PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Plano Furado - II

 “o risco de fuga era evidente”


O bolsonarismo, mesmo que permaneça como base de um movimento de extrema direita recente do Brasil, está se ramificando e este núcleo duro só resiste entre fanáticos que ainda entoam palavras de ordem em torno de um mito que está cada vez mais encalacrado. Tarcísio Freitas já se descola sutilmente da dependência direta de Jair Bolsonaro, ainda que evite a armadilha em que caíram figuras como João Doria Jr. e Wilson Witzel, de ruptura com o bolsonarismo e o próprio Jair Bolsonaro, com o primeiro sendo fritado pelas hostes bolsonaristas, sobretudo da internet, e este último sendo vítima da própria bufonaria canhestra.

Jair Bolsonaro se encontra em situação vexatória, depois de mais um plano furado, ao tentar soldar a tornozeleira eletrônica quando se encontrava em prisão domiciliar, e indo para a prisão da Superintendência da Polícia Federal, após pedido de prisão feito pela mesma, por tentativa de violação da tornozeleira eletrônica, e mandado expedido pelo ministro Alexandre de Moraes do STF (Supremo Tribunal Federal). Mais uma vez, veio um meme pronto em torno de um grupo político cada vez mais decadente.

Logo a seguir vieram a prisão dos generais do Exército Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, sendo preso também o ex-comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier, além de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, o general Braga Netto, e Alexandre Ramagem teve o mandado de prisão expedido e  a inserção de seu nome como foragido pelo ministro Alexandre de Moraes, uma vez que o parlamentar deixou o Brasil e está atualmente nos Estados Unidos.

O clã Bolsonaro está fragmentado, pois repete o padrão do próprio bolsonarismo, que desde sempre foi uma cizânia e que produziu ciclos de dissidência durante a estadia no poder executivo, e agora também, depois de um golpe falhado e julgado pela Justiça. Temos pretensas nomenclaturas surgindo de dentro do DNA do clã como “Eduardismo” e “Michellismo”, contorcionismos do momento em que Jair Bolsonaro alega que estava alucinado, curioso, demente etc, ao ser pego com a boca na botija, achando que o mundo é idiota. 

A figura de Flávio Bolsonaro desponta como o único herdeiro viável, dentre os filhos, neste momento, enquanto Carlos Bolsonaro segue em seu papel de articulador desde o famigerado gabinete do ódio, volta  e meia choramingando sobre o estado de saúde do pai, e Jair Renan que está lá em Balneário Camboriú sofrendo bullying e sendo jantado pela Câmara local como um neófito beócio que é. Eduardo Bolsonaro, o Bananinha, lá nos Estados Unidos, se encontra cada vez mais num mundo idiossincrático e decadente, sendo objeto de escárnio internacional, e sendo uma criatura falhada, vítima de um sonho numa noite de verão. 

Enquanto o general Heleno alega demência e Jair Bolsonaro disse que teve um surto psicótico, a situação da extrema direita se fragmenta e está em mutação, em que pode se cogitar o enfraquecimento do bolsonarismo, ainda que com um núcleo duro fiel e de corte demográfico ainda relevante, diante de uma possível eleição presidencial saturada em relação à polarização, com um cenário que poderá retomar a viabilidade de candidaturas mais ao centro do espectro ideológico, já há muito combalido pela radicalização e pelo populismo atávico que sempre grassa em Pindorama e nos caudilhismos de ocasião nas vizinhanças. 

Temos  também um lulismo que, apesar das boas notícias da economia, superando estimativas para o ano em relação à inflação, PIB e emprego, ainda é questionado na tensão com o Congresso Nacional, e que também se torna problemático diante de um movimento de esquerda há muito capturado pela figura de Lula, que eclipsou o petismo e o próprio esquerdismo nacional, cujo último bastião para além do lulismo foi o brizolismo, pois Ciro Gomes sempre foi uma figura ambígua e instável, de um cirismo que derreteu e se desencontrou na História recente da política brasileira. 

A cena montada por Flávio Bolsonaro com apoiadores de seu pai, diante da residência em que o mesmo estava em prisão domiciliar, não era uma vigília pela saúde dele, mas uma balbúrdia orquestrada em que Jair Bolsonaro, enquanto se dava o convescote de fanáticos, tentava de modo desastrado soldar a sua tornozeleira eletrônica, e o risco de fuga era evidente e iminente. Tudo deu no que deu, em mais um plano furado das trapalhadas tragicômicas do golpismo recente, que mistura assuntos graves, sérios e cruciais, com cenas grotescas de bufonaria canastrona, como uma gag de pastelão de uma quadrilha brancaleone. O bolsonarismo, em sua versão de fantasia rasgada, golpista, virou uma fábrica de memes para o deleite da internet. 

O espólio está sendo disputado enquanto Jair Bolsonaro definha na Superintendência da Polícia Federal, de onde só sairá para a sua condenação final, de trânsito em julgado, para a Papuda. Os pretensos herdeiros se lançam a ver quem do clã será a figura principal, o conflito se arma e se desarma, e este mecanismo de cizânia, caos, cálculos desastrados, dissidências, golpismo e viralatismo, se prepara agora para o cenário que virá para 2026.

Este espólio que se mistura agora à carolice estudada de Michelle Bolsonaro, tentando capturar o eleitorado evangélico e feminino, um Eduardo Bolsonaro que parece um psicótico de guerra depois de ter tomado uma bomba na cabeça, falando sem parar em vídeos para a internet, lá dos Estados Unidos, e um Flávio Bolsonaro que, depois de atuar como parlamentar, sem ambições de ser o primeiro da fila na sucessão do clã, para o Poder Executivo, também vislumbra esta possibilidade agora, com um tino político mais incrustado nas manhas do sistema do que se for compará-lo com a ingenuidade comovente de Eduardo Bolsonaro ou a marra imaginária de um neófito viajante como Jair Renan. 

O fim de uma era se aproxima, com Lula que disputa, provavelmente, a sua última eleição em 2026, com um Jair Bolsonaro preso na Papuda e com problemas de saúde, sendo torturado pelo próprio corpo, soluçando e vomitando, uma ironia do destino, depois de escarnecer do sofrimento de milhares de brasileiras e brasileiros durante o genocídio em que houve 700 mil óbitos de pessoas, com suas biografias, histórias etc, em que ele simulava falta de ar, falando que não era coveiro etc.

Esta tragédia de uma pandemia distópica dominou o planeta durante mais de um ano e meio, sendo agravada por farsas negacionistas como Cloroquina, Ivermectina, vacina que faz virar jacaré e uma CPI que terminou em pizza, com casos escabrosos de necropolítica que incluíram as  licitações fraudadas de respiradores na carnificina que ocorreu em Manaus, tendo paralelo somente com a ocorrida em Bérgamo, na Itália, ainda no início do surto do coronavírus. 


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Blog :  poesiaeconhecimento.blogspot.com 


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