PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 12 de março de 2014

FRAGMENTO POMPOSO

Absinto absurdo
terra arrasada
fundoscopia
cega,
eu ri muito alto
no dia desfigurado,
minha carcaça e meu dorso
exumados,
farta colheita de paranoia,
farsa refeita de paranoia,
carta não escrita
de pura paranoia,
síndromes deslimitadas,
frases fragmentos facas
outro dia outro pulo do dia
vaga mimética de mar
mar suntuoso baluarte oceânico
com os poemas
o futuro maravilhoso
a saudosa hora do fim
o enfim nunca alcançado
o segredo de tudo
em flechada
como o corpo que estremece
no êxtase com a paz mística
de flores azuis
num campo violáceo
e o leite caudaloso
do rio de Caronte.

12/03/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

TREMORES DE FRIO

O ponto frio do pentagrama está de ponta cabeça,
fecho com a espada um ponto vivo de ponta dentro,
a cabeça, de ponta a ponta, dá um nó cego.

Vesti o meu blazer do melhor estilo,
sem papas na língua,
desembocadura de trabalho,
o mundo viril do salário.

De ponta a ponta a crise bipolar,
de ponta cabeça a crise conjugal.
Como fada e duende, como santa e beberrão,
oh, mundo cruel! Já me basta
todas as fugitivas,
já me tens em mim coração de
salto no escuro?

Fode como se fode na praia,
um verso explode de raiva.

Cada um com um gesto específico,
cada outro com sua enigmática figura.
Cada qual um gesto universal,
do geral ao uno e ao particular,
da petição de princípio
se faz ponta que volta
em eterno retorno,
como um poema que lateja
nas mãos trêmulas e quentes.

Outrossim, outra época.
Já fiz muita prosa furiosa.
É como o olho quando gira
e depois volta ao corpo,
como num transe hipnótico
 de cannabis,
como a mística de penumbra
do mundo vasto do LSD.

Ah, a carne santa!
Vejo mesmerizado,
outro sim vejo novo dia,
assim, de ponta ao fogo,
clareia o dia em fundo vermelho,
e o poema ricocheteia na paisagem,
e os jograis sussurram
blasfêmias risonhas, enquanto
faunos pulam as guirlandas
numa festa do vinho.

12/03/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)


domingo, 9 de março de 2014

LIBERDADE FORA

Peço-te ajuda, não sei o limite,
se fosse o limite uma estrela,
saberia.

Não, mas não é uma estrela,
o limite fundamenta a cegueira,
um deserto de zombarias
é o livro poluído
de seus mistérios,
eu, num canto puído,
algures de meus alhures,
vejo o limite imprevisto.

Peço-te um poema:
meu limite explodiu,
cratera de um tanto sol,
fratura de carne estimulada
por vitaminas
que o verso
soçobra
em  nau
ludibriada,
vai e corre o mantema,
metamorfoseia,
de poeta vá à dança,
qual o cerco do continente
quando se abre
a cortina de um palco
ao vermelho da saída.

09/03/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

MELODIA DEAMBULADA

Páginas vistas, tal ócio primeiro é o fundo da ligadura,
corre o meu vento, ectoplasmas escorrem de meu nariz.
Vulgo poeta, o crânio da hora malvada é o poema.

Ligo ao atendente, retiro um pedido,
o som estalado de meus dedos são a mão
misteriosa do meu ocre na parede,
vejo uma sombra na luz apagada,
socorram-me do fundo do abismo,
levem-me ao seu líder.

Outra coisa:
a luz furiosa é o préstito,
como na odisseia,
como nos mares.

Tal ócio primeiro de tudo:
o poema calcula ritos geométricos,
o poema simula mundos concêntricos,
gira o topázio gigante como uma bola,
os cristais de sândalo
fortificam as estruturas,
o olho viril da melodia
faz as suas.

09/03/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)




BUSCAS DE VERÃO

No abajur fica o livro não lido,
tento lembrar do telefone,
perdi o número,
perdi o relógio,
encontrei uma dedicatória,
chorei e ri,
no luto e na guerra
a selva de si.

Como o rito, a saudade espanca,
flor trevas socorro de fauna,
litros de paixões arrebatadas,
flor flora paranormal,
eu descanso qual caixa preta,
lá no fundo o dia amanhecido,
lá no fundo a noite anoitecida.

Peço ao vento:
sopra meu coração de gelo
num altar,
e que o sol venha logo,
como um verão inesquecível.

08/03/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)

ENCANTAMENTO DAS RUAS

Pesco no samba letra de bamba:
beijo, um sucinto desejo.
Quando o morro, a cabrocha canta.
Vive o pilar dos amores.

Eu ando meio tonto,
deveras bicudo,
como um  torto de olho sem foco,
anjo torto e bêbado,
qual a estrela que foge.

No tudo do enredo mora o segredo:
passo passarela passarada
passa meu amor o vulgo nada.

Pesco samba sem retina
só pompa de ouvido
tiro no hospício
lugar de vagabundo

pesco o poema, samba de fenda,
na fissura o entrave liga e frio,
na pintura da rua João do Rio,
no asfalto nariz sangrando,
lá no alto o Cristo,
corcovado de um tanto
 de vista infinita,
o platô é o pensamento
resolvido.

08/03/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)