PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Mensagem de Ano Novo

   Já vai acabando mais um ano, e logo vêm um mundo de projetos para o ano que está vindo. Parece um lugar comum aqueles desejos de paz e felicidade que se repetem toda vez que estamos às vésperas do réveillon, mas não há nada mais humano do que tais mensagens de esperança e amor. Todos nós, pessoas de bem, e , no fundo, também os que pecam na maldade, queremos o melhor. O que diferencia o bem do egoísmo, na verdade, é isto, querer o bem do outro como se quer o bem a si mesmo, não é uma virtude, é um dever, seja você cristão, budista, ateu etc.
   Digo que o preceito de Cristo do "amai-vos uns aos outros" é uma lei de sobrevivência da sociedade, não se faz o mundo colecionando inimigos, esses acabam solitários e rancorosos, portanto, é tempo de semear o bem no meio de muitas incoerências presentes nesse nosso mundo tão maravilhoso e confuso ao mesmo tempo, é tempo de mente aberta para a prática da bondade.
   Amar o próximo então é, antes de ser uma virtude desejável, uma condição de humanidade para o porvir, senão seríamos seres de natureza hobbesiana, assassinos em série, egoístas narcisistas, e não homens e mulheres. O que nos cabe é cumprir este dever de humanidade, que não é cristão ou budista, não foi criado por Cristo, mas é uma necessidade imposta pela natureza humana, devemos partilhar nossas experiências, nossas esperanças, nossos sonhos, evitar o isolamento, não querer do outro o que ele não pode te dar, mas dar ao outro o que você tem de melhor, compartilhar é o sentido da vida de fraternidade, a grande utopía do Bem, a salvação da humanidade, é o que o futuro humano quer que se torne presente, nós que somos herdeiros de uma História sangrenta feita de guerras e que, mesmo assim, foi capaz de produzir conhecimento e sabedoria. Então, vamos fazer uso desse conhecimento e sabedoria para fazer um mundo melhor, para mudar o mundo, para que todos vivam em harmonia com a eterna bondade e o profundo amor do universo.
   Crendo em Deus ou não, a virtude do bem é um dom gratuito do universo para nós seres humanos, então é momento de mudar, de fazer a diferença no mundo, de compreender que a crueldade e a ganância são um suicídio lento da sociedade, vamos ser justos e lembrar de que a vida aqui neste nosso planeta é efêmera, portanto, amar é uma urgência para vencer a morte e deixar no mundo uma semeadura virtuosa que fará de nós, mortais, seres eternos no coração do mundo, de um mundo justo de paz.
   A utopia do Bem não é um devaneio, é uma questão de sobrevivência social, senão é a barbárie, senão é o fim, porque nós é que somos os autores individuais do destino coletivo, então é hora, amigos!

Gustavo Bastos, filósofo e escritor, 31 de Dezembro de 2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PERSPECTIVAS PARA O BRASIL E O FIM DO GOVERNO LULA

