PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 25 de setembro de 2016

DIA DE VERÃO

Minutos de silêncio e uma resposta no abajur,
perto dos romances de dostoiévski
passam os meus planos geométricos,
as astúcias e burrices, os quadros sonoros
de massas coloridas, os risos de bêbado
no peitoril das noites ardentes,

vejo o recreio da minha janela,
claras nuvens também vejo,

viajo de maconha com uma ideia de câmara escura,
fotograma, direção de arte nos ombros
de um motor infalível,
eis, a ideia martelando à mil,
e uma coisa de duzentas quilometragens
no ar de veneno da motocicleta,
uma harley bem doidona de pó.

Acendo as pálpebras, as cores mudam
diante do sol, caem em negro no sabor da lua,
és estrela maldita com vinhas de sarça
em sol e lua, ah, se meus horrores
de flor à pele maldosa, se meus orgasmos
fossem ... à pele mordida e lambida
sem poemas, sem teorias literárias,
sem estética e sem vícios,

vejo o tumulto da minha janela,
tempestades de fim de verão vejo,

por entre as frestas uma transa,
e todos os continentes da visão,
por entre as dores os cortes de faca,
e todos os mares da sensação,

eu ligo para um monte de coisas,
listas de afazeres todos,
e montes de coisas ínfimas
com minudências de microgramas,

sal e açúcar, sangue e suor,
quero ir para a floresta,
quero virar primata,
um animal ou totem,

por entre as nuvens as tempestades,
e flores azuis na velha ordem
do universo,

como gritam estes corpos de praia,
como dormem estes bêbados
da noite,

ah, se eu fosse tão poeta
a ponto de voar!
ah, se eu não fosse demasiado humano
e tão poeta a me suicidar,
ah, tudo tão rápido,
como um dia de verão.

25/09/2016 Gustavo Bastos

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