películas magnéticas e instrumentos que se aproveitavam da pressão atmosférica produzida artificialmente por fotossíntese acelerada e massiva, fruto de manipulação genética.
Quanto à descoberta de vida alienígena, o novo paradigma foi estabelecido com o conhecimento de vida passada fóssil microbiana de Marte, sendo seguida por inúmeras descobertas de interferômetro, velocidade radial, trânsito, imagem direta, microlente gravitacional, comprovando atmosferas semelhantes à Terra em diversos exoplanetas da Via Láctea, com atividade orgânica comprovada em muitos destes exoplanetas, algumas suspeitas de atividade tecnológica levantadas a partir de 2117, com diversas sondas enviadas para estes locais, comprovando atividade civilizatória com fotos, gravações, sendo uma destas uma civilização nórdica, com amostras de solo e plantas, além da descoberta de vida microbiana e de pequenos crustáceos e fito e zooplâncton nos mares da Europa, e também vida microbiana em Encélado, Io, Ganimedes, dentre outras luas de Júpiter e Saturno.
Quanto aos Óvnis, após décadas de liberações de documentos a conta-gotas por parte do Pentágono norte-americano, no ano de 2255 tivemos a liberação de documentos ultrassecretos que comprovaram interações de autoridades e de militares com populações Grey, nórdicas, arcturianos, pleidianos, sirianos, habitantes de Órion, reptílicos e insetoides. Quanto ao intercâmbio tecnológico, também foi revelada diversas operações de engenharia reversa em aparelhos voadores em forma de disco que caíram em diversos lugares do planeta. Contudo, os contatos continuavam raros, embora sondas e naves frequentassem o espaço aéreo assiduamente desde sempre.
Não havia, portanto, algo formal neste contato, e ainda não haveria, por razões civilizatórias confidenciais. Era tudo feito ainda no “varejo”, sem uma sistematização de verdadeiro “intercâmbio cultural, técnico, linguístico etc” com estas civilizações, tampouco os militares sabiam das localizações exatas dos orbes destes visitantes na grande abóbada da Via Láctea. Era tudo ignorado, pois se sabia muito pouco destes visitantes, e muito menos se tinha notícia se estas civilizações interagiam entre si e/ou formavam federações. As nomenclaturas citadas vinham das documentações de ufologia, pois tais classificações ainda eram ignoradas, solenemente, pelos meios militares e pelos Estados organizados.
E, por seu turno, continuavam as especulações cosmológicas, astrofísicas etc, de praxe, vendo os enigmas que continuavam sem resposta, e a falseabilidade popperiana que tinha terreno cada vez mais fértil na astrofísica, ao paroxismo de teorias cada vez mais conflitantes e concorrentes, aporias, contradições, paradigmas cada vez mais frágeis, um verdadeiro cipoal que tornara a cosmologia fragmentada em correntes diversas.
O que se via no estado da ciência cósmica do quarto milênio era um emaranhado alarmante de teorias que pareciam cada vez mais com remendos ad hoc, só que sem um paradigma novo, apenas um buraco no qual se abria a ignorância humana, um manancial de especulações frágeis e respostas áridas e sem impacto. Se tratava praticamente de uma astrofísica e, sobretudo, de uma cosmologia, com suas bases dinamitadas, o paradigma apenas sendo uma fantasmagoria, uma alegoria porosa, e que se tratava agora de um conjunto de teses ad hoc inauditas, desenhando um cenário de crise especulativa. E o sonho da unificação teórica, um dia alentado pela física, soava agora como um distante sonho numa noite de verão, pois, além da crise cosmológica, a física permanecia repartida em bolhas explicativas impermeáveis, o que durava já um milênio.
Por sua vez, a crise climática e ambiental que assolou o mundo no século XXI, e que atingiu seu ápice na segunda metade do XXI e primeira metade do XXII, tiveram suas consequências, degelo do Ártico, da Groenlândia, deslocamento de icebergs do tamanho de cidades, e tendo cidades litorâneas sendo remodeladas em novos e sofisticados sistemas de drenagem e canalizações para diminuir o impacto do avanço do mar. Tivemos a destruição de florestas, com a desertificação da Amazônia, a extinção de espécies animais e vegetais, o aumento da temperatura dos oceanos e consequente morte de vida marinha.
O pior fenômeno foi o do cataclismo marinho de Ph ácido, com aumento exponencial de tempestades, furacões e tsunamis, incluindo a seguir a pobreza extrema, que sofreu as consequências do segregamento ambiental, também chamado de racismo ambiental, e o delay na queda e interrupção na produção de combustíveis fósseis e de carvão, depois de inúmeras reuniões de cúpula produzindo relatórios inúteis para iniciativas tíbias e incompletas, sem coordenação internacional satisfatória ou um plano global efetivo, tudo muito discursivo e midiático.
Por sua vez, as medidas de soluções energéticas para a revolução industrial como a fusão nuclear ficou como uma eterna promessa, sendo uma mistura de panaceia com Deus Ex Machina, e sempre muito custosa na prática, o que acabou tendo como caminho mais factível a expansão do uso de energia e de recursos renováveis, tendo também uma política dura de extinção das usinas nucleares, o controle da expansão de armas nucleares satisfatória, mas sem sua extinção.
Houve também a diminuição de ditaduras corruptas e sangrentas, embora o fanatismo, o negacionismo e as teorias conspiratórias e as fake news tivessem se tornado realidades irreversíveis com a difusão da internet, e isto em versões cada vez mais sofisticadas. Por outro lado, durante o terceiro milênio, aconteceu uma certa preservação de valores democráticos e diplomáticos e de direitos humanos no plano geral do direito internacional, mas com órgãos e iniciativas sempre às voltas com burlas, como os crimes de guerra constantes.
A crise climática, por fim, só teve uma declaração internacional de reequilíbrio, a partir da primeira metade do século XXIII, com um custo civilizatório imenso e o mais devastador da História, e que só perderia para a hipótese de uma conflagração nuclear, caso a Guerra Fria tivesse ido às vias de fato.
Do ponto de vista civilizatório, este era o plano geral que contextualizava o ano de 3012. A China empreendia um domínio técnico imenso, e já há muito que tinha uma indústria cultural competitiva, com o mandarim se tornando uma língua tão falada quanto o inglês, embora em nível mais básico, pois a língua tonal só era mais avançada para estrangeiros que tivessem morado ou morassem na China.
Nos Estados Unidos, por sua vez, depois de disputas culturais ininterruptas, uma crise de credibilidade da indústria cultural norte-americana, com denúncias de esquemas financeiros e um desfile de escândalos sexuais e mortes prematuras inexplicáveis, o conservadorismo jeca prevaleceu por um tempo, tendo depois uma nova onda de liberação dos costumes e de expansão de uma cultura cosmopolita de cepa californiana.
As guerras por procuração tinham, por trás, um cenário de disputas entre Estados Unidos, China e Índia, principalmente, e com a Europa diante das idiossincrasias russas, e a América do Sul com suas democracias que alternavam com investidas de novos caudilhos e personagens de vaudeville político. A indústria cultural hindu também estava tão forte quanto a chinesa, e já existia uma versão mais moderna da antiga Bollywood, sendo substituída por um soft power mais espalhado pelo país, que tivera uma boa expansão do PIB, ao passo que o notório soft power conquistado pela Coreia do Sul agora tinha concorrentes sui generis como Cingapura e Indonésia.
O Brasil, por sua vez, sempre rico culturalmente, ainda estava no atraso enquanto projeto de soft power, muito devido a uma visão canhestra e medíocre de muitos de seus governantes, mantendo a cultura num tipo de limbo entre produção espontânea popular riquíssima e pires na mão de empreendedores culturais diversos, sendo ainda o eterno país do futuro, uma terra do nunca.
Por conseguinte, em poderio militar, tínhamos a Índia, o Paquistão e a China, países que faziam frente ao poderio norte-americano, e as forças armadas russas, que continuavam com parte de seu arsenal nuclear e sua sistemática de bravatas contra os países europeus. O continente africano, por sua vez, presenciou uma democratização de alguns países, expansão econômica, diminuição da fome, depois de um período crítico na crise climática, ao passo que os países do Oriente Médio viviam cronicamente entre centros cosmopolitas e vanguardas do atraso, produto de interpretações radicais do Corão, com Maomé permanecendo como intocável, sobretudo para a jihad, que ainda atuava, em pleno quarto milênio.
