PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O sopro e o brilho

Eu vejo brilhar na montanha
o sol de um novo dia.
Semearei em meus passos
o amor intercalado
com o profano que seduz
corpos em chamas.

Do diamante transcendental
olharei a paisagem
como um ser lisérgico
de vários céus infinitos.

E a rosa linda como
uma dança de borboletas
acordará um sonho profundo
de asas e redenção.

O ouro que vigora
na poesia será então
feito do pó das estrelas
que caem do paraíso
dos pássaros,
e uma só canção
viverá em meu coração
que cai delirando.

04/02/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

Veracidades

O que sei eu agora de
tudo que resta por viver?
Não tenho que adivinhar
os corações solitários.
Não tenho que vencer
as dores da paixão.
Não tenho nada com isso,
este devoramento febril
que domina a alma
e entorpece o corpo.

Sou mais um exilado
do amor verdadeiro.
Quero sempre ultrapassar
os limites da morte
com um cálice levantado
ao vento eterno
da discórdia.

Eu sou o meu tempo,
eu sou a minha vitória,
e dentro do que venho sendo,
não há espaço para a memória.

Esqueço o plano desfeito,
e o desfecho de um poema
anárquico é o sol mirando
o céu com alegrias
de embriaguez e sonho.

Não tenho que pedir socorro,
o perigo é a minha morada.

04/02/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CÂNTICO DAS NUVENS



Nesta neve bruta é como um sonho navegar pelos mares de sangue, fel e esperança. Tive as minhas dores num caldo emocional, e a embarcação dessas dores são heranças animais de uma vela desgovernada dos meus silêncios mais profundos em que o enigma do universo conspira como se tivesse numa Ísis sem véu.

É como se, num disparate, atendêssemos aos nossos ventres todos os seus desejos, perfídia de praticar ignomínias e desonras e o opróbrio de toda falsa filosofia. Nós adormecemos num cântaro e num incenso de nardo com as vestes e ornamentos de um barroco translúcido num canto luzidio de uma vida folgazã. Costuramos estas vestes com brilhos de ouropéis e escarlate vibrando nas telúricas espiritualidades. Tecemos o inglório de esperar o dia adventício da volta de um mundo benevolente e perfeito, como se os arabescos de uma inútil arte fosse a salvação dos artistas e dos fiéis em fidedignas circunvoluções sob a vigília dos seus atalaias, num claustro de penitência e solidão perpétua.

Prosseguindo com o fio da espada, traspassados todos os altivos, possuiremos a glória de uma vida sem máculas, e transformaremos a nossa vida em cânticos e hinos de salvação e redenção, em fontes inesgotáveis de sonho alto e eterno de dançarinos e vozes maviosas. Toda a congregação dos sonhadores estará reunida para que usemos de nossas delícias nas campinas apenas como o refugo de uma casta superior, de uma horda que possa renovar o mundo da iniquidade e trazer para nós toda a nossa cancioneira poesia.

Então, para os fracos, restará aceitar a morte, e para os fortes, renunciar à perfídia e negar quem se porta como hipócrita, e negaremos toda a melancolia com que se pretende fazer charme de depressivos bucólicos, desejaremos uma nova arte do mistério, e veremos que não haverá mistério quando tivermos o corpo glorioso da vida eterna, depois de toda a guerra e depois de todo o vício, estaremos nas nuvens do dia claro, longe do crepúsculo das almas desvairadas, e perto da magnânima face do Deus Todo Poderoso.

Receberemos o maná e comemoraremos com ofertas de manjares toda a esperança de que a nossa Terra necessita, e nunca mais poderemos dizer que não haverá paz ou ressurreição. Pois estaremos na glória do Senhor com as mãos purificadas em regozijo edênico. Ouça a sabedoria e com ela farás milagres e livramentos, ouça o coração que possuis e tenhas o perdão de teus desvios, ouça, enfim, o que diz o céu para os filhos que sabem louvar o que é retidão e verdadeira sabedoria, e terás em ti a tua fonte de prazer.



01/04/2009 Gustavo Bastos (Pinturas Pagãs)

domingo, 30 de janeiro de 2011

A vida bem sucedida

Quando eu tiver velho o bastante,
quero ser bem sucedido,
planar pelas montanhas e praias
como a gaivota
faz com o mar.

Serei o primeiro de todas as virtudes,
um "gentleman" da lagoa de dinheiro,
na cachoeira em que batizo
meus filhos futuros,
ousado como a faca que mata
a valentia e humilha
o guerreiro sem nome.

Vou ser o astro da poesia
com uma lança enfiada
no coração do editor.

Serei faísca de uma morte
tenebrosa com fundo musical
de horror.

Viverei feliz pelos países
com um avião fugaz
para as fronteiras
da lua,
vou me deliciar no céu
e refestelar-me
numa nuvem
de ouropéis
e badulaques.

30/01/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)