PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

BOLSONARO APOSTA ALTO, ENVOLVIDO NUMA POLÍTICA DESTRUTIVA


“Bolsonaro virou um kamikaze, numa tática política que envolve uma aposta política que é nitroglicerina pura”

Jair Bolsonaro tem atuado politicamente com a pretensão ou lenda de ser a nova política. A sua eleição foi feita baseada nesta história atávica de bastião da ética, de uma renovação política e de que seria a tal “nova política”, sem toma lá, dá cá, sem conchavos, com a promessa de pegar os bandidos da rua, os bandidos da política, de deixar para trás uma época de roubalheira, e de ser o mito.
Ele, Bolsonaro, era aquele que tinha o novo caminho, e que um terço dos eleitores do Brasil foi, nesta febre perigosa, atrás do mito, uma parte, decepcionada ou com raiva do PT, e uma outra parte seduzida pelo discurso mão dura, sobretudo na área de segurança pública, um estilo aparentemente despojado, destoando da política tradicional e dos tiques de políticos corretos, e que se portam com decoro ou etiqueta.
Bolsonaro era a nova política, era o que ele dizia, e foi assim, com este mote, que foi eleito. Com um estilo arrojado e com uma atitude meio imitativa de seu ídolo Trump, Bolsonaro, que começou como terrorista de bomba no Exército, um péssimo militar, capitão que acabou absolvido pelo STM, mas que logo em seguida embarcou para a política. Desembarcou no baixo clero, onde ficou por longos anos com uma atuação mais midiática do que efetiva, pois não ficou conhecido por empreender projetos, mas sim por se tornar uma figura exótica e com declarações polêmicas e que lhe angariou espaço na mídia, sempre com uma atitude mão dura, contra o politicamente correto.
Jair Bolsonaro, por fim, foi eleito com pompa e circunstância, entrou o ano de 2019 com um capital político grande, apoiado na sua equipe ultraliberal, capitaneada por Paulo Guedes, que ele passou a chamar de “Posto Ipiranga”, como aquele que cuidaria dos assuntos da economia, uma vez que Bolsonaro confessava nada saber sobre o tema. E ainda tinha a figura de Sérgio Moro, o super-homem da lava-jato, agora como seu apoio na área do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Sérgio Moro que, numa jogada polêmica, foi para o governo Bolsonaro, colocando em suspeita todo o edifício de combate à corrupção que fizera como juiz federal em Curitiba, sendo agora claro que era um inimigo do Lula, mesmo que muitos outros processos tenham se dado, incluindo outros partidos e não somente Lula e o PT. Agora, Moro era uma figura que logo apareceria como paradoxal e às vezes deslocada entre as inconstâncias e variações de humor de Bolsonaro, que hora elogiava Moro, e outras horas criava ruído com ele.
Portanto, no início de 2019, Bolsonaro tinha um capital político imenso, ocupando o cargo público mais importante do país, sua equipe econômica garantindo, supostamente, uma promessa de lucidez na condução das coisas, e a presença de Moro como um bastião ético para a sua área preferida, a segurança pública. O ano prometia bons ventos para Jair Bolsonaro, um governo do baixo clero, com um partido, o PSL, também como uma hoste do baixo clero, desta vez nos holofotes, para ajudar o governo Bolsonaro no Congresso Nacional.
Só que, como sabemos hoje, o que era um capital político poderosíssimo, foi se fragmentando, em disputas e dissidências sem precedentes, rachando a própria direita hidrófoba que gritou impeachment da Dilma nas ruas, como um desfile da torcida da seleção brasileira, e que votou em massa no capitão e mito, e que agora passava a vociferar contra o escorpião que lhes havia picado.
Primeiro, o MBL, algumas figuras notórias, e deputados saíram do barco, logo em maio de 2019 houve a primeira divisão no bloco bolsonarista, e começou uma discussão contra Jair Bolsonaro, que se estendeu contra o suposto filósofo, que posa de guru da direita, Olavo de Carvalho, e um mundaréu de discípulos, que agora são os chamados olavistas, um grupo de lacaios de um cara que gosta de dar pancada, longe do Brasil, no conforto de seu lar, na Virgínia, Estados Unidos, sem botar a mão na cumbuca de fato.
Mas, o fato inaudito, sem precedentes, se deu no partido que elegeu Bolsonaro, o PSL, pois, numa disputa de cúpula pelo butim do partido, houve o racha dentro do partido, Bolsonaro, de um lado, e Luciano Bivar, de outro lado, com vitória de Bivar e a dissidência bolsonarista abrindo uma cratera dentro do PSL. Foi quando Bolsonaro, em pouco tempo, saiu do partido, e virou um presidente da república sem partido.
Bolsonaro começou, em seguida a esta divisão, derrotado por Bivar, a encampar a sua fundação do Aliança Pelo Brasil, partido este que é um projeto pessoal e personalista de Jair Bolsonaro, e que só será viável, muito provavelmente, somente para as eleições de 2022. Portanto, o PSL rachou ao meio, e muitos dos que se diziam bolsonaristas foram para o grupo bivarista, ficando na esfera bolsonarista somente figuras, ou ligadas à família Bolsonaro, incluindo aí Flávio, Carlos e Eduardo, os três filhos políticos de Jair Bolsonaro, e os mais fiéis e intransigentes bolsonaristas, com o resto, bivaristas, indo para o campo do PSL e de sua estrutura burocrática e política.
Jair Bolsonaro foi se isolando politicamente, numa espécie amalucada de anti-política e anti-presidência, e que tem uma tática de Alt-right, da escola de Steve Bannon, de colocar uma polêmica no ar, provocar uma celeuma, e depois desdizer, colocando a mídia em curto-circuito, num movimento contra-intuitivo de confusão e caos. Bolsonaro, de uns meses para cá, começou a se tornar uma figura outsider dentro do próprio poder, desautorizando ministros, fritando ministros e depois os colocando para fora do governo, contradizendo posições oficiais o tempo todo, ele que é o poder executivo, devemos lembrar, numa espécie de paradoxo do caos.
Agora, no caso do corona vírus, Bolsonaro virou um kamikaze, numa tática política que envolve uma aposta política que é nitroglicerina pura, num movimento que está em choque com pretensos presidenciáveis, governadores do sudeste, como Wilson Witzel, no Rio de Janeiro, e João Dória Jr., em São Paulo, e no Nordeste, numa oposição natural do pecedebista Flávio Dino, que cresce como nova liderança na perdida e enfraquecida esquerda política brasileira, com um PT cada vez mais vinculado e subsumido na figura de líder carismático de Lula.
A aposta de Bolsonaro é a de que ele quer ser o que defendeu a economia contra a sua paralisação, e que as mortes que terão, mesmo com o isolamento, já será a sua justificativa, lá na frente, para combater seus concorrentes do sudeste e os jogar na fogueira, agora com João Doria Jr., que se encontrava obnubilado, voltando novamente à ribalta.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.












Nenhum comentário:

Postar um comentário