   Estamos vivendo um momento de transição presidencial, mesmo que seja o mesmo partido que permanecerá no poder, oito anos de governo Lula dará lugar a pelo menos mais quatro anos de governo para o PT com Dilma Rousseff.
   Lula acaba de declarar que Dilma será a candidata do PT em 2014, acho que é justo e sensato, ainda mais se Dilma tiver a mesma sorte que Lula de pegar uma economia  crescente, à exceção da crise mundial de 2008, que resultou numa grande recessão nos EUA e na chamada “marolinha” em 2009 aqui no Brasil, vaticinada por Lula na sua usual atitude de fanfarrão do poder, o que ficou claro com seu jeito despachado e subversor de linguagem numa postura um pouco inadequada para o cargo que ocupa. Mas, acho que agora Lula está sendo correto em deixar claro, se é que diz a verdade, de que não voltará em 2014. Sim, se Dilma se sair bem na empreitada desses próximos quatro anos do seu mandato, nada mais justo que seja ela a candidata do PT à reeleição em 2014.
   Mas, voltando-nos ao legado de Lula no poder, nunca na História desse país um homem se sentiu tão à vontade na ribalta do poder, isso foi uma grande vitrine para o ego avantajado de Lula, nada contra isso, todos nós temos algo de vaidade, mas para Lula foi um show e então ele tem agora o seu lugar na História, o primeiro operário a virar presidente, um “self-made man” no sentido político da expressão. Lula se fez na política como um líder sindical bolchevique que, depois de três reveses, finalmente ocupou seu lugar de destaque máximo no cenário político brasileiro e um tanto no mundial por oito anos e dois mandatos.
   O nosso presidente vive agora a melancolia de ter que deixar a ribalta da presidência da República, mas o seu sucesso está garantido, nada o atingiu nesses oito anos de vários acontecimentos bons e ruins, para ele e o Brasil. O mensalão, por exemplo, pegou grandes medalhões do governo Lula, mas o presidente saiu incólume, sua blindagem política foi muito bem orquestrada, José Dirceu e Antônio Palocci saíram queimados, e Lula sai do poder agora triunfante com mais de 80% de aprovação popular e com a sua nova invenção política chamada Dilma Rousseff eleita como a sua sucessora no governo petista.
   O que acontece agora é que Lula, um retórico carismático, dará lugar a Dilma, que não tem muito traquejo ao se comunicar, mas que, por outro lado, tem competência técnica para tocar o barco. Lula já cumpriu o seu papel, talvez por isso ele já esteja dizendo que em 2014 não voltará. E Dilma, por sua vez, vai ter o desafio de cumprir obrigações tais como o investimento em infraestrutura, já que com crescimento do PIB anual na média de 4 a 5 %, teremos de eliminar os gargalos que isso acarreta, tais como no transporte rodoviário e ferroviário para baratear as exportações brasileiras, além de abrir o capital da Infraero para resolver o problema aeroviário.
   Por fim, Dilma terá de impulsionar e viabilizar as reformas política, tributária e trabalhista, e Dilma terá para isso uma base aliada no legislativo maior do que Lula jamais teve, sem falar numa oposição enfraquecida, haja visto as crises no DEM e no PSDB. Portanto, vamos torcer para que Dilma seja mais que Lula e não a sua sombra apenas, é o que veremos.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor, 28 de Dezembro de 2010.
                                                     

domingo, 19 de dezembro de 2010

A CURA


Jovens não deveriam adoecer,
jovens deveriam ser imortais.
O tempo tem toda a razão,
cruel é saber que morreremos,
mas que não seja logo,
que a vida dure e perdure,
que a vida seja longa
quão breve parecer,
não deixaremos de sonhar,
não vamos perder o sorriso
e nem a razão.

Se existe céu e eternidade,
que eles nos deem saúde
para enfrentar a batalha
da vida nesta terra bendita,
e que tudo não seja
acaso ou ilusão,
mas uma doce canção.

19/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

Para Beatriz Piffer.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O DIA EM QUE MORREREI



Nunca saberei de que maneira morrerei

se vou deixar os meus iguais tristes

nunca sentirei a pálida sensação dos que enterrei

onde posso sentar-me em nuvens agrestes



Nunca morrerei sabendo se vou pairar

no alto da madrugada com o sabor da terra na boca

ou se encontrarei o símbolo da vida no mar

e se terei tempo para a minha noite louca



Nunca ouvirei os pássaros após este fato

vou me embora sem tempo de acumular os dividendos

vou sair por aí numa nuvem preta como um rato

acabar com os meus poemas apenas como elementos



Nunca arrumarei os livros que posso ler

numa ordem lógica dos rumores que eles guardam

e apenas morrerei sem saber se posso ainda ver

os olhos de minha amada que na noite se fecharam



Nunca levarei em mim o amor pétreo

de uma redoma chamada mistério



Nunca saberei de que maneira morrerei

qual o dia e em que espírito estarei

nunca vou mudar até este dia

onde a guerra fará sua armadilha



28/02/2009 Gustavo Bastos

SENTIMENTOS INÚTEIS


Nesta paixão que me devora

vou seguindo o idílio e esperança

de um dia te ter nos raios da bonança

numa paz que já em mim é a tua memória



Paixão da vida devorada em sândalos

primeira fêmea despida nos ardores

em que canto a liberdade em clamores

nos meus amores que foram escândalos



Nasci de um parto partido de luta insana

fui o meio do caminho em uma dor profana



Mel da flor sou o teu trovador

o teu fulgor na casa dos meus vinte anos

anos de feras e fantasmas dos campos

uma vil flor do meu amor



Nesta paixão nasci de um parto sério

na vida que devora o fundo mistério



Sou o acaso e o ocaso de um bruto sentido

vida sentida em pavor com os ares dançantes

das minhas canções em tuas curvas insinuantes

onde posso me refestelar em teu gemido



A paz que já não me habita e me consola

é uma paz que foi embora plantada numa estaca

onde o coração transborda uma adaga

que me mata e me esfola



Antes de te perder para todo o sempre

sou a vida remota de um nubente



Sou a semente no acaso do ocaso

ocultada pela nuvem infernal

de um karma déspota e imoral

fruto do meu trabalho e roçado



Me devora a paixão de uma estrela brilhante

e eu a esqueço já agora no meu peito vacilante



23 de janeiro de 2009 (Gustavo Bastos)

PALAVRA ASSENTADA


Completo serei com o sentido da vida

existência fluida que completa o idílio

sou peça do mundo um pouco cronista

do mesmo mistério em que povoo o delírio



Sou o índio o menino e o autor da poesia

uma estrela cansada na queda do ser

um poeta desesperado no tempo do ver

aqui eu canto profundo o canto do dia



Eu levo a canção para onde o magma explode

vou angariando votos múltiplos de orgia

sábio numa delícia de vida onde o poema é minha sorte

miríades exatas de um poema de sabedoria



Não atinjo o cume da palavra

palavra é o que eu quero

palavra destemida onde há verso

palavra escrita e lida onde há morada



Desde então tenho o poder da letra

a letra infinita e o tempo infinito

a letra que é um cometa

para o sol do vivido



Somos então poetas e visionários

assuntos diversos da pena louca

imagem solta

de um poeta e seus dicionários



10/01/2009 Gustavo Bastos

VIRTUDE DEMONÍACA


No vitral reflete uma imagem angelical

onde dormiam as catacumbas dos cristãos

em fervor o demônio ameaçava do umbral

de quebrar o vitral e perder-se no mal dos pagãos



Verte o sangue a paz emudecida

taciturna e cadavérica num sopro

ardendo por sete dias de uma semana perdida

onde o imortal seria apenas o denodo



De ter tal ousadia a peste correria

enlameada peste dos algozes

na nua vida de sons de artilharia

fazendo o enterro do que veio de risos ferozes



O vento espatifaria o sacro vitral

e a dor seria um pânico irremediável

num antro de espectros sem moral

onde a astúcia é a virtude venerável



Vai o santo e o demônio na contenda do universo

fazer da manhã seguinte a paz de antanho

onde o que se dá é um amálgama diverso

na ferocidade do eterno rebanho



09/01/2009 Gustavo Bastos

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Desta Terra Indômita


Dos frutos da terra
emergiu a poesia,
infante da harmonia
com a força dos signos
que passam pelos olhos.

A batalha do verso
não teme nada,
não há razão
para temer,
o céu é todo nosso
em seu refúgio
contemplado
de sedução.

A vida contempla
esta sonhada virtude,
que existe em descampados
para a amplitude da visão,
como se os seres fossem
atores das sensações
tal um licor de vinhos
em bebidas cáusticas,
eis o evento da existência
no seu furor carnal
em espírito imortal.

