PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 21 de maio de 2011

Fugindo do Nada

O sinal está fechado,
vermelho é o espaço da chama,
vermelho do fogo queimando
sensações e séculos.

O mundo corre qual rito fugidio.
Todas as notícias correm
pela rua desamparada,
o flash da noite
é um terrível sonho de horror.

Eu não lhes digo sobre
a paz no mundo,
tudo se ilumina de poesia
aos poetas fardados
de honra, júbilo e torrentes.

Eu caio em mim numa nuvem
de númeno por entre
portas psicodélicas.

A percepção do meu próprio
mundo muda mutante
como dor parto e trevas.

O poeta se nega ao dia feliz
da hipocrisia moral
como um rebelde
com ares de intelectual.
Sobra somente a vertigem
na noite calada de frio.

21/05/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O ÚLTIMO MALDITO

Para os meus irmãos de estrada, uma noite, andanças pelas ruas perfumadas de solidão, algo trágico, destino que não comove, poeta livre e repleto de paixões, vida de mentira, para morrer sem ver a sua obra maldita, sendo maldito, de maldita dor.

Não verão o parque ensolarado, pois angústia gera poesia. Mutilado foi o caderno, depois da chuva que sangrava. Inferno de todos os pecados, vultos de estupros.

Poeta que vive a madrugada, não existe alegria alguma para uma arte que já nasce degenerada. Derrubados na bebedeira, meus amigos mais estúpidos. O monstro que gritou em minhas loucuras era o terror, um sofrimento infinito, o suicídio.

Inspiração do tiro, um peito rasgado vale a vida ... não resistiria por muito tempo, o poeta que morre na vitrine.

Para verem o grande circo dos palhaços da tristeza, todos grandes bobos, os feitiços vertiam o sangue que depois eles beberiam. Era o último de uma raça. Não haveria palco mais esdrúxulo, zombaria mais cretina. Poeta maldito! Suas letras ainda viveriam. Tudo derramado, a força e o mistério, para os apreciadores de tal destino.

Não existem mais deuses, nem demônios. Tudo se resumia numa grande besteira, a vida e a sorte desejavam a morte, seca e hedionda.

Aquele poeta dançou em homenagem à desgraça humana, rejeitou as flores amargas por considerá-las daninhas, e nos deu o sentido de sua agonia. Não havia mensagem, só um uivo, o verso expirava. Não haveria mais cantorias, somente um luto, somente o silêncio, era o último maldito.

Infortúnio, deste que morreu. É a maldição dos anjos bestiais.

Pobre devaneio, nas ruas escuras se vê um poeta cego, catando indícios de sua própria vida, tinha sido nobre em alguma época remota, mas escolheu a revolta, devorado pelos vermes da alucinação, desenganado de todas as ilusões, ignorante dos fatos, alienado e censurado. Não há mais como brigar, ele morde as sombras, sente o frio, faz da ira um vinho forte.

Esqueceu para sempre de tudo. O poeta desiste, enfim. Está morto, e tudo morreu com ele.

Ó selvagens campos! É um sobrevivente que deitou no túmulo, mas vive!

Meu verso se contradiz, não houve atentado. É uma obra imaginária esta que diz que um poeta é levado a sério. Não, ninguém morreu. Aliás, era um bicho queimando na vingança, foi para o inferno. E o maldito vive, e tudo vive com ele.

BELEZAS ESTUPENDAS

Vejo o futuro nas histórias trágicas, no sangue de lenhas queimadas, que os corações cantavam em fúria, pelos vícios que me tomavam nos desertos. As mazelas destas vias de enxofre em caos, que resistiam em ócios. Nas trevas que fugiam das luzes, e nas mortes demarcadas entre as terras que abandonei. Ventos de karmas e delírios, vozes do meu desapego, que brotavam ritmos dos lírios de fazendas iluminadas de frondosas mutilações.

Caindo nos versos de puritanas estupradas por mentirosos, açoitadas em suas virgens florestas, via descrentes num mar de vigor perdido. Vejo elas nestes delírios românticos, todas acorrentadas ao meu falo, sedentas de toda miséria que deixei aos renascidos. Noite de poucas luzes. Pois em venerações e idolatrias transfiguradas por reinos decaídos, montavam nos meus calabouços, como um temor que ardia em febres de pecadores.