Como dito, os sinais de uma cultura dopaminérgica agora ganhavam ares de orgia sensorial, sendo que o hedonismo se favorecia do avanço científico e tecnológico, em países como Estados Unidos e Japão, junto com Itália e tailandeses, onde atuavam máfias sexuais. Com os avanços de técnicas de prazer, junto com fármacos, que inundavam o cérebro de torpor, os aparelhos de simulação, as produções da robótica, com o uso de inteligência artificial e da própria internet, e a ainda difundida cultura das drogas de todos os tipos e cada vez mais fortes, tínhamos um hedonismo que nadava de braçada, em seu domínio hipnótico do senso comum, e de elites alienadas, que se afogavam neste mundo de infinitas possibilidades, e nenhum paradeiro.
Grandes máfias do prazer expandiam seu poder, misturando crime comum com ações de crackers, tráfico humano, vendas de fármacos genéricos, além de misturas desconhecidas no mercado de drogas, sobretudo as sintéticas, que agora eram mais disseminadas neste quarto milênio que as antigas culturas de coca e de maconha. O mercado era tão poderoso, que havia uma confusão entre fármacos neuro-sintéticos e as drogas sintéticas clássicas.
Os ditos fármacos vinham de estudos científicos embasados e legítimos, mas que foram dominados por um mercado onívoro em sensações, ainda mais com um custo menor para a saúde, pois operava num nível sutil de produção controlada de neurotransmissores para fins específicos. Embora efeitos sobre a mielina ainda estivessem sendo estudados, não havia nenhum efeito colateral aparente, até então, naquelas décadas de ouro dos chamados “fármacos cerebrais”.
Destas máfias, também havia os chineses, os mafiosos de Macau, de Hong Kong e de Taiwan. No Japão, por sua vez, enquanto a Yakuza se centrava no tráfico de drogas e de armas, mantendo tradições atávicas, e uma organização estreita e rígida, agora, desde os últimos trezentos anos, se expandiu a chamada Shindo Renmei, de organização descentralizada, com focos, sobretudo, em Kioto, Tokyo e Osaka. A Shindo Renmei também fazia movimento com fármacos cerebrais, tendo como principal negócio o mercado do sexo, tanto no tráfico sexual de mulheres e homens, como na produção em série de robôs sexuais com inteligência artificial.
A Shindo Renmei tinha associação com a nova máfia norte-americana chamada Big Stick, que também atuava no mercado das drogas e do sexo. A pirataria tecnológica e biológica, por sua vez, tinha como principal organização internacional a máfia chinesa, de nome Laozi, que tinha uma filosofia confuciana meio distorcida, e também o livro do Tao como uma fonte de sabedoria, também em um uso bem peculiar, adaptado aos objetivos da Laozi.
Na Itália, a Sacra Famiglia Romana tinha se juntado à `Ndrangheta da Calábria, e formado a Azzurra Armada, organização que depois subjugou a Camorra napolitana e a Cosa Nostra, e unificado o poder de máfia italiano. Mais tarde, eles se associaram à Stasi da Renânia do Norte-Westfália, que tinha feito uma fusão com neonazistas da Saxônia-Anhalt e na Turíngia. Também houve associação com os extremistas da Ustase da Croácia, formando uma máfia neonazista e fascista.
Todas estas organizações tinham as suas respectivas áreas de atuação, o conflito entre as máfias não existia, pois desde os anos de 2700 para frente se organizavam cúpulas em que se atualizavam os números e atuações de cada máfia, o respeito era mútuo e o pacto de não-agressão extremamente rígido, com penas de tortura e morte por romper com o chamado “pacto internacional do crime e do lucro”. Portanto, que cada um cuidasse de seus negócios, sem “encher o saco do outro”.
Um exemplo era a divisão oriental de funções que havia entre a Laozi, a Shindo Renmei e a própria Yakuza, mais antiga, para que não houvesse um curto-circuito nas bandas do Extremo Oriente e da Indochina, que eram as regiões dominadas por estas máfias. Sendo a Laozi a máfia mais forte destas regiões, já tendo ultrapassado a Yakuza, que só mantinha ascendência no seu próprio país, o Japão. A Shindo Renmei, que também era nipônica, por sua vez, vinha de um grupo político de fanáticos imperialistas, que virou, com o tempo, uma máfia criminosa.
Para enfrentar tais máfias, com o tempo, foram criadas organizações chamadas de operações de inteligência, que era uma inovação de poder civil e militar, um híbrido, que primeiro foi inventado nos Estados Unidos, por Mariners, e depois aperfeiçoadas em hangares, e com estudos avançados do Pentágono, como modo de lidar com a expansão da máfia internacional, que se tornara uma praga maior do que tivera sido o terrorismo clássico, desde o século XX, até, pelo menos, os anos de 2500 e 2600.
A primeira operação de inteligência oficial foi a chamada Hawk, do leste norte-americano, e depois a do oeste norte-americano, a Hangar. Em Taiwan, para enfrentar os chineses da Laozi, surgiu a Taipei Tang, e em Hong Kong, historicamente ocupada pela Yakuza, e depois tomada por membros da Shindo Renmei, surgiu a Shaolin, ligada exatamente a doutrina marcial Shaolin de Kung Fu do norte chinês, que depois se associou à operação de inteligência Louva-a-deus, também formada com origem no Kung Fu, esta sendo localizada na China, em confronto direto e sangrento com a máfia Laozi.
Por conseguinte, no Japão, foi fundada mais uma operação de inteligência, a chamada Base de Yokohama, também com base em artes marciais, desta vez do Judô e do Karatê. Na Europa, por sua vez, a máfia Azzurra Armada nadava de braçada, pois era combatida pelo poder de polícia tradicional, sendo que cada país tinha sua polícia, e a Azzurra Armada era cosmopolita, com tentáculos até para além da União Europeia, se expandido para a Rússia e a Turquia.
O Oriente Médio, que, desde a expansão do Islamismo, jamais repetiu o brilhantismo cultural dos séculos de ouro de uma Bagdá e uma Damasco pujantes, enquanto a Europa dormitava nas superstições medievais da Igreja Católica e do Feudalismo, continuava com o domínio de milícias terroristas jihadistas, uma perversão do decadentismo cultural que tomou a região de modo renitente.
A máfia do ópio, ficando no Afeganistão, dominada por fanáticos herdeiros do antigo Talebã, que depois de proibirem a produção de ópio, por razões religiosas, com as gerações seguintes deste grupo, contudo, estas viram a oportunidade de lucro com a constante crise de abuso destas substâncias pelo mundo, e nos Estados Unidos, desde o século XX. O antigo Talebã, que agora se chamava Jihad Final, era mais moderna que os xucros da antiga milícia, e via no ópio o caminho para “eliminar o Ocidente etc”.
O regime de informações ultrassecretas do Pentágono, por sua vez, tinha um acervo com registros, por diferentes meios, de contatos com raças alienígenas, até então, nos Estados Unidos, sem acesso, portanto, ao que a antiga KGB soviética tinha em mãos. Informações desta natureza, por sua vez, estavam em poder do Exército Vermelho da China, e em menor escala, pelas Forças Armadas de outros países.
Mas, o grosso do que se sabia, era via Pentágono e Exército Vermelho da China, uma vez que a KGB tinha vendido muitas destas informações para organizações clandestinas, sendo uma destas, por sua vez, os mafiosos da Laozi, que praticavam pirataria tecnológica e biológica, e se suspeitava de que tinham colhido peças de naves, feito engenharia reversa, e que tiveram acesso a relatórios e gravações sobre Greys, depois de comprarem materiais da KGB, através de oligarcas russos e bandidos esporádicos.
O vazamento de informações, advindo do desmantelamento da KGB soviética, tinha sido uma tragédia, pois a Laozi foi em cima e comprou tudo o que pudesse sobre materiais ultrassecretos, tendo acesso a um know-how privilegiado produzido na Guerra Fria do século XX. Havia um diálogo estabelecido entre o Pentágono e o Exército Vermelho da China, com mais intensidade, pelo menos desde os anos 2700 para cá, e que se sofisticaram pela necessidade comum de combate à máfia internacional, que tinha nas operações de inteligência, as suas frentes para tal batalha.
