PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Música Esdrúxula

(soneto decassílabo heroico)

Tanta beleza vai romper o céu
que vem nada tão forte e temerário
quanto o raio de luz breve do sacrário
na alva flor que na vida nasce o mel

Os olhos dançam férreos e saudáveis
na pétala vermelha em fantasia
que nem os olhos fundos da ambrosia
em refeições e relvas de rios ágeis

A poesia refaz tanta nobre música
que minh`alma troveja de sonhar
tão vastas várzeas verdes de luz úmida

O raio cai na profunda canção rústica
das emoções terríveis no pomar
que está no belo vale uma flor rúbida.

13/10/2010 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

Poema do Dia

O sol nasce amarelo.
As nuvens doces
são livres e voam.

Como é bom comer chocolate,
que lambuza a cara
e depois vem o sorvete!

Um, dois, três, quatro!
Quem tiver de bobeira
vai pagar o pato.

Um, dois, três, quatro!
Quem chegar depois
está no pique,
e não vai ficar triste
com o pombo ou o rato.

O céu que a gente pinta
é sempre azul,
o poema também é azul,
azul do céu com azul do mar,
azul para sempre que
vou brincar!

13/10/2010 O Poema Azul
(Gustavo Bastos)
obs: projeto de livro de poemas para crianças.

O ANCIÃO

Na memória do ancião

eram cem pétalas vermelhas
devorando o furacão

Ordenei as cordilheiras e fiz a benção
deste século ferruginoso

Mil dourados e diversas ametistas ao meu lado
o palavrório era o argumento do universo
desdenhado em karma e loucura

Revivi a maçã e sua frutífera dança
encomendei uma fruteira
com as uvas e uma taça ao lado
devorei a penumbra no encontro
dos cavaleiros esculpidos
no mármore do sonho

Era nuvem e era pasto
o rouxinol que cantava
no trovão da luta campestre
era o tédio e era a chuva
era o sol e era o dilúvio
de seu fogo em água
eram os elementos empedoclianos
e era a ataraxia epicurista
no vasto sermão da meia-noite

Na memória do ancião
correm os bois e as vacas
o mato e a serra desnuda

Diante de sua vida de carne
um espírito vitalíssimo
entre a alvorada e o altar
dormindo no retábulo
de uma igreja gótica
fervilhando num ornamento barroco
e sua ilusão era de mestria
pelo ar insano de sua música celestial

09/01/2009 Gustavo Bastos

NOVILÍNGUA (ORTOGRAFIA REFORMADA)

Cristal é luz e o meu poema é luz


Venho da órbita das feras
povoar a névoa e o silêncio
dos planetas desabitados

Tenho a certeza da carta certa
tenho a plena certeza do céu certeiro

Cristal é o meu poema filho meu

Venho cavalgando em inúmeras fidalguias
preparar a poção do Dr.Love
e aceitar o amor primeiro
como o golpe misericordioso

Tenho plena satisfação das letras
no torrencial soluço dos que creem
e veem o voo na nova ideia
dos meus anzois e palafitas

Vou ao novo da língua reformada
dizer que a nova ideia
é uma azaleia branda e portentosa
dizer que a uva e a laranja
são os doces e os meus ciúmes
dizer enfim a nova panaceia
de uma novilíngua desinteressada

09/01/2009 Gustavo Bastos

ABÓBADA CELESTE

Corta o relâmpago um azul clarão

e o tremor se estende às bandeiras desfraldadas
e ruma à terra crepuscular das aves plúmbeas

Relvas são queimadas ao sol desfeito
triste corola das várzeas
em solo ardente na minha sede

Eu era o capitão rumo ao Norte
terá então o Sul me escapado
e o Oeste e o Leste evaporados

Eu sou da terra vermelha e louca
dos meus primeiros dias de poeta
eu sou a terra nesta vala de filosofia

Por mais que eu tenha a minha sina
não vou ao álcool e à dor
só entendo da filosofia diamantada

Neste sortilégio sou o vazio
e o vazio me corta o relâmpago
e o seu clarão desvela o céu e a visão

Vou capitular na esfera da liberdade
dizer que sou preso ao véu da noite
em que a abóbada celeste nos vigia

Todo o encanto de uma só cantoria
será a noite boêmia dos libertinos
o meu pão e o meu vinho

06 de janeiro de 2009

Gustavo Bastos

SOBRE A NOVA ARTE DO MILÊNIO

Fazem já séculos que a arte 

faz seu pomar e suas flores.
De âmbar vestido, o artista
cultiva o seu ócio e os seus esplendores.

