PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

LIRA DOS VINTE ANOS, ÁLVARES DE AZEVEDO – PARTE II

“Na crítica literária temos um Álvares de Azevedo que hoje soa datado”

A POESIA, A PROSA E A CRÍTICA EM ÁLVARES DE AZEVEDO

Álvares de Azevedo é também o único poeta antes do Modernismo a levantar temas prosaicos e cotidianos em sua poesia, uma dicotomia surge, sobretudo com o prefácio da segunda parte de seu livro Lira dos Vinte Anos, que aqui sai do mundo ideal, visionário e platônico, para mergulhar em poemas mais avançados como Lembrança de morrer, Um cadáver de poeta, Soneto à virgem do mar e É ela! É ela! É ela! É ela!, citando também o salto que ele dá em seu Macário, este sendo um trabalho de prosa do poeta.  
Tal dicotomia pode ser uma contradição ou ainda um paradoxo, pois o poeta romântico se levanta contra a idealização da mulher feita por poetas como Mendes Leal, mas sendo o próprio Álvares de Azevedo em seus poemas também um cultor de uma imagem ideal do feminino, e que coloca o poeta como um crítico literário que algumas vezes se distancia de sua prática poética para apontar defeitos que ele mesmo cultiva, ou se isso seria mais uma limitação da poesia romântica do que propriamente um defeito ou uma falha.
Em sua prosa Noite na Taverna, por sua vez, Álvares de Azevedo defende um fim moralizador para o teatro, enfrentando a estética e o gosto de seus contemporâneos, e temos que o trabalho teatral do poeta nos dá um tanto da boêmia em que o temperamento tanto poético como romântico se dissipava como se não houvesse amanhã.
Na crítica literária temos um Álvares de Azevedo que hoje soa datado, pois seu universo de citações já se perdeu no tempo, de uma cepa inteligente, não evitou pegar bolor com o que veio depois, e o interesse de seu trabalho nesta área se dissipou na nuvem do tempo e da evolução literária posterior, sua teoria literária sendo, por sua vez, enfadonha, salvando-se em sua crítica apenas a sua referência a uma peça de Antonio Ferreira.
Por fim, temos então a percepção de que sua poesia e sua prosa sobrevivem mais como documento histórico e exemplares de uma geração de poesia e literatura do que seus trabalhos de crítica e teoria literária, o poeta Álvares de Azevedo, ou ainda o escritor, são de mais valor que a deterioração do tempo que sofreu o seu trabalho como crítico e teórico.

POEMAS :

ANIMA MEA : O poema tem um clima de idílio e nos convida a um transe onírico, ou ainda o próprio sono como um dos modelos ideais da poesia de Álvares de Azevedo : “Quando nas sestas do verão saudoso/A sombra cai nos laranjais do vale” (...) “Parece que de afã dorme a natura,/E as aves silenciosas se mergulham/No grato asilo da cheirosa sombra./E que silêncio então pelas campinas!” (...) “É doce então das folhas no silêncio/Penetrar o mistério da floresta,/Ou reclinando à sombra da mangueira/Um momento dormir, sonhar um pouco!/Ninguém que o indolente adormecido/Roube das ilusões que o acalentam/E do mole dormir o chame à vida!”. O sono em meio à natureza, o poeta se encanta e continua seu périplo idílico e cancioneiro : “Criaturas de Deus se peregrinam/Invisíveis na terra, consolando/As almas que padecem, certamente/É um anjo de Deus que toma ao seio/A fronte do poeta que descansa!”. E a idealização da natureza logo se torna em mulher, Ilná, que nos aparece em todo seu esplendor, edulcorada pela pena romântica do poeta idílico, no que temos : “E tu, Ilná, vem pois : deixa em teu colo/Descanse teu poeta : é tão divino/Sorver as ilusões dos sonhos ledos,/Sentindo à brisa teus cabelos soltos/Meu rosto encherem de perfume e gozo!/Tudo dorme, não vês? dorme comigo,/Pousa na minha tua face bela/E o pálido cetim da tez morena .../Fecha teus olhos lânguidos .../no sono/Quero sentir os túmidos suspiros,/No teu seio arquejar, morrer nos lábios/E no sono teu braço me enlaçando!/Ó minha noiva, minha doce virgem,/No regaço da bela natureza,/Anjo de amor, reclina-te e descansa!”. O sono é a imagem que se expande no poema, e aqui se junta às imagens da mulher e da natureza, formando uma tríade romântica de temperamento amolecido, tal como é todo transe amoroso e onírico, no que o poema segue : “Além, além nas árvores tranquilas/Uma voz acordou como um suspiro./São ais sentidos de amorosa rola/Que nos beijos de amor palpita e geme?” (...) “Eu sinto a vida bela em teu regaço,/Sinto-a bela nas horas do silêncio/Quando em teu colo me reclino e durmo,/E ainda os sonhos meus vivem contigo!”. O poeta continua em sua obcecada viagem poética pelo sono, e o poema canta então seu anjo, ou sua mulher, no átimo que o poema revela, em luz e canto de amor : “Anjo do meu amor! se os ais da virgem/Têm doçuras, têm lágrimas divinas,/É quando no silêncio, no mistério,/Sobre o peito do amante se derramam/No sufocado alento os moles cantos,” (...) “Ouves, Ilná? meu violão palpita :/Quero lembrar um cântico de amores;” (...) “Virgem do meu amor, vem dar-me ainda/Um beijo! – um beijo longo transbordando/De mocidade e vida, e nos meus sonhos/Minh`alma acordará”. O sono que reinou em todo o poema então ao fim acorda, e o regaço, o silêncio, a natureza, são elementos do bel canto de que o poeta é o mensageiro.

