PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 4 de maio de 2016

PÃES TORRADOS

Passo pelo vão, não muito açodado,
o que o mestre, de sua sombra,
me ensinou?

De verter verso, com um candelabro,
e a mão visível pela tormenta.

Quando das grandes guerras
o sangue corria,
meu cachorro cego latia
com dor de garganta,
meu gato de rua assobiava
canções felinas,
e o leão desdentado de minha aquarela
rugia tinta vermelha.

Ora, que são horas passadas,
este de ter para si
o turno diuturno
de insônia,
o dia vívido quando se dorme
como anjo,
a noite vítrea que corrompe
o bêbado,
os passos preguiçosos
da tarde viciada.

Não muito açodado, com o figurino
bem encorpado, e os braços bem
torneados, com os pés lúcidos.

Quando no tempo de paz,
aqui está o verso plácido
que ressurge na escritura,
e seus tons pastéis e bobos
como um acorde dissonante,
em quinta diminuta
de terror e vinho,

no tempo de paz que nunca chora,
no tempo plácido sem o grito,

a ver da caverna sem sol,
a luz oculta.

04/05/2016 Gustavo Bastos

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