PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CORAÇÃO MALDITO

A inspiração é minha! Devastei os anseios.

O célebre vingador foi executado,

nos odores do cadafalso raso.

Logo, o crânio ferveu, minha alma calou.

Suportei o tédio das águas brandas.

Em dias ameaçadores, tirei proveito da vilania.

Derrota! É o seu caminho, velha trapaça.



O mistério insurge como verso eterno,

lançando palavras num súbito despertar.

Na edificação imponente vacila o passo,

o exato momento em que me esqueço.

Leve névoa poética aterrissa na minha vista.

Ouvindo a musa embriagada que revela

lendas miraculosas, me toma a primavera.



Já é tempo! Acender o espírito cheio de fulgor,

dádiva cintilante, acordo das esferas,

o engenho do poema que irrompe,

desmedida canção das torrentes angustiadas.

O coração maldito jamais se esgota!

Enredo do espetáculo trágico,

revive a chama indolor de escapar.

Canto plácido se estende com profusão,

beleza inefável, estrela altaneira.

É demais inspirado o verso sumário,

na epopeia da procissão, proezas do vinho.



Em imenso mar caminho com os olhos,

contemplando. Não é simples

estar no enfoque do gatilho, cruel destino.

Há uma multidão morta, pronta ao forno.



Precisarei de mais noites ao belprazer,

com todos os direitos de um cidadão honrado.

Nas madrugadas, tomar o verso para si.

Refazer os artifícios de um desastre,

adiando a morte com um sorriso medonho.



Ah! Coração maldito! Quantas vezes rezei por ti!

O ar insano do delito imperdoável,

com o ferrão traiçoeiro, não me atinge.

Vou decapitá-los! E de novo vida imensa.

Dançarei enlouquecido nas raves.

O pensamento que nunca sobe ao céu

é o espírito que se torna denso,

o dilema vital liberta e fere.

Me esqueçam, sou uma serpente, o pecado inominável!

Espero um ataque cardíaco,

já morto por revelar nuvens.

O credo não me traz a boa nova!

Sou um espectro, trêmulo e pobre.

Retardo o tempo com torpores rotineiros.



Se esvaindo pelos ares poluídos

de uma missão incerta, regozijo,

labor dos sentidos, espero viver.

Voo incansável da águia imaginária,

sabor de ilusão, passagens ocultas.

Não me afundarei em algemas, prisões imundas.

Espero estar livre na balbúrdia,

na gritaria das ruas, comendo e bebendo.

Farei o que for possível em minha dor.



Revolta! Me torno estúpido, verso voraz.

Possesso, sou como lança cortante.

Venham com suas máscaras! Disfarçem a morte!

Minha alma está solta, sou uma bênção.

Não temo a moral, sou devoto da magia,

as emoções fluem no espírito da natureza.

O fervor? Salvarei meus poemas da brutalidade.

É o assassinato! As armas que suportei em meu dorso.

Sentindo-me ultrajado, pronto ao combate.



Poderia me orgulhar do veneno

e atuar em um cenário de socos.

Desesperada é a solidão da distância eterna,

o descanso está longe de mim.

Aceito o peito vacilante que afunda,

cárcere profundo, noite de vagabundos.

Ainda sou um desses boêmios, perdido e feliz.



A promessa da vida é o assalto

da loucura máxima, atos marginais.

É o meu canto atravessado, fuga lenta,

que revelo em sonhos.

Pois então? Me deem a repulsa,

o nervo exposto, os dentes que mordem

a carne pútrida, o triste fim de uma alma penada.

Que horror! Vou para o deserto da angústia,

entregue ao lodo, herdeiro do infortúnio.

Serei o mentor do suicídio, da febre mortiça.

Tenho a espada furiosa que rompe o ar,

na idade bárbara de um verso jovem.



O espírito valente me traz a imagem do dia.

Céus me enlouquecem, vou atrás de saudade.

Sempre no empenho de palavras magistrais,

que acordam a arte bela e redentora,

no tempo que se expande como fogo, impassível.

E no alto dessas viagens, percebo a Poesia.



Não guardem segredos, tenho a visão do saber!

É a peste que lhes dá a vergonha, o drama do óbito.

Espero amadurecer meus ideais mais intensos,

sem me iludir com o brilho que eles têm.

Revelar o que há de divino nos dons da alma,

no mérito do poema oráculo,

expressão que engole o futuro.



O declínio do anjo torto,

que perde suas asas, ferve e queima

o acontecimento, em êxtase.

Serei a flecha de suas infâmias, morte violenta.

Sou velho o suficiente para afirmar:

“ Vítimas, vocês caíram no meu bote.

Não invoquem espíritos malévolos,

lhes dou este conselho por experiência própria.”

É certo estar no fogo,e assim me torno sol.

Por entre ventos e dramas, desafio a vida.



É o ferro! A alma absoluta do poder!

Incrédulos tolos. Sou uma igreja, meus fiéis!

É a rapidez! Me consome, me corrói o corpo.

Sou aventureiro dos esquemas de barganha,

um mestre em observar gentalha curiosa.

Não! Vocês só pensam ignomínias, senhores da burrice.

É o tiro? Pois então? Calem-se no presídio!



Manterei meu senso reto, para reclamar notoriedade.

E ficar dominado pela memória flutuante.

Nos dons que pronuncio, me salvo de intrigas.

Desenho no fim sempre uma felicidade alheia,

a qual nunca terei, refugiado na gruta funda.

Sou entregue aos fatos, mais um desses malditos.

E digo que minha voz é sã, livre de preocupações.

Reinvento o poder do espírito artístico,

nos insights do desejo inebriante,

como insígnia que marca a pele.

Vou que nem labirinto, no retorno do mesmo.

Qual o sentido da vida? Talvez não há ...

Digo: “Sou um maldito, não sirvo para nada!”

E assim estou ... no vento sutil.

Comerei os versos, isso me liberta!

Vou em busca não sei de quê, e querem saber?

Estou satisfeito como nunca, quando escrevo agora.

Meu coração é maldito, repito aos tolos.

Desço para o inferno, preparem o meu corpo.

Mas, escapo. E de novo inteiro, matei o que não vi.



É o destino de minha alma de sátiro,

sou um bode danado e sadio.

Viva nossa existência! Que luz ilumina a Verdade?

Aqui não se tem o conforto de um arrependimento,

na costumeira luxúria de meus sentidos.

Estou no fundo do poço, num mar de lama.

Estou lendo ... já não lembro mais.

Quando acordo, estou como doutor erudito.

E me perco. Sim! E não encontro nada. Mas vivo assim.



Como ordenar tal desarmonia? Não estou apto.

Me recuso, estou pleno de mim, voando dos calabouços.

Reconheço meu gênio ruim, e trato de melhorar.

Mas, a esfera em que ando, é correr perigo.

Só não quero que me interrompam! Vocês sabem?

Já me diverti o bastante com vocês, cresçam.

Vou seguindo para onde devo ir, e isto não lhes interessa.

O que quero é ampliar o olhar, rever a pintura do céu.

O que insisto é na revolução da alma,

uma inquietação que cria o artista.



A praia morna traz o ar aprazível,

refulgente e impenetrável melodia solar,

onde se desvenda o cenário do sublime.

Já cansado de altares e velas,

minha singela homenagem

é o flagelo de um quadro vermelho.

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