Independentemente das guerras de procuração, muitas vezes inevitáveis, o acordo de paz entre Estados Unidos e China se tornou oficial desde os anos 2700, tornando improvável a tal Terceira Guerra Mundial, que só teve escala de acontecer durante a Guerra Fria do Século XX, e durante alguns conflitos no Século XXI, XXII e XXIII, tendo se estabilizado, à frente, depois do reequilíbrio climático e ambiental, a partir de 2300 e 2350.
As possibilidades de uma nova guerra mundial, acabou sendo ceifada, de vez, a partir de 2700, com esta ponte entre o Pentágono e o Exército Vermelho da China, no chamado “domínio comum de interesses”, salvaguardadas as áreas competitivas, que eram sobretudo as de interesses econômicos e comerciais, e que tinham dividido o mundo da internet para sempre em uma rede bipolar, desde o Século XXI, até então. E a mesma divisão se deu no avanço da inteligência artificial, com vantagem chinesa, neste caso.
Dentre os documentos e relatórios da zona comum entre o Pentágono e o Exército Vermelho da China, havia um diretório que se chamava “estratégias para inteligências extraterrenas”, e a ideia de juntar o know-how tático e estratégico entre Pentágono e o Exército Vermelho da China era o de acelerar as soluções para o problema, de uma complexidade enorme, pois os contatos no “varejo” deixavam poucas pistas de intenções, abordagens, de aspectos objetivos destas civilizações incógnitas.
A reunião de dados desses contatos todos formava um conjunto de materiais, registros, tratados, relatórios, apêndices, resoluções, minutas inacabadas, estudos, mas que não tinham nada sistemático, ou que se pudesse chamar de fonte de entendimento, pois se tratava de uma coleção de evidências enigmáticas, em que a razão militar apanhava desde sempre, à exceção das operações práticas de engenharia reversa, única fonte confiável de conhecimento adquirida, até então, sobre estas incursões alienígenas no planeta.
Havia até entrevistas, em inglês e em russo, com Greys, além de uma entrevista, em inglês, com dois nórdicos, pelo Pentágono, mas tudo numa comunicação rudimentar, também com poucas pistas. O que se sabe é que uma entrevista, da KGB, com um Grey, vazou para a máfia Laozi, mas, certamente, sem serventia, normalmente, no que se sabe de mais seis destas entrevistas. Por sua vez, alguns destes Greys acabaram morrendo doentes, provavelmente, pelos seus sistemas de imunidade não reconhecerem os patógenos terrestres.
Se soube, também, que um destes Greys foi espancado e assassinado, após uma destas entrevistas, por ter resistido a ficar confinado numa solitária de um dos pátios secretos da KGB, na Sibéria, com estruturas herdadas dos Gulags czaristas e soviéticos. Correu o boato, ainda, de que outro Grey morreu congelado, ao ser jogado no Lago Baikal, igualmente por ter resistido à prisão pela KGB.
Depois destes incidentes, portanto, se mudou o protocolo de abordagem para evitar problemas futuros. Então, os episódios de violência contra os Greys cessaram, sendo que as visitas e contatos continuaram durante grande parte do período soviético, com imagens de vídeo, nos quais apareciam vários destes Greys, ao mesmo tempo, em trajes que pareciam ser espaciais. Sabe-se que a assiduidade destas raças de Greys são bem maiores que a dos nórdicos, e os mais raros são os reptílicos e os insetoides, estes últimos restritos a poucos relatos de civis, seja por via física ou por hipnose. No caso de outras civilizações mais avançadas ainda que estas, que são arcturianos, sirianos e pleidianos, estes possuem outros interesses, e os contatos militares vazados tiveram registros raros.
O ano de 3012, portanto, era inserido no contexto cultural de um reino hedonista, misturado a todas as questões apontadas até aqui, do problema da máfia internacional, que também fomentava este hedonismo, e das chamadas guerras por procuração. Este mistifório cultural era o do domínio dos sintomas decadentes e distópicos, de uma aplicação tecnológica, em geral, distorcida, virando uma espécie de versão gelatinosa da realidade e da vida, produzindo simulacros de acomodação e conforto, em que a existência e suas questões eram diluídas na fuga.
E um detalhe, que ia para além destas pílulas ou comprimidos de fármacos cerebrais e de estimulantes sexuais, indo também além de estímulos sensoriais virtuais e de robôs sexuais com inteligência artificial, ultrapassando até mesmo a experiência sexual ainda prevalente entre os sexólatras, que era a de pagar por escorts acompanhantes ou michês musculosos, ainda com o sexo biológico, feito fisicamente entre corpos reais e perecíveis, ou seja, com penetração e orgasmo naturais, tínhamos, desde o ano de 2970, uma invenção que foi chamada de “Orgasmatron”, e que seria o opus técnico do hedonismo, pois misturava a fonte natural do sexo, aliando esta com estímulos elétricos e magnéticos, que potencializavam as experiências sexuais, tanto as masturbatórias como as experiências a dois ou em grupo. Se tratava de uma versão híbrida da sexualidade e de seu clímax.
A chamada Orgasmatron era uma máquina que parecia um grande órgão de Igreja, daqueles tocados por Johann Sebastian Bach, no auge histórico do instrumento erudito, pois, semelhante ao instrumento musical, era operado por comandos que moviam pedais e sensores, e estes enviavam os pulsos elétricos e magnéticos para os corpos que ocupavam as cabines da máquina Orgasmatron. O negócio se aprofundou, por sua vez, a partir da segunda geração destas máquinas, produzidas em Taiwan, e que capacitaram a venda destas para o mercado internacional.
Tal venda da Orgasmatron, com a sua repercussão econômica e comercial, logo chamou a atenção da máfia, e a Shindo Renmei, associada à expertise da Laozi, passaram a fabricar versões piratas da Orgasmatron, que, originalmente, a partir da segunda geração, era produzida em Taipei, por uma empresa de nome Kendo, e que ganhou logo uma concorrente norte-americana, produzida pela Galactic, uma empresa que surgiu depois da pulverização da Amazon e do Google, nos Estados Unidos, durante o Século XXI.
A Galactic, por fim, investiu pesado no aperfeiçoamento da máquina, que teve uma terceira geração lançada no ano 3005, muito à frente do que a Kendo produzia, que entrou em crise, devido aos avanços da Galactic e da pirataria sino-nipônica da máfia da Laozi e da Shindo Renmei.
Em 3011, por conseguinte, chegou a quarta geração da Orgasmatron, também via Galactic, com estímulos magnéticos e elétricos refinados, com uma versão ainda cara da máquina, e que a pirataria não alcançava em sofisticação. Tal mercado ilegal alimentava os setores populares do hedonismo, com versões sem registro, e lucrando muito mais do que com robôs sexuais e fármacos cerebrais ou estimulantes sexuais e até as drogas sintéticas, bem disseminadas pelo terceiro milênio todo. Era a nova febre do mercado ilegal, e que estava enriquecendo as máfias da Laozi e da Shindo Renmei, muito mais do que as outras máfias mundiais que, desde pelo menos 3010, insinuaram entrar no negócio, mas foram barradas pela última cúpula da máfia internacional.
O fato é que havia uma tensão no ar e o tal pacto de manter cada um na sua estava estremecido e até ameaçado. Por exemplo, a Azzurra Armada estava fazendo projetos sobre a venda de uma versão pirata da Orgasmatron na Europa, no lugar das oficiais da Galactic e das piratas Laozi/Shindo Renmei. Portanto, o pacto de não misturar negócios concorrentes da máfia global estava por um fio. Por fim, com a entrada da Azzurra Armada no mercado ilegal das máquinas Orgasmatron, agentes da Laozi e da Shindo Renmei, com apoio logístico da Yakuza, começaram uma guerra contra a máfia italiana, ao entrarem com agentes disfarçados na Calábria e matarem com golpes de machado três líderes da cúpula da máfia Azzurra, sendo dois italianos e um alemão, da sociedade com a Stasi neonazista.
