PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

SEM PRETENSÃO

   Vou aqui fazer uma crônica, mas, sem pretensão, na verdade, é uma cronicazinha, ou melhor, não é uma crônica, na verdade eu nem queria escrever essa crônica, mas, sem pretensão, vou escrevê-la.
   A moda agora é essa: tudo que se faz aqui no nosso país, principalmente em arte, agora vem com a ressalva (seria uma ressalva moral?) de que, tipo: Ah, fiz isso, mas foi uma coisa sem pretensão, sabe? E ai de quem afirmar categoricamente que escreveu um livro ou uma peça com pretensão, será execrado, pois agora o trabalho de arte que for "pretensioso" é algo feio, pois agora a ressalva moral é pelo trabalho de arte "sem pretensão", o selo de qualidade é desta falsa modéstia, desta falsa humildade, não que não devamos ser humildes, mas essa estorinha de fazer algo sem pretensão é mentira e só cai nessa lábia de "odaras" quem é muito trouxa.
   Qual seria o mal de fazer algo pensando grande? E mesmo que tivesse pretensão? Onde há pretensão sem respingo de ego não há mal. Mal maior é se meter a fazer arte dizendo que não quer nada com aquilo, que não busca uma gloriazinha sequer, isso é papo pra boi dormir, na boa.
   Agora o sujeito escreve um livro de poesia "sem pretensão", 60 páginas tá bom, senão é ofensivo. Outro faz um disquinho, também "sem pretensão", só uma maneira hipócrita de soar "cool", esses "odaras" são mesmo umas malas, não podemos mais ter a grande arte, pois aí seremos ofensivos, e tome esta profusão de livretos sobre coisas banais, num fetiche da banalidade e que soe bem "cool", é a tomada da turba odara da arte sem pretensão que resulta numa postura hipócrita de fazer algo sem querer fazer. Quer enganar quem, cara pálida?
   Agora temos que nos nivelar por baixo, grande arte virou pecado, blasfêmia, pretensão não é cool ... temos que respeitar os outros, nada de trilogias, só toleramos livro de até cem páginas, nada de trabalhos de fôlego, queremos a banalidade, vamos escrever pouco, mas sem querer escrever, que tenhamos ódio de nós mesmos quando um poema ultrapassar três páginas, e que paguemos penitência por nossas trilogias ou tetralogias, sejamos santos sem pretensão para não ofender ninguém, sejamos cada vez mais "odaras do desapego" (e debaixo desta poeira ainda há ego, mas um ego envergonhado). O que é pretensioso é não ter pretensão, onde a vaidade artística e intelectual não se admite não há sinceridade, eu não sinto sinceridade quando ouço o tal clássico contemporâneo brasileiro: "foi um trabalho legal de fazer, sem pretensão ..." (tá bom, ahãn, tá!)
   É bom que fique claro: fazer grande arte não é respingar ego, mas a ressalva moral de fazer algo que não se quer fazer é hipocrisia, pois tudo que se faz na vida quer ter algum alcance, ou então, se não há pretensão, não faça, será mais verdadeiro do que uma arte que se apresenta, mas tem vergoinha de ofender, é paradoxo e mentira, I`m sorry.

04/09/2013 Crônica
(Gustavo Bastos)
   

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