PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 9 de maio de 2024

STEPHEN BANNON E O NEOFASCISMO - FINAL

“Bannon traçou a estratégia política agressiva de destruição do Estado administrativo”


Com o Breitbart, através da atuação de Stephen Bannon, o radicalismo político, um paroxismo do que a deformidade de debates enviesados podem causar, ganhou uma escala industrial. O uso das mídias sociais, por sua vez, deu novo campo de entrada para ideologias extremas. O que se herdou historicamente de movimentos extremistas e radicais, em eras analógicas, como a do rádio, agora se expandia com muito mais velocidade e capilaridade com o advento da internet e do leito em que começou a correr tais orquestrações de política radical, as redes sociais. 

Por sua vez, Stephen Bannon, com a sua atuação na Cambridge Analytica, foi um dos responsáveis principais do ganho de escala do radicalismo político no mundo, com uma capacidade de persuasão e manipulação que levou a fenômenos políticos como a eleição de Trump e a aprovação do Brexit. Outro ponto agravante da influência que teve a Cambridge Analytica na política mundial foi o fato de que havia com ela dados de cerca de 187 milhões de contas do Facebook. 

A guerra política também era uma guerra mental, isto é, uma guerra de ocupação das mentes vulneráveis para o diapasão dos interesses de organizações extremistas. Os escritórios de Londres da empresa eram tomados por russos entrando, com políticos e empresários, e os que tinham associação também com os chamados oligarcas russos, o que representava transações financeiras e alocação de dinheiro em lugares incógnitos. 

Neste jogo de influências político-financeiras também havia uma atuação de escudo para o SCL Group (Strategic Communication Laboratories), empreiteira militar britânica, e assim era uma das formas de operação da Cambridge Analytica, com a guerra mental citada, usando mentes desavisadas, mal informadas e suscetíveis, para a popularização cada vez maior do radicalismo político.

As eleições dos EUA, por sua vez, tinham a atuação de Robert Mercer, usando o fato da Cambridge Analytica ser uma empresa privada, para quebrar qualquer restrição de financiamento de campanha, favorecendo os interesses particulares deste grupo de políticos e empresários próximos do radicalismo político, e que fomentavam de diversas formas, sobretudo no período eleitoral, esta sanha radical e fanática.

Bannon traçou a estratégia política agressiva de destruição do Estado administrativo, e uma figura outsider e disruptiva como a de Donald Trump servia a este objetivo, o que demonstrou capacidade de avanço com o primeiro passo de manietar as lideranças tradicionais do Partido Republicano, e colocá-lo de joelhos para o apoio da campanha de Trump. Stephen Bannon pretendia, segundo as suas palavras, “inundar a zona de merda”.

A ideologia disruptiva via Trump, Bannon, Mercer etc, com a atuação da Cambridge Analytica e da  Breitbart, por sua vez, era o viés norte-americano de uma direita republicana mais extrema, e que tinha também estrangeiros interessados, sobretudo quando se levantava as fontes de financiamento que vinha de atores geopolíticos como a China, a Rússia, além de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, por exemplo, o que representava um cartel financeiro de interesse global. 

O fenômeno de aceleração do radicalismo político, do autoritarismo global, tanto demandava muito dinheiro como se conseguia tal dinheiro, com parcerias, dentre outras, de uma monarquia do Golfo ou de oligarcas russos. Com uma miríade de técnicas de lavagem cerebral, através do uso das redes sociais, a atuação destes bandoleiros virtuais ganhou corpo e popularidade, com o mundo inventado das fake news e das teorias de conspiração interferindo tanto na compreensão do mundo real como infringindo consequências neste mesmo mundo real. 

A chamada massa de manobra, que formava um exército voluntário do radicalismo político, favorecia os interesses desses políticos e empresários, e a ideologia disruptiva, este elemento destruidor da democracia liberal, dos valores iluministas consagrados com o avanço da ciência e da razão conceitual e crítica, estavam sendo abalados por este viés medievo e de tons pré-iluministas.

Com o radicalismo político renovado pelas redes sociais, por sua vez, se buscava a demolição do edifício moderno em que se edificou o republicanismo, o esclarecimento civil, e toda uma gama de valores que tinham superado as trevas da crendice. Com o uso das redes sociais pelo radicalismo político, estas obscuridades agora voltavam, como uma espécie de refluxo histórico, com as mistificações de grupos como os de Stephen Bannon e cia, operando esta radicalização que tentava realizar a descontinuação da Modernidade. Por fim, o que se entende por Bannon, sobretudo, é esta sua atuação política nefasta, como uma arma de destruição em massa.


(fim)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/stephen-bannon-e-o-neofascismo-final