Em 3012, portanto, estava rolando uma carnificina já há meses, entre estas organizações citadas, com a quebra do pacto internacional da máfia, contudo, sem a entrada de outras organizações, que estavam tocando os seus próprios negócios. Portanto, não houve a punição prevista pelos estatutos das cúpulas, uma vez que as outras máfias, por hora, meio que pensaram “deixa eles se matarem etc”.
A Laozi estava segura, pois sabia que grande parte da Stasi era de idiotas e basbaques, com correntinhas, e que viviam de ações midiáticas com seus desfiles portando bandeiras e cartazes com signos nazistas, ao passo que a Azzurra Armada, mais perigosa, ainda se sabia inferior nas questões táticas de uma Yakuza milenar, por exemplo. E a Laozi, quanto não menos fosse, era a máfia com a maior capacidade bélica do mundo, o que denotava que a entrada da Azzurra Armada, como concorrente no mercado ilegal das máquinas de sexo Orgasmatron, tinha sido um gesto temerário gerado por ganância.
O nome do inventor da Orgasmatron, em 2970, então jovem cientista e pesquisador de Pequim, era Deng Xiaomi, e que registrou a patente, meses depois, após alguns testes autoaplicados e na própria esposa, além de três amigas e seus respectivos maridos. Mas, esta primeira geração de máquinas ainda não era de mercado, se tratava de versões restritas, depois de inúmeros protótipos, até a invenção oficial, em 2970. A versão comercial veio a partir da segunda geração, em Taiwan, após a venda da patente original para a Kendo, em 2976, viabilizando a venda da máquina Orgasmatron para o mercado de Taiwan, da China, e para o mercado internacional.
Deng Xiaomi, por sua vez, se mudou para Taipei, e passou a fazer parte do Conselho da empresa taiwanesa Kendo. Com a crise da empresa, superada pela Galactic, e sufocada pela pirataria da máfia Laozi/Shindo Renmei, Deng Xiaomi foi demitido e voltou para Pequim, com a verba indenizatória e seu seguro desemprego. Contudo, ele foi logo cooptado, por muito dinheiro, pela máfia Laozi, passando toda a sua expertise para a máfia chinesa. Depois de cinco anos de contribuição para a Laozi, todavia, Deng Xiaomi acabou sendo assassinado a tiros pela própria Laozi, pois a avaliação feita pelos mafiosos chineses era a de que a Laozi já sabia do que precisava através daquela fonte, e agora era só descartar o cientista e pesquisador numa vala comum e apreender todos os seus bens.
Por sua vez, começaram a circular relatos e denúncias de escândalos sexuais por parte da chefia da Galactic, e que envolvia presidente, secretário-executivo, gestores sêniores, e membros do Conselho. A denúncia era de estupros e orgias nas dependências da empresa, tanto nos escritórios como nos depósitos, que pareciam verdadeiros inferninhos e motéis num cenário de decadência romana imperial.
Começou logo uma sindicância pelo Poder Judiciário Federal norte-americano, mas, no final, somente o presidente foi processado e preso, com o resto da equipe passando incólume, sendo que pegaram o chefe de boi de piranha do que tinha sido uma orgia sistemática e generalizada. A Galactic, que acabara de lançar a quarta geração da Orgasmatron, passou por uma compliance a jato, para debelar a crise na origem, e manter a sua liderança de mercado internacional, ainda mais depois da derrota da Kendo taiwanesa.
Entramos, então, no ano de 3013, e começou a circular no mercado ilegal norte-americano, através da máfia norte-americana Big Stick, uma versão da máquina Orgasmatron, que passou a ter o nome fantasia de “Baby California”, e que virou uma febre no tráfico do Oeste ao Leste dos Estados Unidos. A Galactic ficou de cabelo em pé, pois era uma máquina avançada, tão boa quanto a quarta geração oficial lançada pela Galactic em 3012.
A expertise daquilo era um mistério, pois esta “Baby California” surgiu de um dia para o outro nos sites de venda ilegal da internet. A Kendo, por sua vez, já no final de 3013, entra em processo de falência, e logo em seguida vira objeto de um escândalo de ativos podres, uma dívida imensa, e teve vários de seus diretores presos por crime fiscal, com o presidente da empresa encontrado morto em seu apartamento, com uma espada de samurai enfiada no próprio ventre, tudo indicava um harakiri, pois ele estava de kimono, o qual estava todo ensanguentado.
A Laozi, em conjunto com a Shindo Renmei, e em reuniões com a Yakuza, começava já a traçar uma estratégia de reação e ataque ao Big Stick norte-americano, e isso em meio a uma guerra sangrenta entre agentes da máfia chinesa contra executivos armados e braços de milícia da Azzurra Armada, junto com a Stasi e a Ustase croata. A estatística de assassinatos nas regiões da Itália, de Zagreb e na Turíngia, por exemplo, dispararam.
A investida bélica da Laozi foi extremamente violenta e determinada, com a Azzurra Armada cambaleando e atirando, sem declarar ainda a sua derrota, e ainda vendendo a sua versão da Orgasmatron no mercado ilegal europeu. Contudo, depois de ataques coordenados da Laozi, que praticamente decapitou toda a cúpula dirigente da Azzurra Armada, a máfia italiana finalmente capitulou, e todas as fábricas de máquinas Orgasmatron, que tinham sido erguidas pela máfia Azzurra, foram incendiadas com tudo o que havia dentro.
Depois da derrota humilhante da Azzurra Armada, que teve que voltar para seus negócios tradicionais de tráfico de drogas e de armas, agora estava sendo enviado para diversas regiões norte-americanas uma série de agentes disfarçados da Laozi, que, obviamente, eram todos brancos caucasianos, que atuavam como mercenários da máfia chinesa. Logo começou uma série de assassinatos de lideranças e de gestores da Big Stick, e logo dirigentes da empresa sabiam que se tratava da Laozi.
Por sua vez, a Big Stick já tinha conexões em Hong Kong e Macau, que eram bases de espionagem da máfia norte-americana, que tinha começado estas operações desde a expansão financeira da máfia chinesa e japonesa, com a venda das máquinas piratas Orgasmatron, já de olho no mercado, com um plano bem urdido, e também com pessoas trabalhando dentro da Galactic, e passando informações sigilosas da empresa para a Big Stick. Portanto, a “Baby California” só tinha pego de surpresa os outros, que não faziam parte da Big Stick.
Ocultamente, chegavam naves nos desertos do Novo México, do Arizona, e no deserto de Sonora, e que já estavam sob monitoramento do Pentágono, com envio de drones e de sondas espiãs. Tais naves foram classificadas na categoria de Óvnis, que depois da abertura de documentos, a tal classificação UAP (Fenômeno Anômalo Não Identificado) tinha caído por terra, sendo produto de típica fase de negação, misturada com hipocrisia e farsa.
Tais fenômenos recentes naqueles desertos logo entraram para o diretório de documentos ultrassecretos do Pentágono. Tais aterrissagens aconteciam de madrugada, e tinham sido registradas pelo Pentágono um total de 42 naves e aterrissagens, num espaço de apenas 11 dias, e isso cobrindo o perímetro que envolvia o Novo México, o Arizona e Sonora. E se somavam a isso, ainda, uma miríade de gravações de avistamentos.
O monitoramento do Pentágono, neste caso, não entrou no relatório compartilhado com o Exército Vermelho da China, e a decisão foi unânime, pois ainda havia desconfiança contra os chineses, isso sem contar alguns fatos investigados do Pentágono em relação à Laozi que eram estratégicos, e que não chegaram aos ouvidos do Exército chinês. Portanto, apesar de acordos longos e bem fundamentados, e já de muito tempo, o Pentágono acreditava que a China sempre tinha flertes com ilegalidades, alavancagens e atalhos diversos, e isso desde a ascensão da economia política de mercado, que tornou a China a maior economia do mundo.
A isso se seguiu um grande desenvolvimento da Índia, nos últimos séculos, com os Estados Unidos se segurando na indústria cultural e no poderio militar. A verdade é que o diálogo próximo entre Pentágono e Exército Vermelho da China, em face do enfrentamento da máfia internacional, por fim, era superficial, pois não passava de um acordo de interesses cercado por desconfiança e hipocrisia, e muitas informações, evidentemente, não eram compartilhadas mutuamente.
