PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 31 de julho de 2025

FALÁCIA NORTE-AMERICANA

“O Pix representa um sistema de pagamentos inovador”


A partir do anúncio, pelo governo norte-americano, da abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, com foco sobretudo em supostas irregularidades no Pix, bem sucedido sistema de pagamentos do país, logo se percebeu que se tratava de um pretexto para defesa dos interesses das big techs dos Estados Unidos. A medida do governo Trump, por sua vez, foi anunciada pelo USRT, sigla em inglês que se traduz por Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos, em que se alega que o Pix estaria prejudicando empresas norte-americanas que atuam no setor de pagamentos.

Tal medida vem junto ao pacote do tarifaço, que se fia na falácia de caça às bruxas, levantada por Trump, em relação à possível condenação penal de Jair Bolsonaro no Brasil, o qual já se encontra inelegível. Ainda se soma a isso o argumento, que beira a bufonaria, de que a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos teria um suposto déficit contra os norte-americanos. 

O Pix foi desenvolvido durante a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e foi lançado em 2020, já no governo de Jair Bolsonaro. Atualmente, o sistema de pagamento possui mais de 170 milhões de usuários. Portanto, a grita norte-americana se trata de um movimento que se insere num contexto de competição tecnológica, em que os Estados Unidos sempre visa tirar do caminho qualquer tipo de tecnologia que não esteja sendo gerida dentro do país ou que esteja sob seu controle.

O Pix representa um sistema de pagamentos inovador e com grandes níveis de adesão no Brasil. A acusação de deslealdade é mais uma retórica enviesada, pois, na verdade, o problema vem acontecendo desde 2020, em que a Meta, do CEO Mark Zuckerberg, que é o antigo Facebook, se considera prejudicada em uma disputa entre a empresa e órgãos do governo brasileiro. 

No caso, a operação do WhatsApp Pay, que pertence à Meta, foi lançada em junho de 2020 no Brasil, o que permitiria pagamentos através do aplicativo, numa parceria com a empresa Cielo, numa época em que o país já tinha cerca de 120 milhões de usuários do WhatsApp. Entretanto, esta mesma operação foi suspensa pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por meio de medida cautelar. 

Neste caso, por conseguinte, o Cade avaliou que a Cielo já tinha uma participação vantajosa no mercado brasileiro de credenciamento de captura de transações, além de existir uma base de milhões de usuários do WhatsApp, o que daria um poder significativo para o sistema de pagamentos da Meta, dificultando a replicação do modelo por concorrentes da Cielo, pois havia um acordo de exclusividade entre a empresa e o WhatsApp. 

Para piorar a situação da Meta, em novembro daquele ano, o Banco Central lançou o Pix. Por fim, quando o Cade reverteu a decisão de suspensão do WhatsApp Pay, autorizando o seu lançamento no Brasil, o serviço não conseguiu adesão da população. Tal contexto reafirma o fato de que estas empresas de mobile commerce que tentaram monetizar suas mídias sociais não deram certo aqui no país.

Por sua vez, o argumento do governo norte-americano em relação ao Pix não se fundamenta, também, pelo fato de que quem utiliza este serviço no Brasil compõe as classes C e D, sendo que muitos são desbancarizados e abriram contas em bancos digitais, o que implica no crescimento de empresas como Nubank, PicPay e Mercado Pago, sem qualquer concorrência, por parte do Pix, com empresas como PayPal, Google Pay ou Apple Pay.

Mesmo que possa haver impacto em empresas como Visa ou Mastercard, com o Píx superando o uso de cartões de débito e de crédito no Brasil, a questão é política, envolvendo indivíduos específicos, que são CEOs de tecnologia associados ao cofundador do PayPal, Peter Thiel. Tais figuras, por sua vez, exercem influência enorme e possuem aliados que ocupam cargos-chave no governo Trump, incluindo o vice-presidente J D Vance. 

