PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

POEMA CONTEMPORÂNEO

POEMA CONTEMPORÂNEO




Tudo posso quando estou sóbrio. Devagar a besta-fera aparece para desmistificar as campânulas morticínios e ardores. Meu caro amigo, tu esfacelaste a melhor de minhas canções. Eu praguejo tuas homicidas expectativas num arroubo de prosélitos. Nunca uma cara imberbe como a minha teve a glória humana tão rebuscada e enfadonha. Triste é tecer o ritmo nesta nau desnaturada, como se através do espelho eu fosse um ninguém que pensa come e vomita. Ora, neste corpo que eu tenho sobram estrias e hemorragias. Sou a doença destemida dos fervores do ferro e do antiácido de meus gastroritmos e fobias. Lá na nuvem de terror tonitruante espero a bela dama, tal como corriqueira gozada de coxas e vaginas. Eu tenho que dizer ao meu estio na narrativa de um doidivanas que eu pequei, mas não por não temer a morte, mas sim por puro engano premeditado, uma séria convulsão me tomou de epilepsia, eu tinha no vagar das nuvens a profilaxia deste impudico sistema de lavagens estomacais. Pois do ventre à boca sobram estrumes de nova vida. Casto e derrotado, o frei perdeu as suas lembranças num petardo poético de sexolatria. Perdeu seu costume de pedir a Deus que o receba em seu seio, pois já era posta a sua fogueira de desejo contra os desígnios cristãos, ou contra a velha hipocrisia eclesiástica numa explosão secular. Memória é o que lhe traz consigo na mesma solidão de perdidos e fulgores desazados. Troças e chistes são a bênção de seu escapulário. Voltando-me à mesa do breakfast, meus olhos semeiam fome e desordem, depois we have lunch and after that we fuck and laugh, this is my happiness e hora de brindar. My silence diz primeiro o que eu devo esquecer, desde as minhas vergonhas ocultas até os ferrolhos de minha dor trancada. Era tudo o que eu disse diante de todas as controvérsias, eu amo a polêmica com as parcas trágicas de um trovador desmaiando em versos e sendo o lume de minhas explanações. Sofista é o que és, puto imoral, bosta revirada, veado disforme, comedor de obesas, poeta do frenesi e da contumélia. Certo ainda é o meu passaporte para o inferno, ó cidade do bacanal, nada te sobra em fervor de Sodoma! Ora, quanto tenho de desejo pelas ancas agrupadas como despojos e o dia infinito de sortilégios atenazados para a tortura do insciente! Levo com minhas proeminências a fama de um capataz e verdugo, tão morto que fede a álcool e vinagre, todas as misérias formam um alvo de raízes pertinazes em suas terras desbravadas, sobrando ao verme de minhas estultícias um mercado de aberrações pós-modernas, como Satã e suas diabruras, como a guerra com os several corpses like dead souls. Todo o esquema com que se constróem as maquinações da hipocrisia são como sonhos magalomaníacos de um tarado com o pau em riste, neste mundo não sobra ao poema sequer uma pouca vantagem, pois de que serve o poeta se lhe vem o desdém e o ostracismo? Não resta de fato nem um pouco de frescor em sua juventude narcotizada, maconheiros que alimentam a máquina da morte que o drugs don`t work dos traficantes almejam. Sem falar dos que já morreram por motivo torpe, esse é o mundo, meus caros, uma dose sempre cai bem para quem não quer nada mais que sonhar longe da angústia dos que permanecem sóbrios. Este é o rock`n`roll de uma tragédia apocalíptica, sinfonia do caos e da desordem, toda uma técnica de dominação foucaltiana de territórios demarcados por forças em suas microvilosidades, tudo o que o poeta sóbrio vê e por isso se desespera sem o alento de uma paz cosmopolita. Nós somos os filhos contemporâneos numa barca sem rumo. Hasta la victoria siempre!



02/08/2009 Gustavo Bastos