PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 4 de dezembro de 2010

O DOCE DOS PRAZERES


O vento se funde ao paraíso dos seres imortais. Quando a penumbra cai, ela se delicia com os sabores do cais. Tenho uma alma que dança no vinho, é o vinho fiel aos meus amores mentirosos e banais. Quando a guerra é declarada no poema, o dia se estende como um fogo terrível de aventuras e febres videntes.

Poesia é uma nau desferida qual golpe fatal no coração que se pinta com barro e cal. O tempo vai de fim em fim até o triste fim da arte. Desejos são impedidos de se realizar por criaturas dementes e cheias de rancor. Meus poemas são doenças em descampados e martirológios em peças de teatro, o sangue que corre na sina do século e a vida morta dos cadáveres e fantasmas subterrâneos. A noite tão amada está distante.

Venho de longa viagem pela loucura, e não quero karma tão terrível para os que me viram em escuridão espiritual, a queda do meu sacrifício é um tempo bruto de cadência juvenil, por tantas obras respaldadas por idiotas, o meu poema é ignorado pela noite desdenhada, não tenho escolha para o universo que coloquei em minha pena, sou um desvario desarmônico com a paisagem.

Não pensem que eu vou morrer por pouca monta, o capítulo dessa história não será feito por imbecis com armas em punho, a montanha da sabedoria é o caos do inverno em meu sedento campo de miséria, ritmo e transcendência, não há rima suficiente para as almas tolas do caminho, sou o desespero na vida escurecida pelo devaneio poético em fontes de paixão. O que carrego pelas ruas é uma vindima diabólica de ternura e picardia, não sou o desejo da morte realizada, mas a sombra em sepultura vazia e sem livramentos.

Posso entender de filosofias péssimas ao fraco intelecto, mas não tenho que elencar todas as maneiras e teorias de felicidade e virtudes, tudo é ilusão de sábios antigos que não viram a fome no grau extremo e nem a sede em suas entranhas insaciáveis, o desejo da morte é um passo adiante para o sinal do abismo, não tem retorno, a vida decadente é uma vinha sutil em suplícios de corpos e almas, o horror da vadiagem é o tempo deste boêmio passageiro que vos fala.

Um poema me cai da penumbra de meus dias:



O que cantar? Sou um fauno.

Nas emboscadas dos ardis

Venho de nuvens carregadas,

As trevas do demônio servil

Vão ressuscitar no delírio.



Quando sonhar com as musas?

A vida não está sonhando

Com uma noite de amor.



Sou um fauno,

E um anjo me disse

Que vou delirar

Numa paixão verdadeira.



Ora, se tenho que viver na paixão indômita não é o meu cadafalso o meu destino, mas uma dama adorável que tem um mar calmo de vinho e licor, não temerei a vida misteriosa que do caos se faz harmonia e amor eterno, sou o poeta que vem da batalha dos amores mortos, sou o poeta que é canto de guerra e paz. Desde sempre o fogo é o mestre da vida, e não há sonho que seja livre tal qual a vida mesma em sua matéria de fatos e conflitos, não sou refém dos derrotados, a vida que anelo no vinho das delícias é a vida do amor imaculado.



04/12/2010 Delírios

(Gustavo Bastos)

Terra Abissal


Frio abissal em minhas têmporas
é sinal de poema,
quando o sinal toca
eu tenho calafrios.

Minha boca seca sedenta
de vinho seco,
o dia anoitece e se acende
uma chama eterna
que vive de zumbidos
e almas mortas.

A terra que vive no campo
está em meu coração gelado.
O tempo que cobre a rotina
é a desdita da poesia
para os que adoram
a derrota como sua
deusa suprema.

Eu tive convulsões em meu
surto paranoide.
A vidência das manhãs
eram pesadelos
em terríveis pinturas.

Os olhos viram tudo,
e se fecharam de medo.
O corpo sentiu o suplício,
e morreu num canto silvestre.

04/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

Safadezas


Quando descanso do vil assassínio
das palavras semivivas,
eu entro em claustro e temor
de botânicas urdiduras,
qual a semente rica de flores
ao vento que vem do lado oculto
dos versos.

Difamado pelos estertores do Diabo,
caí de uma nuvem preta
da fábrica de papéis,
desci da casa dos vidros espatifados
em minhas mãos sangrando,
revi a epopeia das plateias
ávidas de ideias sem época ou lugar,
dancei por entre os ventres
dos nubentes,
e cresci ouvindo Jazz tocar
nos tímpanos de meus trompetes.