16/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

ROSAS E MALDIÇÕES


Rosa, estrela maior da minha vida. Sou a chama livre em teu calabouço, por sentir-me só ao te ver. Ao belprazer, madona. Me é a maldição primeira, mulher. Os ritmos são belezas tuas, e eu digo só verdes em volta. A floresta, as danças, todas as fontes, todas as magias, o além que vive.

Me dou aos lobos, às presas. Eu sou o caçador, que a caça esfola, de raiva. Outros tempos morrem. E grito: “Ó Faraó! A pirâmide me jogou ao parque de Osíris.” Vês? Tu, mulher diva. Os vinhos, malditos. As paixões, carnais. Os santos, nubentes. Nas águas beatíficas de uma missa solar. Última saída.

Lá se vai o sol, vivo, no horizonte. Que o Mal nos conte todas as razões que o coração insano quer demolir. A loucura é dos alados, os presentes de grego me seduzem. Tinha a roupa de sangue, e o mar zangado. A fúria era um lençol de fogo. Os ventos roubavam as areias dos desertos, e a montanha se dissipava. Enquanto os jogos me distraíam.

Sou mais jovem que a morte. Não há mais virgens, nem leite. Tudo foi escondido. É a seca, o solo árido. Um dia sem cor. Mas, quando voltou a primavera? Lá está ... outra flor, insana flor, bela flor, o ópio.



A tumba cresce, o coração sucumbe.

Selvagem sombra dos ânimos,

Campanha de exércitos.

Um certo ritmo nos une.



Ladrões bem vestidos, todos vivos.

Como é que uma flor volta?

Que será que diz à mãe dos hinos?

Filho, à tua pátria retorna.



A realidade está nos cabelos dela,

Flor de riso deitada na areia.



O circo pegou fogo. É verdade! Os palhaços somos nós! Quem me salvou? Ó Jesus dos infernos! Um nobre de roupas rasgadas, não sou fiel aos canibais. O mundo é cruel e nojento. A pedra que atirei foi a liberdade.



Pecados infames, noites eternas.

Em minha casa, a sedução da fumaça.

Venham aos azuis, senhores vis!



Sou a arte da guerra, um chinês me doma.

Este sábio que não faz rima, só descansa.

Logo me veio o que eu pedia,

Flor sentida, me convida à simpatia.

A tenho em meus braços, e não sofro mais.



Maldição eterna? Não, só uma pesca bem sucedida. De ar e ferida. O golpe do coração me é a força! Rosa azul, rosa vermelha, violeta sorrateira. A força que me leva. É a morte? Ou será o céu? Será!

TRIBUTO AOS ICONOCLASTAS


Devemos voltar aos salões deste inferno bíblico. Os móveis e as ilustrações dos senhores, e dos jovens que roubavam. Os ídolos são as quimeras. A Razão e a Filosofia se enobrecem sem teologia. Os santos vencem, mas perdem seus rebanhos. Qual mistério é mais miserável que este? Lembranças de um passado de sofrimentos, das guerras dos grandes líderes de nossa aventura. A mística não é mais a herança!

“É preciso fugir! Logo! Que venham às nossas prisões, os avatares.”

Deixo os símbolos, tais orgias, para os que deles se servem como execução. A fome da loucura é senhora de si, mais que a própria razão. Tudo deve ser dito em silêncio.

Quais adoradores devemos matar? Devemos perdoá-los? Por negarem o Absoluto? Ou tudo que é o tempo não é mais? Somos ainda os mesmos adoradores, os sacrílegos.

Numa noite fétida estarei num outro mar, cercado de velhas tempestades. A lua é merecedora deste castigo. E nós, infantes, mordazes, somos os destruidores.

É fácil montar uma cabana, tornar-se uma aldeia, e esquecer dos delírios da cidade. Mas, são todos, ainda, meros ladrões de corpos. Armados como bons cidadãos que são. E a palavra bela é um escarro no lixo. Um pouco de vintém não faz mal a ninguém.

