PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

ENREDO DA AGONIA

ENREDO DA AGONIA


Assim ... feliz em alegria provisória, canto bêbado, aperto o meu coração dentro de um bálsamo de vertigens. Conheço o mundo como mergulhador sem fôlego, descontínuo, viciado, esperando não morrer pelo sonho. No ar estúpido da cidade, tenho medo do delírio, do cativeiro, vejo a angústia que me aflige. A alma bruta, a besta bufando, as lágrimas sangrando, a desgraça nivelando a vida e assumindo a morte. Não há mais morte natural. O sêmen! A doença! O fogo!

Deus! Falo por impulso, poemas me expurgam a alma dolorosa! Diabo é a face de tudo, universo espanto. Por que criastes o mundo e me jogastes a esmo? Sou indiferente, mais um posto às intempéries, mais um afeito à preguiça. Mas, no entanto, jovem, desmiolado, irônico e hostil, astuto e indolente. Isento das faculdades morais que domam o espírito selvagem. Tenho como regra a erupção vulcânica. Focus! O surto será a Verdade!

Ah! Nada como a sadia indolência do ócio envenenado, minhas serpentes são alimentadas com o meu sangue. Contaminado, compartilho com as sombras que me cercam o pensamento. Vou prosseguindo ilusório, no bruxulear da chama que desperta do sono os cadáveres dos tempos. Nostradamus! A queda! Os cavalos derrubam as torres! O rei infla, estamos em xeque!

Tenho o tédio e a euforia, o vício e a liberdade, sou sádico como hiena irritante, filho da hipocrisia, filho da ... ou depreciador da própria sorte. Carrasco louco e faminto da própria mente, avulso e bélico.

Abismo? Andei por vales que me levaram até o segredo do vento, neste pensamento de fome animal, e a besta bufando, e meus guias tentando me salvar. Mas, teimoso, sou indigno, gosto das trevas, são vulcânicas e mentirosas, no verso pestilento e repleto do meu vício.

Acidente fulminante, olhei o susto. O macabro e o luminoso. No solo ausente, no sabor da inconsequência, bebi cicuta para falar com Sócrates! Passei da caverna e desaguei como filósofo esquizofrênico! Mordo meus dedos e arranco a unha, cuspo na cara de quem me ignora! Sou isto: prejudicial, o mau exemplo, fermento da peste, prenúncio da tragédia. Sou vidente e isto me basta!

Tenho profunda inveja do nada, do sono imperturbável. Espero pelo impossível, transcender a dor, ascender ao inacreditável! E para onde estarei indo? Sonharei e morrerei pelo sonho? Serei jogado no hospício como louco! Se vingarão de mim, esses demônios! Posso matar, mas quem se importa? Me darão venenos injetáveis para dormir, meus braços quebrados por golpes vis! Meu ódio será fatal, andarei na noite e perderei os sentidos.

Perderei a vida, provocarei a morte, e quando fugir dos muros, parecerei monstro, meu cérebro se contorcendo, e os olhos esbugalhados, ardentes, cegos de obsessão! Trarei comigo todo o espírito da controvérsia, voarei com ímpeto e audácia pela contradição, direi coisas, vagarei moribundo e manco, falarei com cachorros, cairei na rua da fome e serei infame, quebrarei o vidro da lucidez e, colérico, enterrarei toda a existência.

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