PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

DESIDERATO ABSOLUTO

Observo neste voo o detalhe da asa,

no panorama que vejo, meus olhos

flutuam em busca do horizonte,

pois a vastidão, em sua senda infinita,

desbunda o desejo e sua potência,

o voo que plana em sua excelência.


Pois, da morte e da fuligem, 

dos sonhos mortos,

dos que caíram 

pelo caminho,

jaz uma enormidade

de pautas abortadas

e anelos que se quebraram.


Aos fortes esta magnitude,

pois a estes a herança

do mundo, que exige

ao tônus a firmeza

de um propósito,

e a mira certa e fria

para a sua meta.


Gustavo Bastos, 11/09/2023


A FLOR DO DIABO

Se faz ao escarcéu esta plêiade bêbada,

um hino retumba soçobra e se faz de louco.

O peito intumesce de vinho, todo o ardil

está se refestelando impune nestes miasmas

kármicos da bacanal e de seu teatro absurdo.


Este habitante da floresta, um demônio 

do bosque, que fulgura nos olhos

a chama dos grandes trágicos,

verseja sob o manto tantálico

de uma obra dispersa e inacabada.


Prorrompeu a onda e o pecado de seu batismo.

Os escravos da lamúria e o choro diante

das muralhas de mármore,

dos açoites do vicário,

das doenças marinhas

e da alucinação

oceânica.


Vamos agora ao vício mais abúlico,

à sedação do sono morfético,

para ver a contemplação

e sua unyo mystica,

seu fervor de anacoreta

sob o domínio de uma papoula.


Vamos ao sonho paradisíaco

e fatal deste canto hipnótico,

navegando mais além

da morte e da vida,

na diabolice da fuga.


Vamos ao mistério

da flor de lótus

e de sua seiva

satânica.


Gustavo Bastos 11/09/2023 


O DOM DA PALAVRA

Alguma palavra 

pode ser jogada, dita,

devorada pelos leões.

A poesia, que tem verso,

tenta escapar da sanha,

como um dom que

se recusa a morrer.


A palavra ofertada, 

desta que vira verso,

acaba demandada

pelo coração,

pelo apelo

da sorte.


Vem toda uma miríade

que compõe e forma

esta obra de arte,

e seu estudo

faz o olhar

se debruçar

no enigma.


A palavra

aqui é arisca,

penetra no peito

das paixões,

mas nos escapa

com a fuga

essencial

de sua natureza,

poética e livre.


Por sua vez,

o tradutor

desta palavra

que vira verso,

o poeta, não 

domina nada

deste sopro

das Musas,

é mais um Hermes

a fazer chegar

ao mundo real

esta mensagem,

este canto,


desde o aedo

lírico e embriagado

de hexâmetros,

em sua lira

divina.


11/09/2023 Gustavo Bastos