Vamos voltar ao topázio, aos rubis, às safiras. Riquezas plenas e servidoras de todos os valores bons. Tal como os versos querem. Em tudo está o fim, os dias esquecidos. Vamos dar ao tributo o palco dos ferozes, dos cristãos enjaulados. O Livro, pois, foi queimado. E a História é como uma fábula, que não resiste ao imponderável.

O eterno sorriso se faz com arte, não há histéricos ou loucos. A piedade não nos leva daqui. O destino foi desacreditado. A beatitude é apenas uma conversa. O que se fazem mesmo, são fuzis. Os ídolos maiores! Verso barulhento! Como o horror deve ser. Depois, tudo volta ao normal. Que a paz não nos deixe! Ritmo que não existe mais. Desafio que foi questionado, que foi negado. Tomada de febre, rendida.

Vamos nós! Derrubar os castelos das bruxas. Os vinhos dos desertores. Para nascermos em outra barbárie, curados de todo tédio, de toda herança. Como os eremitas. Recebendo tal fartura, a comida que nos falta. Para então, recuperar o sabor do universo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Monet X

Monet IX

Monet VIII

Monet VII

Monet VI

Monet V

Monet IV

Monet III

Monet II

Monet I

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Numa Noitada Qualquer


Vou por aqui neste ácido
sonhador puxando um fumo
com a sonoridade do caos

desde o tempo das caravelas
já se masturbavam
com um caralho voador

nuances de minha escrita
revelam uma neblina pecaminosa
na ignomínia do verso
satânico de sol e fogo

foi a verve do artista
um momento
de fúria alcoólica
brindada pela valentia
sem socorro
temerária
inconsequente
desvairada

no fim daquela noite
tinha o meu nariz sangrando
e uma foto amassada
de paisagem
no meu bolso
não tinha dinheiro
para um táxi
fui de ônibus
para casa

10/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

Ode à Bukowski


Enquanto a noite caía
eu acordava sonhando
com um tempo de vitória

desde que me veio o sono
não acendi mais cigarros
e não queimei mais
os meus lábios

teus seios fartos imaculados
me trouxeram gangrenas
e me detive num delírio
em que eu corria pelado
pelas ruas
já que o sonho era claro
como a luz do sol

o ridículo de toda esta mixórdia
é te encontrar nua numa
praia deserta
pagando um boquete
para o amante
que me roubou tudo
como um intruso
na minha festa