Ah, faça-me um favor!
Um boquete depois da bebedeira
não faz mal a um jovem poeta
que não sabe do tear furioso
de suas patroas.
O que esteve escrito nos livros
que ele leu, isto já foi cantado
em suas prosas e mordidas,
não sobrou um níquel de inspiração.

04/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

Canseira Poética


Que fui eu fazer em indômitas paragens
no céu trevoso da barca?
Ondas passaram e me derrubaram.
Ondas se foram com mil ardis
sobre o meu corpo poluído
de pecados.

Aonde mais assistir à minha
queda angélica?
Onde posso morrer de sede
amarrado em todos os membros
suplicando por verdade?

Desde os tempos infantis
de minhas músicas dançantes,
não vi tal pássaro pousar
em meu cérebro inquieto
e pulsante.
E o coração também
inquieto e pulsante
poderia ter morrido
naquele sarau
de poetas desvairados
em sombras do escuro.

Tal falácia poética
é um pouco do que mostro
na minha antologia
de antigas palavras
cansadas.

04/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

Os Segredos da Alma


Do outro lado da memória
dizem morar o esquecimento,
mas que além tão incômodo
é este que esquece
os seus pesares,
e de seus ares
guarda
o que lhe satisfaz.

O selo que marca a sua vida
é a canção mais viva
que habita o seu coração,
mais um poeta
que brinca
de poeta
no abismo
do céu.

Neste lado da memória
está a sua musa tão
delicada e pronta
ao poema
de sua pena
que não tem fronteiras
do que lhe vem
de súbito
ao pensamento.

O poeta é sinuoso
como os segredos
da alma.

04/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

UTOPIA


Primeiro; eu esperei que a alma um dia corresse por correr, desesperada de sandices, sem estar em nada inteira, mas inteira esperando o que há de chegar. Eu li nas esferas um dia, que tudo ao mar dormiria, e que sonhos são feitos do sono que há para se sonhar. Todas as montanhas, areias, ventos, exércitos – aos quais diria serem precipícios – também dormiriam inocentes, como um neném.

Segundo; eu estaria navegando sem culpa no mar do sonho, o qual vive porque é assim que se vive. Depois de tantos sóis e tantas ilhas, eu sentiria o que sentirei por haver sentido, sem culpa e dívida como no mar se sonharia.

Terceiro; como um anjo saindo da reclusão, eu contaria o que vi no descanso dos pássaros, e com asas, tal um Ícaro, engoliria o mundo que é o mundo dos pássaros. Eu diria: o céu azul. Aí sim! A sociedade seria o sonho para se sonhar, e o delírio que há de vir pelo que chamo sonho que não se guarda, mas que vem como fogo e com decisão, abrindo as portas dos corações, desejando todas as almas deste mundo que vive seco.

Quarto; tudo pronto, não se teria ao povo a fome, nem ao chefe as regalias. Não chamo a isto Revolução. A utopia excede o que é real, ela se chama sonho, pois é a palavra mais simples para a vida mais simples. Uns querem muito e se perdem. Os que querem pouco, sonham com o que se pode sonhar, e sonham muito; pois na vida, o que se tem, veio sempre do que um dia foi sonhado. O que espanta mais, é que tudo o que a alma mais quer está como um dia incomum, mas é sempre comum e simples o que se tem por vir. O futuro, digamos, é um celeste campo de esperanças. Logo entrarei no palácio que será uma cabana, numa noite linda em que não se veria o que causa dor. Para esperar o dia, que é a esperança que brilha.

Último; se um dia eu espero o que sempre esperei, só espero o que eu posso ser, e serei o que posso sonhar. Num dia que a alma não será mais desespero, por tudo inteira já tendo chegado o que se houve por esperar. Utopia é esperança! Isto é comum a todos os mortais.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Sonho do Mar


O cálice de vinho
se estende sobre a sombra,
mil degraus levam
até o sol que nasce,
o certo rumo das asas
renasce lindo
como o fogo da vida,
e as casas dos pescadores
se revelam
como palácios
de rubi
frente à estrela da manhã.

Das asas que volteiam
no céu do voo,
a sombra some
e fica um olhar
de águia
invandindo
o mar sonhador.

03/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

HAICAI - XX

A poesia se fecha
no verso que vai ao sucesso
com vento na vela

30/11/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XIX

Pensar é loucura
por quê não há um vil dossiê
que seja uma cura.

