PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 12 de janeiro de 2013

CRÔNICA SOBRE A RAIVA

   Como se faz ao se perder a calma? Odeio a raiva, mas de odiar já se tem raiva. O ódio é o paroxismo da raiva. Como lidar com o fígado quando ele explode? A pressão da vida seria justificativa plausível para a raiva?
   Eu olho o dia calmo lá fora, fora da minha janela. Moro em Copacabana, um lugar nada calmo. Quantas raivas devem passar despercebidas pelo vão alcoólico de Copacabana? Onde mais a raiva senão na miséria? A miséria do coração é a raiva, a miséria da alma é o paroxismo da raiva, o ódio. As lições de tolerância são repetidas como mantra, eu quero ser tolerante, mas aonde fica este ideal filosófico no momento da explosão atômica da raiva? A desdita é mãe da raiva. Vai tudo bem, até que algo dá errado e .... Pronto! Um grito se dá no meio do vazio da existência que nada nos dá senão desditas e alegrias também. Na alegria normalmente se está calmo. A mansidão herdará a terra. E será do inferno a raiva? Será do inferno a terra dos raivosos?
   A poesia é tão bonita! Mas onde há poetas da raiva? Onde há escritores da raiva? Ademais, o coração fica forte depois de um surto de raiva. Você chuta o ar. Os pés são um ótimo instrumento da raiva, você procura o que chutar instantaneamente. A vida é complexa em seus desvãos, a paixão da vida tem um pouco desta raiva. Seria herança genética a tal da raiva? Na época das cavernas, como seriam raivosos os homens das cavernas, ah! E depois? A civilização! Onde está a raiva entre os homens das cavernas e a civilização? O ideal da civilização é o bem estar, almejado bem estar civilizatório que muitos costumam chamar de paz social, justiça social, sociedade do bem estar, buscamos incessantemente o bem estar até que ... Zás! Você esqueceu a sua carteira em casa, você foi contrariado em suas expectativas, algo deu errado, você terá que pagar uma multa de uma conta que se esqueceu de pagar, você terá raiva daquela hora que você não beijou a mulher que deveria ter beijado, você terá raiva de ter tentado passar naquela prova de concurso e nada! E terá raiva do óbvio, terá raiva de si mesmo ao não tentar ser feliz apesar de tudo, terá raiva de tudo que deveria ter sido, de tudo que ainda será, de tudo que se foi, terá amor e raiva dos pais, terá raiva do insucesso, terá raiva até de teus sonhos não realizados!
   No amor tudo é bom, quase tudo. Quando se ama e não é amado? Oh, mundo cruel! Esta é a pior de todas as raivas. E a desdita do amor não correspondido é a maior das dores, é a maior de todas as desditas. E nos perguntamos? Sou tão ruim? Tenho raiva de quem sou porque ela não me quer! Que raiva do mundo! Logo agora que me apaixonei! A raiva é um plus para a desdita. Não haveria graça nenhuma na desdita sem a raiva e nehuma solução para as dores do coração sem a busca da felicidade, pois a raiva é um reflexo difuso da busca da felicidade, e a desdita é o motor indesejável de uma raiva que vai ao paroxismo do ódio em busca do amor e da felicidade, esta tão amada felicidade que nos parece uma ideia tão ideal, um lago plácido onde todos queremos morrer de êxtase, e a raiva, coitados de nós, mortais, é um soluço nesta grande navegação do que chamamos vida ou existência.

12/01/2013 Crônica
(Gustavo Bastos)

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