e eu tive que olhar
o meu mundo desmoronar
num assédio criminoso
da sua boceta

10/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

O ALTAR E A FORTALEZA


A promessa vã é feito eldorado imaginário

onde a rosa delira na campina

e os livros se destróem num vão itinerário

pelo que sei certo no porvir da lamparina



Selva é o meu encontro de fadas e gnomos

parte de mim está no meu prazer

outra parte é recônditos de salmos e estrondos

na vaga sentimental do odor e do lazer



A promessa vã da andorinha e do pardal

é a triste pena de servir ao léu

numa borrasca infinita diluviana e astral

em busca do altar dos sacrifícios e do bordel



Respiro ardor e fervor na fé santa

quente moldura de um santo pagão

na envolvente nuvem mitológica da guirlanda

enquanto anjos tocam seus alaúdes em oração



Eis que o dia acalma em toda plenitude

de ser belo e forte como a fortaleza inquebrantável

onde ninguém se arvora a ser infinitude

mas que humildes se prostam no chão imutável



Lancei o funeral neste palácio diamantado

onde o rei é degolado pelas feras

e o escravo é alforriado

numa libertação de mazelas



09/01/2009 Gustavo Bastos

FLORILÉGIO DO IMENSO MUNDO


Estou no costume de entender o florilégio

das noites fabris em meu doce mel

dizer sobre o assombro da máquina do mistério

eternal como o fogo e a vida de fel



Nas cascatas em que habita o indizível

vou à maior chama me tomar de indolência

e me sentir liberto e pleno do leme sensível

ao toque da cítara e do címbalo em plena consciência



Harmos do meu fatal leque de visões

ataques prontos da música no som da bateria

são os haustos exauridos das monções

em que serei o feto original da ambrosia



O toque é forte e serpenteia no peito varonil

de que as aves são as bênçãos e o voo a leveza

e a leveza o céu íntimo da ideia no fio

alma pronta e fustigada pela alta defesa



Não sei decifrar a musa do mistério

se é este o mistério profundo

o meu gládio e magistério



Aprendo na forca a sobreviver do furibundo

sobrevida de poeta e seu monastério

mistério meditabundo do imenso mundo



09/01/2009 Gustavo Bastos

A MENSAGEM DO FORTE


Ardendo o sol silencia na torre

e uns papéis voam de poemas proscritos

na leve paisagem de um vingador torpe

que não fez o seu intento de ventos varridos



Uma clareira se aninha no pórtico

e a luz assombra a vida na noite terrível

e o vinho questiona seu sabor exótico

enquanto a chama azul vacila num bruxulear aprazível



Ardendo os campos doentes em que se entrega

a vida do poeta pelos idos anos da luxúria

este poeta se entrega na véspera da queda

pelo dia adventício da calma contra a fúria



Vindo de onde está o cavaleiro não descansa

somente pede um pouco de água sagrada

e não quer sentir a dor insuportável da lança

mas apenas refugiar-se no templo com a mão desatada



A torre então já mira para a lua

e o poeta que é o cavaleiro da miragem

corre a galope com o seu cavalo em vida crua

tal como o governo dos céus faz a sua viagem



Ardendo o poeta pede passagem

e a calma da plenitude já sofre de antemão

uma vida que pode ser apenas uma doce imagem

ou uma cena desvanecida de ilusão



E nas casas em que a solidão corrói

tudo evapora depois da chuva intensa

que o poeta traz em si e não destrói

mas apenas faz desta a sua oferenda



E lá se vão todos os anos da vida

que não são somente vultos de alegria

e nem tampouco expiações de uma ferida

mas uma visão completa de harmonia



Eis que é o vinho da morte

o brinde em que se sacia a vida do forte



06 de janeiro de 2009



Gustavo Bastos

O DESPERTAR DO BARDO (RIMAS SERENAS)


O que o bardo explora quando dorme

é um sonho intenso de fogueira e torpor

cais onde desce o paraíso em possuído horror

na dama que desfalece em seus braços de cobre



O que a vida cintila na visão da moldura

é a sinalização para um corpo refulgente

em que a cidade de seu sonho fortemente

se refugia no mosteiro da clausura



O bardo então acorda com o som dos pássaros

passando a vida em tom de melodia maviosa

em que a dor e a alegria são o branco da rosa

rosa branca em tudo altiva para os nossos lábaros



Não teme a chama indômita do verão astuto

nas oliveiras e gramíneas verdejantes

e tem a vida nos seus vitrais pulsantes

tanto quanto antes tem o vinho em seu leito puro



O bardo já está posto defronte ao temor

e tudo que ele abarca é de sonho enorme

sonho tão livre que nos leva ao rio forte

onde as almas são leves e não temem a flor



06 de janeiro de 2009



Gustavo Bastos

Das Coisas Belas


Antes os poemas que não faço,
das coisas que calo,
pois não me servem mais.

Antes o pranto sagrado,
a alma lavada,
o dia aproveitado.

Antes tudo que tem o poder
de me fazer feliz
qual um sorriso franco.
Antes o sol depois da chuva
do que as trevas da morte.

Poesia não se ensina
ao leigo que não viaja
com a própria cabeça.
Poesia toda inteira
é uma questão
de inteligência
aplicada à emoção.

Não se sirva do que corrompe,
faça puro o teu coração!