As operações de inteligência da Hawk e da Hangar, por sua vez, estavam em trabalho sincrônico, para tentar seguir o dinheiro que corria pela Big Stick, sobretudo agora, com as vendas enormes da “Baby California”, e que agora tinha como um dos novos líderes da máfia norte-americana, um ex-hippie maluco de ácido, vindo de São Francisco, que tinha o nome de Gillan Dompsey, mas que o pessoal chamava de Duran Duran, e tinha virado um gênio cracker, e depois entrou para o crime comum.
A sua ascensão dentro da Big Stick foi por aclamação, ele era o novo chefe da máfia norte-americana, e era uma das mentes por trás da criação do Orgasmatron “Baby California”, que ele dizia que valia mais do que uma viagem de ácido ou uma picada de heroína. Duran Duran continuava porra louca, pois agora enchia a cara de MD, e vivia operando na Orgasmatron, como um maníaco, e que tinha um harém comprado só para ele.
A grande mansão, em que Duran Duran morava, era agora protegida por um sistema inteligente de segurança, além da presença de dois androides, que foram extraviados da indústria bélica, pois o Estado norte-americano restringiu a tecnologia de produção de androides como exclusivo das Forças Armadas. Ou seja, a expertise de produção destes androides jamais foi cedida à iniciativa privada e/ou empresarial, posto que fora proibido por lei. Os dois androides pertenciam ao Exército, e eram armados com lasers, mas tinham sido reprogramados por Duran Duran para servi-lo e trabalhar para a Big Stick, e se chamavam Zootropo e Taumatroscópio. Portanto, ele era a única pessoa que tinha rompido a barreira das Forças Armadas, e conseguido extraviar aqueles androides de lá.
Estes androides eram humanoides de inteligência artificial avançada, generativa e antecipatória, com reflexos coordenados, simulação de emoções, habilidades e competências, conhecimento copiado, e que se replicava por conta própria, e as armas laser eram mortíferas, as quais fulminavam o alvo instantaneamente. Por estas razões e outras, que os androides eram de uso restrito, e controlados pelo Estado norte-americano, não podendo entrar no mercado.
O mesmo acontecia em outros países que fabricavam androides, pois fora uma resolução internacional, uma evolução de acordos que já tinham sido feitos sobre inteligência artificial, só que com a diferença da proibição de androides serem “comerciáveis”, pois eram equivalentes a armas de uso restrito e considerados na categoria de armas de guerra.
A robótica até produzia máquinas inteligentes, comerciais, com características humanoides, mas eram assistentes, como os assistentes de inteligência artificial, com muitas empresas que fabricavam humanoides sexuais também, mas os classificados androides, propriamente ditos, tinham uma tecnologia muito mais avançada, no uso de recursos de inteligência artificial e mecânica, que um acordo internacional foi unânime, entre os países, em assinarem sua proibição de uso civil, sendo de uso restrito para militares. Um acordo tão bem sucedido, que tal know how nunca vazara para criminosos, e as máfias do quarto milênio, por exemplo.
Quanto às naves, o Pentágono, depois do envio de drones, mandou uma força tarefa para o Novo México, chegando lá, nas áreas mapeadas de pousos de tais naves, não havia mais nada, apesar do monitoramento contínuo, e não havia registro de saídas de naves ou de novos objetos, pois já fazia 5 dias que os tais movimentos tinham cessado.
A missão de exame da região, portanto, se tornou inútil, pois a ideia era fotografar os artefatos e, se fosse o caso, apreender todo material possível para análise e possível engenharia reversa. As investigações acabaram sendo abortadas, e só o monitoramento de rotina foi mantido por mais dois meses, e depois também foi encerrado. No Arizona não havia mais nada. No deserto de Sonora, apesar dos inúmeros registros por drones, também não havia pistas, e pior, a movimentação de imigrantes ilegais e coiotes atrapalhava a investigação e o monitoramento da região mexicana.
O mistério, na verdade, se tratava de naves vindas de um sistema solar próximo, cerca de 4,24 anos-luz da Terra, de um exoplaneta de nome Signus, que fazia parte de um sistema solar aqui conhecido como Próxima Centauri B, e que tinha clima, oceanos e continentes semelhantes à Terra, praticamente uma Terra Dois, que nossa civilização conhecia por análises de velocidade radial, por análises de trânsito, imagem direta, uso de microlente gravitacional, interferômetro, e por análises posteriores de sondas.
Por sua vez, o que se sabia daquela civilização veio depois por imagens, sons, feita por detectores militares norte-americanos, além de registros de rádio, que captaram sinais de comunicação incompreensíveis, sem qualquer lastro em línguas terrenas, sem traduções possíveis, apenas especulativas, feitas por linguistas especialistas, que analisavam também documentos trazidos de outros exoplanetas com atividade orgânica e civilizatória-tecnológica, que formavam um conjunto de informações até agora desencontradas, sem traduções satisfatórias, e muita especulação.
A colheita de materiais feita não era numerosa, as viagens das sondas ainda eram longas, duravam décadas, e o programa de envio de sondas para exoplanetas comprovados com atividade orgânica e tecnológica vinha desde os anos de 2400, era tudo muito caro, moroso, e com resultados a passos de cágado. Ainda valeriam, segundo cálculos otimistas, mais dez mil anos para que a civilização terrena rompesse o próprio sistema solar e tivesse naves mais rápidas que a luz, como se via nos registros feitos pelas sondas enviadas para alguns dos exoplanetas mais avançados registrados, e isto num perímetro até agora infinitesimal em relação à própria Via Láctea, que tinha bilhões de estrelas, com milhões de exoplanetas potenciais de vida biológica e civilizatória, portanto, só na Via Láctea.
Já havia um universo inteiro a desbravar, e isto só alcançaria resultados globais, segundo futuristas matemáticos e estatísticos, ao menos em dez milhões de anos de História humana. No registro de interferômetros e lentes sofisticadas, o relatório sobre a Via Láctea agora reunia 33.054 exoplanetas com atividade biológica e tecnológica comprovada, 112.567 com atmosfera e atividade biológica comprovada, um total de 7.534.277 exoplanetas registrados, e um total de 458 exoplanetas visitados por sondas e drones humanos, sendo 55 com civilizações mais avançadas que a Terra, 28 na média semelhante, e 39 exoplanetas passando pelo que parece ser uma primeira revolução industrial, tendo sido identificado pelo interferômetro, pois o consumo de carvão era de fato brutal naquela região.
Nestas missões de sondas, ainda havia sido detectados mais 16 exoplanetas que passam por uma espécie de Pré-História, que foram os selecionados, dentre os que não tinham atividade tecnológica comprovada, para o envio de sondas, se somando a isso mais 112 exoplanetas apenas com vida vegetal e animal, sem hominídeos ou algo parecido, e mais 208 com mares que possuíam vida, ainda com formação continental incipiente.
Ainda existiam mais 83.798 sondas que estavam em trajetos para outros exoplanetas, sem terem ainda chegado ao destino. A falta de registros de planetas primitivos por drones e sondas, no início do programa Sonda University, feita por um conglomerado de empresas privadas norte-americanas e a Nasa, em conjunto com chineses, além de países da Europa e Índia, foi devido à prioridade dada para exoplanetas com atividade tecnológica, mas depois o programa foi ampliado no envio de doze sondas indo para 12 exoplanetas somente com atividade biológica, para estudos comparativos sobre a Pré-História da Terra, até atingir o status descrito.
As naves que haviam pousado recentemente nas regiões do Novo México, do Arizona e de Sonora estavam num vale incógnito, perto de um curso de rio, já na entrada para o Texas, e o manejamento foi feito, pois se sabia do monitoramento, que estava sendo realizado pelos que eles chamavam de “english source”, sobre o qual alguns destes alienígenas estavam debruçados, e conseguiram decifrar a língua, sabendo que esta era a mais falada na Terra.
