PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

SINAIS DA TERRA PERDIDA X

X – CONFLITO DO TEMPO E DA IDADE


Como no tempo de inverno, escorou-se no alto cimo um velho,

Eu me via neste velho como um orgulho

De ter visto a vida inteira,

Profanando a ignorância vadia

E alcançando a cabeça o teto

(Do céu sem muro)

Como um mambembe,

Sem destino pronto,

Sem afago e princípios morais,

Destituído de crença,

Rubro, acre e estúpido,

Ignorante por ver tudo,

E ignorá-lo por sabê-lo.



Rastreando no poço dos elementos:

À terra (esta é a imaginada teoria)

Que me indago, se esta sim se mancha

De azulados tempos,

Ou sentimos nela a Fé ou a tempestade,

Ou a cólera ou a ingenuidade,

Os corais das raízes,

Que brotam os genes do ócio.



A temperatura caindo, e o meu calor indo embora.

Por ser então a água, na qual moldamos

Os líquidos (os venenos e os antídotos),

Água bem pura ou totalmente suja,

O rio e o mar e o lago, no fim a ilha

Cercada de águas.



E me falta, porém, o Ar.

Este é para as narinas o bálsamo,

Para os pulmões a vida,

E paira como deve pairar.

Sendo o fogo, último e primeiro elemento,

O fundo do mundo sinistro

Que não come terra,

Que não bebe água,

E que não sopra o ar.



Do fogo eu me visto,

O extremo extermínio

Que me doura a pele

E que me faz cegar,

O extermínio extremo

Que é do fogo,

Este valioso ser de todas as loucuras,

Como se assim nos desse a mão do inferno

O queimado, e o fim dos dias,

E o começo da aurora

Um ritmo crepuscular.

Que faz tudo até o coração perder-se.



Nós todos, que morreríamos,

Vamos nos dar o ciclo empedocliano,

Ou seria um fogo pentecostal?

Não se dará um tempo sem extremos.

Um século sem armas.

O tempo do extermínio é a glória humana.



Peste dos anos e das épocas,

Chãos sem chão,

Carga da vida que se crê viver,

Os mais longos invernos

Dos fundos mundanos,

Dos sinistros bombardeios,

Das escadas sem o que subir ou descer,

Espantam o fogo (a vida própria),

Que eu, velho, estaria jovem.



O tempo, qual um abismo,

Nos elementos se faz.

Antípoda do delírio jovem,

Se faz a velhice em mim encarnada,

Que eu não entendo por não querê-lo.

A fertilidade, a virilidade,

No panteísmo é o solo.

Que ao qual encontramo-nos distantes.

Como se um Deus fosse nosso,

Ou como se a terra fosse nossa,

E não nós da terra.

Como se água, ar e fogo, após

A conquista do mundo,

Não fossem a alma de nós perdida.

A terra que se perdeu,

É a raiz da divina luz

Que não é mais a iluminada noite.

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