PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 5 de março de 2011

O FANTASMA DO TETO

Paula era uma menina de 8 anos bastante fantasiosa. Sua mãe lhe dava leite todas as manhãs e todas as noites quando não estava sumida, sua mãe era alcoólatra, mas a tratava bem, não era daquelas que batiam nos filhos, pois ela nunca ia para casa quando bebia.

O pai de Paula era um misterioso médium vidente que vivia de biscates e de suas consultas, ele era cartomante de baralho cigano e jogava búzios para seus clientes, além de incorporar espíritos para investigações sobre algumas circunstâncias de mortes e assassinatos inconclusos, seu nome era Martin, ele era um verdadeiro médium vidente, mas quando seu dom não funcionava, ele pregava peças nos seus clientes, em sua maioria extremamente crédulos e sugestionáveis. Martin se aproveitava também de sua astúcia e talento para o hipnotismo, sabia dar passes como ninguém, este era o ambiente em que Paula vivia, um ambiente cercado de misticismo e patifaria. Será neste ambiente que a loucura se insinuará e logo se instalará, a cabeça de uma criança tem mistérios insondáveis, e se o mal era de família, logo uma suposta mediunidade poderia aflorar nesta mente infantil.

Era janeiro, um certo dia de chuva, e a mãe de Paula, Vitória, estava perdida nos bares fazia 5 dias, diziam os vizinhos que ela dormia com um amante, mas nada provado, na verdade, ninguém sabia onde ela estava e como vivia nesses seus sumiços frequentes. Martin era um homem resignado, apesar de um pouco pilantra e de explorar um dom em troca de dinheiro, era um homem bom, pois suportava todas as desditas da vida com paciência, e ele sabia que Paula e Vitória precisavam dele e de seu sustento, já que Vitória não trabalhava, e seu alcoolismo só piorava com o passar do tempo. Martin precisava manter-se lúcido, mas a sua loucura logo daria suas aparições, e Paula seria contaminada pelo misticismo terrível de Martin.

A chuva era densa, Vitória aparece em casa depois de 5 dias, toda arranhada, com a cara ralada e inchada, os olhos com equimoses em volta, a roupa toda rasgada, sem noção de nada, totalmente desnorteada, parecia que estava em surto, estava pálida e fraca, a morte certamente teria a cortejado nessas suas peregrinações pelos bares. Martin não ficou alterado, sua resignação para com Vitória era deletéria, pois só piorava as coisas, pois na hora de um pulso forte o que se via era um “é assim mesmo”, que ele costumava repetir, e iludia sua filha Paula com eufemismos hipócritas e de que nada adiantava, pois Paula percebia a perdição em que sua mãe estava se metendo, ela não compreendia, mas sentia uma tristeza profunda, sentia que poderia perder a sua mãe a qualquer momento para um fantasma que morava no teto. Esta era sua nova ideia fixa.

As sombras estavam cercando a vida de Paula, ela logo se convenceu de que estava sendo perseguida por espíritos do mal por todos os lugares em que passava, tinha pesadelos com demônios disformes e se sentia ferida pelo medo de seus delírios. Ninguém ali falava em psiquiatra, pois a crendice não permitia filosofias materialistas naquele recinto, aquela casa era dominada pela obsessão mediúnica de Martin. Na verdade, Martin era obsediado e estava passando isso para a filha. Paula cismava que demônios queriam matá-la e que havia um fantasma no teto de seu quarto, tudo o que era sombra ela percebia em seu delírio como forças ocultas e sobrenaturais prontas para devorá-la numa alucinação sem volta, e Martin não fazia nada, achava que era necessário apenas uma limpeza com defumadores no ambiente que tudo se resolveria. Martin era escravo de sua crendice e não sabia lidar com afirmações de vizinhos que diziam que ele era louco.

Mas, as loucuras daquela casa logo fariam com que os vizinhos chamassem a ambulância para internar Vitória, pois ela poderia sumir de novo e nunca mais voltar, Paula chorou copiosamente quando os bombeiros levaram sua mãe para uma clínica de viciados, Paula gritava: __ Ela é minha mãe! Eu amo ela! Mas de nada adiantou, Vitória era um caso para a psiquiatria, assim como toda a família, Paula já começava a delirar, e o misticismo de Martin estava levando ele para caminhos tortuosos, o que sempre acontece com quem explora dons mediúnicos para ganhar dinheiro, logo se tornou um farsante obsediado pelas trevas da loucura, sua conduta piorava a cada dia e seu fim poderia ser trágico, e sim, a tragédia do fantasma do teto pegaria todo mundo de surpresa.

