PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CÂNTICO DAS NUVENS



Nesta neve bruta é como um sonho navegar pelos mares de sangue, fel e esperança. Tive as minhas dores num caldo emocional, e a embarcação dessas dores são heranças animais de uma vela desgovernada dos meus silêncios mais profundos em que o enigma do universo conspira como se tivesse numa Ísis sem véu.

É como se, num disparate, atendêssemos aos nossos ventres todos os seus desejos, perfídia de praticar ignomínias e desonras e o opróbrio de toda falsa filosofia. Nós adormecemos num cântaro e num incenso de nardo com as vestes e ornamentos de um barroco translúcido num canto luzidio de uma vida folgazã. Costuramos estas vestes com brilhos de ouropéis e escarlate vibrando nas telúricas espiritualidades. Tecemos o inglório de esperar o dia adventício da volta de um mundo benevolente e perfeito, como se os arabescos de uma inútil arte fosse a salvação dos artistas e dos fiéis em fidedignas circunvoluções sob a vigília dos seus atalaias, num claustro de penitência e solidão perpétua.

Prosseguindo com o fio da espada, traspassados todos os altivos, possuiremos a glória de uma vida sem máculas, e transformaremos a nossa vida em cânticos e hinos de salvação e redenção, em fontes inesgotáveis de sonho alto e eterno de dançarinos e vozes maviosas. Toda a congregação dos sonhadores estará reunida para que usemos de nossas delícias nas campinas apenas como o refugo de uma casta superior, de uma horda que possa renovar o mundo da iniquidade e trazer para nós toda a nossa cancioneira poesia.

Então, para os fracos, restará aceitar a morte, e para os fortes, renunciar à perfídia e negar quem se porta como hipócrita, e negaremos toda a melancolia com que se pretende fazer charme de depressivos bucólicos, desejaremos uma nova arte do mistério, e veremos que não haverá mistério quando tivermos o corpo glorioso da vida eterna, depois de toda a guerra e depois de todo o vício, estaremos nas nuvens do dia claro, longe do crepúsculo das almas desvairadas, e perto da magnânima face do Deus Todo Poderoso.

Receberemos o maná e comemoraremos com ofertas de manjares toda a esperança de que a nossa Terra necessita, e nunca mais poderemos dizer que não haverá paz ou ressurreição. Pois estaremos na glória do Senhor com as mãos purificadas em regozijo edênico. Ouça a sabedoria e com ela farás milagres e livramentos, ouça o coração que possuis e tenhas o perdão de teus desvios, ouça, enfim, o que diz o céu para os filhos que sabem louvar o que é retidão e verdadeira sabedoria, e terás em ti a tua fonte de prazer.



01/04/2009 Gustavo Bastos (Pinturas Pagãs)

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