Já vai agora a nave argonauta
derribar a canção de um tsunami,
eu e a minha moça farsesca
nos cântaros, lajes e vasos decorativos.

Na antiguidade, fiz a escultura
dos estilos dórico e jônico,
Ictino e seu Partenon,
colunatas para suster a Élade.
Fídias e Praxíteles em crepúsculo
e relva, donde se elevam suas estátuas.

É a vigorosa beatitude
o que importava aos náufragos
da ametista.
E os olhos do artista
são como o mar em movimentos
ondulantes até ao povoado
das costas tropicais.

Passou séculos, passou o Renascimento.
E a luz que corta agora
já não é de mestria,
já se foi o século artista,
já se foi o século dos mestres.

O que nos torna aptos hoje
para uma pintura efervescente,
é a prática do hábito das sutilezas,
tais como as pinturas chinesas,
dormiremos plácidos
em imagens de meditação.

Quem agora dá ao nosso milênio
a possível arte,
não nos dá a faculdade alienada
do comércio e da economia,
não nos dá a incredulidade
da ignorância da História,
mas que nos leva de cima abaixo
para as novas inspirações
da nossa orgia e festa,
sempiterna chama
no arremate
da liberdade de criar
com o olho fundo
de uma gentil juventude
que nos trará o novo,
e diante do novo
teremos o tempo refeito
de um futuro artista
para o seu labor e sortilégios,
esperamos então
pela magia da nova era,
o tempo retomado da criação
e suas virtudes,
o tempo da novidade.

27 de dezembro de 2008

Gustavo Bastos

A SABEDORIA DO VOO

Dentro das águas de prata

reflete o sol com o dorso de fogo.
Num brilho imenso
descansa o porto.
Dentro das águas de prata
o timbre fundo e o sopro
volteiam nos odores.

Honorável sábio da montanha,
quem és tu?
O rei da filosofia
neste encanto?
Quem és?
O rei da poesia
neste sofrimento?
Rei da falácia e do sentimento,
toda vez que vem o sal e o vinho
e a fonte cair
do céu um facho de luz pura,
com adagas nos olhos
do poeta que,
de súbito,
sorri para a selvageria
do crepúsculo.

Nas enseadas e no golfo
semeia horas e queixas,
o sino toca e se abre uma porta,
entra o sábio e sua túnica,
ele tem ouro e argila,
um prato de comida,
e uma mensagem de sua razão.

Dentro das águas de prata,
oh saudades, oh cores,
oh salvação!
Diante da casa calma
morre um pássaro
com seu canto derradeiro,
era o espelho quebrado
de suas noites boêmias,
era o sábio transformado
em pássaro,
e ele tinha a sua doçura
com o vinho derramado
pelo corpo que jazia
no mar da infinitude.

Dentro das águas de prata,
uma doce canção.
Dentro das águas de prata,
os olhos de um furacão.

Dorme pássaro,
na morte que foi o seu legado
de mártir do fim do mundo.
Dorme pássaro,
com a saudade de suas asas.
Pois é a sua liberdade
o voo do eterno coração.

09/12/2008 Gustavo Bastos

OLHOS DE RESSACA

Quem te dá o poder de me segurar?

Nos prantos teus,
olhos de ressaca
em que tens
minha alma dissecada.

Olhos de ressaca,
abundância que aflora
e canta pela dança
em que me seguras.

Olhei para a dor e para a estrela
do alto conclamando
meus destemperos.

Flor d`alma possui a minha senda,
olhos teus fundos inebriantes,
olhos de ressaca
que dissecam
minha alma.

Alma que aflora da noite eterna
para o segredo da fonte
e dos enigmas das seitas,
olhos teus que me dizem amar
o que é verdadeiro em mim,
olhos teus, olhos teus,
olhos de ressaca
em que tens
minha alma dissecada.

08/12/2008 Poemas de Amor e Outros Verões
by Gustavo Bastos

A VIDA DO TROVADOR

Minha vida adorada,

perdi o sabor acre do passado
vivendo indolor
a vida do presente.