Eles vigiam o Pentágono há séculos. O local é repleto de relatos de avistamentos de Óvnis, em sua maioria, se tratando de avistamentos próximos ou de hangares e instalações militares ou de caças supersônicos ou aviões de carga e, mais raramente, em outros perímetros de voo civil, fora do arco militar, em torno de aviões comerciais.
A questão dos infiltrados já estava em pauta, e os primeiros contatos mais formais e sistemáticos com a cúpula do Pentágono já eram feitos, e estes que pousaram agora eram de Próxima Centauri B, com fenótipos idênticos a humanos, variando do loiro e moreno até negros e orientais. Poderiam passar incólumes numa rua movimentada, pois a altura e o peso também não eram muito diferentes, no caso, a maioria era magra, pois a alimentação deles já tinha sido disciplinada pelos séculos.
O projeto era o de colocar infiltrados para o combate do que chamavam de “degeneração da região Beta da Galáxia Zendaya”, o que já estava sendo feito em outro planeta de evolução equivalente à Terra. No caso, o que estava sendo tratado no Pentágono era o combate contra a máfia internacional, começando pela Big Stick norte-americana. E os viajantes espaciais eram em número de 167 indivíduos, sendo 80 homens e 87 mulheres, e destas mulheres se destacavam 10 mulheres que teriam o objetivo de serem utilizadas como “armas sexuais” contra a máfia da Orgasmatron, com uma principal que, na Terra, teria o nome de Barbarella.
Se sabia da degeneração extrema que acontecia tanto na Big Stick, como na própria Galactic, pois a empresa passara por uma compliance recente. O estado de coisas era alarmante, pois a decadência das relações implicava numa queda de natalidade, de uniões estáveis e na habilidade de manter núcleos férteis, pois o uso desenfreado de recursos sexuais desviavam a natureza gonadal de sua função evolutiva, e isto era estudado profundamente em Próxima Centauri B, pois tal problema ocorrera por lá há uns 600 anos e 700 anos. E tais recursos, sobretudo a Orgasmatron, prejudicavam as habilidades socioafetivas, diminuindo a estatística de relacionamentos saudáveis e duradouros, pois a banalização das sensações dispersava a energia gonadal para compulsões cada vez maiores.
Em Próxima Centauri B, por sua vez, também houve organizações que funcionavam como máfias e milícias, e tinham aparelhos semelhantes, que eles chamavam, por lá, de “máquinas de sensações etc”. Tal estado de coisas provocou uma queda brutal de natalidade e de relações estáveis, numa diluição de núcleos familiares, criando uma espécie de vanguarda do individualismo. O combate teve sucesso, por fim, através desta técnica de “armas sexuais”, ou seja, com o uso do próprio veneno como antídoto, levando ao colapso a indústria das máquinas de sensações e quetais. Lideranças, por sua vez, mordiam a isca, até enlouquecerem e fazerem coisas sem sentido, sendo levados por induções hipnóticas, em meio da destruição das máquinas à moda Ludita etc.
Tais problemas também tiveram, em Próxima Centauri B, o fato de terem sido objeto de um programa internacional de combate contra o hedonismo, e que tinha como diretriz estudos de autoconhecimento químico-emocional, ou seja, das emoções e da química cerebral e dos caminhos de equilíbrio de neurotransmissores e das emoções negativas e positivas e entre prazer e vício, das adicções e das compulsões, da alienação, e das próprias habilidades socio-emotivas e da afetividade contra interações tóxicas. Esta dupla estratégia durou pelo menos dois séculos, e teve sucesso depois de um esforço entre combate das máfias, de um lado, e conscientização civil, de outro lado.
Nas dependências de Duran Duran, em seu harém, já havia cerca de 560 mulheres, espalhadas por suas propriedades, sendo que na sua mansão, em São Francisco, esta vivia apinhada de gente inútil e decadente, uma malta de sanguessugas desocupados e drogados. Tal descrição de concubinato moderno parecia um relato bíblico do Velho Testamento, com um senhor dono de rebanhos, e umas três esposas, e mais um milhar de concubinas, barregãs, pistoleiras etc. Portanto, foi extremamente fácil a entrada das armas sexuais no convívio alucinado do mundo hedonista criado por Duran Duran, o todo- poderoso da Big Stick e vendedor da Orgasmatron, agora na versão “Baby California”, como o “verdadeiro e autêntico sonho californiano etc”, coisa de um ex-hippie que tinha virado um bandoleiro onívoro.
Os lucros eram estratosféricos e uma parte era aplicada agora na chamada guerra decisiva contra os Laozi da China e suas produções piratas. O sucesso da “Baby California” tentava ser replicado pelos espiões da Laozi. Eles tentavam se infiltrar num dos centros principais de criação e fabricação da Big Stick, que ficava em Sacramento, e um outro que ficava na Bay Area, em São Francisco, e que era onde morava Duran Duran.
Este ex-hippie se gabava de dizer que tinha começado morando num furgão, depois foi virando um autodidata de mecânica, hidráulica, começou a fumar maconha e tomar ácido, evoluiu na música, e foi concebendo as suas concepções sobre desejo, culminando nos estudos para criar o primeiro protótipo do que seria a sua versão da Orgasmatron, uma das doze primeiras que pifaram e pegaram fogo, até chegar às primeiras versões que funcionavam a médio prazo antes de estragar.
Neste ínterim, Duran Duran já formava um grupo paramilitar, um braço da Big Stick, que se destinava a caçar os infiltrados da Laozi nos Estados Unidos, um pouco depois conseguindo comprar um dos membros do segundo escalão da máfia chinesa, de nome Chung Dalsin, que entregou o nome e foto de vários dos brancos caucasianos que estavam, principalmente, na Califórnia, e que acabaram assassinados por meios cruéis, sendo que quinze deles foram mergulhados num grande caldeirão de ácido sulfúrico e tiveram seus corpos derretidos.
Enquanto isso, as ações da Louva-a-deus e da Shaolin também realizavam baixas importantes na Laozi e na vertente da Shindo Renmei, japonesa, e também desfigurava a Yakuza, que agora passava por sua maior crise, na sua história milenar, sendo acossada também pela Base de Yokohama. Por sua vez, a Taipei Tang atacava bases de produção da Laozi em Taiwan.
Duran Duran também enviou reforços para a Azzurra Armada, e meio que ressuscitou a sua liderança, mas como espécie de braço armado da Big Stick pela Europa, sem incluir a Stasi, que deveria ser eliminada, segundo ele, um cria de São Francisco, que cresceu ouvindo bandas alternativas. O preço de reavivar o poder da Azzurra Armada seria o assassinato sistemático de todos os neonazistas da Europa, principalmente da Stasi e quetais.
Apesar da colaboração de Chung Dalsin, que durou quinze meses, este acabou sendo descoberto pela cúpula da Laozi como traidor e passou por uma execução sumária pelos três principais líderes em Shangai, num despenhadeiro, em que foi colocado num saco preto e arremessado no vale pedregoso. O saco caiu velozmente, e se espatifou, com um barulho seco, lá no fundo de um vale cheio de pedras e árvores frutíferas, além de um riacho que corria na aurora, que despontou logo em seguida.
A liderança da Laozi, então, emitiu um recado para todo o grupo de que quem repetisse aquilo seria decapitado. E logo, na Turíngia, sob liderança de Giulio Marinetti, novo líder na Azzurra Armada, começou o expurgo, primeiro, da cúpula da Stasi, que em questão de oito meses, com dinheiro e know how vindo da Big Stick, estava acéfala, e depois começou o extermínio do segundo escalão, praticamente derretendo toda a estrutura administrativa da organização, e ao fim, a Big Stick, patrocinando a Azzurra Armada, partiu com um grupo de elite para a Europa, com o objetivo de tocar o terror e matar neonazistas no varejo e no atacado, tanto do que restava da Stasi, como de jovens idiotas que desfilavam nas ruas de Leipzig, por exemplo.
