PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 10 de março de 2017

HOLLOW

I
Tantos casos estudados nesta cosmologia, e que são seres nus, como poucos vermes que sobrevivem ao mundo, e que tentam abarcar os númenos com galhardia de soberbos e alvissareiros, pois por pouca monta os severos e os antoninos sucumbem ao senado pueril, eu de meu turno resvalo e reservo fortuna para um cabedal brio de espuma no vento sacal dos hindus e seus vímanas, como uma corrente literária manchada de lodo e vinho, este que é sabor estulto na glória do sistema, este também estulto, capital armado e nauseabundo, contrito o esquema de Aristóteles explode com o rigor de um kantiano crítico feroz do sono metafísico, com um Hume sensitivo na campanha de um fundo vitral que arde por entre os ventos mais modernos, um plano cartesiano que ribomba pétreo com sarcasmo de poeta, e o riso enfermo que mora num castelo em Copacabana, na mais miserável canção que está de frente à rua que grita somos os outsiders, os mamulengos e vitrolinhas da paixão antiga, dos poemas rebuscados com notas de absinto, das rimas ricas como idólatras que têm sede.
Dos poetas antiquados que não vivem no mundo, não neste mundo, em mundo algum, moram em carne e osso como vapores de veneno na história mundial, moram tal os animais ou bestas repletas de carbono em seus corpos e polímeros cosmogônicos teodiceia da arte rupestre, um totem burilado com sílex na caverna de paris, setenta ladrões como gangue, viralizados costumes que são a rixa e o riot das galeras fumegantes, dos estertores do fracasso, dos lenhadores e tremores que sorriem para alguns capatazes com seus enfermos vitoriosos, guerra e paz na aura de um anjo fetichizado com bombas de esterco na fome do boi, estes senhores do mundo que vivem morrem como indigentes da fama, como desejo ruminado nas estrelas mais abscônditas, remadores dos sonhos de pano por entre frestas que olham ao nada, rasputins negros com faces de mago, monitoram os passos a cada dia, e sentam na torre de lume viscoso, eles olham o pote de ouro que revela poesia na esbórnia, são telemas e budismos ranqueados num campeonato de astúcia, num grimório de fardos e buchas de canhão.
Sete pantokrators que vivem giro de escopeta, de fumo revirado com espoleta, belicosos que querem a paz mundial, fervores de antros pacificadores, de não-violência, dos hippies de ocasião, dos fashionistas que definem o mundo de segunda mão, da realidade aumentada como manto e segredo penhorados depois do escaldo e martírio. Venha, os ogros imantam servos com náiades esbeltas como anacoretas, e bebem uísque com tambores na cabeça e flautas nos braços, senhoras músicas que de guitarra e trompete repete o fusion indefinidamente, pois cada retrato destes ossos têm a espessura de uma densidade de átomo, indivisível como uma bola de gude, temerários como templos e pagodes na sarça briosa que elenca vates e vedetas. Canção esmerada que tilinta tal o metal de rigor que funda filosofia de poetastro depois da bebedice, que define saudade como uma rima fugitiva.