As big techs, portanto, tentam justificar suas dificuldades por uma concorrência desleal quando, na verdade, estas empresas devem se adaptar ao mercado brasileiro como ele está constituído no momento, em que se tem um sistema bancário e de fintechs bem estabelecido, entregando qualidade para uma população sem renda, num contexto histórico de altos índices de inadimplência, e ainda assim, gerando receita e oferecendo outros tipos de serviço. 

A questão política, por sua vez, vai além e se estende a medidas de retaliação a países do Brics que discutiram alternativas ao dólar nas transações comerciais, no intuito de valorização de outras moedas. Neste debate, cogitou-se sobre o Pix como um candidato potencial para ser base de pagamentos internacional, além de ter sido tematizado, ainda, reformas no FMI (Fundo Monetário Internacional). Contudo, o sistema internacional de pagamentos possui instituições consolidadas, em que é usado o Swift, uma plataforma criada na década de 1970.

No momento, a ameaça do Pix ainda é pequena, se tratando de uma reação, por parte do governo norte-americano, de negociação preventiva. Por fim, temos um grande grupo de lobby financiado pelas Big Techs dos Estados Unidos, que tem como membros a Meta, além da Apple, Google, Microsoft, Amazon, Pinterest, Uber e E-Bay, se relacionando, por conseguinte, com as ameaças do governo Trump de investigação das práticas comerciais do Brasil, junto a medidas de aumento de tarifas de importação sobre os produtos brasileiros. 


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/falacia-norte-americana/

quarta-feira, 30 de julho de 2025

IMPRESSIONISTA

E que a noite tenha este fito de divertir,

a cada um os risos merecidos, e de tudo

mais, que o coração resolva, e que

o infeliz se exploda, se morda,

se morra.


Aqui o verão é permanente,

o inverno já passou,

e se tem luau na noite

inteira, plena, que faz poeta

o que rima vida e não morte.


Pois a cada dia este brilho

no olhar reduz ao nada

os murmúrios exangues

do ridículo. 


30/07/2025 Estrela Estrela (Gustavo Bastos)

terça-feira, 29 de julho de 2025

DUENDE

O gorro, neste rito místico, rebate

em sua túnica, e o riso, com o caminho

de diamantes, avança pela pedraria

do jardim, entre os nenúfares,

os musgos e os insetos.


Faz-se noite em chá de estrelas,

e o vinho alucinatório encarna

os versos de malícia destes

metros botânicos, escritos

em folhas e fungos

da voraz cantoria.


O transe tinha sido

fatal, jogaram os bobos

com a carta de joker,

e o duende que porfiava

na cena de Dante, 

de um canto furioso,

emanava a loucura maníaca

dos lagares, em que

os hinos revolviam

os karmas de poetas

em paraísos perdidos.


Na noite violenta,

atacavam os delírios 

nas brumas e espumas

da montanha mágica,

um império de fogo

e de fastígio.


29/07/2025 Monster (Gustavo Bastos)


 

TEMPLO DE OURO

Na altura da torre, a rica fauna, opulento jardim.

Neste estuário, a fina flor que emerge do frio,

estando em cais mais solar, após a chuva.


Pois, no templo de ouro, com estes ouropéis,

com as clavas, deambula a corda vibrato.

Me encanto por este mirante 

em que se vê o plano todo,

mais firme ainda, diante do drama, 

de viés, com a carne dorida. 


Monta-se a peça dos ermos cantores, a fábrica

e a tecelagem, as cabeças pensantes, e que 

o Buda mortífero acordou no novo amanhecer,

depois da fúria Shaolin, vazada no chute

das armas e no ataque de luz.


Com os gestos do jogral,

junto à paz que entoava em sonidos,

a harmonia tonal dos jogos

semeava os dias de lazer.


Na antiga plêiade

dos poetas fumadores

de haxixe, por sinal,

hexâmetros regiam 

em escansão o ritmo.