Lembro das armadilhas de Satanás, com suas vaginas jorrando águas de mortalhas. E Jesus acreditando que tudo era um resto de concertos leves em uma eterna fogueira, em óperas que ficavam engasgadas no descampado de viagens estupefatas, em todas as carnes que lutavam por uma última unção. Sacerdotes, todos pecadores! Venham à nota de inferno deste mar! Inferno de farturas post-mortem. Que o latim dos demônios gritou, e que todos amavam.

Vejam! Jesus voltou colérico! Como uma bela volta de serpentes, morreriam os seus filhos mais belos. Todos crucificados pela injustiça. Vejam! Com a fé tudo é grandioso! Réquiem deste mar salgado, que engole a saudade do paraíso. Luz eterna deste soldado, cruz do Espírito. Venha socorrer este poeta que te blasfemou. Venha salvar o meu sangue! É o tédio a morada dos pequenos vilões. Me leve deste cálice, deste ardor que em tudo me corrompe. Venha com seus anjos, os cavaleiros do apocalipse, ver o fim da escuridão, levando-me das fúrias, levando-me de toda morte. Todo crente vive pelo seu sangue, pelo seu vinho. Ande sobre os estúpidos, leve-me do fogo. Mártires, profetas! Desejo que eu vi, de cóleras e ventos. Da vida que urge em velocidade, pelos cânticos deste pássaro vencido, que se rende a Ti.

O ENIGMA DO OLHO

Numa queda repentina, dou às formas toda a perfeição submersa sob alguns versos, os retratos mortos que estão debaixo das ruas.

As maravilhas cá reluzem, dores como o sol, feras e ardis de encantos efêmeros.

Sinto o que é a pobreza, o que é o escândalo, e a forçamotriz da urdidura.

Eu nem me faço poeta, nem como se fosse poeta, nem como seria algum escritor. As visões que escapam são poemas, submersas canções do espírito. O riso estimula um tanto de pecado, outras vidas arrasadas.

Numa queda repentina, o delírio cresce até eu ser louco, louco aventureiro, louco refém das maravilhas, das mil incandescências do espírito. Quero dizer num instante todo o Eterno.

Daí se vão versos:



Os trunfos, as mazelas e os mistérios,

São a carta queimada do enigma.

A palavra se acorrenta ao verbo,

A areia é o sono do sol,

Eu deito sob o sol e sobre a areia.



Sei do mar. Sei dos ventos.

Só ignoro o coração do outro,

Que a mim entristece.

É o estalo de uma canção perdida.

A brava canção doente terminal.



As doenças são frascos de veneno.

Estou roxo e asfixiado.

Desta queda eu vi areia e sol,

Eu sou pobre – sou só vento.

Todo o meu ouro é pobre,

Todo o meu ouro.



Eu vejo cidades dentro de máquinas.

Eu vejo camponeses, pastores e pobres.

O enigma é hostil à ciência.

Fragrâncias do nada, em todo o pasto.

Pastores de ovelhas negras

Se comprazem com a perdição.

Eu caio no sono, um inferno silencioso.

Palavra efêmera.

Estive diante da Esfinge.

A forçamotriz é a fraqueza dos sonhos.



Eu me entrego – o enigma não importa!

O olho maçônico é Inferno.

A pirâmide é Inferno.

A pobreza é Inferno.

O olho de Osíris, meu devaneio.

Eu me calo. Eu me mato.

(É a peste do Faraó).

terça-feira, 17 de maio de 2011

ROSA BRANCA DOS MEUS SONHOS

Rosa branca que passa nos meus
olhos lacrimejantes.
Foste e és nua carne
de meu pendor,
é a mesma mulher
diluída em poesia
com o fim da paisagem.

A poesia se estende pelo espaço,
a dança se pinta numa escultura
de versos,
meus olhos lacrimejantes
vêem a rosa branca
qual desfalecida
mulher que vinga
meus sentidos
num torpor
do corpo eterno
que desce do céu
com a luz desejada
que o pensamento desnuda.

Rosa branca, que lástima
é perder-te entre os sonhos
que não são meus.
Pois estou só em minha alma,
perdido pelo tempo
que também se esvai
pela vida afora
dos amores carnais.

17/05/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)