10/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MANTA NEGRA


Mais escura é a noite das feras

em que o passo recorda

a sutil vida que vai embora

na labareda dos sonhos de quimeras



O ardor sequioso em que me chama

a fronte sadia dos férteis campos

são os meus sonhos de acalantos

em vida própria que tudo derrama



Vai o viajor perder-se em vagas enormes

deste rancor insiste em tonitruante fuga

em tudo que o labor poético segura

da vil tempestade em que tu dormes



Mais escura é a pantera em seu negror

lutando com o chacal na borrasca

e o sol latejando nas horas de couraça

é o meu terror e o teu no mesmo pranto e fervor



Traz para mim o encanto fugaz da servil noite

em que tu me chamas de cavaleiro disforme

em que tu me aconselhas de ser sempre forte

porque a vida é a força que tudo traz no açoite



Belas e pueris sereias são os dias chorosos

na manta negra de tua vida de esplendor

traz comigo o veneno de que sou pecador

e vem subitamente me tomar os dias ditosos



03 de janeiro de 2009



Gustavo Bastos

PENSAMENTO ILUSÓRIO


Póstumas são tais miragens

do poeta a planar sobre as urtigas

ali voam as estampas das imagens

em que veem os astros suas feridas



De além-mar os corsários

fogem em mantos diáfanos

em mortes sutis nos mostruários

de uns cavalheiros de lábaros



Queimei o céu em palco degredado

com um pouco de vinho ao meu amor amargo

que em épocas remotas são pastos de um roçado

na veste púrpura do frio afago



Vem de ventre hirto pelo frio consumado

vagar pelo corpo delineado pela unção

de cadáveres mortais em seus ares de mago

o sol pestilento em tais águas de ilusão



Póstumas miragens do poeta pagão

foge da maldita Circe no inverno

e traz de um ignoto verão

a sua delícia de estar no mar eterno



Da vida o pouco que resta

é a noite vil de um barco solitário

que cai em um florão e em uma peça

o seu último ato de fiel sacrário



Póstumas as virtudes do poeta

que são as algas aventureiras

de um mar soturno em que se encerra

as miragens de seus cantos em poeiras



Pois é o fim da vida

para o velho monsenhor

na sua renascida orquídea

iluminada no farol do pecador



30 de dezembro de 2008



Gustavo Bastos

REVELAÇÕES SOB A NOITE ESTRELADA


I



Me consome a vida infeliz

com o pranto marcado

de uma noite com uma meretriz



O meu desejo alado

foi em busca da leveza

em que se foi o meu dia calado



E numa noite de torpeza

fui o belo vinho rebuscado

de uma risonha certeza



Me consome o alvo irisado

fui o teu chamariz

numa noite de vidas senis



II



O retábulo canta aos santos

e os sonhos são vários

nas vidas dos silêncios brandos

em sonoros livros sagrados



A vida infeliz se fez com calma

de uma felicidade já perdida

em que o dia vive na alma

de uma dor incontida



O vinho faz o sonho puro

de uma leve saudade no escuro



III



Oh céu turvo em busca da felicidade

meu corpo arqueja

pela vida farsesca

de um riso de maldade



Tanta dor na vida kármica

é um passo dolorido

na busca do canto revivido

de uma alma metálica



IV



O sol já se foi na barca da esperança

eu andei numa febre devota

cantar as minhas orações de criança

pela senda vazia do coração da derrota



Canto vazio o sol já se foi na nuvem

que vem me acompanhar na escuridão

das vidas perdidas nos leões que rugem

a liberdade das rosas no caramanchão



V



Bela flor é a alma encantada

que vem depois numa sonata



Bela flor de uma vida que um dia

será a tal felicidade

da canção perdida

nos tempos de uma saudade



30 de dezembro de 2008



Gustavo Bastos

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Renoir Photo

Renoir VIII

Renoir VII

Renoir VI

Renoir V

Renoir IV

Renoir III

Renoir II

Renoir I

William Blake XII

William Blake XI Pieta

William Blake X

domingo, 5 de dezembro de 2010

Jimi Hendrix V

Jimi Hendrix IV

William Blake IX

William Blake VIII

William Blake VII

William Blake VI

William Blake V

William Blake IV

William Blake III

William Blake II