II
Aéreo o plano aedo cintila, rumoreja ferve e briga, e ferve tal o campo mestre que cintila, como cobra serpentina, e um estrelado estribilho que cintila, bruma rebuscada que mesmeriza tal o sino que dobra, e o banho em festonado vinho, odre pecaminoso que bebe e ventila, evento e evidência de poema, a prova científica do terror, vertido como água benta na pacífica amurada, um grafite terroso no sonho de poeira, levedura que nos dá a boca de saída, pentecostes nos ombros de atlas com o mapa ao pé do geógrafo, bolhas de mundo estouradas por revoluções, penedos que caem como mísseis no apocalipse, espíritos imundos que brigam com pastores, brechas do sistema que assomam no estudo corrupto dos punguistas, leves sintomas de hematomas que roem a corda do enforcado, sete flechas de indigenistas que buscam o eldorado, tânatos dorido que fervilha necromancia depois do ritual poético.
Linho que costura cada gesto artaudiano com gags beckettianas. Olhos mesmerizados que ensinam a palavra morte aos neófitos que ainda sonham acordados, pleito burlado por campanhas sujas de pós-verdade, brotos de floresta que povoam um mundo perdido, paraíso silvestre que nos dá selvagens novos de literatura da mata, poetas novos que caem como cometas no frio do sistema falido das artes comerciais que deliram anátemas proscritos. Banho de lua nas noites que eu servia ao mártir, estes barcos que navegam mar azul de diamante, frio de mar turquesa caribenho, milhares de remadores que vão à galáxia dos aviadores, reis setentrionais contra centuriões que formam o exército brancaleone dos românticos suicidados.
Eis que vive um novo brio bíblico que sonhava holocaustos na hégira e no êxodo, benta a água de poder de tais sacerdotes em seus levitas pasmados com o Deus-homem. Eis que venho de sonhos tempestuosos e kafkianos e pesadelos de Godot depois do milagre indômito que delirava o paraíso de permuta entre cantores de fancaria. Ai! Ai de mim! Tenho cada visão que caio em deslumbramento como um ósculo olvidado depois do porre. Mas, no meio da canção, com dotes de artista, reverbero samples e synths mais que anacrônicos, são vinhas de monastério com ritmo de jazz na fusão dos elétrons que batem entre neutrinos invisíveis da bala perdida, eis que numa viagem astral venho contar-lhes a dor profunda da miséria dos poetas, mas ainda tenho fogo que queimar na sarça mais potente do sol.

III
O fog londrino me apetece, o beberrão morde os tímpanos com rock de estrada, fervilha um berro kerouakiano, um velho mestre que se chamava Ferlinghetti, Neal Cassady que morria na linha do trem, os Estados Unidos e toda a gama de capitalistas de Wall Street e seu touro valente que faz tentações de estelionato, os espiões da Big Apple que reviram seus bens com fome ventral de cartas na manga, pois que eu tenho por mim que prefiro Louvre e seus melismas potentes como mantras sinfônicos, já que vejo as litanias repetirem Fausto e Mefistófeles depois do urro brutal que Goethe não evitara nem na sua invenção de Werther epistolar, ah que nem mesmo a lenda medieval nos salva do capital, mas é seu cristal mais atraente, e o dinheiro gasto em tais deambulações serve ao historiador para contar uma biografia acidentada como pinguelas de rua de terra, de rios de cobre depois do caos mimético dos plantonistas que encontram a morte com dentes de fogo na noite violenta, pois que sumido está o zen na hora enferma, e nem tenho mais tibetanos que lembrem de maoístas sem lhes ferver as pestanas, e o desastre sonha em se proteger da mediocridade, pois ela mata e delira cabeças ocas como hollow men que não servem para nada.
Ah! Ai de mim! Estou no inferno de Caronte, nas uvas de Dioniso, na febre inaugural de Téspis, nos trágicos que de Ésquilo e seu Prometeu Acorrentado apenas faz loas ao abutre, e leis cósmicas são fado nestas peças antigas, o que hoje temos como puro acaso, e que nos idos putrefatos de Março estavam como novos ventos de um novo mundo cristão, que tem o reverso da moeda como Inquisição, o que também hoje tem o nome de manicômio, e que custa a verba pública para os bolsos de seus torturadores, nova platitude medieva, oh como cada burgo sonhava revolução, e como cada soviete sonhava revolução, e como cada hollow man sonhava status quo.

IV
A caça às bruxas está aberta:
Grimório do capa preta,
Eis que rumina maçons
Na sete emblema de arquiteto
Que campeia marmóreo
Como capiteis em Parthenon
Oh Crowley e seus cantos heroicos
Oh bruxos como celtas em Stonehenge
Ah fada musicada que burila soma
Na mente mística do Absoluto
Ah como cada magia tem altas paragens
O paraíso perdido e seus sapientes embriagados
O êxtase de Santa Teresa D`Ávila
No fim da aurora que rutilava salvação.

11/03/2017 Poema em prosa

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.





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