PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 28 de novembro de 2010

TOWARDS THE PANTHEON


"Se as portas da percepção se desvelassem, cada coisa apareceria ao homem como é, infinita."
(William Blake)

I

Da Coluna principal o princípio de tudo:

Fez-se Universo, dores lancinantes do parto

e a esférica lembrança

de gritos e perdões,

de gritos e gerações,

tudo ondulando o giro dos mundos,

tudo conspirando no céu sempre eterno

que olhava a terra na qual nós passamos

como rios sinuosos e ignorantes do Absoluto.



Velava a vida o karma, a luta espiritual

com os ferros do presídio

que um dia foi a loucura do sábio.

E que, com a sua memória,

trazia de si o Universo pondo-se

como o indizível Espírito.

O karma era o inferno

das dores lancinantes

da Criação,

a geração da existência

que não é uma simulação demoníaca,

mas uma manifestação de Deus

em sua pureza ocultada

para não nos cegar

com a sua luz também

indizível e impensável.



Da Coluna principal era Deus

o grande mestre do livro da vida.

Na sua onipotência sentenciou

os erros ao seu perdão,

e não se ofendeu

com os sacrifícios

em seu nome.



A Coluna principal

era a nuvem pacata

de um portal

para todas as dimensões,

criações e tempos infinitos

de um labirinto

em que as sete chaves

dos sete céus

são a sua onisciência

de Deus Todo Poderoso.



A Coluna principal nos leva

à compreensão de que

o mundo é perfeição.

O perfeito motor que

sabe nos guiar

ao que é perfeito,

e que na sua transcendência

nos convida

a viver como amantes

do grande Sol universal

que é a chama da vida eterna

na sua onipresença.



II

Caiu do céu a vida eterna,

caiu o Espírito Imortal.

Chega então a nova era.



Novilho no campo, desfez-se em lobo,

devorou o topázio, o diamante,

a pedra-sabão, e devorou

o pátio tomado pelo fogo da paixão

e pelo ódio à Inveja.



Já era então o seu tempo impreciso:

O tempo é impassível, é uma mola de ironia

e perfeito ataque.

Chega então a nova era.



O plano era este:

Contemplar as estações,

contemplar as mutações,

se vingar da morte prematura

e alimentar o porco

de seu próprio feitiço.

O bruxo era Deus,

a bruxaria da Criação dos mundos,

o delírio da carne

e a redenção do Espírito.

Um só foi quem fez isto no que dançamos,

e a peste pela qual passei

foi a vontade eterna

de Deus, e seu silêncio fez

silenciar os azares da sorte.



Caiu do céu o humano,

o imortal virou barro,

e fez-se então a morte.



III

Desde sempre gira o mundo,

o eterno faz tudo girar.

Se apresenta o perfil do aniquilador,

se faz de um tempo possesso

e misterioso,

representando a sua fúria

no teatro bestial dos entes disformes

e nanicos da plateia.



Desde sempre o fogo nasceu,

e a primavera é certa,

o amor é certo,

a glória é certa,

a fumaça se entrega

e o cadáver vira outro capítulo

de uma estória fatal.



A Coluna principal é o tempo,

o quanta da luz em seu arrepio

de terremoto e premonição,

o eixo das visões

de céu, terra e inferno.

O tempo é a delícia da vida,

o tempo é a sabedoria

do plano divino em sua escrita total.



Desde sempre gira o mundo,

quem sabe é a montanha,

sabe o que a terra em sua insânia

ignora, e que, mesmo assim,

deseja como a sua morada

e o seu destino.



IV

Com um globo de fogo fornicava

ávida a serpente,

com a garganta profunda do abismo

e que guardava a sete chaves

o bebê do mestre dândi e dantesco,

bebia o seu sangue nobre

uma dama das águas de sal do mar eterno.

E qual miserável dama teria tal coragem?



Com um sol enorme nas ventas

a enormidade se metamorfoseava

na praia com uma trombeta

retirada do pântano do passado imemorial.

Batia a hora do deleite,

e os cavalos corriam com suas pétalas de égua.



Com um globo de fogo na enormidade da praia,

a querida onda batia no meu dorso

e me triturava os ossos me jogando na areia

de volta ao vivo ardor da sutil eternidade.

