PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ONTOLOGIA DA PALAVRA


O que há de essência na língua só se diz como palavra. Para que tudo navegue em prosa descabida, violência servil querendo ser todos os xingamentos. A palavra entorpecida também é Ser. E que de um lugar ignorado surge para lavar a retórica, que é palavra que percorre a vala da língua negra.

A palavra é tempo sem física, espaço sem matéria. Os que falam à toa não sabem retomá-la fora do tédio. Pode ser uma degeneração que está nos livros desviados à minha biblioteca. Ah! Os livros. O que dizem? Um dicionário não serve. O que se avizinha à linguagem é o Espírito. Quem o diz? O mistério. Pois em que verme se guardou a hipnose? O inconsciente é metalinguagem, a ontologia da palavra desperta lá. A palavra torna-se e assim nos leva, sendo então algo que se dá entre nós. Daí se tem Ser como palavra, ontologia. Do que está dito se esconde o que é por si um abismo. Não há noite tão longa quanto o silêncio, que a contemplação e a purificação gritam. E que é a palavra senão grito? E que versos grita ela? ... palavra encarnada, aqui ela canta:



In vino véritas! Solo que é queimado, remédios.

Que o gládio protege como a um mártir,

Poeta que se deixa levar, e que o ópio adora.

Como a um filho ele as têm, palavras ocas.



Assassinar também é xingar, e a morte é bela.

A casa luxuosa é uma palavra rica,

Dormir no chão entre os ratos é rimar.



A dança é um modo de liberdade,

O céu é uma esfera que não se traduz.

Tudo está como um verso de antemão roubado.

A palavra é cega, e os corações surdos.

In vino véritas, no profundo que não envelhece.



O que é infinito? Apenas o que não mora aqui. Pois a palavra quer a vida, e não se engana quanto à própria dor. Os poemas devem ser atos de vidência. Os poetas devem ser imortais, tais como os anjos. Não há obra. O que é o fervor? Um caminho vinolento, no sangue que as chagas curam. A quem se dá o dom da palavra? Aos que se isolam da podridão, que a bruxaria (tais missas negras) não atinge. Pois o que matou um bicho para seus ídolos, não sabia que seu destino era calar-se. A palavra o tomou por cadáver, ele não me encara. E eu sou, tal como sempre fui.

Que é Deus? Não o vemos. Nem sabemos se Ele nos odeia. Devemos amar? As palavras amor e ódio são irmãs gêmeas. Quem me dá um Amor? Direi palavras como esta. Amor sem culpa. A ontologia da palavra é esta! Deve-se dizer: “Amar é tudo, o que não está sendo dito”. Por dizer e falar não chegamos ao paraíso. Ele está longe da palavra. Mas, não existe santidade no ódio? O ódio é poderoso, quando nele dorme o amor. Podemos chegar no inferno com ele, sabendo que o céu é logo ali. Não há palavras senão na língua. Mas, em que língua viajar? Vamos domá-la, trazê-la de volta à sua causa, o pensamento. Pois então? O que é pensar? É morder a língua. Toda palavra sai pela culatra. Resisto. O meu silêncio é poderoso. Nirvana. Onde os deuses transam, onde os demônios gozam. Tudo é tantra. O cérebro não existe, e a palavra que sai da língua é uma ilusão, e todos nós adoramos ... por ser a palavra um vício. Quem é vil? O hipócrita. A moda nos diz o que dizer. E toda publicidade é metalinguagem, indicando algo que aqui não está. Nem no corpo e nem na alma. Longe está. E não se aprisiona no tempo. É o que vejo por detrás da imagem, dos sentidos e da razão. Lá não há pensamento. Portanto, a palavra não nos diz nada.

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