“a vida pode ser maravilhosa, como diz o poeta”
A vida não é para principiantes, definitivamente. E quem acha
que pode passar incólume se enganou feio. Os perigos estão aí, e que sejam bem
vindos todos os perigos, pois eles nos fazem fortes, nos jogam no circuito vivo
de que nem tudo se controla, planejamos coisas, mas nem sempre elas dão certo,
ou ainda não deram certo.
O erro é o instrumento da sabedoria da vida para nos ensinar
a sermos mais tolerantes, mais moderados, mas isso, meu caro, vem com a
experiência. Vejo muita gente madura de pouca idade e muita gente infantil de
muita idade. O tempo de vida biológico não credencia ninguém à adaptação ao
mundo, não que tenhamos que nos adaptar para agradar aos outros ou que seja o
caso de adaptar-se.
A questão é mais profunda, que queiramos crescer e tomar as
rédeas da própria vida, o que não é tarefa fácil, adaptar-se ou não é questão
de escolha, e aceitar o mundo e enfrentar os “perrengues”, aprender com as
porradas que, vira e mexe, a vida nos dá, é um bom exercício de fortalecimento
do tônus vivencial. O conhecimento, a vivência e a experiência, é esta tríade
que diferencia os fortes e corajosos das crianças que sonham sem sair do lugar,
“deitadas eternamente em berço esplêndido”.
Se alguém lhe nega algo porque não pode lhe dar este algo,
até por que este alguém não tem o que você quer, a criança sonhadora, que vive
na lua, demora a acordar, mas o despertar é necessário. Não estamos no mundo
para passear no jardim das delícias, não estamos, nesta vida, num jardim de
lazer. É preciso estar atento e forte, não temos tempo para este culto da
mediocridade, da vida superficial, da zona de conforto que nos torna uns
bundões e que, à primeira desdita, culpa o céu e a terra e, pior, os outros.
Pois esta pessoa não reconhece o próprio fracasso, os
próprios erros, e acha que o outro, que não lhe deu a felicidade plena, quanta
audácia, é culpada de todo infortúnio de que ela é vítima. Não temos tempo para
príncipes encantados ou princesas encantadas, não temos tempo para dar a troco
de nada, não somos a tábua de salvação de gente que não quer crescer.
Muitas vezes a criança sonhadora demora a entender, culpa os
outros, acha que está certa em seu desatino, mas um dia, depois de muita
porrada, a criança passa a entender que é ela e não os outros é que tem que
tomar conta de si. Não é fácil, mas temos que tentar, e saber que a vida não é
vivida na zona de conforto, de que querer no outro o seu sentido, do querer
viver a vida do outro, numa obsessão que não tem fim, não é o caminho do que
chamam de sábio.
Então é hora de mudar, mudar a conduta, mudar o pensamento, e
mudar, sobretudo, as atitudes. Ninguém quer uma pessoa que não quer nada com a
hora do Brasil por perto, a virtude da vida é ter com o que compartilhar, e não
sugar a energia dos outros de forma desleal. É, então, a hora da grande
mudança, da grande revolução, de sorrir sim, mas de ter postura séria quando o
assunto é a própria vida, a construção de seu próprio destino. Aí é a hora do primeiro passo rumo à
maturidade, bem vindo à vida adulta.
A sabedoria é um exercício diário, o entender o espaço do
outro, o respeito pela vida do outro, o não confundir um gesto educado e gentil
com disponibilidade a qualquer hora. A vida é um caminho árduo, a vida é dura
sim, muito dura, mas também é doce, e sua doçura maior vem quando sabemos que
estamos tentando, de que estamos no caminho certo, caminho de crescimento,
caminho de luz, libertação das velhas ilusões e um bem viver que não é do bon
vivant, mas do que luta.
E é na luta pela própria vida, de seu lugar no mundo para ser
no mundo, no incremento de seu ser, no leque cada vez maior das percepções, em
ser agradável às pessoas sem querer agradá-las, mas em ser agradável por estar
crescendo, se incrementando, buscando o entendimento da vida, é então que a
conquista da sabedoria de saber que a senda universal do ser humano é dura, nos
leva a crer e ter certeza de que a vida pode ser maravilhosa, como diz o poeta.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/38730/14/a-vida-e-dura-porem-doce
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