PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 29 de maio de 2020

A PESTE – PARTE IV

“Outra teoria é a de que o 5G aumenta a velocidade do contágio do coronavírus”

Após o surto do coronavírus se iniciar, também começaram a ser produzidas as teorias da conspiração tanto sobre a origem do vírus, como supostos tratamentos e curas. Circularam na internet diversas teorias, das mais estapafúrdias às mais criativas, e muitos incautos acreditaram nelas. A ideia falsa que circulou com mais força foi a de que o vírus era uma arma biológica criada em laboratório. Também vieram ideias sobre o vírus ter sido feito para controle populacional ou que seria o resultado de operações de espionagem.
Redes sociais como Facebook, Google e Twitter tomaram medidas para coibir a disseminação de desinformação. Em 2 de fevereiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou existir uma epidemia massiva de desinformação sobre o surto, com informações excessivas, entre verdade e mentira, com difícil identificação de quais fontes poderiam ser fidedignas. A OMS afirmou que pela alta procura de informação atualizada, criou uma linha de apoio para desmistificar mitos.
As autoridades de Taiwan disseram que o grupo de trols da internet do Partido dos 50 Centavos estava espalhando notícias falsas para fazer medo na população taiwanesa, e na China circulou teorias de que o vírus teria sido criação da CIA para atingir a China, uma criação artificial dos Estados Unidos.
Por sua vez, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, publicou um tweet em março dizendo que o vírus tinha chegado em Wuhan, sendo introduzido por membros do exército norte-americano que visitaram a cidade em outubro de 2019. E o investigador iraniano Ali Akbar Raefipour disse que o coronavírus era parte de uma guerra híbrida dos Estados Unidos contra o Irã e a China. A Press TV iraniana disse que elementos sionistas tinham desenvolvido uma estirpe mais mortífera de coronavírus contra o Irã.
A disputa de poder entre a China e os Estados Unidos fez com que os países usassem seus laboratórios para criar patógenos para a criação do coronavírus. Esta ideia conspiratória também envolveu o Reino Unido, que produzia drogas radioativas, e levantavam suspeitas de parceria entre americanos e israelenses. A ciência, contudo, indica a origem natural do vírus, devido ao trabalho de seu mapeamento genético que deu esta sinalização.
Outra teoria é a de que o 5G aumenta a velocidade do contágio do coronavírus, uma vez que o 5G opera na frequência de 30 a 300 gigahertz, que não tem energia suficiente para quebrar ligações químicas ou remover elétrons em contato com o tecido humano, o que difere do 4G e do 3G, que utilizam frequências de rádio abaixo de 6 gigahertz.
O intervalo do 5G é chamado de radiação eletromagnética "não ionizante" e pode entrar em contato com a pele. Contudo, esta exposição não é capaz de nos fazer mal, pois a radiação do 5G não penetra a pele ou permite que um vírus faça isso. Portanto, não há evidências de que as radiofrequências 5G causem ou aumentem a disseminação do novo coronavírus.
Em fevereiro deste ano, o consultor de marketing nigeriano Bizzle Osikoya postou um tweet que dizia que a cocaína tinha propriedades curativas, e que poderia curar a pessoa do coronavírus, pois assim como a cocaína afeta a respiração, o batimento cardíaco e também a personalidade e a autoestima, a droga também poderia eliminar o vírus do corpo humano, e aí vieram também teorias de cura que incluíam desde álcool até água sanitária.
O cientista Chandra Wickramasinghe, do ramo da astrobiologia, por sua vez, disse que "é muito provável que o surto repentino do novo coronavírus tenha uma conexão espacial, e a forte localização do vírus na China é o aspecto mais notável disso". Ele ligou a queda de um fragmento de um meteoro no nordeste chinês, em outubro do ano passado, a "uma monocultura de partículas infecciosas do vírus SARS-CoV-2, que teriam sobrevivido no interior do fragmento". Tal teoria não passa de pseudociência.
Segundo a Yonder, uma empresa de inteligência artificial que monitora conversas online, incluindo fake news, as teorias de conspiração saíram de sua área de grupos específicos e restritos e passaram a ficar mais acessíveis e disseminadas no caso do surto de coronavírus, com o mainstream aceitando facilmente teorias da conspiração sobre o vírus. Uma fake news ou teoria da conspiração que levava de seis a oito meses para sair das margens da web para chegar ao centro das comunicações, agora demora apenas de três a 14 dias.
Algumas dessas notícias falsas têm consequências perigosas, como um vídeo do YouTube que descartava as medidas de distanciamento social, e que foi visto mais de 1,9 milhão de vezes, prejudicando medidas de confinamento no combate do contágio do coronavírus. No caso da teoria da conspiração do 5G, por exemplo, na Grã-Bretanha, recentemente houve uma série de ataques a torres de celular.
Em janeiro, o site Russia Today divulgou que o vírus da Covid-19 veio do consumo de sopa de morcego por humanos, mas cientistas não viram a ligação da prática à disseminação do vírus. Outra teoria da conspiração, por sua vez, coloca o coronavírus como uma vacina patenteada em 2015, teoria divulgada pelos apoiadores do movimento QAnon (a favor de Trump) e do movimento antivacinação.
A patente é do instituto Pirbright, do Reino Unido, e a Fundação Bill e Melinda Gates financia o Pirbright Institute, o que levou à criação de outra teoria dizendo que Bill Gates, fundador da Microsoft, financia o coronavírus. Contudo, os fundos que o instituto recebe não se destinam às suas patentes, e a Fundação Gates não financia totalmente o Pirbright.
Dean Koontz é o autor de um livro publicado em 1981 chamado The Eyes of Darkness, uma obra de ficção científica que relata a história de uma mãe que quer saber se o filho morreu mesmo há um ano, ou se está vivo. O livro fala de uma arma biológica chamada Wuhan-400 e Wuhan é o nome da cidade chinesa na qual começou o surto de coronavírus. Em 1981, na edição do livro, o vírus não se chamava Wuhan, mas Gorki-400, numa referência a uma cidade russa. A mudança de nome veio em 2008, sem motivo aparente. Mas não podemos considerar que o livro fez uma previsão, mas se trata de uma coincidência.
Outro livro que prevê o surto de coronavírus se chama End of Days: Predictions and Prophecies about the End of the World (Fim dos Dias: Previsões e profecias sobre o fim do mundo, em tradução livre) e foi co-escrito pela "professora psíquica e espiritual" Sylvia Browne. Publicado em 2008, se pode ler : "Em torno de 2020 uma doença grave semelhante a uma pneumonia vai espalhar-se pelo globo, atacando os pulmões e os brônquios e resistindo a todos os tratamentos conhecidos".

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.