PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 7 de abril de 2021

LORDS OF CHAOS – A SANGRENTA HISTÓRIA DO METAL SATÂNICO UNDERGROUND – PARTE VI

“Você não ouviria nada tão extremo quanto o Mayhem naquela época”

No final dos anos 1980, no cenário de rock, temos a ascensão do thrash metal, em que figuravam bandas como Metallica e Anthrax, estas dos Estados Unidos, e temos na Europa bandas como Sodom e Kreator, bandas alemãs, e uma banda suíça de nome Celtic Frost, que começara seu som com o nome de Hellhammer.

Tivemos a investida das gravadoras sobre o cenário thrash metal, e o mainstream tornou este som mais autoindulgente e uma exibição de habilidades técnicas esvaziadas, ao passo que temos o surgimento, em paralelo, das bandas de death metal, que tem como um dos possíveis marcos iniciais do gênero o álbum “Seven Churches” da banda Possessed, este que foi lançado em 1985.

O death metal inovava num cenário em que dominava os vocais agudos e os falsetes do metal mainstream da época, com vocais guturais e guitarras em afinações graves, o death metal rompia isto, e vinha com temáticas de letras gore e slasher (gênero de filmes sangrentos dos anos 1970 e 1980), que resultaram em canções de assassinatos, desmembramentos, estupros e torturas.

Temos como um gênero vizinho do death metal, por sua vez, o grindcore, este, segundo o livro Lords Of Chaos : “descendente mais direto da política dos pioneiros do anarquismo inglês e do “peace punk” como Crass e Rudimentary Peni, produziu seus próprios grupos extremamente populares, como Extreme Noise Terror, Napalm Death e Carcass.”

E segue o relato do livro Lords Of Chaos : “As duas inesperadas capitais mundiais do death metal foram a cidade de Tampa, na Flórida, e Estocolmo, na Suécia. Desses extremos de fogo e gelo, o gênero produziu seus artistas mais influentes : Entombed, Hypocrisy, Dismember e Unleashed, da Suécia; Morbid Angel, Death, Obituary e Deicide, do submundo pantanoso da Flórida.

Outras áreas dos EUA também produziram bandas notórias – os misóginos fãs de gore do Cannibal Corpse do norte do estado de Nova Iorque, o igualmente rude e hostil Autopsy da Califórnia.”

No cenário thrash metal, por sua vez, uma banda que ainda impunha respeito era o Slayer, que ainda tinha uma massa sônica insubmissa, antes de seu flerte com o metal mais moderno a partir de meados dos anos 1990.

O death metal, por sua vez, ganhou o mainstream entre 1989 e 1993, o que se subentende é que, neste bojo, surgiram bandas ruins, aproveitando o influxo das bandas pioneiras. Aqui temos o fenômeno clássico do underground sendo subsumido pelo mainstream para fins comerciais.

Na Noruega, que seria o centro da segunda e mais importante geração do black metal, ainda tínhamos, inicialmente, o som death metal sendo praticado por bandas como Mayhem, Old Funeral e Darkthrone. Logo estas bandas iriam um passo além, recebendo inspiração do Venom e do Bathory, criando um cenário de extremismos sem precedentes na música e no noticiário, seria algo impiedoso e inaudito.

O black metal norueguês envolve, além da sonoridade, a questão da crença e do visual dos músicos. Por sua vez, o papel que teve o Venom como banda fundadora do black metal mundial, temos o Mayhem com este papel pioneiro dentro da Noruega.

Álbuns que escuto desde adolescente, como Deathcrush, para mim, ainda é um som de splatter, com temas gore, evoluindo para o black metal, por fim, no álbum De Mysteriis Dom Sathanas, este de 1994.

No relato de Lords Of Chaos, temos : “Embora o Venom tivesse seguidores fiéis na Europa, o black metal ainda estava para desenvolver seu próprio estilo. Nesse período, Metalion (crítico musical, grifo meu) descobriu a existência do Mayhem, na época uma banda extremamente crua e primitiva de death metal, quando ele os conheceu do lado de fora de um show do Motörhead.”

Metalion, por sua vez, descreve o fato : “Eu conheci eles no show e eles me contaram tudo sobre a banda. Eu estava vendendo minha revista, então eu pude conhecer eles. Depois de alguns meses a gente teve um contato mais próximo.

Na época eles não tinham nem fita demo. Eles gravaram a primeira no verão de 86 – a demo Pure Fucking Armageddon. Era muito mais extremo que todo o resto; o som era muito, muito primitivo e muito mais brutal. Você não ouviria nada tão extremo quanto o Mayhem naquela época.”

O Mayhem lançou uma segunda demo e depois um miniálbum Deathcrush de 1987, a banda fez poucos shows neste período, mas foram shows antológicos, e a lentidão de Aarseth (Euronymous) em lançar material novo vinha de seu controle extremo sobre a banda e por problemas financeiros. Em seguida Aarseth adotou para  o Mayhem o visual que marcaria as bandas de black metal daquela geração noventista, o “corpse paint”.