30/11/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XVIII

A lira da vida
é um rio vasto em desvario
que acorda sofrida.

30/11/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

HAICAI - XVII

Vou andar por aí nu
com tribos de matos vivos
e quebrar tabu.

30/11/2010 Livro de Haicais
(Gustavo Bastos)

Eudaimonia (Parte I)

(soneto alexandrino)

Do farol da sede estarão todos os ares,
que a sã protérvia já gritou posta ao calor.
Eu desenho forte em tão lépidos altares,
na carta viva da montanha de fulgor.

Onde estou veio o temor jogar nos mares rúbidos
que são ondas, fúrias e demônios com horror
ao metro puro do vigor da pena em lúbricos
desejos que morrem hirtos de fundo olor.

Chega o verão fugaz em corpo delirar
mirações nos vinhos ubíquos salvadores
de sonhos que semeiam a vida em luz solar

Que cheguem tropas ao langor que purifica
libertar a vinha aos vis choques e estertores
da tentação cruel que nos versos vivifica.

30/11/2010 Sonetos da Eternidade
(Gustavo Bastos)

ONTOLOGIA DA PALAVRA


O que há de essência na língua só se diz como palavra. Para que tudo navegue em prosa descabida, violência servil querendo ser todos os xingamentos. A palavra entorpecida também é Ser. E que de um lugar ignorado surge para lavar a retórica, que é palavra que percorre a vala da língua negra.

A palavra é tempo sem física, espaço sem matéria. Os que falam à toa não sabem retomá-la fora do tédio. Pode ser uma degeneração que está nos livros desviados à minha biblioteca. Ah! Os livros. O que dizem? Um dicionário não serve. O que se avizinha à linguagem é o Espírito. Quem o diz? O mistério. Pois em que verme se guardou a hipnose? O inconsciente é metalinguagem, a ontologia da palavra desperta lá. A palavra torna-se e assim nos leva, sendo então algo que se dá entre nós. Daí se tem Ser como palavra, ontologia. Do que está dito se esconde o que é por si um abismo. Não há noite tão longa quanto o silêncio, que a contemplação e a purificação gritam. E que é a palavra senão grito? E que versos grita ela? ... palavra encarnada, aqui ela canta:



In vino véritas! Solo que é queimado, remédios.

Que o gládio protege como a um mártir,

Poeta que se deixa levar, e que o ópio adora.

Como a um filho ele as têm, palavras ocas.



Assassinar também é xingar, e a morte é bela.

A casa luxuosa é uma palavra rica,

Dormir no chão entre os ratos é rimar.



A dança é um modo de liberdade,

O céu é uma esfera que não se traduz.

Tudo está como um verso de antemão roubado.

A palavra é cega, e os corações surdos.

In vino véritas, no profundo que não envelhece.



O que é infinito? Apenas o que não mora aqui. Pois a palavra quer a vida, e não se engana quanto à própria dor. Os poemas devem ser atos de vidência. Os poetas devem ser imortais, tais como os anjos. Não há obra. O que é o fervor? Um caminho vinolento, no sangue que as chagas curam. A quem se dá o dom da palavra? Aos que se isolam da podridão, que a bruxaria (tais missas negras) não atinge. Pois o que matou um bicho para seus ídolos, não sabia que seu destino era calar-se. A palavra o tomou por cadáver, ele não me encara. E eu sou, tal como sempre fui.

Que é Deus? Não o vemos. Nem sabemos se Ele nos odeia. Devemos amar? As palavras amor e ódio são irmãs gêmeas. Quem me dá um Amor? Direi palavras como esta. Amor sem culpa. A ontologia da palavra é esta! Deve-se dizer: “Amar é tudo, o que não está sendo dito”. Por dizer e falar não chegamos ao paraíso. Ele está longe da palavra. Mas, não existe santidade no ódio? O ódio é poderoso, quando nele dorme o amor. Podemos chegar no inferno com ele, sabendo que o céu é logo ali. Não há palavras senão na língua. Mas, em que língua viajar? Vamos domá-la, trazê-la de volta à sua causa, o pensamento. Pois então? O que é pensar? É morder a língua. Toda palavra sai pela culatra. Resisto. O meu silêncio é poderoso. Nirvana. Onde os deuses transam, onde os demônios gozam. Tudo é tantra. O cérebro não existe, e a palavra que sai da língua é uma ilusão, e todos nós adoramos ... por ser a palavra um vício. Quem é vil? O hipócrita. A moda nos diz o que dizer. E toda publicidade é metalinguagem, indicando algo que aqui não está. Nem no corpo e nem na alma. Longe está. E não se aprisiona no tempo. É o que vejo por detrás da imagem, dos sentidos e da razão. Lá não há pensamento. Portanto, a palavra não nos diz nada.

