PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

SINAIS DA TERRA PERDIDA XI

XI – DOS CAMINHOS POR SE FAZER


É como num raro silêncio que adormece a alma,

Que a pele translúcida dos sentidos vagueia,

Sob luzes da lamparina afogando certezas

Antes úteis à erudição, questões de suma importância

Como que defronte aos cadeados da cegueira.



Estive no Alto Plano do Criador.

E uma densa nuvem de concertos me livraram

Por um tempo da maldição kármica – o existir -,

Tal ponto grotesco e ermo no qual o rio passa,

E como ele eu queria passar,

Desaguando no mar como que libertando-me,

E as tarefas cotidianas que eu havia feito

E que não supriram o meu coração,

Estando como cadáveres deslizando

Entre masmorras, e eu deixando-os vagos e mortos,

Cadáveres de um cego fantasma uivante

Que não olhou à Luz Infinita,

Por estar cego e com medo de cegar-se,

Por estar trancado no ermo encontro

Dos que jamais se encontram.



Pois esquivei-me um dia do amor pelas criaturas,

Se estas são criaturas divinas,

Por tê-las tido como empecilhos

Ao meu náufrago silêncio

De noite sem aroma,

E com a alma desinteressada

Sob a noite sem aroma.



Estive a esquivar-me dos sóis

Que hei de vê-los em caridade,

E a formosa candura tive de perdê-la

Em momentos vagos, caminhando por aí,

Como um sujo insultando o mundo,

Que da missão de Deus esquivou-se.

(Ele, que a mim confiou todo o amor).



Me vi entre os murmúrios e as súplicas

Dos infernos em que moram os excomungados,

E os admirava, e me envaidecia de minha

Tão desumana condição de submisso

Ao baixo gosto das trevas.

Eu, tão baixo e mesquinho, que nem num pranto

Me forjaria um novo homem,

Não tive à minha oferta uma bondade.

E que sei eu de bondade?

Que sei eu do amor?

Não sei. Na verdade, pouco posso intuir

De bondade e de amor, ao que devo dizer

Serem ações radicais,

E dito assim se medem pela coragem

De fazer-se bom e amante.



Jamais soube que o fim da longa noite

Se doura no sol da aurora,

E que imagina um tempo sem atrasos,

Como se minha alma não quisesse

Mais esquivar-se, das outras vezes

Do que me esquivei.



A Luz Infinita provocando o sol

Que há no coração do destemido,

Pronto estou no silêncio pleno

De um Absoluto que jamais se deu

O nome ou o rosto,

Que do filho ilustre um dia fez o sacrifício,

E que por ocultar-se de mim e de todos,

Fez do dever de servo

O meu simples sorriso

De querer-me Nele,

Tal o firmamento que eu procurava.



A Luz Infinita, o Eterno, o Uno,

Seja qual for o que se é como Absoluto,

Seja o Pai ou seja um sem nome que for,

E de quais nomes que for,

Este Transcendente ou Ser-de-si-para-o-mundo,

Dará a mim, pobre alma,

Um retorno ao olho certo do Destino,

No qual já não sou o cego, mas o que vê.

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