PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

DOS MARES PARADISÍACOS

De uma expressão inteligente e bem-nascida,
o ópio culmina em aspergir seu lume.
E o broto que descortina, de uma ponta à outra,
seu caule dócil sob as estrelas recônditas,
traz deste lume o lápis-lazúli dos olhos.

Em que toda a constelação das naus foge,
qual bússola e o astrolábio que enlouquecem
na queda abrupta da rotação terrestre,
como um espasmo ou terremoto de latitude
forjada em brutos solilóquios do viajor.

Dantes o vinho clamava por estes mares,
e ia e ia, e voltava e voltava,
aos cantos d`além e d`aquém,
ia e ia, voltava e voltava,
como um pássaro roto na fuga destes mares.

De todo o corpo bronzeado sobre a enseada,
um aedo inventava, um rapsodo repetia,
e o veneno destes bruxos de mansardas
eclodia o coração marítimo dos odres cheios,
e os atletas sugestionados se afogavam.

Como tal, as ondinas chamavam este luto de Ulisses,
qual a morte terrífica que absorve a luz,
luzidio este campo de meu lume de ópio,
como um bravo guerreiro de poema,
como um gládio que me sustenta.

Este poema, que dá o hausto e o sopro ao viajor,
dá-se de todo ao coração mais amplo do caminho,
e julga o próprio cintilar com ombros sob o mundo,
um Atlas sorvendo os dias de pecado,
um Sísifo ou Prometeu da dor fundada.

Pois, do brilho inteligente do universo,
este tens o começo como um homem imortal,
e que de sua queda se perde na correnteza,
e fala ao coração dos dias este terror de se perder,
e anuncia qual farol o lume que lhe chama.

Do prazer mudo deste ópio do sol,
mesmo as sombras ficam esparsas,
e o lume, luzidio, como um farol,
grita por sobre Vênus na hora dos argonautas,
com o velho do mar e seu cajado na fronte da espuma.

Já está o mar indócil em sua tempestade,
e suas espumas beijando a praia,
e o viajor, a vítima de seu sopro,
num último ato ao sabor deste vento intempestivo,
com as lacerações de seu peito inconteste.

Este poema, com o livro registrado sob bruma,
cruza os oceanos sob a luz convertida em fogo,
cruza o infinito com o brilho subindo a fúria,
e o rico emblema de poesia como o ópio dos sonhos
de paraíso que se perdeu no tempo da vida.

21/09/2016 Gustavo Bastos

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