PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O ÚLTIMO MALDITO

Para os meus irmãos de estrada, uma noite, andanças pelas ruas perfumadas de solidão, algo trágico, destino que não comove, poeta livre e repleto de paixões, vida de mentira, para morrer sem ver a sua obra maldita, sendo maldito, de maldita dor.

Não verão o parque ensolarado, pois angústia gera poesia. Mutilado foi o caderno, depois da chuva que sangrava. Inferno de todos os pecados, vultos de estupros.

Poeta que vive a madrugada, não existe alegria alguma para uma arte que já nasce degenerada. Derrubados na bebedeira, meus amigos mais estúpidos. O monstro que gritou em minhas loucuras era o terror, um sofrimento infinito, o suicídio.

Inspiração do tiro, um peito rasgado vale a vida ... não resistiria por muito tempo, o poeta que morre na vitrine.

Para verem o grande circo dos palhaços da tristeza, todos grandes bobos, os feitiços vertiam o sangue que depois eles beberiam. Era o último de uma raça. Não haveria palco mais esdrúxulo, zombaria mais cretina. Poeta maldito! Suas letras ainda viveriam. Tudo derramado, a força e o mistério, para os apreciadores de tal destino.

Não existem mais deuses, nem demônios. Tudo se resumia numa grande besteira, a vida e a sorte desejavam a morte, seca e hedionda.

Aquele poeta dançou em homenagem à desgraça humana, rejeitou as flores amargas por considerá-las daninhas, e nos deu o sentido de sua agonia. Não havia mensagem, só um uivo, o verso expirava. Não haveria mais cantorias, somente um luto, somente o silêncio, era o último maldito.

Infortúnio, deste que morreu. É a maldição dos anjos bestiais.

Pobre devaneio, nas ruas escuras se vê um poeta cego, catando indícios de sua própria vida, tinha sido nobre em alguma época remota, mas escolheu a revolta, devorado pelos vermes da alucinação, desenganado de todas as ilusões, ignorante dos fatos, alienado e censurado. Não há mais como brigar, ele morde as sombras, sente o frio, faz da ira um vinho forte.

Esqueceu para sempre de tudo. O poeta desiste, enfim. Está morto, e tudo morreu com ele.

Ó selvagens campos! É um sobrevivente que deitou no túmulo, mas vive!

Meu verso se contradiz, não houve atentado. É uma obra imaginária esta que diz que um poeta é levado a sério. Não, ninguém morreu. Aliás, era um bicho queimando na vingança, foi para o inferno. E o maldito vive, e tudo vive com ele.

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