Uma semana depois de ser internada, Vitória é encontrada enforcada pelo lençol pendurado no ventilador de teto, suicídio, confirmou a perícia, Vitória estava em surto e não aguentou ficar confinada, sua vida eram a rua e os bares, o álcool a levou para uma escuridão que ninguém sabe se é eterna, mas que é certamente profunda, pois a morte é o ato mais profundo da vida, é a viagem para o desconhecido ou para o nada, depende de quem crê ou não crê.

Martin fica sabendo da tragédia e não consegue falar para Paula do fato terrível. Martin estava mais preocupado com sua crendice e disse para os vizinhos que eles eram os culpados de terem matado a mulher dele. Martin começaria a ficar bem louco a partir desse momento. Começou a delirar que estava em contato com o espírito de um índio xamã em uma de suas sessões mediúnicas, logo o tal xamã ordenou que ele expulsasse o fantasma do teto, agora era o delírio da filha entrando no delírio do pai, Paula acreditava piamente que havia um fantasma no teto de seu quarto, e, por sinal, Vitória, sua mãe, havia morrido pendurada ao teto, que coincidência lamentável!

Paula entrou no meio da sessão mediúnica gritando histericamente expulsando os clientes de Martin da casa. Ela estava com o revólver de Martin na mão, o revólver ficava num fundo falso do armário da cozinha, e Paula sempre soube da arma e onde estava. Martin, já delirando, disse que ele e Paula teriam que matar o fantasma do teto do quarto de Paula. Paula sem querer dispara a arma que atinge o peito de Martin, que agoniza no chão da sala. Paula corre para seu quarto e atira a esmo. Os vizinhos entram e são alvejados por Paula. Logo os que escapam chamam a polícia e o manicômio, Paula atira até acabar o cartucho do revólver, Paula é internada aos 8 anos no manicômio e entra nas trevas da loucura, o fantasma do teto vai a assombrar pelo resto de seus dias, a imaginação é um demônio ardiloso que devorará Paula, ela ficará no manicômio até morrer, injeções psiquiátricas às vezes não têm poder contra o misticismo, agora Vitória e Martin também são fantasmas que entrarão na alucinação de Paula, o fantasma do teto realiza o seu intento, a tragédia está feita!



06/03/2011 Contos Psicodélicos
(Gustavo Bastos)

sexta-feira, 4 de março de 2011

O GOVERNO DILMA E SUA POLÍTICA ECONÔMICA

O GOVERNO DILMA E SUA POLÍTICA ECONÔMICA


Começando pela política fiscal, muitos economistas receberam o detalhamento do ajuste fiscal do governo Dilma, isto é, sua política de consolidação fiscal, que começa com um corte de R$50 bilhões no orçamento de 2011, com ceticismo. A maioria diz que há uma contradição, pois, na verdade, não haveria exatamente cortes, mas uma menor elevação de gastos. O problema aventado é de que, ao mesmo tempo que o governo anuncia sua política de ajuste fiscal, há, pelo lado do Tesouro, um aporte de R$55 bilhões para o BNDES para investimentos na produção e infraestrutura, tudo para manter o país no seu ritmo de crescimento sustentável que é previsto agora para 2011 entre 4,5 e 5%, quando acabamos de receber a notícia de um crescimento do PIB de 7,5% no ano de 2010. Pois bem, a contradição entre ajuste fiscal do orçamento e aporte ao BNDES via Tesouro é negada pelo ministro Mantega, tudo bem, pois o fato é que a taxa de investimento no Brasil é ainda baixa, principalmente se compararmos com a China, onde é mais que o dobro, o Brasil está em menos de 20% do PIB, e o ideal seria uns 23%.

Portanto, a polêmica entre cortes e investimentos é verdadeira quanto à contradição, pois mesmo com a necessidade de investimentos, isso, ao mesmo tempo, aumenta a demanda, pois há um aquecimento da economia e, pode, por fim, gerar uma pressão inflacionária indesejável para um crescimento do PIB que se quer como sustentável no patamar de 4,5 a 5% ao ano em média. Mas, contudo, há no futuro uma possibilidade de investimentos privados tomarem o lugar desta capitalização do BNDES via dinheiro público do Tesouro, e isto será ótimo para o desenvolvimento do país que, precisa sim, de um investimento forte na produção (para competir com as importações) e na infraestrutura (para ser o suporte material do crescimento).

