PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

CANTO DE SOL NA NUVEM

   Esse véu que encontra o tempo maquinal, espectro que inunda a tela, vaudeville que me entranha os passos. O palco que encontra o véu sísmico enovela tantra espasmódico com as letras de fogo de poetas. Mesmer contorna a figura do ópio com a linha, sete linhas nodais, um Exú que oferta a paixão com prisma doloroso de glória e razão. Sopro sofisticado que irrompe com as náiades pelas igrejas tortas e queimadas, eu tenho que cerzir meu manto com azul turquesa, como o monge sacrificado em totem na mais áurea época de ouro.
   Diante de tua imagem, ó Sebastião! Que me dá a cor funda do horizonte, plúmbeo crepúsculo que volta e volteia com naus soberbas de canto atmosférico. Diante de teu manto, ó Sebastião! O sol pulsa por todas as veias e artérias, vinho de rubro calor, enfadado o astral absorto e depressivo, alegre a tempestade com sinos no átrio de relaxamentos em yoga. As pernas se esticam e o cerzir das mãos fazem novelo com poemas que inunda a tela, vértice, vórtices, manto sacro que viraliza a festa.
   Canto de sol na nuvem, ó Sebastião! Nem todas as filosofias podem estourar, e a velha enormidade explode, os cântaros eu dedico às águas de Jordão ritmado em Ganges e Indo. Na veia mercurial soçobra a pena mais delicada que espanca, de todos estes sonhos eu guardo o mel pois sinto isto. Na veia mais denodada perfura o meu ventre o vinho fremente das cores de nuvem, dos sabores de sol.
   Dom é querido por toda a era, aquariana maré vertigem de calafrios, os denodados campos fustigam a seca, a chuva cai em pranto por todo o lodaçal, o poema convida ao susto, das cores fundas da tela inunda a sensação um fogo de abismo, com as cores de veraneio as águas e sopros enchem os poros de ilusão e fortuna, ó Sebastião!
   As notas de dissonâncias caem aos pedais, um ritmo de céu prega à cruz tuas dores, ó Sebastião! Recreio de poeta é assim fundante de miasmas sonhadores, e meu karma fica mais leve com o bater das asas sob a fogueira da meia-noite, com um sol de meio-dia no peito a gritar. Seus dons, ó Sebastião, me dão a visão da eternidade! Veia pulsa nunca morta, pois teus dons são imortais, flor do universo!
   O karma é nódoa e fortuna na mesma encarnação, tua alma, Dom Sebastião, funda a minha onda em mar de turquesa, revira meus álamos e engole-vento e a safira que batiza todo o caminho como numa velha estrada de horizonte nu, e teus corpos nus, e teus címbalos crus, e teus sonhos mais que futuros, ó Sebastião da anarquia e da justiça!
   Na rua de passos largos se elenca a morte com grito de rito, e o sacrifício desta alma devota contorce o miasma de que o mundo rumoreja com todas as dores a amores do mundo, meu Dom Sebastião!
   O mar, e a carta de náufrago trazem notícias do novo mundo, a era de ouro perdida em notas distantes, um vinho de aurora que espanca a luz na onda de imortais como tu sonhara, meu Dom Sebastião! E o vinho por fundo mosto é sacro com espanto de teus delírios, meu santo Sebastião!
   O canto do sol enumera as virtudes cardeais e vigora teu delírio de poeta:
 Canto solar revigora toda dor,
Espanto de minha filosofia,
Manto barroco de antanho
Com os dias mais felizes
Do poema que é sopro,
A mão do vento grita
Em tambores o vendaval,
E a flor do dom passa na flora
Ressuscitada, a flor da nau
 De uma carta perdida
Busca temperança em meio
Do caos de estrelas decaídas,
A asa que me carrega é o dom
Na pura nuvem de um vinho
Sacro de mosto aos pés da vindima.

   Sacro és, Sebastião, teu manto me cobre como profeta de tuas brumas, passo ao largo do espanto pois já sei de tua essência de mar, anda ao mar e vê visionário, tua febre é o delírio que o poema traduz como um soco. Nas mãos da Filosofia mora a alma animada de euforia, eudaimonia, e a similitude de uma ilha de frio busca um calor de que o espírito já em sua presciência concebe como o fogo inaugural de Heráclito, e os elementos empedoclianos se metamorfoseiam em mística, a febre da alma enumera as virtudes e seus dons, pobre Sebastião, pois a guitarra sopra meus versos como o vento que leva tudo ao destino sem fim de tua eternidade.
   O canto de nuvem é rápido:
Flutua a dor, cai o abismo
Que somos, o destino
É um dom, a pena é
O sopro de Dom Sebastião,
O mais astuto do mar,
E as nuvens refletem o sol
No arrebol de minha unyo mística
Que em tudo é UM e todos.
Breve morada das moradas eternas,
O poema é nota reflexa de nirvana.
Dom Sebastião, tua flecha vai ao coração.

28/08/2015 Gustavo Bastos
  
  



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