PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SEQUIOSO ESPANTO

O teu pomar me encanta os nervos,
flor e flora e fauna no ritmo intenso.
Nas ilhargas em que dormes,
canta o espanto e ferve a faca.

Mais que tudo a dor rememora.
Das densas carnes ao mar vigora.

Vento, das asas o azul profundo,
cais de tempo e círculo de giz.
Flor motriz, do teatro o semblante
sob o sol de um deus ex machina.

Flerta com o sol, adorando a lua.

Mas, do tempo o hausto do corpo,
de sal tens a nuvem sob o dorso sonhado.
As águas findas, caem gotículas,
ventre solar das moreias e das anêmonas,
veneno inerte sob o caudal das ondas.

Leve o tempero na onda silente,
quais antros conspurcam tua alma?
Flecha do coração degenerado,
ressumbra pó e vento na dor a contento.
Mais que o cheiro das ventas em mar,
o livro ferido no dorso do mar.

Gerando a astúcia na capa vermelha.
Vermífugo de rosa branda,
calor que o tempo espanta.

Vai a rosa, das asas curvas,
e o riso locupletar a comédia,
e o pranto se esfacelar de tragédia.

O porto do remanso dormita na paz do sepulcro.
Ventila o lírio sob a aguda vinha.
Terror e mistério no umbral da vida.

Os poemas cantam:
Oh tempo de nós dois,
com os ares soberbos
e a espada empenhada!
Oh tempo ingrato,
no sal os corpos gemem,
e se beijam no mar!

A carga da pena é o poema bruto,
duro o cerne da ametista,
vívido a quentura do diamante.

A liberdade da pena é misteriosa,
faz do mar o oceano
e da terra o pensamento,
faz do sol a emoção
e da lua o sentimento.

25/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)  

FERA POESIA

A chuva, como o desvão de um sonho,
qual calma nuvem soçobra no solo.
Vai de poema o corpo de bronze,
nas águas espantadas do mar.

Veloz como a fúria, deste mar terror
se anuncia. Da flâmula o ataque
da guerra nuclear,
e o sonho empapado em sangue
na horda virulenta dos vivos
que cantam ao tempo hirto da chuva.

Ventre movediço na campanha,
sete sóis amarelos
e sete rosas vermelhas.
Corpos de nuvem na alga da esfera,
cantam os convivas na flor de alma
que se espanta de vinho e fulgor.

Gerada a nuvem sob a tempestade.
Na honra do mar dorme mistério
das lutas com os corpos sonhados.

Fere os sonhos qual o sal nos olhos.
Mordem a carne os poemas
de vícios aos fundos dramas
da praia sem sol.

Nos loteamentos da vila abandonada,
caem os lírios sob o tempo febril.
No ar mortiço caem os poetas
de sangue que ferve de lembranças.

Nos diademas, defronte à rocha negra,
o poema verte terror sobre
os sonhadores do vitral.

O mar se esbalda de ondas,
e o poeta ressurge qual fera.

25/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos) 

VIVENDO NO SOL

[soneto decassílabo heroico]

No solo da cantata fervor volve
eu vou de corpo frio com o meu tema
fazer poema qual nau de veloz corte
e dizer no dia calmo que atormenta

Teu leve canto que me leva além
o teu corpo vivente que me esquenta
e vou tão sério na dor tão sedenta
mostrar ao frio meu régio sol que vem

Das almas a matéria se faz lenta
e os calores que riem são a minha prenda
que no canto mavioso ganha força

Não tem na praia meu sol que tanto busco
e não tem lua que de noite nos ouça
pois certo da verdade não há susto

25/09/2013 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

MAGIA DE FADA

[soneto decassílabo sáfico]

Gélido o tempo vai na alta via solar
eu vejo o mar na minha mão refeita
e na ferida mais feroz vou voar
como cura de quem quer colheita

Tórrido mais que todo sol vou amar
nas vindas fundas do risonho campo
que vejo com o brio da dor do tear
e tenho certo no ar do dia que canto

Espanto teu drama na paz gerada
qual vício e ferro que cortou na pele
as dores fracas nas magias da fada

E ferir riso e choro traz verdade
e a flor regida no delírio ferve
de sonho tão sóbrio que finda e arde

25/09/2013 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

NÓDOA INDOLOR

[soneto decassílabo heroico]

A vida teme o caos da dor que grita
e toda luta morre no verdor
do campo que faz sol na rua indolor
tal é poesia e terror na glosa fria

Eu que não tenho mar em flor suicida
quero o tempo solar de alma que for
como poeta que sou no ar do meu amor
tal flor de cor na vinha silencia

O mar do amor que vai tão perto em dia
não quer temor ou vício que sofria
mas sim o lar senhor do poema em cais

Quer o mar morrer são na dor da chuva
qual queda de chorar na mão que faz
o tempo ferir nódoa em flor tão dura

25/09/2013 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

FORTE MAR

[soneto alexandrino]

Vem dos pendores mais sérios o tédio em dor
que no dia tão veloz vai matar tudo ao mar
e na luta mais forte está meu olhar tutor
como em minh`alma foi morta a luz de sonhar

