PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

PENSAMENTOS DE CARNAVAL

Mixórdia aos sete ventos
dos blocos pelas ruas,
uma festa pagã de Momo
e suas prostitutas.

Devaneio, o ópio do povo
é a folia, o poema é a vida
nesta azul silente canção.

Vou de bunda em bunda
sem olhar para cima.
A multidão cheira a suor.

Da varanda vejo velhas rabugentas
jogando cerveja na minha cara.
Queria que fosse domingo ou
sexta, talvez ninguém me queira
nem na sexta e nem no bloco,
a vida folgazã não tem muito
futuro,
a vida atabalhoada é mais útil
ao sistema que regurgita
suas engrenagens
entediadas.

Meu dinheiro acabou,
comi carne vermelha no rodízio
até morrer de febre
de noite, não tinha paciência mais
para virar até de manhã
numa ressaca fodida.

11/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

LÍRICA DO TEMPO ABSOLUTO

Durante a vanglória inaudita
dos sultões, um céu assustou
os vendilhões do templo.
Gota a gota chuvas de dosséis
no arauto da noite de campanhas
armadas e vistosas flamas
clamavam por justiça.

De fleuma vive o frio,
minha lembrança edulcorada
revelava a febre de um patíbulo,
donde se viam ao outro horizonte
retábulos de séculos perdidos,
arte psicografada de sonhos têxteis,
vigor e galhardia de têmperas cáusticas,
roendo azaleias como seres carnívoros
de floriculturas,
naves socorristas dos trovadores
da paixão vingavam
a morte da violeta,
e uma rosa branca nascia
depois do apocalipse.

Era um diamante, onde o sol se refletia
em ângulos anti-escuridão.
Donde se tinha a fonte de ondinas
com suas panaceias de canções,
dos homens naufragados
pelos sonhos líquidos,
oceânica paixão de veraneios
onde o ar é puro
e a poesia desvendada.

Levo imagens sacras
ao vinho de libélulas
tintas de elegias,
doirando ao sol
luas azuladas
de ventanias,
onde os poetas
sorriam e nunca mais
voltavam.

Sonhos se esvaíam com eles,
e o silêncio da bruma
soava como um brado
de vida ou morte.

11/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O SUBLIME E O GROTESCO

Ventos de esbórnia
no verão.
As flores são sentimentos
de mulheres nuas,
a burocracia do tédio
faz pagar o pecado
por ser louco,
a vida contada nas fábulas
vale uma dose de heroína
e uma vodka nas têmporas,
atravessar o mar vermelho
da China é uma loucura
contemplativa de Lao-Tsé.

Sei dos sentidos buscados
por filosofias, ciências
e religiões.
O cético pirrônico se ri
em segredo.
O absoluto único que vejo
é o caos.
A única resposta plausível
de tudo é a conflagração
universal dos anátemas.

Morre empalado o mártir
do poema-criatura,
dá um soco na cara
depois de beber sacrários,
violento e impune
canta loas à sofreguidão,
e uma paz azul desce dos céus.

11/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

NADA DE NADA

Este amanhã me cansa.
Viver de tanto amanhã,
talvez ou depois
me cansa a esperança.
Este talvez amanhã
que vem depois
me atormenta.
Este amanhã que não vem
de hoje e que nem será
ontem, um talvez assim
que fica para se ver,
bocejos na janela
que possam esperar,
e esperando vivo assim
para depois talvez ...
e fica para amanhã
o sonho que tive ontem ...
e o talvez fica sabendo de nada
outra vez, pois amanhã ou depois
estarei lá, talvez ...

11/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O NÁUFRAGO CÉTICO

Que mais da metafísica senão o nada?
Que mais do céu senão as nuvens?
De pantomimas nasce o engodo,
de patuscadas tudo vem à baila!

Que mais de alma senão o desejo carnal?
Que mais de mitos senão a crendice?
De anjos se voa alto, tão alto
quanto os problemas da Terra!

De onde os conceitos retiram a seiva
bruta? Que mais de filosofias
senão as ideias puras kantianas?
Onde mais dialéticas hegelianas
senão o sonho da "Ideia"?
Onde mais solução final
senão no karma e no tempo?

Das ondas se vai ao mar,
nas tavernas se tem a poesia,
no delírio o mais arguto augúrio.

Que mais do vazio senão
o dogma ferrenho
de uma certeza assassina?
Que mais de religiões
senão facínoras?

Sim, sou poeta, e falo de tudo
com o coração náufrago
das canções.

11/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

DO PASSADO QUE SE FOI

O canto do concreto absurdo é surdo.
Toleimas de uma família ignóbil,
senda de mães ignaras,
todo o tédio na minha alma,
às favas!

Não sou do mistério o meu segredo absoluto.
Não grito de madrugada
por pouca monta.
Não quero morrer sem ter nada.
Não quero nada sem ter tudo.
E do nada esta casa está imunda.
E de casa em casa nada muda!

Caçar, esmagar a grama, fumar sobretudo!
Aonde foi este sonho, Rimbaud?
De quando éramos jovens
e fazíamos sucesso
com as mulheres,
de quando éramos esbeltos
e desejados!
Não sobrou um vintém
para contar a alguém.

Estou em crise, a palavra caos
me persegue,
sou um obsediado
da poesia,
tanta coisa para viver,
e a vontade de morrer
que é o pecado do instante.

10/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

O SONHO DO IDIOTA

O coração de um homem
é um oceano enigmático.
Vai a dor e o prazer,
a carne e a alma,
coração de fel e esperança!

O que trazes da mentira?
Vai o sonho vário, vai o canto
solitário.
Na perdição da penumbra,
no umbral do desespero,
na flor da vida
o seu vinho,
na cor da vida
a semente abortada.

Quanto de mim tu queres
para o meu desencanto?
Quanto de mim tu queres
para o que não sou?

Sou um poeta otário,
sou feito de idiota
e idiota eu sou.

Sou um poeta otário,
mas se fosse idiota de verdade
não teria aqui rimado.

10/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

POEMA DO NÃO-SABER

Não sei. Não sei se me visto
e saio ou se fico nu e caio.
Não sei se faço de um jeito
ou de outra maneira.
Não sei se vou ficar tranquilo
ou me jogar da janela.

Não sei isso, não sei aquilo.
Passa o tempo e nunca sei
se é o momento certo.
Passam as pessoas e não sei
quem amar ou não amar.

Não sei se estudo coisas,
não sei dessas coisas.

Não sei se escrevo cartas
a ninguém ou a alguém.

Não sei se acredito em Deus
ou em deuses.
Não sei de nada de tudo que há.

Não sei como termino o poema
e não sei se ele já estava pronto.
Não sei se publico as lástimas
do dia que um dia foi um sonho.

Não sei. Não sei. Não sei.
Tudo isto me amola,
e não sei que horas são.

10/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)