Os cortes de R$50 bilhões do orçamento federal incidem principalmente nos ministérios do Turismo, Esporte e Agricultura, estes foram os mais afetados pelo corte de investimentos. Também temos cortes substanciais na Cultura e no Trabalho, além do surpreendente corte no programa Minha casa, minha vida, através do Ministério das Cidades. Sendo que o ministério mais preservado dos cortes foi o de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Portanto, houve cortes no PAC e corte de R$ 18 bilhões de emendas parlamentares, o que é necessário no combate à inflação. Mas o problema será no ajuste de despesas obrigatórias como abono, seguro-desemprego e subsídios, o que vai demandar esforços de auditorias e fiscalizações. Para ficar claro, os cortes previstos incidirão sobre despesas obrigatórias, despesas de pessoal e encargos sociais, benefícios previdenciários, abono e seguro-desemprego, além de despesas com subsídios e subvenções. Por sua vez, dado importante, na área social, o ministério mais atingido foi o da educação, o que agravará a grande questão de qualificação da mão-de-obra no Brasil, que é muito baixa, e a demanda aumenta a cada dia.

E, para compensar os cortes anunciados, o governo vem com um afago com o aumento do Bolsa Família, o que mantém uma coerência programática do governo de erradicação da miséria, e a qual deve estar apoiada num planejamento de inserção destas famílias no mercado de trabalho e na educação formal suficiente dos filhos, pois senão se tornará apenas assistencialismo social e fonte de votos.

Por fim, junto com a política de ajuste fiscal temos a política monetária apoiada na autonomia do BC que acaba de reajustar a taxa Selic para mais 0,5 p.p em 11,75%, tudo para combater a temida inflação, válido num momento de deter a gastança anticíclica dos últimos anos do governo Lula. Mas o problema principal da falta de competitividade do Brasil em relação a outros BRICs, por exemplo, são deficiências como esta taxa de juros do BC que é a maior do mundo e tem que baixar num outro momento, o câmbio valorizado provocado pela emissão de dólares a torto e a direito no mercado pelo FED, a altíssima carga tributária que desestimula o empreendedorismo no país com uma desindustrialização, e, finalmente, a infraestrutura deficiente, que terá que ter investimentos para sustentar a expansão do PIB brasileiro.



Gustavo Bastos, filósofo e escritor, 04 de Março de 2011.

quinta-feira, 3 de março de 2011

APOCALIPSE

Ah! Meus amigos mais queridos, venham ver! É o céu que salvamos na música. Concerto em desvario, criações, chuvas, pedras que flutuam. Já é demais a miséria, cretinos que bailam sem se afogar.

Venham! Tronos, belezas, coveiros. Venham ver este silêncio. As vozes louvadas em meus tímpanos, cantos nobres. É de cortar o coração, todo cheio de ilusões.

Imaginação pura, arte pura, alma pura. Que lembranças! Já naveguei em cavernas, em sombras hipócritas. E toda dança serviria ao caos. Dançarinos nos trovões.

Meus amigos perdidos ... Ah! Quanta dor! Devaneios e febres. Alucinações. Que o verão venha logo! Me mostrem as viúvas, todas as alegrias da bonança.

Me chamem de Judas, de suicida. Poemas foram queimados. Doces palavras que louvei no crepúsculo, no labirinto. Que o fogo testemunhou. Voavam os lamentos, as torturas. Bravos inquietos na minha alma, sobre a cama flutuam. Que desçam os infernos, que voem as máquinas, meus amigos!

E não esqueci da revolta, da cólera, dos vadios, dos ladrões. Danados que louvam a morte, cegos na noite, que se perdem nas quimeras. São os alvos, as guilhotinas. Que nem um maldito saberia narrar. Venham! Loucas misérias! Que o crucificado me xingue, agora como um santo. A Igreja me quer, como um relâmpago. Os espíritos me querem, comem a minha carcaça.

Eu não faltei na hora dos pedintes, que a razão dos professores ignoram. Seja a caridade! A liberdade nos dará o banquete, os delírios, os livres pensadores. Ah! Meus amigos! Eles têm febre, eles estão mortos. Que o cheiro da carniça apague os seus delírios. A música me toma agora, e sempre. As bocas dos ordinários ficam à deriva. As quermesses e as procissões me levam do inferno. A batalha dos fuzis foi posta de lado. As guerras dos homens foram abortadas. A tragédia é santificada pelos bêbados, vítimas do meu delírio, da insanidade e das armas. Levem-no daqui! O poeta que viu as magias, a força da natureza. Levem-no! A tarde escurece, as ondas naufragaram o pobre tolo.