A HARMONIA : O poema lírico vai cantar a harmonia, e tem como tema a música, no que temos personagens reais figurando no poema como Paganini, violinista e compositor, Bellini, operista e compositor, e a cantora lírica Malibran, no que temos : “Meu Deus! se às vezes na passada vida/Eu tive sensações que emudeciam/Essa descrença que me dói na vida,” (...) “Foi quando às vezes a modinha doce/Ao sol de minha terra me embalava,/E quando as árias de Bellini pálido/Em lábios de Italiana estremeciam!/Oh! Santa Malibran! fora tão doce/Pelas noites suaves do silêncio/Nas lágrimas de amor, nos teus suspiros,/Na agonia de um beijo, ouvir gemendo/Entre meus sonhos tua voz divina!/Oh! Paganini! quando moribundo/Inda a rabeca ao peito comprimias,/Se o hálito de Deus, essa alma d `anjo/Que das fibras do peito cavernoso/Arquejava nas cordas entornando/Murmúrios d `esperança e de ventura,”. O poema todo é uma grande homenagem à música, e o som encanta o poeta por todo verso que ele derrama neste poema, no que o poema segue : “Ah! se nunca te ouvi, se teus suspiros,/Desdêmona sentida e moribunda,/Nunca pude beber no teu exílio,/Nos sonhos virginais senti ao menos/Tua pálida sombra vaporosa/Nesta fronte que a febre incandescera/Depor um beijo, suspirar passando!” (...) “Pobre! pobre mulher! esses mancebos/Que choravam por ti quando gemias,/Quando sentias a tua alma ardente/No canto esvaecer, pálida e bela,/E teu lábio afogar entre harmonia” (...) “E hoje riem de ti! da criatura/Que insana profanou as asas brancas,” (...) “E as sentia boiando solitárias,/As flores da coroa, como Ofélia! .../Que iludida do amor vendeu a glória/E deu seu colo nu a beijo impuro .../Eles riem de ti – mas eu, coitada,/Pranteio teu viver e te perdoo!”. As citações à Shakespeare aqui dão ao poema a mistura entre a cena teatral e as sensações que traz a música ao poeta romântico, que segue no poema : “Por que foste gemer na orgia ardente/A santa inspiração de teus poetas,/Perder teu coração em vis amores?” (...) “Pálida Italiana! hoje esquecida,/O escárnio do plebeu murchou teus louros:/Tua voz se cansou nos ditirambos,/E tu não voltas com as mãos na lira”. No fim, no entanto, temos a decadência de Malibran, que os louros agora murcharam, e que a lira de Álvares de Azevedo ainda tenta resgatar.