Da dor o tempo grita ao sol poesia em sabor
qual sal no mar do espanto em vida que quer ar
remando na liberta onda do vil verdor
que na mata correu das feras de meu voar

As velhas horas tão vivas são poemas vãos
da vilania sedenta ao fundo esgar febril
limpo tempo do sol na carne dura em chãos

Do solo cai a torrente em drama e vil potência
leve morte tão viva ao sal da terra ao brio
que denodo ferveu na mão da lua violenta

25/09/2013 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

HORIZONTE CLARO

[soneto decassílabo sáfico]

Para o silêncio que matou meu cais
devo dizer que a luta morre fria
como nos dias mais sujos da mestria
que corrói meu vício de flor lilás

Eu vivo bem na cor do lírio em paz
e mordaz sonho tal mentira esguia
que no olor fundo da alma quer a vida
e não vicia meu tempo vil que jaz

Lembro o temido drama à flor profunda
e os lírios que são pele e cor que uiva
na escura noite da poesia que dorme

E no dia calmo da mulher que voa
tem no seu seio toda dor morta e forte
que nem no vão do tempo denso em loa

25/09/2013 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

TEOREMA DA LUZ

A luz, verbo da ótica,
traz do ser, mistério da onda.
Contorce o vão, forma a imagem.

A luz tem em si todos os vivos,
na onda do mundo os corpos se vêem.
Os olhos, secos ou marejados,
de luz sempre se moldam.

Com as carnes ao luzidio frio,
o silêncio nos concentra
em todo vulto profundo,
a sombra e a penumbra
ficam ao lado,
quais sentinelas do pecado,
cercando a luz eterna,
que, como clarão,
poema absoluto,
ilumina
a estrada
infinda.

25/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

PENUMBRA DO VINHATEIRO

Ilhas são os seres, da noite azul
a queda em si, o homem se vê,
e o cáustico sonho se torna penumbra.

Seres de sonhos quais fomes,
do poema famélico
a dor profunda,
nas águas do rio a velha canção
seca que nunca foi drama.

Perto do coração rijo,
a efeméride conspurca o navegante.
Longe do mistério,
vai a dor ambulante.

Corta-se a asa, o corpo inerme.
Das vetustas ondas
o caldo se modifica,
a terra dá o sentido
do poema bem cortado.

Quais sonhos ainda sonham na queda?
Vai-te à dor profunda,
furibundo poeta!
Que das horas mais passadas,
fez-te poema em cada sol,
e de seus delírios de lua
ficou o uivo como tempo perdido,
e nas uvas o vinhateiro secou.

25/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

terça-feira, 24 de setembro de 2013

POEMA CALMO

Formas corroem o tempo
como o tempo corrói a cor.
As desditas que o ócio produz,
do vão fazer da aquarela,
é o susto da dor com os ares finos
que se chocam no olhar.

Tal qual a fera, meu poema é saudável.
E assim como a queda, também é miserável.

No canto dos estertores, a máquina está nua.
Tal qual o corpo, meu poema geme.
E assim como o fogo, ele queima.

Formas dão ao tempo a falsificação
de seu vazio absoluto,
o Tártaro ruge na horda de Titãs,
Cérbero contra-ataca,
Caronte nos recebe,
a barca ruma ao ventre
da eternidade.

Tal qual o poema,
a flor compõe o tema.
E assim como o frio,
a flor dá um poema.

24/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

NOITE DA SACADA

A cura, majestosa hora,
do cume silencia o karma,
eis o olho e a vista, calmos,
na ondulante sedução do espaço.

Funda tempestade, conclama os ares,
mede a ametista por fora do topázio,
o crente astuto tem seu binóculo,
o olho veste o espírito,
a carne come a vista.

Na fera que dormita entre os arbustos,
mora a falange, a horda.
Quem se diz à parte do esquecimento,
dá-se ao universo como lembrança.

A cura, depois da febre do ópio,
vai condoer em liberdade absurda,
e a verdade absoluta de seu cânon,
flor esmerada do véu impreciso,
contorce e foge à filosofia conspurcada.
Da vida, o instante único,
morre céu e terra ao fogo sem cor.

Mais fundo que o horror,
Nosferatu zomba das estultícias
que o poeta criou,
teu belo e negro vento
atordoa a poesia.

24/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

MÍSTICA DA FLOR

Colheita do tempo se esparge no sol.
O tempo de fuligem que emana
do odor dos instantes,
o tempo do relógio
e o tempo de kairós.

As verdades salgadas do mar sem fim.
As verdades sufocadas em dor carmim.

Flecha no olho da águia.
Dia dos índios em volta
com pinturas de nômades.

Colheita da esfera em suor e febre.
Com dias vividos ao sol de horror
que na carne grita ao tempo
o que colhe da planta viva.

Tempo esquecido, que as horas fogem,
fogem os dias, exalta-se a noite.
Tempo senhor dos guias espirituais,
tempo senhor da sabedoria.
As almas em corpos fervem
neste mundo de tempo e abismo.

Colhe o sal do paraíso
o teu olho vivo
na mística da flor.

17/09/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)