A Coluna principal sorria em seu Eterno,

o tempo contemplava a dor futura e a felicidade futura.



Despiu-se a nobre dama

no seu deleite para a fornicação

de dois cadáveres destemidos,

e uma louca paixão a tomou

como o incensário

da certeza amorosa

do Eterno que nasce

e diz ser fogo,

e que pelo fogo se consumirá

até a hora de dizer adeus

e voltar ao céu,

sendo então a dama a dona do panteão

e a enviada pela tropa

para morder a isca

do velho poeta e sábio

que vivia num mar de lágrimas.



V

Vós sabeis a cor do drama,

em tudo girava sangue & fel,

potência & céu,

e noite e dia e tudo de uma vez só

na hora do deleite.



Diz ao Eterno:

Brinquemos de sermos irmãos e camaradas,

e a tua vitória será a minha vitória.



Eis a palavra honrosa: uma rosa de saudade

entre os cicerones incapazes de entendê-la.



Vós sabeis a cor do drama,

já eram noite e dia

irmãos do mundo que gira,

Deus sendo o visitante

das minhas horas de angústia,

pronto a anunciar

a hora do deleite,

do puro deleite

que nos chama à vida doce

de ser apenas humano,

mesmo sabendo-se imortal,

mesmo sabendo-se lenda,

mantendo-se humilde

pela vontade de Deus,

mantendo-se obediente

ao livro da vida,

amando até à plenitude

tudo o que tocar,

e evitando as ciladas

que se apresentam.



A Coluna principal é o recado:

Em direção ao panteão

tartamudeava o breve anão do poço,

e a dama risonha

se deliciava com seus

olhos de amêndoa,

tão esbelta como a flor delirante

que o tempo jogava aos animais

de pouca inteligência e de pouco tato.



Vós sabeis a cor do drama.

A Coluna principal bendiz

o meu destino

de brutal caveira.

Vós sabeis a cor do drama:

escarlate até à morte!



VI

Do penhasco caíram as sete chaves,

eis o holocausto do revólver

que era a armadilha do bobo.

A Coluna principal sorria outra vez,

e a sede do panteão já teria

a sua eleita,

sem bem saber que a vidência

era certa como o livro da vida.



No retorno da fria escalada,

o poeta regurgitava

os seus lobos e os seus pombos,

e os urubus passaram por ele

reverenciando-o.



Do penhasco dizia que era mortal

e capaz de se cortar com várias

unhas e tridentes.

Mas, eis que o mortal era outro,

e que fenecia na tumba de fumaça

e enxofre,

puro holocausto!



A Coluna principal sorria mais uma vez.

Era o labor do inferno

e o remédio para os males

da língua.

Eis o retorno:

A dama era de uma beleza estonteante!

Pude refazer o tempo em que

eu estive com ela,

e se fez então a vidência

do presente tempo,

revisitando o futuro.



A Coluna principal sorria mais uma vez.



VII

Da Coluna principal o princípio de tudo:

A escalada era o tempo em seu frutífero espaço.

Desvelando o mistério se fez

chama verídica e pontilhada de sóis.



Desde sempre gira o mundo,

e o futuro será puro deleite.



Na prece a servir o futuro:

E o futuro será puro deleite.



A Coluna principal sorria mais uma vez.



O princípio e o fim e o meio de tudo

se encontram na fornicação das estrelas.



Preparava-se a viagem interestelar,

preparava-se o campo

para o pranto do reencontro

das almas jovens e fugazes.

A Coluna principal sorria mais uma vez.



E o tempo é isto!

Saberá Deus a hora de retirar o inferno

e refazer o céu no livro da vida,

e dizer que a vida é o gerador do tempo

que nos trará a bênção e a glória e a graça

de tudo ser eterno

com o coração salvo

da angústia abissal,

e pleno de felicidade!



A Coluna principal alcança

finalmente o seu desígnio,

fecham-se as cortinas do palco

e a partir de então

reinará a paz de espírito

que a poesia sonhara,

paz tão buscada

e que o livro da vida

servirá na hora

do puro deleite.

Está escrito.



Gustavo Bastos 29/07/2008

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