Neste canto silvestre,

em meio às rochas e limos,

a mais astuta das artes

criava o mundo

edênico da alma 

elevada.


Com o ritmo das flores,

os fantasmas da noite 

ficavam subjugados pela

meditação incensada.


Ao fim do poema, 

os versos ventavam

seus lírios.


29/07/2025 Sublime (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 28 de julho de 2025

A CAVEIRA

A reta óssea, a mandíbula rachada,

verve estrangeira, dos versos vertidos,

na brancura da escala, de paletas rosáceas,

e estas falanges, na sombra junguiana,

e que soçobra sob o piche e o lodo.


Dois se foram, mais outros sucumbem,

na rota de fuga, tomaram no lombo,

a escopeta dos bandoleiros,

uma ossada foi revirada,

os toques da noite, um frio

desgraçado, cai a chuva,

vira tempestade.


Se via os idiotas sem eira e nem beira,

cantigas, matracas, ladainhas,

o jogo solto, fichas, cigarros,

os urros e o cheiro de malte,

o odor da selva, no rito orvalhado

dos olhos vermelhos de shot.


Pois deste debrum, as dobras feitas,

e tendo neste opúsculo as letras

densas da carta náutica,

eles eram os déspotas,

os pobres diabos,

o poema escrito

de preto, e na entrada

do átrio, a caveira.


28/07/2025 Monster (Gustavo Bastos)

COGU

Miração da cor, forte bateu a chapeleta,

dos ócios o poema sonoro faz o zum,

de todo cores e sons, cresce e multiplica,

a metamorfose que está pintada,

com a geometria lisérgica.


O poema de frente, com os lumes

todos, e as estrelas completas, 

deste livro de estética, de versos

que sibilavam na noite.


Acento agudo, uma circunferência,

a night star for us, em que os ossos

dos mortos estalaram, e a plebe rude

entoava os loas nas ruínas,

no cadafalso, e se tomava o chá,

e batia uma brisa roxa e escarlate.


28/07/2025 Monster (Gustavo Bastos)

HALLUCINATION

 A lunática hipérbole, trava em uma paralaxe,

e no estampido de sua bazófia, gabola,

o fogo treme em sarça, e o feroz rio desce

ao estuário de sua anarquia, o mar.


Veios, sulcos, a escultura se fere com goiva,

no atacado das facas se morre de adaga,

o peito tombando na praia, os tocadores

de corneta, às cinco, na forma da lei.


O grito na gira do sol, 

no tudo que ferve

que nem fogueira, 

avassala

o furor.



Pois, o poemeto é este,

grão mestre, areia, viço,

na rota mais bruta,

que se arroga o verso.


Eis poeta, estrela vinho,

voilá, bêbado, cantando na noite

dos vícios, a dança é o frenesi,

e o encanto bate o coração

de bater.


28/07/2025 Vibe (Gustavo Bastos)

OS HERÓIS DA OVERDOSE

Sua messe cântico plana estrelina.

Abóbada, ecumênica estadia.

Donde o doidivanas canta vida louca,

e atroz seu canto, provoca o costume,

lhe inquieta o desejo, e o infame dos gritos,

mais primais da caverna, está no hospício.


De bom grado, o diabo faz festa,

aqui os marimbondos se infestam,

no gargalo do uísque, dó ré mi.


Tomou uma overdose de heroína,

picada de cobra,

o astro do rock estava

com a cara inchada,

e o vil carmesim de seus

lençóis ensanguentados.


Ao lado de seu braço necrosado,

uma seringa e um cigarro,

e na parede um "do it yourself",

na moldura de dias gloriosos, 

toda a fortuna tomada 

de sanha plutocrata,

saiu da banda, 

foi ao meretrício,

se fartou às largas.


E a morte, delicada, 

foi como num sonho,

o paraíso artificial 

de seu castelo,

de sua cama, 

de seu som,

de sua catarse 

e pó de anjo.


28/07/2025 Monster