O que te dou do coração alado
é a vitória de um homem
diante de sua musa,
e o que a sua musa diz
ele tem como religião e verdade.

Minha vida adorada,
passei pelo calvário
e o sol já não tinha luz
nos meus olhos,
brilhava a lua
e toda a sua vida deserta,
erguia-se o pântano
na morada dos seus olhos,
diante do coração do poeta
cantava a musa idônea
de suas loucuras e paixões.

Vida sem fronteira e sem rumo,
o caminho da noite se faz estrela
e trabalha a cor do dia seguinte
com o arco-íris e sem aflição,
por que na vida se faz imensidão
em que o trovador
se entrega com sangue e com alma.

07/12/2008 Gustavo Bastos

terça-feira, 12 de outubro de 2010

HAICAI - XII

Sou poeta que vive
cantando a vida do pranto
por chorar tão triste.

12/10/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XI

Quero amor em mim
qual ar que vem a soprar
dentro do dia enfim.

12/10/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

O Herói Ébrio

Diante do ferro da dor pungente,
o herói se lança na busca universal
de seu ato de coragem no canto da torrente,
em que urge o sol em vinha e sal.

Herói da resistência, qual um titã!
Foi nobre em sua capa indolor,
um mestre calmo e rústico no seu afã
de gritar pelos ventos do mundo o terror.

Vai! Que é do mundo o seu engenho,
que é do mundo a paz depois da guerra,
que é do mundo o combate sangrento,
que são de todos as manhãs da terra!

Volte do combate como o dia furioso
e sem névoa, como a nuvem branca
que sobe ao céu matizado em seu dorso,
pois o tempo lhe deu a feroz dor da lembrança.

Eis o território conquistado,
ébrio em campanha sem fim,
vai do esterco ao velho regalo,
de que bebe o vinho tinto e carmesim.

Como é a vida do herói sem rumo?
É a vida da arte de viver no perigo,
é a parte do coração em fel e prumo,
é a noite depois da tempestade sem abrigo.

Esta biografia é a da alegria eterna,
é a terna compaixão dos homens da lida,
que é a torrente apaixonada da taverna
em que os ébrios cantam canções da vida.

12/10/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

A FERA E O DESENCANTO

A fera, que amava as estrelas,
deixou o céu desabar
em sonhos,
entrou na caverna do esquecimento,
e se juntou aos ignaros da paixão.

Desejo entre fontes e penumbras,
ver a fera dançar com a beleza
um delírio de sepulcros.

Desde a bela princesa oceânica
que era uma sereia,
a fealdade da fera
rimou com a tragédia,
eis que a sombra tomou
conta do palco,
e a poesia morreu
de tanto apanhar.

O céu do sonho magistral
desabou num pesadelo mortal.
E a fera que ali ficou,
foi o sentimento do poeta
diante do desencanto do mundo.

12/10/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

Elegias Existenciais - II

Desespero em que jaz o abismo.
Sou um ser decrépito
em minha alma,
vejo o tempo descer
das nuvens da eternidade
como um sinal
de que poderia estar salvo
da masmorra dos arrependimentos
e pesares.

Neste sol vermelho de outono,
o socorro dos cadáveres
se pôs na guilhotina
de sua miséria bruta,
o canto salvífico
tomou a trova e os poderes
da poesia
se libertaram
como melodia melíflua
de harmonias sobrenaturais.

Desespero que nos honra
com sua coroa sanguinária!
Sou o tolo e vil hipócrita
da semeadura métrica
intravenosa da carne,
vivo em suspense
como um calor de morte
e inferno astral,
vivo em carnes maduras
de horror.

E o meu umbral de suicidas
é a sinfonia da letargia
e das sombras morféticas
de um destino incógnito.

Sofro em tempestades teatrais
de uma estória tenebrosa
em ricas poesias sáficas
e eróticas,
nesta poesia divina
em que o coro trágico
se anuncia
numa alma renovada
de cantorias esperançosas
de beber do vinho
da eternidade.

12/10/2010 Elegias Existenciais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - X

O azul da beleza
é a vida um tanto sofrida
que se faz riqueza.

12/10/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - IX

Lembrar do que morre
não faz viver o que jaz
mas sim nos comove.

12/10/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - VIII

Nas ondas do mar
eu nado para o meu lado
na praia pra rimar.

12/10/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)