PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 27 de março de 2011

O MILAGRE DO VISIONÁRIO

Desde já se tem um deserto

pelo fogo e pelo vento.



Fui destituído de minha filosofia

e entrei numa veste sutil

dos brandos corações.



A cimitarra cortou-me os sonhos

rotos de uma esfera do sepulcro.

Toda a saciedade do bom poeta

nunca se sentiu tão alijada,

foi posta de fora dos padrões,

e era santo o seu nome.



Desde que se tem um deserto no coração

não se conhece a época em que a nau

foi roubada.



Oh mar oh perdição!

Tuas murmurantes espumas

são absinto e embriaguez,

já de um verde e azul turquesa,

que foi valente onda

pelas praias nuas de uma ilha remota,

foi desde sempre o planeta

e suas maldições.



Minha saudade é o exílio.

Que eram os dias naquela nau de ametista?

Sou o escravo do horizonte.



Quem mede o sofrimento

de mortes se reveste.

Tem o tempo seu refúgio

numa sensação de engodo.

Fui enganado pela vinha

em seu espraiado vento de canções.

Sou o terrível capitão e náufrago.

De agora e para sempre

deverei estar sob as velas

que rumam no sopro invernal.



Oh sol avistado na aurora!

Logo ao cair do céu

estava o meu rosto

entregue ao mistério

do mar.

Que eram as vicissitudes

do bom amigo?

Tenho feito muitas obras plácidas

de cântaros e altares.

O sacrifício de uma nova febre

foi trasladado

pelo morto das saudades,

qual era o meu crepúsculo

e a fadiga das ambições.



Sou eu quem faz o fogo de meu pranto

acordar numa uva

e reconfortar-se

nos peixes,

eis o milagre.



Tanta sonhadora visão

secou-se depois do mergulho,

e a visão

era o milagre da multiplicação

dos pães,

desde já o pobre tornou-se santo

e vicioso foi embora.



Esta é a história dos meus dias,

uma centelha que sou

do destino humano.



15/05/2009 Gustavo Bastos

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