As atividades da força tarefa da Azzurra Armada, sob apoio bélico e logístico da Big Stick, avançam pela Turíngia, pela Saxônia-Anhalt, pela Renânia do Norte-Westfália, por regiões da Holanda, atrás de células neonazistas na Espanha, em Portugal, na Hungria, na Noruega, na Suécia, na França, no Reino Unido, na Irlanda, na Romênia, por toda a Europa Ocidental e partes do Leste Europeu, e o expurgo do neonazismo europeu começa com uma violência inaudita, muitos destes neonazistas são mortos a tiros, decapitados, queimados, derretidos em ácido, desmembrados, eviscerados, capados, escalpelados etc. É um extermínio. Sobra quase nada, e se havia ainda neonazismo na Europa, depois de três anos de expurgo, sob ordens da Big Stick, agora o que tinha se tratava de meninos cagões, incels em quartos, na internet, tomando café da manhã servido pela mãe.
Enquanto essas ações estavam em curso na Europa, outros acontecimentos se deram, como a infiltração de dez centurianas, do expoplaneta Signus, na Big Stick, como funcionárias e secretárias da organização. Dentre elas, que eram dez mulheres alienígenas, se destacavam Barbarella, Luna e Esdra. As táticas seriam de sedução da diretoria da Big Stick e de Duran Duran, que era presidente e dono da Big Stick, e o criador da Baby California. Duran Duran, agora, trabalhava em home office, tinha um escritório que era um anexo no terreno de sua mansão, e Barbarella foi escalada para se infiltrar dentro da mansão, trabalhando como secretária de Duran Duran.
A primeira impressão de Barbarella por lá foi o constante aroma de haxixe que dominava todos os ambientes da mansão, um futum que a fazia tomar umas cápsulas para não ter náuseas, ao mesmo tempo que tomava pílulas de imunidade, uma vez que corpos alienígenas não reconheciam patógenos terrestres. Estas pílulas tinham propriedades moleculares e formavam aminoácidos, polímeros e proteínas, que poderiam se encaixar rapidamente diante de invasões de patógenos, e criar um anticorpo, na hora, para aquele patógeno X ou Y. No nível molecular, pelas ligações valentes e covalentes, interações se davam velozmente, a tempo de combater um patógeno que, em condições normais, seria estranho para aqueles organismos estrangeiros.
Duran Duran encontra a nova secretária para uma entrevista. Pergunta se ela sabia da Baby California, o que é confirmado. Barbarella apresenta um dashboard com estudos sobre a Baby California, e é aprovada para a vaga. Duran Duran, no início, é bem formal, mas logo depois começam as investidas em cima de Barbarella, em meio de um constante entra e sai de mulheres depravadas e vendidas de sua sala, que era um caos, onde tinha uma cama que vivia revirada, e três máquinas da Baby California que, volta e meia, quando Barbarella entrava para falar com Duran Duran, tinha mulheres dormindo em cima dessas máquinas.
Duran Duran, depois de seis meses de trabalho com Barbarella, sugere que ela experimentasse a Baby California, no que ela diz que poderia fazer o experimento, mas com a condição de saber mais sobre detalhes do projeto da máquina. Duran Duran resiste, mas acaba caindo na tentação de submeter Barbarella à Baby California, a Orgasmatron dos Estados Unidos e da Califórnia, e ver suas reações.
Barbarella começa a oferecer cápsulas hipnóticas a Duran Duran, batiza sua água, seus sucos e suas bebidas durante meses, e ele se encontrava cada vez mais sugestionado aos comandos de Barbarella, e de mais dois infiltrados, estes sendo dois homens alienígenas, centurianos, que agora colhiam informações de Duran Duran, depois de induções hipnóticas.
Duran Duran, que ainda se entupia de MD, haxixe, e de vez em quando, ainda tomava o seu “sunshine”, estava cada vez mais alucinado, e a bagunça em sua mansão estava fora de controle, que tiha virado uma casa da Mãe Joana. Era um entra e sai de sanguessugas de todos os lados, onde essas pessoas comiam, dormiam, usavam drogas, fármacos, a Orgasmatron da Baby California, e faziam sexo normal, e ainda viam televisão, faziam festas, ficavam nos frames computacionais de 3D, jogavam games, sinuca, basquete, vomitavam, gritavam, corriam na grama, pulavam na piscina etc, era um conjunto amorfo de gente decadente, em suma.
Duran Duran, em meio a uma viagem de sunshine, começa a ver um disco voador sobre a piscina, e começa a gritar que tinham alienígenas dentro da mansão. Ele toma um banho gelado, com ajuda de uns inúteis que acampavam na mansão, e depois dorme. Acorda e vai até a sua sala, depois de colocar Barbarella na Baby California, e esta Orgasmatron entra em curto-circuito, depois de quase uma hora de sessão, com Duran Duran comandando a máquina, acionando os pedais e alavancas, os botões de modulação etc.
Ele tem um acesso de riso, mas vê que Barbarella estava revirando os olhos, sinalizando orgasmos múltiplos, e ele fica agitado, que nem um maníaco, e é a hora que pisa nos pedais e a Baby California entra em curto-circuito, fazendo com que Duran Duran tenha que desligar a máquina Orgasmatron, quando Barbarella meio que cai dormindo, depois de desmaiar.
Nestes mesmos dias, no litoral da Costa Central da Califórnia, nas cidades costeiras de Carmel-by-the-Sea, Monterey e Santa Bárbara, além da região de Big Sur, e a Costa Sul, em torno das cidades de Los Angeles e San Diego, nas praias de Malibu, Santa Monica e Venice Beach, rolava uma história de pacotes flutuando no mar, e a história começou com surfistas que abriram tais pacotes, e tinha cocaína de alta pureza dentro deles, todos bem embalados.
Depois se descobriu que tais pacotes boiando no mar se tratava de uma descarga de um navio pirata que estava em fuga da Guarda Costeira, esta que tinha detectado o tal navio e houve uma tentativa de cerco que, ao fim, mesmo com aquela infinidade de pacotes de cocaína jogadas no mar, teve a tripulação presa por tráfico internacional de drogas. Logo, o fenômeno dos pacotes de cocaína boiando nos mares das costas central e do sul da Califórnia foi chamado de o “Verão do Pó”.
Em seguida, vários relatos de pessoas que pegaram os tais pacotes e cheiraram ou venderam a droga se espalharam pelos balneários citados, sendo que, em três meses, também rolaram histórias de overdoses, com algumas fatais. Duran Duran fica sabendo da história e manda uma força tarefa da Big Stick para investigar, sondar e comprar todos os pacotes que pudessem.
A tal equipe volta com cinco mil setecentos e treze pacotes de cocaína de alta pureza. Eles revendem os pacotes, sob ordem de Duran Duran, em divisões menores e mais caras, para tirar uma margem de lucro, sendo que duzentos destes pacotes ficaram armazenados na mansão de Duran Duran, e o resultado foi uma festa sem fim, de gente doidona de pó, naquela mansão, por mais de um ano.
Então, com a missão de assassinato de neonazistas da Europa feita pela Azzurra Armada cumprida, agora a missão era empreender uma guerra sem precedentes contra a Laozi. O tal “Verão do Pó” já tinha passado, com uma miríade de festivais e agenda de shows, como sempre acontece na Califórnia, e agora a Bay Area também estava consumindo os tais pacotes, via Big Stick, em dolinhas e pinos menores, com a organização tirando uma margem enorme de lucro, em função da pureza da cocaína, e da quantidade descomunal que estava em cada pacote daquele, encontrado boiando no mar.
Ao passo que a Shaolin e a Louva-a-deus combatiam a Laozi, no Extremo Oriente e na Indochina, conexões orientais da Big Stick se encarregavam de minar o primeiro e o segundo escalões da máfia chinesa, sendo que o grande feito foi a morte do então chefe da Laozi, naquele momento, que era um ex-executivo de tecnologia de Shangai, de nome Yang Chu, e que tinha mandado matar Duran Duran. Em vão, pois os tais androides que ficavam na guarda da mansão, Zootropo e Taumatroscópio, fulminaram os dez encarregados do atentado, que morreram com diversas queimaduras, e parte do couro cabeludo arrancado pelo laser.
Yang Chu é encontrado em sua jacuzzi, com três mulheres de Hong Kong, provavelmente profissionais do sexo, e os oito encarregados da Big Stick matam ele e as duas mulheres, com tiros, e depois os corpos são jogados do alto do rooftop do arranha-céu em que ficava a cobertura do então chefe da Laozi. A outra mulher tenta fugir, mas é pega e jogada viva do alto do rooftop. A força tarefa, então, continua a onda de assassinatos, até deixar a Laozi completamente acéfala. Tal intento se tornou possível, pois o propalado poder bélico da máfia chinesa tinha sofrido sérias baixas com as intervenções da Shaolin e da Louva-a-deus.