O corpse paint tem origens difusas, não propriamente um marco inicial, mas pinturas faciais estilizadas já vinham de bandas como Kiss, King Diamond, Alice Cooper, Glen Danzig nos Misfits e a banda Celtic Frost. E Metalion, o crítico musical, coloca a origem na banda brasileira Sarcófago. Uma banda que veio ao conhecimento de Aarseth, que adorou o som e o visual da banda.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cultura/a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-vi 

 

 

 

O SOLID DE TIM BERNERS-LEE

“a plataforma visa se tornar um projeto de código aberto com amplitude mundial”

Tim Berners-Lee, o pioneiro criador do protocolo http e, em resumo, da internet, luta agora, através do projeto Solid (Social Linked Data), para recuperar a liberdade que houve um dia na internet, antes do domínio massivo das big techs, com uso indiscriminado de dados pessoais dos seus usuários, indo de encontro a este abuso, com o Solid, que consiste em criar uma web descentralizada, na qual os usuários terão, novamente, o controle sobre os próprios dados.

Tim Berners-Lee havia entrado em conflito com a sua criação, pois quando viabilizou a internet, em 1989, imaginou um ambiente livre e acessível para todos os seus usuários,  ele lança o Solid, então, que ainda é algo incipiente, e a apresentação oficial desta sua plataforma, veio acompanhada de sua empresa Inrupt Inc., esta ficando encarregada de cuidar da Solid.

A insatisfação de Berners-Lee com o que a sua criação, a World Wide Web, se havia tornado, levou ele a tentar retomar protagonismo nos rumos futuros deste mundo virtual, pois este domínio das big techs incomoda tanto os pioneiros da liberdade na internet, como governos e demais instituições, que já reagem fortemente com medidas anti-truste.

Seu trabalho conjunto com pessoas do MIT e de outros lugares o ajudou a desenvolver o Solid, que consiste num projeto open-source que visa restaurar a autonomia e posse de dados pessoais dos usuários da web. O projeto já tem alguns anos, veio de um paper publicado em abril de 2016, quando a plataforma foi apresentada pela primeira vez.

Berners-Lee explica : “O Solid é como vamos evoluir a web para poder restaurar o equilíbrio ao dar para cada um de nós um controle total sobre dados, pessoais ou não, de forma revolucionária. O Solid é uma plataforma, criada usando a web atual. Ela dá a cada usuário uma escolha sobre onde seus dados estão armazenados, que pessoas e grupos específicos podem acessar certos elementos, e que aplicativos você usa.”

Os objetivos da Solid são ambiciosos, pois a plataforma visa se tornar um projeto de código aberto com amplitude mundial, e o concurso da empresa Inrupt Inc. para viabilizar o alcance da plataforma é fundamental, uma empresa fundada por Berners-Lee em sociedade com John Bruce, e aqui se vê o trabalho de transformar a Solid em algo comercial, e a empresa ainda é responsável por manter a Solid no ar, como uma plataforma independente.

A Inrupt Inc., mesmo diante de não atingir a meta de criar um ecossistema que dê lucro com a comercialização de aplicativos certificados e que tenham hospedagem pelo Solid, a empresa já tem financiadores, tal como a Glasswing Ventures, que é uma empresa que aposta em tecnologias que visam desenvolver a IA (Inteligência Artificial).

Para além da ideia base do projeto, a privacidade e posse de dados pessoais pelos usuários da web, Berners-Lee acredita na Solid como um passo além na evolução da própria web, com uma internet realmente democrática e acessível para seus usuários.

E esta evolução da web será marcada por esta passar de simples biblioteca para consulta de documentos, indo para um ambiente participativo, em que os usuários poderão dar as suas próprias contribuições, para além da atual postagem ou comentários em redes sociais ou sites.

Esta ideia avançada de evolução da web antevê esta como um grande computador universal, com dados disponíveis para serem explorados globalmente, pois, segundo Berners-Lee, com a Solid, os usuários poderão “interagir e inovar, colaborar e compartilhar”.

Esta será a transição entre uma web de documentos, onde simplesmente se consulta conteúdos, para uma web de dados, onde existe uma participação ativa de seus usuários.

Berners-Lee ainda acredita na viabilidade comercial da Solid, pois a demanda para serviços confiáveis pode ser vista na experiência bem-sucedida do Dropbox, nuvem que muitos usuários pagam para acessar, pois não há controle de informações pessoais como no Google Drive. A qualidade e a segurança do Dropbox são características que a Solid deve ter, mas com ambições evolutivas para a web, como dito.

Uma crítica pode ser que algo descentralizado, como é a ideia para o Solid, implique em lentidão de processamento, pois um modelo P2P ou misto, envolvendo servidores Solid, poderia envidar um esforço de energia enorme, e tem ainda a dúvida se haverá uma massa de computadores ligados 24/7 (24 horas nos sete dias da semana) para sustentar a rede Solid.

Por sua vez, tendo, então, uma solução com servidores dedicados, haveria uma implicação das grandes corporações novamente, podendo inviabilizar o Solid. Talvez este alto consumo e o problema de processamento possam ser resolvidos por novas fontes de energia renováveis como a eólica e a solar, e ainda pelo próprio avanço tecnológico imponderável.

A ideia de um arquivo DATA que é protegido por uma chave privada, com esta gerando uma chave pública, que a conecta a um banco de dados específico, implica em que as ações do usuário ainda serão detectadas, só sendo preservados seus dados pessoais, a Solid, então, funcionará como um servidor proxy.

E esta ideia de ser uma plataforma disruptiva, pode ser questionada pelo fato da Solid ainda ter um sistema que depende de uma infraestrutura preexistente, é hospedado na AWS. O visual da plataforma ainda é incipiente, baseado em padrão bootstrap, e nem o código publicado no github parece ainda bem resolvido ou estruturado, ainda há um caminho longo.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-solid-de-tim-berners-lee