VIDA : O poema romântico que canta a vida, é o produto de um afã idealizado, no que temos : “Oh! fala-me de ti! eu quero ouvir-te/Murmurar teu amor :/E nos teus lábios perfumar do peito/Minha pálida flor.” (...) “Nos delíquios de amor, ó minha amante,/Eu sonho o seio teu,”. O derramamento é evidente, o poema prorrompe em cantos sublimes de amor embonecado, próprio do estro romântico, e prática usual do poeta Álvares de Azevedo, no que o poema segue : “A nós a vida em flor, a doce vida/Recendente de amor!” (...) “A tua alma infantil junto da minha/No fervor do desejo,/Nossos lábios ardentes descorando/Comprimidos num beijo,/E as noites belas de luar, e a febre/Da vida juvenil,/E este amor que sonhei, que só me alenta/No teu colo infantil!/Vem comigo ao luar – amemos juntos/Neste vale tranquilo,”. E a noite cai, e a ideia de amor ferve a pena que de encanto goza seu amor puro e incandescente, no que o poema segue : “À noite encostarei a minha fronte/No virgem colo teu;/Terei por leito o vale dos amores,/Por tenda o azul do céu!” (...) “Que importa que o anátema do mundo/Se eleve contra nós,/Se é bela a vida num amor imenso/Na solidão – a sós?/Se nós teremos o cair da tarde/E o frescor da manhã :” (...) “Bate a vida melhor dentro do peito/Do campo na tristeza/E o aroma vital, ali, do seio/Derrama a natureza!/E, aonde as flores no deserto dormem/Com mais viço e frescor,/Abre linda também a flor da vida”. Enfim, a vida e a natureza são as imagens que se fundem neste amor ideal do estro que derrama como é do feitio do século de Álvares de Azevedo, parte de nossa história literária.

POEMAS :

ANIMA MEA

Quando nas sestas do verão saudoso
A sombra cai nos laranjais do vale
Onde o vento adormece e se perfuma,
E os raios d `ouro, cintilando vivos,
Como chuva encantada se gotejam
Nas folhas do arvoredo recendente,
Parece que de afã dorme a natura,
E as aves silenciosas se mergulham
No grato asilo da cheirosa sombra.

E que silêncio então pelas campinas!
A flor aberta na manhã mimosa,
E que os estos do sol d `estio murcham,
Cerra as folhas doridas e procura
Da grama no frescor doentio leito.
É doce então das folhas no silêncio
Penetrar o mistério da floresta,
Ou reclinando à sombra da mangueira
Um momento dormir, sonhar um pouco!
Ninguém que o indolente adormecido
Roube das ilusões que o acalentam
E do mole dormir o chame à vida!

E é tão doce dormir! é tão suave
Da modorra no colo embalsamado
Um momento tranquilo deslizar-se!
Criaturas de Deus se peregrinam
Invisíveis na terra, consolando
As almas que padecem, certamente
É um anjo de Deus que toma ao seio
A fronte do poeta que descansa!

Ó florestas! ó relva amolecida,
A cuja sombra, em cujo doce leito
É tão macio descansar nos sonhos!
Arvoredos do vale! derramai-me
Sobre o corpo estendido na indolência
O tépido frescor e o doce aroma!
E quando o vento vos tremer nos ramos
E sacudir-vos as abertas flores
Em chuva perfumada, concedei-me
Que encham meu leito, minha face, a relva
Onde o mole dormir a amor convida!

E tu, Ilná, vem pois : deixa em teu colo
Descanse teu poeta : é tão divino
Sorver as ilusões dos sonhos ledos,
Sentindo à brisa teus cabelos soltos
Meu rosto encherem de perfume e gozo!

Tudo dorme, não vês? dorme comigo,
Pousa na minha tua face bela
E o pálido cetim da tez morena ...
Fecha teus olhos lânguidos ... no sono
Quero sentir os túmidos suspiros,
No teu seio arquejar, morrer nos lábios
E no sono teu braço me enlaçando!

Ó minha noiva, minha doce virgem,
No regaço da bela natureza,
Anjo de amor, reclina-te e descansa!
Neste berço de flores tua vida
Límpida e pura correrá na sombra,
Como gota de mel em cálix branco
Da flor das selvas que ninguém respira.

