PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SINAIS DA TERRA PERDIDA XII

XII – ATRAVESSANDO O CORPO E A ALMA


Meus altares, consigo atravessar por um segundo,

Que agora vens ao meu frio e ao meu encontro,

Que sabe depor sobre a pedra violenta

De todo estúpido, por quererem proibir-me

Outrora por mais que lhes padeçam a cara.



Quando, aos sons ordinários, cordilheiras suspensas

Do elmo e da mágica, houve sementes embrutecidas somente

Pelo pão, e nos altares não achavam

Este miserável pão!



Sei lá como se pede e se pedisse

Seria negado logo, com a mão valendo-se

De nada que já tem o que lhe fazer,

Com a cabeça sem mais o que fazer.



De lá dos confins não se achou nada,

E como se lá tivesse o que fazer,

Não se saberia o que esperar,

E antes o pão que o ódio e a arma,

E antes o justo que há em alguns,

E antes mais o que for para o bem,

E não como antes era de selvagens

O campo da morte, e não como antes

Dos lares que foram em todas as noites,

Não fazendo o que há em toda a vontade

Ou levando o que é de necessidade

Por esquecer-se o que levar.



O mundo não virou-se de todo

Um martírio, eis que o nada contorce

Gente, eis o instrumento da caça.

Tendo-se a morada e as cobertas,

Os elementos todos,

Eis que ninguém emerge.



E quanto o que vier de todo ato

Será pouco para nós.

E do tanto que afundar

Será pouco para nós.

E dos muitos gritos

Não se terá mais o grito.

Dando-se por gratidão a vida,

Não será o herói que espera.

Queixando-se em vão da realidade

Saberá algo para criticar.

E no passo do tempo como sempre

Teria também o feliz em vão.

E tanto a tristeza, como o ódio,

E a mentira, seriam outra coisa.



Não saberei sorver este espetáculo.

E vós que não sabeis de coisa alguma

Exponham a cara ao trabalho,

Vós que sois o que sois,

Por tanto vigor mal remunerado,

Que o vento vos deixeis,

Lama do sangue de toda a eternidade

Com os seus elos

De força primeira

Do universo.

Como os loucos,

Desgovernando-se.

Como os pesadelos,

Sendo o medo de tirar-vos a vida,

De um súbito, com o gosto do demônio

Na boca.



E um pouco tarde demais o sal dos sais

Das iguarias dos que se embelezam,

E um pouco longe demais

O que é infinito deixando-se além.

Noutros dias seria o ganho

De um tanto de riqueza,

E noutros dias

O que seria somente é

O que sente dor.



Estava a pensar solidamente,

A beleza me consolava,

E vos disse o que para

Tanta beleza

Se ousaria

Imaginá-la.

Para tê-las das mais libertas,

Para tê-las, liberdade,

Como a beleza.

Para tudo em vós todos

O que diria, ou sonharia.



Eis que é, pouco se faz para tanto,

Não há liberdade que não

Enfrente a morte.

E não há por não temê-la.

E o que faz destes vulcões da plebe

O que o nobre burguês

Estupidamente esconde,

O que os tantos dos tantos

Não é demais, o que dos sem

Não sentem o que será

Assim por toda a existência.



Causa súbita do ar que se foi,

Do ar que reavivou o destino,

Ter o corpo misturado com a terra

E dela o sangue mais que toda

A velha emoção.

Eis que é tudo,

E ainda será a minha terra de todo amada,

E quem o diz será também forte

Como uma fortaleza de tudo forte

Como deve ser,

Sem mais o temor, concentrado

No fogo do viver o que mais se quer viver.



Eis que é tudo

O mundo que nos cabe

E que nos leva,

Eis que é a maravilha

Do que se faz com a alma

Para também não esquecê-la.



É do lado do céu, lá seria o último regaço

Da terra, e o corpo vivendo,

E alma para toda infinitude

Saber reconhecê-la.

Eis que é tudo

No coração por se dizê-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário