PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

ENREDO DA AGONIA (parte 2 - sementes do mal)

ENREDO DA AGONIA ( parte 2 – sementes do mal)


A guerra? Sim! A guerra! Os mísseis são inteligentíssimos, somos criaturas privilegiadas. Os aviões são fundamentais para a vitória! Saltamos de paraquedas, carregamos bazucas e escapamos de bombas. Seremos nossas vítimas mais infames, a derrota será a lição da tolice. Tenhamos guerras em volta e em toda a parte! Todos verão cogumelos nascerem, vistosos. A vida será de fogo onipresente! Tudo cinza, a vida cinza. Ganharei tumores. A febre, o delírio, a mais insuportável agonia.

Tudo sujo! A indústria bélica, o petróleo, a metafísica financeira. O progresso, o Iluminismo, a razão, somos todos equivocados. O mundo será das baratas! Somos a nova promessa, o pós-modernismo, apáticos. Nunca entenderemos nada! Nunca dominamos o mundo, nem tampouco um César! O que sempre ocorre é a insensatez, o combustível. Queria dizer coisas mais afáveis, mas é fato a desordem, vários indigentes sobram pelas beiradas.

Na fria noite do terror, pelas sementes do mal, o mundo se tornará medo. Não consigo deixar de me apavorar! Prestarei mais atenção, nada escapará de meu testemunho febril. Soltarei o fuzil em cima dos corpos já mortos, continuarei caminhando, e, de súbito, agarrar-se-á em minhas pernas um moribundo, e, logo, estarei também ali naquele sofrimento. Perderei o senso. Voltarei paranoico. As tropas ecoarão em meus tímpanos e sempre se ouvirá uma explosão. Mas, enquanto prossigo, a tensão aumenta e vejo em volta mutilados, quero sair e penso estar perto da surpresa desagradável. Começo a delirar. Nunca mais escaparei, o perigo. O perigo! O socorro! O desespero dos agonizantes! A discórdia fomenta a economia, que seja para sempre louvado o lucro. O deserto é de ouro! Andarei, portanto, ofegante. Morrerei vendo incêndios, os eternos incêndios! Como no inferno! (É o inferno). Vivemos em um espremedor. Minha alma quer explodir. Não me impeçam de me entreter com as virgens, meus dinamites me renderão a estadia no céu!

Tenhamos calma! Temos alguns insanos, campos de força, máquinas modernas. Toda a rudeza! A frieza do ataque! O ocidente está salvo! A fobia. Eis o efeito colateral! É verdade que estamos no abismo, deitaremos no chão da estupidez e só conseguiremos escapar por milagre. Ou ainda, o horror. O horror! Quero sair deste pesadelo, me tragam de volta! Não quero estar neste lugar! Tenho medo dos cadáveres. E as bombas? Fazem seu estrondo, a grandeza da fábrica é terrível! A cobiça, a grande vilã, é o motor das políticas torpes. A razão não pode acabar, temos que eliminar os generais! É a sanidade contra o suicídio! Não podem vencer nossa sensatez. Nós somos os guias do mundo! Os modernizantes! O padrão é ocidental!

Não seremos invadidos por hunos retrógrados, somos pós-modernos. Aliás, a ideologia é que estabelece o pensamento coletivo. Achamos estar sempre certos, defendemos a civilização de outras invasões bárbaras, a perversidade e a corrupção dominam o estado das coisas, e achamos que possuímos a Razão. A crise se instaura, a discórdia é travada pelas ideologias, veremos várias viúvas. Lágrimas e pólvora! A imensa guerra! Com transmissão ao vivo!

Ah, contem outra! Toda ideologia é insana. Tudo serve ao poder, sejamos francos. Tudo o que se descobre e se inventa é deformado pela sordidez delirante dos exploradores. Não haverá mais o tempo de paz, nunca houve. A ideologia em si é uma estupidez necessária, mesmo que custe o sangue dos povos. Quero sair! Digo novamente, me deixem ir! Não tenho culpa de nada! Vou para bem longe!

O pêndulo do tempo só torna a agonia mais nítida. Os gemidos de dor dos agonizantes soam como uma sinfonia pelo avesso! As instituições pisam na cabeça das multidões. E a famigerada tropa do desespero vai se extinguindo aos poucos nas trevas do abandono. Não suportarei a morte. Verei novamente o sangue correndo na TV. Comerei assistindo a desgraça via satélite. É o progresso! O bombardeio, vejam! Tudo ao vivo! A tempestade! Todos testemunhas! Precisamos alimentar as nossas indústrias, a força do progresso. A violência é comercial! Sejamos hipócritas como o mundo. A luta é imunda. Nada nunca foi tão importante, que se dane!

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