Que será do futuro com o pouco que resta? Talvez os bárbaros ensinem como ser um divino cão, um prisioneiro. Os vermes não são tão inteligentes. O nojo está possuído, as casas não serão salvas pela glória do Senhor. Jesus Cristo se lamenta no céu, quer a dignidade suja, os vícios que enfurecem os brutos. Já hei de me conformar ao esquecimento, trabalhando nas terras dos ricos. Venham! Amigos de toda a vida! Amigos do além e da terra, do ócio e da vadiagem. Os rios passam. Cristo chora! Ó meus amigos, crianças tal como eu sou, correndo da luta. É certo o sofrimento da partida, devo ir, é a missão que o Mestre me infligiu. Nota-se o caráter, a moral do avesso. Logo a Revelação nos matará.

DE VOLTA AO INFERNO

Quando o mar se encanta de fogo, temo os reis das profundezas, para alçar à sabedoria. Cantar nos altos dissonantes de uma prosa mais que morta. Os concertos inverossímeis do meu bruto lar. Os tais infernos queimando. Os alvos vagarosos do meu ódio, como quem correria por campos de morte, nas armadilhas febris da rebelião.

Meus bons cristãos, lhes dou um desaforo! Em vossos céus não invento os parques que imagino. Como entranhas, tais saltos da pancada viraram pestes incuráveis. Vai ao sóbrio clamor, o sol dentro do discurso, os tais mestres da infâmia. Fugindo, o sangue se derramou no precipício. Dores do cárcere, os tais céus não me dizem ... memórias dos jogos e dos funerais, o mal do paraíso é estar longe. Números das fábricas destruídas. Quando o ventre gritava por socorro, corri até me perder de tanto girar. Aos que descem aos calabouços, este mesmo libertino vos acompanha.

Para dizer sobre murros que não dei, tive que ouvir corações em desordem, para a tal profundeza na qual não sei se retorno. É o mal eterno! Ter que cair no sono dos fracos, ó mortes que não notei! Vendem os corpos ao relento, dizem se sentirem plenos em suas desgraças. Lembraram? Estive perto do que chamam um caminho sem luz, quase me joguei aos vermes.

O fantasma que me traz as visões, ser de sol, ser de estrela, desejo lunar ... agita as fortalezas, nos metais brilhosos das armas brancas, na faca que me atravessou. Mas eu estava em outro plano, e descobri tarde o amor que nunca pensei, lembro que o céu é apenas um sonho, que a terra me possui ... já cantaram os ventos um dia, não vivemos por acaso. É Deus! Dizem os loucos.

Para que o lastro de saudade não sirva de lamentação, vejo novas primaveras, eternos verões, os corações ansiosos. Doar a bondade é um dever. Não estamos certos? Ah! É o que devemos dizer. Pois, para não afirmar a tradição, eu nego a bondade, espontânea e morta. Porque não me vejo como servo, não sou a alma amada dos tais longínquos perdões. Só basta a crença desiludida, o clamor serve ao espírito. Me encanto com o desejo, não sou uma alma de caridade. Para a morte não sobrará nem o sol.

É verdade que os rumos que tomaram os malditos são paixões suicidas. O nervo da multidão joga com o que está se escrevendo aqui, as paixões doentes que me matam. Não posso temer o que quer me destruir, sei que estou pleno de toda consciência, oráculos de tempo vil, nas ruínas para o desalento. Não resisto! Os céus me abandonaram. Serei então um anjo recluso, ou um demônio cheio de ódio.

Nas contendas da alma, canta o corpo sua aventura. E o espírito plana. É doce como uma nuvem, meus silêncios matinais. Dores do inferno! Vem então o momento de partir, fico sem saber do que se fez este espetáculo, do que se fará dos meus sonhos ... que tanto julguei para me elevar a realizá-los. Esta noite voltou, e posso morder todas as filosofias e cuspi-las num prato de novas teorias. Me enveneno. Sim, e não sinto falta de um pouco de tédio. Pois o que surge agora em minha pena, não veio de uma embriaguez somente, sou inteiro quando faço tais barbáries ... eu sei de tudo o que é podridão, com os vultos de minha noite libertina. Que o dia amanheça sem remorsos.