domingo, 28 de novembro de 2010

TOWARDS THE PANTHEON


"Se as portas da percepção se desvelassem, cada coisa apareceria ao homem como é, infinita."
(William Blake)

I

Da Coluna principal o princípio de tudo:

Fez-se Universo, dores lancinantes do parto

e a esférica lembrança

de gritos e perdões,

de gritos e gerações,

tudo ondulando o giro dos mundos,

tudo conspirando no céu sempre eterno

que olhava a terra na qual nós passamos

como rios sinuosos e ignorantes do Absoluto.



Velava a vida o karma, a luta espiritual

com os ferros do presídio

que um dia foi a loucura do sábio.

E que, com a sua memória,

trazia de si o Universo pondo-se

como o indizível Espírito.

O karma era o inferno

das dores lancinantes

da Criação,

a geração da existência

que não é uma simulação demoníaca,

mas uma manifestação de Deus

em sua pureza ocultada

para não nos cegar

com a sua luz também

indizível e impensável.



Da Coluna principal era Deus

o grande mestre do livro da vida.

Na sua onipotência sentenciou

os erros ao seu perdão,

e não se ofendeu

com os sacrifícios

em seu nome.



A Coluna principal

era a nuvem pacata

de um portal

para todas as dimensões,

criações e tempos infinitos

de um labirinto

em que as sete chaves

dos sete céus

são a sua onisciência

de Deus Todo Poderoso.



A Coluna principal nos leva

à compreensão de que

o mundo é perfeição.

O perfeito motor que

sabe nos guiar

ao que é perfeito,

e que na sua transcendência

nos convida

a viver como amantes

do grande Sol universal

que é a chama da vida eterna

na sua onipresença.



II

Caiu do céu a vida eterna,

caiu o Espírito Imortal.

Chega então a nova era.



Novilho no campo, desfez-se em lobo,

devorou o topázio, o diamante,

a pedra-sabão, e devorou

o pátio tomado pelo fogo da paixão

e pelo ódio à Inveja.



Já era então o seu tempo impreciso:

O tempo é impassível, é uma mola de ironia

e perfeito ataque.

Chega então a nova era.



O plano era este:

Contemplar as estações,

contemplar as mutações,

se vingar da morte prematura

e alimentar o porco

de seu próprio feitiço.

O bruxo era Deus,

a bruxaria da Criação dos mundos,

o delírio da carne

e a redenção do Espírito.

Um só foi quem fez isto no que dançamos,

e a peste pela qual passei

foi a vontade eterna

de Deus, e seu silêncio fez

silenciar os azares da sorte.



Caiu do céu o humano,

o imortal virou barro,

e fez-se então a morte.



III

Desde sempre gira o mundo,

o eterno faz tudo girar.

Se apresenta o perfil do aniquilador,

se faz de um tempo possesso

e misterioso,

representando a sua fúria

no teatro bestial dos entes disformes

e nanicos da plateia.



Desde sempre o fogo nasceu,

e a primavera é certa,

o amor é certo,

a glória é certa,

a fumaça se entrega

e o cadáver vira outro capítulo

de uma estória fatal.



A Coluna principal é o tempo,

o quanta da luz em seu arrepio

de terremoto e premonição,

o eixo das visões

de céu, terra e inferno.

O tempo é a delícia da vida,

o tempo é a sabedoria

do plano divino em sua escrita total.



Desde sempre gira o mundo,

quem sabe é a montanha,

sabe o que a terra em sua insânia

ignora, e que, mesmo assim,

deseja como a sua morada

e o seu destino.



IV

Com um globo de fogo fornicava

ávida a serpente,

com a garganta profunda do abismo

e que guardava a sete chaves

o bebê do mestre dândi e dantesco,

bebia o seu sangue nobre

uma dama das águas de sal do mar eterno.

E qual miserável dama teria tal coragem?



Com um sol enorme nas ventas

a enormidade se metamorfoseava

na praia com uma trombeta

retirada do pântano do passado imemorial.