Além, além nas árvores tranquilas
Uma voz acordou como um suspiro.
São ais sentidos de amorosa rola
Que nos beijos de amor palpita e geme?
Ah! nem tão doce a rola suspirando
Modula seus gemidos namorados,
Não trina assim tão longa e molemente.
Em argentinas pérolas o canto
Se exala como as notas expirantes
De uma alma de mulher que chora e canta ...

É a voz do sabiá : ele dormia
Ebrioso de harmonia e se embalava
No silêncio, na brisa e nos eflúvios
Das flores de laranja ... Ilná, ouviste?
É o canto saudoso da esperança,
É dos nossos amores a cantiga
Que o aroma que exalam teus cabelos,
Tua lânguida voz talvez lhe inspiram!

Vem, Ilná : dá-me um beijo – adormeçamos.
A cantilena do sabiá sombrio
Encanta as ilusões, afaga o sono ...
Oh! minha pensativa – descuidosa,
Eu sinto a vida bela em teu regaço,
Sinto-a bela nas horas do silêncio
Quando em teu colo me reclino e durmo,
E ainda os sonhos meus vivem contigo!

Ah! vem, ó minha Ilná : sei harmonias
Que a noite ensina ao violão saudoso
E que a lua do mar influi na mente;
E quando eu vibro as cordas tremulosas,
Como alma de donzela que respira,
Coa nas vibrações tanta saudade,
Tanto sonho de amor esvaecido,
Que o terno coração acorda e geme,
E os lábios do poeta inda suspiram!

Anjo do meu amor! se os ais da virgem
Têm doçuras, têm lágrimas divinas,
É quando no silêncio, no mistério,
Sobre o peito do amante se derramam
No sufocado alento os moles cantos,
_ Cantos de amor, de sede e d`esperanças
Que nos lábios febris lhe afoga um beijo!

Ouves, Ilná? meu violão palpita :
Quero lembrar um cântico de amores;
Fora doce ao poeta, ao teu amante,
Nos ais ardentes das maviosas fibras
Ouvir os teus alentos de mistura,
E as moles vibrações da cantilena
Este meu peito remoçar um pouco!

Virgem do meu amor, vem dar-me ainda
Um beijo! – um beijo longo transbordando
De mocidade e vida, e nos meus sonhos
Minh`alma acordará – o sopro errante
Da alma da virgem tremerá meus seios
E a doce aspiração dos meus amores
No condão da harmonia há de embalar-se!

A HARMONIA

Meu Deus! se às vezes na passada vida
Eu tive sensações que emudeciam
Essa descrença que me dói na vida,
E, como orvalho que a manhã vapora,
Em seus raios de luz a Deus me erguiam,
Foi quando às vezes a modinha doce
Ao sol de minha terra me embalava,
E quando as árias de Bellini pálido
Em lábios de Italiana estremeciam!

Oh! Santa Malibran! fora tão doce
Pelas noites suaves do silêncio
Nas lágrimas de amor, nos teus suspiros,
Na agonia de um beijo, ouvir gemendo
Entre meus sonhos tua voz divina!

Oh! Paganini! quando moribundo
Inda a rabeca ao peito comprimias,
Se o hálito de Deus, essa alma d `anjo
Que das fibras do peito cavernoso
Arquejava nas cordas entornando
Murmúrios d `esperança e de ventura,
Se a alma de teu viver roçou passando
Nalgum lábio sedento de poesia,
Numa alma de mulher adormecida,
Se algum seio tremeu a concebê-lo,
Esse alento de vida e de futuro,
Foi o teu seio, Malibran divina!

Ah! se nunca te ouvi, se teus suspiros,
Desdêmona sentida e moribunda,
Nunca pude beber no teu exílio,
Nos sonhos virginais senti ao menos
Tua pálida sombra vaporosa
Nesta fronte que a febre incandescera
Depor um beijo, suspirar passando!

Meu Deus! e outrora se um momento a vida
De poesia orvalhou meus pobres sonhos
Foi nuns suspiros de mulher saudosa,
Foi abatida, a forma desmaiada,
Uma pobre infeliz que descorando
Fazia os prantos meus correr-me aos olhos!