O trabalho da Hawk e da Hangar, contra a Big Stick, também continuava, pois as vendas da Baby California não paravam de dar prejuízos à Galactic que, no mercado norte-americano legal, agora também tinha a concorrência da Compton, que tinha comprado a Nvidia, empresa que cresceu e se expandiu, mas que foi superada por outras empresas, na área de inteligência artificial.
A Compton tinha uma gestão binacional, entre Estados Unidos e Holanda, pois em Roterdã havia uma fábrica de componentes que prometia superar a Galactic e o mercado ilegal da Baby California. Enquanto isso, depois de Duran Duran pensar em como combater a Galactic, que já estava se ferrando, e a Compton, que surgia como potencial concorrente dos interesses da Big Stick, ele tem uma ideia, e a repassa para seus técnicos, e que representaria ações de bullying e sabotagem contra a Galactic e a Compton.
O trabalho de desenvolvimento, prototipagem, testes diversos, até chegar à versão sugerida por Duran Duran, foi de um período que durou três anos. Enquanto isso, apareciam campanhas contra o hedonismo, na imprensa e na internet, também com iniciativas do governo da Califórnia e do Estado Norte-Americano.
Finalmente, se faziam medidas drásticas contra o abuso de fármacos cerebrais e da Orgasmatron, e depois de mais um ano, é baixado um decreto que restringe o mercado da Orgasmatron, com a ideia de sua proibição, depois que a epidemia em relação à Orgasmatron e os fármacos cerebrais fosse reduzida. A proibição, por sua vez, teria que passar por votos no Congresso norte-americano e por uma aprovação, em plenário, da Corte Suprema.
Não seria fácil este combate pela proibição, pois o lobby da Galactic, embora em crise, ainda era forte, uma vez que seus diretores tinham tentáculos nos poderes dos Estados Unidos, e era o que tinha salvado a empresa nos últimos tempos, com os golpes desferidos pela Baby California, através do tráfico ilegal da máfia da Big Stick.
A esta altura, as informações que os centurianos infiltrados na Big Stick, e também na Galactic e na Compton, com mais cinco naves que levaram centurianos para investigar o tráfico chinês em Hong Kong e Taiwan, já eram vasta. Todavia, as ações destes alienígenas ainda eram sutis, por exemplo, a campanha massiva contra o hedonismo, que até a discussão chegar ao Congresso norte-americano, tal discussão foi provocada por um grupo de centurianos que estavam trabalhando na imprensa e na publicidade, com documentações falsas, ao passo que as ações hipnóticas também eram uma técnica eficaz de engano e disfarce, e de obter informações importantes, para os fins da missão destes seres inteligentes vindos de Signus.
Barbarella, por sua vez, já exercia liderança e ascendência dentro da Big Stick, e ficava sabendo de quase tudo que acontecia naquela máfia. O conhecimento que ela e alguns outros já tinham de toda a montagem e funcionamento da Baby California, já era suficiente para ir para a etapa B do plano, que era a sabotagem e desmonte da Big Stick, e a morte de Duran Duran. Eles agora só esperavam o sinal do comando, que estava na ionosfera, junto com outras naves que não tinham descido.
Luna, por sua vez, já conseguira que três diretores da Big Stick fornecessem informações sobre o fluxo financeiro da máfia norte-americana e, com isto, saques e desfalques começaram a serem feitos, com envios e malas diretas, operações de VLC-cheque, transações milionárias para paraísos fiscais etc, que foram feitas das contas controladas pela Big Stick, levando Duran Duran a quebrar uma sala inteira do escritório que ficava num arranha-céu de Los Angeles, e mandar matar os tais três diretores, que foram sequestrados e jogados no mar, da porta de um helicóptero.
Esdra, por fim, tinha seduzido uma executiva lésbica da área técnica, e depois de dar ordens hipnóticas, conseguiu as informações que faltavam sobre as operações financeiras, e o planejamento estratégico, que foi acessado pelos sistemas integrados da computação de frames 3 D que funcionava nestes escritórios de Los Angeles ocupados pela Big Stick. Esdra teve acesso a estudos, planilhas, dashboards, assistentes de IA, descrições de códigos-fonte etc.
Por sua vez, começam as ações de bullying e sabotagem, planejadas por Duran Duran, contra a Galactic e a Compton, que eram caralhos voadores que funcionam como drones, e que invadiam as áreas das empresas da Galactic e da Compton, além de perseguirem seus funcionários pelas ruas, soltando uma gosma ácida que queimava e fazia coçar, além de poder lançar produtos químicos nas instalações e armazéns que guardavam as Orgasmatrons dessas empresas, o que estragava todo o estoque dessas empresas.
As ações são escalafobéticas e filmadas para o divertimento de Duran Duran, que ficava com os olhos esbugalhados, e parecia um idiota brincando o tempo todo, só que com a perversidade constante de mandar matar diariamente qualquer pessoa que lhe desafiasse os interesses. Duran Duran, a esta altura, se via também em meio a síndromes paranoides e manias de grandeza produzidas pela cocaína dos tais pacotes do “Verão do Pó”, e chegava a ficar sete noites sem dormir, cada vez mais acelerado e descontrolado.
Barbarella e a força tarefa infiltrada na Big Stick, por fim, já tinham recebido o comando de uma das naves que não tinha pousado, que estava na ionosfera, de que era hora de implementar a etapa B do plano, que era a etapa final. E as ações de sabotagem dentro da Big Stick começaram, e meio que o feitiço virou contra o feiticeiro.
No meio do caos de sua mansão, Duran Duran fica sabendo de sabotagens nos armazéns e depósitos da Big Stick, e manda matar capatazes, vigias e operadores de máquinas. Ele tem um ataque, e quebra tudo o que estava em um escritório em São Francisco, e depois toma litros de uísque, cheira cocaína, e vai para a Baby Califórnia, com cinco desocupadas que acampavam na sua mansão, e lá eles transam e usam a máquina, até caírem dormindo ou desmaiados.
A votação pela proibição da Orgasmatron caminha tanto no Congresso norte-americano, como na Corte Suprema, e a perspectiva era boa, pois o problema era grande, e os prejuízos eram maiores do que o dinheiro gerado por aquele mercado cada vez mais decadente. As ações de sabotagem, dentro da Big Stick, se tornam sistemáticas, e um programador centuriano consegue obter o código-fonte dos tais caralhos voadores.
Estas máquinas de drones personalizadas, a técnica de bullying de Duran Duran, portanto, agora voam para sabotar as dependências da Big Stick, além de seus membros, fazendo a mesma coisa que tinha sido feita na Compton e na Galactic. Duran Duran começa a gritar com funcionários, e ordena que descobrissem quem eram os responsáveis por aquela palhaçada toda. A programação do código-fonte que guiava os tais caralhos voadores tinha sido hackeada e quebrada, sendo manipulada para atacar agora a Big Stick, e Duran Duran estava fora de si, gritando e quebrando coisas.
Até que, depois de duas semanas, e as ações de sabotagem e bullying que não paravam, ele vai para a Orgasmatron, a sua Baby California, que ficava em seu quarto, e, por sugestão hipnótica de Barbarella, os dois transam, e usam a máquina, até que Duran Duran, hipnotizado, cheira uma quantidade industrial de cocaína, aquela que ainda restava dos tais pacotes do “Verão do Pó”, e cai duro no chão, estava morto por overdose.
A ação de desmonte da máfia norte-americana se dá ao mesmo tempo em que a proibição da Orgasmatron é aprovada na Corte Suprema e, um mês depois, no Congresso norte-americano. O projeto de lei é sancionado, promulgado e publicado. As naves centurianas se alinham, e numa noite fria, nos desertos de Arizona, Novo México e Sonora, alçam voo, rompendo a atmosfera, e sumindo no espaço, voltando para Próxima Centauri B, no exoplaneta Signus.
Conto - pronto em 03/05/2025
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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