PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

VIVÊNCIA DA PELÍCULA

Brota de minha pequena máquina de calcular
o balbuciar do gerente de banco,
um pulsar se mediatiza nos contornos
desta redoma fútil dos compromissos.
Atrás dos vínculos familiares
um olor estranho se vira em fumaça,
eu tenho que ir a galope, como um anacoreta
que vive de brisa e insetos,
contar os causos de meus investimentos,
os dólares aziagos que sobram
do mormaço, eu vejo, e, no entanto,
tenho refugos entre os dentes,
e uma fome que tilinta metal e morte.
Arre! Que este relógio, marcando o tédio
com T e rima de farol, me pegue na
hora certa diante do espelho,
ou me pegue no lusco-fusco
da manhã mais auroral do santo dharma,
ou me eleve com ácidos e soros
diante da luz visionária de agendas
presidenciais, de ministérios sucintos
como o albor que se insinua no meu rosto
que vinca os veios com certezas pétreas
na mão invisível das lutas que sofri,
por estar é certo, eu sou poeta que
vivencia neste mormaço de brisa
as pazes visionárias do anacoreta,
eu pego minha carteira, acerto os ponteiros
de meu relógio, busco, ainda, e trôpego,
as marcas que deixei na parede, eu escuto,
ainda pasmo, as notícias que tocam em FM,
como na película de Costa-Gavras,
um míssil me entope as veias,
e me entorpeço com bombas seculares,
me enalteço com livros na lida diária,
pois eu sou metediço em assuntos de política,
e rateio os dólares com poucos idiotas,
não vou por aí como um andarilho,
tenho, por certo, que na hora certa
o expurgo delimita a área de atuação
dos trabalhos realizados, das metas
salvíficas e selváticas dos futuros incertos
que desenham o sino da liberdade,
no tráfego de Copacabana tenho que
amargar um gole de cerveja, e os notáveis
da sociedade me vêm com a angústia existencial
que nem na floresta mais densa
se apazigua, pois que decido, de chofre,
tocar guitarra como um ventríloquo
que vê astúcia em seu teatro de bonecos,
e na andança lírica os risos serão
mais bentos, mais cálidos os dramas
que o bruxo da sala de estar
elenca, nos seus arcanos,
com a foto que delineia meu sorriso,
pois em meu cálculo final
estava a morte sentida com frio,
e minha tour pelo mundo cão
fotografava a taça de vinho
para uma postagem virtual.

28/10/2016 Gustavo Bastos

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