Pobre! pobre mulher! esses mancebos
Que choravam por ti quando gemias,
Quando sentias a tua alma ardente
No canto esvaecer, pálida e bela,
E teu lábio afogar entre harmonia
_ Almas que de tua alma se nutriam,
Que davam-te seus sonhos, e amorosas
Desfolhavam-te aos pés a flor da vida,
Ai quantas não sentiste palpitantes,
Nem ousando beijar teu véu d `esposa,
Nas longas noites nem sonhar contigo!

E hoje riem de ti! da criatura
Que insana profanou as asas brancas,
Que num riso sem dó, uma por uma,
Na torrente fatal soltava rindo,
E as sentia boiando solitárias,
As flores da coroa, como Ofélia! ...
Que iludida do amor vendeu a glória
E deu seu colo nu a beijo impuro ...
Eles riem de ti – mas eu, coitada,
Pranteio teu viver e te perdoo!

Fada branca de amor, que sina escura
Manchou no teu regaço as roupas santas?
Por que deixavas encostada ao seio
A cabeça febril do libertino?
Por que descias das regiões douradas
E lançavas ao mar a rota lira
Para vibrar tua alma em lábios dele?
Por que foste gemer na orgia ardente
A santa inspiração de teus poetas,
Perder teu coração em vis amores?
Anjo branco de Deus, que sina escura
Manchou no teu regaço as roupas santas?

Pálida Italiana! hoje esquecida,
O escárnio do plebeu murchou teus louros:
Tua voz se cansou nos ditirambos,
E tu não voltas com as mãos na lira
Vibrar nos corações as cordas virgens
E ao gênio adormecido em nossas almas
Na fronte desfolhar tuas coroas! ...

VIDA

I
Oh! fala-me de ti! eu quero ouvir-te
Murmurar teu amor :
E nos teus lábios perfumar do peito
Minha pálida flor.

De tua letra nas queridas folhas
Eu sinto-me viver,
E as páginas do amor sobre meu peito
Fazem-me estremecer!

E, quando à noite delirante durmo,
Deito-as no peito meu :
Nos delíquios de amor, ó minha amante,
Eu sonho o seio teu,

A alma que as inspirou, que lhes deu vida
E o fogo da paixão,
E derramou as notas doloridas
Do virgem coração!

Eu quero-as no meu peito, como sonho
Teu seio de donzela,
Para sonhar contigo o céu mais puro
E a esperança mais bela!

II
A nós a vida em flor, a doce vida
Recendente de amor!
Cheia de sonhos d `esperança e beijos
E pálido langor!

A tua alma infantil junto da minha
No fervor do desejo,
Nossos lábios ardentes descorando
Comprimidos num beijo,

E as noites belas de luar, e a febre
Da vida juvenil,
E este amor que sonhei, que só me alenta
No teu colo infantil!

III
Vem comigo ao luar – amemos juntos
Neste vale tranquilo,
De abertas flores e caídas folhas
No perfumado asilo.

Aqui somente a rola da floresta
Da sesta no calor
O tremer sentirá dos longos beijos
E verá teu palor.

À noite encostarei a minha fronte
No virgem colo teu;
Terei por leito o vale dos amores,
Por tenda o azul do céu!

E terei tua imagem mais formosa
Nas vigílias do val :
Será da vida meu suave aroma
Teu lírio virginal.

IV
Que importa que o anátema do mundo
Se eleve contra nós,
Se é bela a vida num amor imenso
Na solidão – a sós?

Se nós teremos o cair da tarde
E o frescor da manhã :
E tu és minha mãe, e meus amores
E minh`alma de irmã?

Se teremos a sombra onde se esfolham
As flores do retiro –
E a vida além de ti – a vida inglória –
Não me vale um suspiro?

Bate a vida melhor dentro do peito
Do campo na tristeza
E o aroma vital, ali, do seio
Derrama a natureza!

E, aonde as flores no deserto dormem
Com mais viço e frescor,
Abre linda também a flor da vida
Da lua no palor.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/35892/17/na-critica-literaria-temos-um-alvares-de-azevedo-que-hoje-soa-datado
   


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