PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 10 de março de 2012

ESTÓRIA ANÔNIMA

Jerônimo, como lidar
com os antônimos,
senão com os sinônimos
de Antônio?

Suas paralaxes, suas
metástases.
Jerônimo, verso canônico,
de seu viço
não há vício.
De seu parônimo
não há
um verso
anônimo.

Sua mulher, Verônica,
não gosta de seus
versos anacrônicos.
Verônica, também antônima,
tem um amante
chamado Antônio.

Jerônimo ama Verônica.
Verônica não ama
seu senso irônico.

Ironia do destino,
Jerônimo matou
Antônio e Verônica
e ficou com seus
sinônimos.

10/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

VIAJANTE DO MUNDO INTEIRO

Polissêmica viaja atômica
a bomba escrita.
Da arte se faz verso torto
do mar morto.
Verdadejante verdade
pluritonal.
Do azul límpido, o que se vê?

Viajante do mundo inteiro,
seus lugares sem paradeiro,
um poeta e um romanceiro.

De versos em versos
procura.
Na chuva e no sol
se cura.
Não há vida mais
besta.

A busca do seu lampejo
dardeja na pupila.
E uma retina feroz
enxerga
o que ninguém
vê.

Viajante do mundo inteiro,
passos alquebrados
com os bolsos leves
e sem dinheiro.

Ele vai pelo mundo inteiro.
Vai sem sentimento,
sem guardar o momento,
sem ficar a esmo
delirando por um
marasmo,
vai ao alto,
sem pecado.

Das dores, quanta vã filosofia!
O mundo não se compõe
no verso inteiro.
O mundo inteiro viaja
sem o poeta.
O verso inteiro
não refaz
os caminhos
da viagem.
O mundo inteiro
não alivia
sua miragem.

Viajante do mundo,
seu verso inteiro
não cabe
no mundo inteiro.

10/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)


O FIM DO DIA

Flébeis paixões, nas tuas montanhas,
nas tuas entranhas,
exangue.

Flechas e canhões, nas minhas estâncias,
nas minhas lembranças,
tocante.

Vinhos e canções, nas tuas ânsias,
nas minhas esperanças,
enervante.

Tempos e visões, nas minhas andanças,
nas tuas reentrâncias,
avante.

Desditas e maldições,
minhas e tuas,
estradas nuas,
cheias de razões,
cálidas luas,
sem sóis e verões,
apenas ruas,
minha retina
no fim do dia.

09/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

terça-feira, 6 de março de 2012

DOSES SORTIDAS

O claro nu da paisagem
é a minha metamorfose.
Eu vi crianças no pátio
com as janelas do salão,
vi cidades desconhecidas
no meu plano concreto
de arquiteturas,
sonhei uma arte barroca
revestida do neon
da pós-modernidade.

A voz rouca depois
de uma bebedeira,
um choro desesperado
de saudade,
um grito incontido
no escuro,
eram os meus poemas
naquela noite
da cidade alta,
era a noite
da minha alvorada.

Cobri o espaço determinado
pelos meus poemas
com neve,
resisti ao sol inconteste
de um verso
pedindo socorro,
resolvi amar
sem saber de nada,
amei os porcos, os assassinos
e os poetas,
amei a porta de saída
e a claustrofobia,
amei os rios e os mares,
amei a loucura e o álcool.

Nas trevas de um sonho malsão,
o vinho pagão
era de boa safra,
a comida era quente
e alimentava
mais a minha verdade.

Num dia completamente
absurdo,
andei pelas ruas ocas
depauperado,
sujo,
com andrajos
de uma derrota
severa,
com o pouco de esperança
que ali agonizava
num canto escuro
de uma câmara.

Andei por todos os lados
até encontrar o meu corpo
no silêncio,
e vi a chuva torrencial
apagar os meus olhos.

06/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

segunda-feira, 5 de março de 2012

ESTAÇÕES DA ALMA

Eu sei de mil mortes
e mil vidas
que descansavam
no sol.

A desdita sinuosa
era a pedra sem pensamento
que nutria a montanha,
seus pássaros imaginários
dançavam no céu,
a cabeça do poeta
era como um poente
do crepúsculo das eras,
seu idílio e sua paixão
eram o vinho tortuoso
de uma alma inquieta.

Os versos são verões da alma,
os versos são outonos
da carne, os versos são
os invernos do coração
e a primavera de fato!

04/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

A PRAIA DO PRAZER

Quantas praias em meu sonho!
Desejei todas as paisagens,
poetizei a lua cheia,
as naves interestelares,
o caos dionisíaco!

Fiz das peripécias de uma
possível tragédia
uma comédia romântica
de palhaços desafortunados.

Quantas miragens em meu delírio!
De um lado ao outro
das falésias
um carcará
sonha a sua presa.
Meu alvo é a sua
fotografia.

Das plêiades sonhadas
em versos e estrofes,
quantas músicas caíam
como feitiçaria
em minha pena!

Eu ri do tombo da inveja
no seu afã de me matar,
sua ambição escura
de fera de esgoto
morreu naufragada
como um rato no inferno.

Desmorri de minha tragédia.
Angústias intermináveis
e torturas da alma
tomaram o lugar
do sofrimento da paixão,
eu havia visto esta paixão
como um fogo ardente
que me consumia.

Mas nas praias desertas
eu poderia ver a minha alma
enfim pacífica,
apaziguada das dores
da juventude,
renascida no instante
de uma eternidade.

04/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

domingo, 4 de março de 2012

DEFINIÇÃO DA POESIA

A poesia pode ser uma canção,
pode ser um lamento,
uma tristeza, uma queixa,
uma alegria, uma revolta,
pode falar ao coração
tudo o que ele sente.

A poesia é uma dança
em que o poeta
é o dançarino.
A poesia é a inquietação
da alma.
A poesia é a tempestade
dos sentimentos,
o conflito da razão
e a anarquia
dos significados.

Tudo se compreende
no verso
como um grito
apaixonado,
verso escrito
ou declamado,
a poesia é a expressão
da delícia e do espanto
de ser poeta.

03/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)