PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 7 de agosto de 2010

Sobre o tempo e a produção literária no contexto contemporâneo

O dia claro em que você escreve sem cessar é raro. Devemos trabalhar para viver e isso não sei se é a vida verdadeira, todos os outros projetos ficam em segundo plano.

e temos de vender o nosso tempo a preço de banana.

Essa é a grande questão de escritores e artistas, principalmente os iniciantes ou marginalizados, teremos de ser como os malditos do século XIX? Teremos que viver em manicômios e entre várias injustiças, indiferenças e pragmatismos sem objetivos maiores além de sermos "operários dóceis" foucaltianos? A vida só é plena e reconhecida para o seleto grupo dos "consagrados", geralmente isso ocorre para o artista ou escritor depois de muita labuta e "nãos", são poucos que conseguem o sucesso e a fama ainda jovens, a maioria morre e depois é cultuada tipo a Cora Coralina e gênios-loucos como Van Gogh e Franz Kafka, outros rejeitam a própria obra e depois são objeto de uma mística terrível como Rimbaud.

O que acontece é que o mundo contemporâneo, não muito diferente de todas as outras épocas escolhem o tempo produtivo contra o tempo criativo, talvez tivemos o tempo livre para criar na Grécia clássica, depois e principalmente agora o tempo se vende ao trabalho, o tempo, nosso bem mais precioso, é tomado de assalto pela obrigações morais e sociais, não escrevemos romances grandes nem poemas épicos porque temos que ser "produtivos", mas a quem serve esse sacrifício? Ao sistema capitalista? Não sei, no socialismo não era muito diferente, e ainda não tínhamos liberdade de expressão tendo que ser "operários dóceis" foucaltianos para o Partido Comunista, eis que nada é diferenta quando a filosofia reinante favorece apenas os objetivos econômicos-pragmáticos, e a literatura só é vivida nos tempos vagos, o que é um bem escasso em tempos de correria desenfreda para um dinheiro também escasso.

Enfim, para os artistas ou escritores ainda não consagrados ou medíocres fica uma pequena esperança logo deglutida pela falta de tempo e de dinheiro, canibalizamos o nosso tempo a favor de um trabalho sem objetivos maiores além de sermos úteis para a sociedade, e a arte que se dane, isso é coisa de burguês.

Não sei ao certo, mas pressinto que essa situação pode ainda mudar com políticas de bolsas literárias ou de uma reegenharia do tempo profunda que poderia mudar filosoficamente os rumos da produção capitalista numa sociedade renovada amante da arte e menos pragmática ou imediatista, a esperança é a última que morre, amém!