Batia a hora do deleite,

e os cavalos corriam com suas pétalas de égua.



Com um globo de fogo na enormidade da praia,

a querida onda batia no meu dorso

e me triturava os ossos me jogando na areia

de volta ao vivo ardor da sutil eternidade.

A Coluna principal sorria em seu Eterno,

o tempo contemplava a dor futura e a felicidade futura.



Despiu-se a nobre dama

no seu deleite para a fornicação

de dois cadáveres destemidos,

e uma louca paixão a tomou

como o incensário

da certeza amorosa

do Eterno que nasce

e diz ser fogo,

e que pelo fogo se consumirá

até a hora de dizer adeus

e voltar ao céu,

sendo então a dama a dona do panteão

e a enviada pela tropa

para morder a isca

do velho poeta e sábio

que vivia num mar de lágrimas.



V

Vós sabeis a cor do drama,

em tudo girava sangue & fel,

potência & céu,

e noite e dia e tudo de uma vez só

na hora do deleite.



Diz ao Eterno:

Brinquemos de sermos irmãos e camaradas,

e a tua vitória será a minha vitória.



Eis a palavra honrosa: uma rosa de saudade

entre os cicerones incapazes de entendê-la.



Vós sabeis a cor do drama,

já eram noite e dia

irmãos do mundo que gira,

Deus sendo o visitante

das minhas horas de angústia,

pronto a anunciar

a hora do deleite,

do puro deleite

que nos chama à vida doce

de ser apenas humano,

mesmo sabendo-se imortal,

mesmo sabendo-se lenda,

mantendo-se humilde

pela vontade de Deus,

mantendo-se obediente

ao livro da vida,

amando até à plenitude

tudo o que tocar,

e evitando as ciladas

que se apresentam.



A Coluna principal é o recado:

Em direção ao panteão

tartamudeava o breve anão do poço,

e a dama risonha

se deliciava com seus

olhos de amêndoa,

tão esbelta como a flor delirante

que o tempo jogava aos animais

de pouca inteligência e de pouco tato.



Vós sabeis a cor do drama.

A Coluna principal bendiz

o meu destino

de brutal caveira.

Vós sabeis a cor do drama:

escarlate até à morte!



VI

Do penhasco caíram as sete chaves,

eis o holocausto do revólver

que era a armadilha do bobo.

A Coluna principal sorria outra vez,

e a sede do panteão já teria

a sua eleita,

sem bem saber que a vidência

era certa como o livro da vida.



No retorno da fria escalada,

o poeta regurgitava

os seus lobos e os seus pombos,

e os urubus passaram por ele

reverenciando-o.



Do penhasco dizia que era mortal

e capaz de se cortar com várias

unhas e tridentes.

Mas, eis que o mortal era outro,

e que fenecia na tumba de fumaça

e enxofre,

puro holocausto!



A Coluna principal sorria mais uma vez.

Era o labor do inferno

e o remédio para os males

da língua.

Eis o retorno:

A dama era de uma beleza estonteante!

Pude refazer o tempo em que

eu estive com ela,

e se fez então a vidência

do presente tempo,

revisitando o futuro.



A Coluna principal sorria mais uma vez.



VII

Da Coluna principal o princípio de tudo:

A escalada era o tempo em seu frutífero espaço.

Desvelando o mistério se fez

chama verídica e pontilhada de sóis.



Desde sempre gira o mundo,

e o futuro será puro deleite.



Na prece a servir o futuro:

E o futuro será puro deleite.



A Coluna principal sorria mais uma vez.



O princípio e o fim e o meio de tudo

se encontram na fornicação das estrelas.



Preparava-se a viagem interestelar,

preparava-se o campo

para o pranto do reencontro

das almas jovens e fugazes.

A Coluna principal sorria mais uma vez.



E o tempo é isto!

Saberá Deus a hora de retirar o inferno

e refazer o céu no livro da vida,

e dizer que a vida é o gerador do tempo

que nos trará a bênção e a glória e a graça

de tudo ser eterno

com o coração salvo

da angústia abissal,

e pleno de felicidade!



A Coluna principal alcança

finalmente o seu desígnio,

fecham-se as cortinas do palco

e a partir de então

reinará a paz de espírito

que a poesia sonhara,

paz tão buscada

e que o livro da vida

servirá na hora

do puro deleite.

Está escrito.



Gustavo Bastos 29/07/2008